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—Certo — Amie se virou para Rosalie, ainda fazendo uma careta com relação a Seth —Onde eu estava?

—Você ia me mostrar o dormitório — Rosalie posicionou a destra a frente de sua boca em meio a pequenas risadas.

—Certo — Amie puxou a mão de Rosalie, conduzindo-a na direção do dormitório, já recuperando sua animação —Vamos lá!

Assim que se aproximaram das portas, ambas se moveram como que em um passo de mágica, liberando a passagem para as duas. O interior do dormitório era algo simplesmente fora do normal. Depois de passar pela porta de entrada, ambas se depararam com uma espécie de átrio. Havia um corredor com um tapete vermelho em seu centro, algumas portas de madeira escura e muito bem trabalhadas ao redor. A escada era em madeira e se dividia em dois caminhos no segundo andar. Rosalie subiu as escadas com passos lentos, sem poder evitar olhar para o lado do corrimão enquanto subia. Ao chegarem lá em cima, Rosalie se debruçou no corrimão, olhando para a construção de cima. No centro do teto havia uma espécie de abóbada feita de vidro, que dava passagem para a luz da lua aquela hora da noite. Ela também notou o belo candelabro de vidro presente no local, espalhando sua luz e iluminando os interiores da construção. Ela notou também que este último era iluminado por luzes elétricas, diferindo das velas que usavam quando este tipo de estrutura era comum. Amie cutucou o braço de Rosalie, chamando a atenção dela para o corredor do lado esquerdo. Rosalie seguiu Amie nessa direção, movendo seus olhos por toda a construção, simplesmente maravilhada com tudo aquilo. As paredes do corredor eram feitas no mesmo tipo de madeira utilizado até então, apesar de serem decoradas com grandes pilastras que faziam um arco no topo do teto, que era levemente arredondado nessa área. A parte de baixo da parede era decorada com tábuas corridas e a parte de cima contava com diversas gravuras em baixo relevo, aparentemente esculpidas a mão naquela superfície. Periodicamente, algumas portas de madeira apareciam no corredor. Elas continham uma maçaneta, o número do quarto e um pequeno “olho”, que serviria para que o residente pudesse ver quem estava do lado de fora.

—Eu vi eles trazendo mudanças para o quarto 378 — Amie disse, parecendo estar um pouco pensativa —Deve ser lá que você vai ficar. Então seremos vizinhas! Eu moro no 377.

—Que legal — Rosalie sorriu para Amie.

O prédio era construído no formato de um hexágono, e os corredores dos dormitórios eram posicionados lateralmente. Assim, quando Rosalie virava em um corredor, ela estava lentamente subindo na construção. Eventualmente, Rosalie e Amie estavam paradas em frente aos ditos quartos.

—Como eu faço para entrar? — Rosalie parou em frente a porta, percebendo que não tinha nenhuma chave.

—Você foi registrada na Golden Cross, certo? — Amie cruzou os braços.

—Sim, meu pai preencheu todos os formulários um dia antes de — Ela parou em seus pensamentos, as memórias do acontecido retornando.

—É — Amie colocou um de seus braços sobre o ombro de Rosalie —Deve ter sido difícil. Ainda bem que a Golden Cross conseguiu salvar vocês dois.

—Sim...

—Enfim — Amie sorriu e balançou as palmas abertas —Vamos deixar isso para trás! Se você foi registrada, isso significa que o quarto está com suas informações.

—Como assim? — Rosalie olhou para Amie, confusa.

—Coloque sua mão na maçaneta, e ela deve destravar — Amie sorriu, se virando para seu próprio quarto e colocando sua mão sobre a maçaneta. Um som foi ouvido e ela abriu a porta, sem a necessidade de uma chave —Viu?

Rosalie se virou para a porta de seu quarto e colocou sua mão na maçaneta, girando o objeto. Ela ouviu um som abafado saindo da porta, e então conseguiu empurrar a mesma para dentro.

—Certo — Amie disse, se virando de costas para sua porta —Já está tarde, e é melhor você dormir. Amanhã de manhã a gente te leva para conhecer a escola.

—Tudo bem — Rosalie bocejou —Até amanhã.

Rosalie entrou em seu quarto e fechou a porta atrás de si, ouvindo o som da fechadura se trancando automaticamente. Olhou ao redor para encontrar um quarto bem espaçoso, no formato de um quadrado. As paredes eram pintadas em uma tinta azul bebê. Pelo que ela imaginava, ela poderia pintar seu quarto mais para frente. O chão era decorado com azulejos brancos, que combinavam com a cor das paredes. Na parede oposta a porta estava uma janela bem grande, com vista para um grande lago. Estava de noite, mas a luz da lua era suficiente para mostrar diversas árvores frutíferas espalhadas pelo campo gramado que existia até o lago, com mesas posicionadas sobre as sombras de suas copas. Rosalie andou até a janela e fechou as cortinas blackout brancas, pois preferia dormir daquela forma. Quando ela era mais nova, lembrava de ter tido pesadelos ao deixar a janela aberta. Logo abaixo da janela estava uma cama de solteiro, com lençol azul claro e cobertor branco, aparentemente de algodão. Rosalie estava se sentindo mais cansada, e as cores leves daquele lugar a ajudavam a se sentir mais relaxada e segura. Assim que sua cabeça bateu no travesseiro, sua visão se apagou e ela dormiu.

Seu sono, contudo, não foi tranquilo. Enquanto ela se debatia em sua cama, sua mente viajava por suas memórias e invenções, aparentemente torturando Rosalie. Suas mãos apertaram o cobertor que seguravam e seus dentes se forçaram um contra os outros.

Em seu pesadelo, Rosalie viu a cena que havia transcorrido mais cedo. Ela estava no meio da estrada e pode ver o carro de seu pai se aproximar. Repentinamente, toda a felicidade que sentia desapareceu com o surgimento repentino de um chicote, que partiu o carro de seu pai ao meio. Rosalie caiu em um abismo aparentemente sem fim, a escuridão agarrando-a e impedindo-a de gritar. Ela viu a imagem de seu pai, deitado em uma maca de hospital e coberto até a cabeça — como faziam quando um paciente morria. O corpo se levantou e olhou para ela com olhos brancos, dizendo algo em uma língua incompreensível.

—Rex, tremendae majestatis. Qui salvandos salvas gratis. Salve me fons pietatis — Disse o corpo, seus olhos transbordando de luz antes que toda a escuridão que cercava Rosalie não existisse mais.

E ela acordou, se sentando em sua cama. Suas roupas estavam suadas e ela se sentia acabada. Rosalie colocou a destra sobre a própria testa, sentindo um pouco de dor de cabeça. Rosalie olhou para o lado de fora da janela. O sol ainda estava preguiçosamente se levantando no horizonte, seus raios de estendendo para acariciar as nuvens após a noite fria. Rosalie se levantou de sua cama, decidida que não iria conseguir mais dormir.

—————

Rosalie ouviu batidas a sua porta. Ela já havia tomado banho e trocado suas vestes. Correu até a porta e a abriu, vendo a figura de Amie parada lá, vestindo o uniforme da Golden Cross.

—Bom dia — Amie sorriu.

—Bom dia — Rosalie se esforçou um pouco para dar um sorriso em resposta —Vamos?

—Sim — Amie respondeu, se virando para o corredor.

Rosalie saiu de seu quarto e fechou a porta atrás de si, seguindo Amie pelo corredor. Amie desceu as escadas aos saltos, enquanto Rosalie aumentou um pouco sua velocidade para não ficar tanto para trás. Quando saíram do prédio, um jovem de cabelos escuros estava parado lá, com as mãos para trás. Ele vestia o mesmo uniforme que Amie, apesar de possuir um cardigan marrom sobre seu torso. O olhar dele era vazio e parecia não ter direção.

—Rosalie — Amie chamou —Esse é Trevor Nichols.

—É um prazer lhe conhecer, senhor Nichols — Rosalie disse, tentando ser educada apesar da sensação de desconforto que sentia.

—Bom dia, senhorita Wood — Trevor respondeu, com um tom calmo.

—O que houve com o Seth? — Rosalie perguntou, estranhando a ausência do jovem de cabelos cinza.

—Ele se machucou ontem — Amie colocou ambas as mãos atrás das costas.

—Ele está bem? — Rosalie sentiu uma pontada em seu coração.

—Ele passa bem — Trevor interveio —Mas está impossibilitado de comparecer nas aulas e nas responsabilidades de hoje.

—Eu sou do conselho estudantil também, então vim aqui para te levar para conversar com a diretora — Trevor explicou, ainda com aquele mesmo tom, que parecia nunca mudar —É procedimento padrão para todos os novatos, então não se preocupe — Trevor disse, aparentemente notando que Rosalie havia tensionado seus ombros.

—Bom, eu tenho aula de geografia agora — Amie disse, se afastando um pouco dos dois —Trevor, depois leve ela para conhecer o lago. Podemos ficar por lá durante o tempo vago.

—Certo — Trevor respondeu, se virando em uma direção diferente a de Amie —Vamos?

A caminhada com Trevor foi silenciosa. Ele se manteve calado durante todo o caminho. Rosalie estranhou, mas resolveu esperar para conhecer ele melhor antes de tirar qualquer conclusão. Eles foram se aproximando de um prédio imenso, bem maior do que o dos dormitórios. Aparentemente, aquele era o prédio central, onde ficavam as salas de aula. O interior do prédio era constituído por paredes bege escuras e decoradas com pilastras de madeira escura. O chão era um piso branco com uma cruz dourada no centro, apenas alguns metros antes da escada que conduzia aos próximos andares, que consistiam de corredores. Rosalie podia contar pelo menos três andares diferentes dali, apesar de ela saber que haviam ainda mais. Rosalie quase perdeu Trevor, que já estava caminhando na direção de uma das portas que estavam no primeiro andar. Havia uma pequena placa de vidro que dizia diretoria. Ao lado dessa porta estavam dois bancos de madeira, paralelos a vasos de planta. Rosalie se sentou em um dos bancos, enquanto Trevor foi até a porta.

—Trevor Nichols — Ele disse, logo após bater na porta —Estou trazendo Rosalie Wood.

—Entrem, por favor — Uma voz feminina, severa e controlada, respondeu.

Trevor abriu a porta e gesticulou para que Rosalie entrasse. Depois de ambos entrarem, o jovem fechou a porta. A sala da diretora contava com uma janela na parede oposta da porta. Prateleiras com diversos livros — cada um extremamente grosso — estavam nas paredes laterais. A mesa da diretora ficava no meio da sala, e lá estava ela, sentada atrás desta mesa. Suas mãos estavam estendidas sobre a superfície de madeira, seu olhar firme e forte nos visitantes ali em sua sala. Seus cabelos lisos que alcançavam seus ombros estavam perfeitamente alinhados, quase queimando em seu tom vermelho. Seus olhos castanhos eram decididos e fortes, assim como cada traço em sua personalidade. Ela gesticulou para que Rosalie se sentasse, tal como fez para Trevor, apesar de que este tenha recusado.

—Eu tenho mais alguns assuntos para tratar — Trevor disse, educadamente, apesar de ainda manter aquele mesmo tom que usara com Rosalie —Estarei de volta em quinze minutos.

—Certo — A diretora respondeu, com a firmeza de uma comandante das forças armadas —Deve ser o suficiente. Até lá, senhor Nichols.

Depois de Trevor deixar a sala, a diretora colocou seus olhos sobre Rosalie.

—Seja bem vinda a Golden Cross High, senhorita Wood — Ela disse, seu tom um pouco mais acolhedor do que antes, mas ainda firme como sempre —Meu nome é Robin Harsh, e eu sou a diretora desta escola.

—Obrigada, senhora Harsh — Rosalie respondeu, pondo suas mãos acima de seu colo.

—Bem, creio que já saiba o motivo para que a Golden Cross tenha criado esta academia — Robin estendeu sua destra para pegar uma caneta —Mas preciso que saiba mais sobre a Golden Cross.

Rosalie assentiu com a cabeça, permanecendo em silêncio.

—A Golden Cross é uma organização não governamental que existe há muitos anos — Robin girava a caneta em sua mão, entre seus dedos com uma facilidade imensa —Ela foi criada depois da descoberta das informações em torno do surgimento de habilidades especiais.

—A Golden Cross foi responsável por aquela explosão que ocorreu há um ano atrás? — Rosalie abaixou um pouco seu rosto ao fazer essa pergunta.

—Não — Robin inclinou seu rosto para a direita, fitando as estantes de livros presentes naquele lado da parede —Podemos dizer que estávamos tentando evitá-la.

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