5
Rosalie abriu seus olhos. Apesar dela não ter como saber disso, já haviam se passado cinco horas desde tudo o que aconteceu. Cinco horas desde que ela e seu pai foram emboscados na estrada por um homem que atacava com chicotes feitos de material metálico. Cinco horas desde que ela fora nocauteada e por muito pouco escapara da morte. Cinco horas desde que dois adolescentes haviam aparecido e a salvo. Ela agora estava deitada sobre uma cama de hospital, um fino cobertor sobre seu corpo enquanto algumas agulhas espetavam as veias de seu braço esquerdo. Rosalie olhou ao redor e pôde ver que estava em um leito de hospital, o que não era tanta surpresa. Ao lado esquerdo de sua cama estavam alguns suportes que continham líquidos — alguns transparentes e outros de colorações fortes como carmim e violeta — e do lado direito estavam alguns monitores, que mediam sua frequência cardíaca e respiratória. Todo o leito — que era delimitado por cortinas brancas e azul bebê — era pintado naquele mesmo tom de cor. Apesar de estar em uma temperatura relativamente confortável, Rosalie não podia evitar se sentir desconfortável ali. Era como se estivesse presa.
—Olha — Disse uma voz masculina, provinda de um garoto que adentrava o pequeno leito onde estava Rosalie —Parece que você acordou.
Ele parecia ter a mesma idade de Rosalie e apresentava uma estatura mediana para alguém nesses parâmetros. Seus cabelos bagunçados tinham uma coloração desbotada de cinza, enquanto seus olhos apresentavam uma tonalidade próxima — um azul desbotado, muito puxado para o cinza. Seus olhos eram nublados como um dia de chuva e sua expressão era sorridente, mas não era possível distinguir o que ele realmente estava pensando naquele momento.
—Onde eu estou? — Rosalie perguntou, se sentando na cama.
—Ei, ei — Ele se aproximou ao ver o movimento súbito de Rosalie —Sem movimentos bruscos, você ainda está se recuperando.
—Me recuperando? — Ela tomou alguns segundos para se lembrar de tudo o que havia acontecido, as memórias tão recentes e tão dolorosas sendo apenas borrões em sua mente confusa —Onde está meu pai? — Dessa vez, Rosalie quase arrancou os cateteres de seu braço e saltou para fora da cama.
—Eu já disse para ter calma, não? — Ele se levantou e começou a andar pelo leito, suas mãos em suas costas —Depois do incidente na autoestrada e do posterior resgate, você foi trazida diretamente para a Golden Cross. Agora você se encontra na ala de enfermaria, para se recuperar de seus ferimentos antes de poder ir para seus aposentos e começar sua rotina escolar — Ele explicou tudo estando de costas para Rosalie.
Houve uma pequena pausa no momento em que o jovem misterioso se virou de volta para Rosalie, se aproximou do monitor cardíaco dela e começou a acompanhar as linhas com seu indicador destro.
—Seu pai — Ele continuou, após alguns segundos de silêncio —Por ter sofrido apenas pequenas escoriações, foi levado a um hospital público para receber o devido tratamento. Ele já passa bem — O jovem deu um sorriso para Rosalie, inclinando sua face na direção da última —Ele foi enviado então para o novo apartamento para finalizar as mudanças.
Rosalie, enfim, conseguiu suspirar aliviada. Tudo parecia ter terminado bem. E só então ela se permitiu pensar. Ela estava na Golden Cross High.
—Vejo que já conseguiu se animar — O jovem se sentou na cama de Rosalie novamente, cruzando suas pernas.
—Quanto tempo até eu poder sair daqui? — Rosalie perguntou, encarando aquele jovem estranho que estava em seu quarto, agindo como se já a conhecesse há anos —E, aliás, quem é você?
—Esse é o espírito! — Ele respondeu, animadamente, se levantando da cama e indo em direção a saída do leito —Meu nome é Seth Acosta, aliás. É um prazer lhe conhecer, Rosalie Wood.
—Como você... — Ela ia começar a formular a pergunta, mas Seth foi mais rápido, apontando na direção de uma placa próxima ao monitor cardíaco de Rosalie onde estavam indicados o seu nome, sobrenome e algumas outras informações básicas.
—Até mais, senhorita Wood — Ele disse, exagerando em uma cortesia de forma proposital para fazer com que sua piada se destacasse antes de sair do leito.
Os próximos minutos se passaram sem nenhuma interação. Rosalie simplesmente se sentou ali, olhando ao redor e esperando que alguém viesse — a enfermeira, como Seth havia dito. Finalmente, após o que Rosalie achava serem 15 minutos, uma mulher vestida de branco entrou no recinto. Ela estava na faixa dos cinquenta e tinha um rosto proporcional a essa idade. Seus cabelos castanhos — agora já manchados por alguns fios brancos — estavam presos em um coque atrás de sua cabeça. Ligeiramente acima de seu ombro esquerdo, havia a cruz dourada que era o símbolo da Golden Cross.
—Boa noite, senhorita Wood — A mulher disse, sorrindo calorosamente para Rosalie.
—Boa noite — Rosalie respondeu.
—Meu nome é Victoria Newton, mas você pode me chamar de enfermeira Newton — Ela se apresenta, vendo que Rosalie não estava se sentindo confortável.
—Muito prazer, enfermeira Newton — Rosalie deu um sorriso fraco.
—Eu estou aqui para ver como você está, e se já está bem o suficiente para ser liberada — A Enfermeira sorriu, se aproximando de Rosalie e checando os monitores durante alguns instantes —Ao que parece, você está incrivelmente bem, passando pelo que passou. Você se sente bem?
—Sim — Rosalie respondeu, olhando para a enfermeira —É como se tudo o que aconteceu tivesse sido um sonho.
—Hm... — A enfermeira puxou uma lanterna de um dos bolsos de seu avental branco e se aproximou de Rosalie.
Enfermeira Newton usou de seus dedos indicador e polegar para puxar as pálpebras de Rosalie, então passando a luz da lanterna diretamente acima das pupilas para poder analisar a reação. Ao ter seu resultado, ela parece satisfeita, se afastando e colocando a lanterna de volta no bolso de onde saíra.
—Eu vou pedir que os médicos da Golden Cross peçam alguns exames mais tarde, mas, por agora — Enfermeira Newton voltou a se aproximar, dessa vez trabalhando com suas mãos incrivelmente rápidas para retirar os catéteres e os demais cabos que estavam conectados ao corpo de Rosalie —Você está bem para começar seu tour pela escola. O senhor Acosta deve estar te esperando na recepção. Basta seguir pelo corredor do lado de fora.
—Certo — Rosalie usou suas mãos para afastar o cobertor e se colocou de pé —Até depois, enfermeira Newton.
Rosalie saiu do leito onde estava para se deparar com um corredor imenso, que ia até além do alcance de sua visão. Com cinco metros de largura, pontilhado por aqueles diversos leitos hospitalares de cada lado do corredor. O espaço era muito bem iluminado e estranhamente silencioso, o que fazia com que Rosalie se sentisse um pouco perdida e tonta naquele lugar. Uma mulher — vestida com o mesmo avental que enfermeira Newton usava — passou pelo corredor, seus passos quase totalmente silenciosos.
—Com licença — Rosalie chamou a mulher, bem mais nova do que a outra enfermeira que lhe havia atendido, dotada de cabelos ruivos —Para onde fica a recepção?
—Naquela direção, senhorita — Ela respondeu, de forma apressada, apontando para a direção da qual estava vindo —Me desculpe, mas tenho que ir agora.
E assim Rosalie foi deixada para trás, a enfermeira desaparecendo naquele imenso corredor. Sem mais ter o que fazer, ela segue pela direção que fora apontada pela enfermeira. Após alguns minutos — sim, minutos — de caminhada, Rosalie chega a tal recepção. Havia uma curva no corredor, com uma porta. Acima desta última havia uma placa que identificava aquele espaço como sendo a recepção. Antes que Rosalie tivesse a chance de abrir a porta, Seth o fez. O garoto simplesmente emergiu do nada, indo na direção de Rosalie.
—Que bom que foi liberada — Ele pegou uma das mãos de Rosalie, em um entusiasmo sem igual —Venha.
Rosalie ficou quase confusa com toda aquela energia, seguindo o caminho pelo qual fora conduzida por Seth. Ela foi levada para fora do prédio, se deparando com o céu estrelado do lado de fora. Pisou em uma grama macia e muito bem cortada, com uma coloração extremamente bela. Seth diminuiu o ritmo, notando que Rosalie estava olhando para o céu.
—É lindo, não é? — Ele perguntou, soltando a mão de Rosalie e olhando para o céu.
—Parece que estamos bem longe da cidade — Rosalie notou.
—Sim — Ele voltou a olhar para Rosalie. Apesar de ainda ser extremamente sorridente e animado, agora ele se encontrava em uma postura bem mais formal, com suas mãos atrás de suas costas —A Golden Cross comprou um grande lote de terra para poder construir a universidade, para que não fôssemos incomodados pelo governo ou pelas construções da cidade grande.
—A Golden Cross é rica assim?
—Você não faz ideia — O sempre presente sorriso de Seth aumentou enquanto ele dizia essas palavras —Vamos, eu preciso lhe mostrar os vestiários e o seu dormitório. Amanhã nós continuaremos o tour, pois eu tenho aula daqui há alguns minutos.
Dito isso, Seth começou a correr por um caminho de pedras posicionadas entre a grama. Alguns postes de iluminação estavam posicionados ao lado desse caminho, mas sua luz não era forte o suficiente para que pudesse ofuscar as estrelas que Rosalie havia notado. Tudo parecia ter sido muito bem pensado — e extremamente caro — Rosalie pensa.
Estava de noite, então Rosalie não conseguia ver muito bem o que a cercava. Mas pelo que podia ver, seus arredores eram como os de qualquer outra universidade. Salvo pelo fato de que aquela era enorme. Pelo que Rosalie podia ver, aquele imenso gramado era o campus da academia. Haviam algumas árvores posicionadas aqui e ali — alguns bancos e caminhos que pareciam levar a lugar nenhum, pois a visão de Rosalie não os enxergava completamente naquela escuridão. Sorte que Seth estava com ela, senão, ela não saberia como se guiar por ali.
Depois de muito caminhar pelo caminho de concreto que estava no chão, um prédio apareceu na visão de Rosalie. O prédio tinha uma arquitetura moderna e era construído com tijolos vermelhos e um pouco de madeira, contando também com muitas janelas.
—Ali — Seth apontou em direção ao prédio —Aquele é o dormitório feminino.
—Só o feminino? — Rosalie estava surpresa. Aquele prédio era imenso!
—Sim, o masculino fica naquela direção, em um prédio diferente — Seth parecia se divertir com as reações de Rosalie.
Ambos foram se aproximando da entrada do prédio, que era uma porta de vidro gigantesca, com mais de cinco metros de altura e dez de comprimento. Com a aproximação de Seth, uma jovem de cabelos ruivos e lisos saiu de dentro do prédio para cumprimentá-lo.
—Olá, Seth — Disse ela.
—Boa noite, senhorita Graham — Ele respondeu, naquele mesmo tom de sempre, se curvando exageradamente.
—Engraçadinho — Ela fez careta —Eu já disse que pode me chamar de Amie.
—Bem, Amie — Ele se reergueu e continuou —Essa é a senhorita Wood —Disse, gesticulando na direção de Rosalie —Ela foi trazida para cá hoje por Trevor.
Amie passou seus olhos violeta sobre Rosalie, logo dando um caloroso e gentil sorriso para a jovem, que retribuiu a singela cortesia.
—Bem, como eu não posso entrar no dormitório feminino — Ele continuou —Eu gostaria de pedir que levasse ela até seus aposentos.
—Claro — Amie correu em direção a Rosalie, segurando ambas as mãos da jovem, sorrindo —Venha, eu vou te mostrar o prédio.
—Bem, enquanto vocês se divertem sem mim — Seth disse, brincalhão, se virando para ir embora —Eu vou para a minha aula noturna.
—Ora seu — Amie gritou, balançando um punho na direção de Seth enquanto ele se afastava —Eu ainda acabo com você!
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