Impressionando os Anjos-Gustavo Mioto

13/08/15

"Acidente de carro na Anhanguera mata mãe e filho."

Um motorista bêbedo em alta velocidade bate no carro de uma família, matando a mãe e o filho que voltava da faculdade.

[...]

Momento atual

Encontrava-me lendo novamente aquela notícia que mesmo depois de três anos, ainda mexe muito comigo.

Decidi sair para dar uma volta. Precisava esfriar a cabeça. Fui ver minha mãe e meu irmão.

Seus túmulos estão um do lado do outro com os dizeres:

Ana Silva Gonçalves

Mãe, mulher e amiga querida.

1982-2015

Guilherme Silva Gonçalves

Irmão e filho querido

1997-2015.

-Oi. Posso conversar com vocês?

Me sentei no meio das lápides, aproveitando a árvore.

-Hoje foi tudo bem, só um pouco cansativo. Dia duro no trabalho que acabou comigo.

Acabei me imaginando com os pés para cima, pronta para dormir.

Olho para a lápide do Gui e meus olhos enchem d'água. Éramos tão unidos.

-A saudade de você a visita é frequente. Que nem aquela tia chata que irritava a gente. Ah! Saudade da gente.

Volto meu olhar para minha mãe.

-Tirando isso, do resto até que eu estou dando conta. A Julinha 'tá' banquela e o Pedro só apronta.

Meus irmãozinhos mais novos estão tão crescidos. Não é fácil cuidar deles, mas eu amo aqueles dois pequenos pestes.

-O que faltava do carro eu já quitei a conta. Ah, falando nisso mãe, terminei o livro que você pediu para eu ler. E só na página 70 entendi você; naquela parte que fala que o amor é fogo que arde sem se ver.

Minha mãe era uma mulher que adorava ler romances. Ela dizia que um dia eu iria entende-la.

A essa altura, as lágrimas saiam descompassadas. Eu queria ouvi-los. Eu precisava. Olhei para o céu nublado.

-Como que está aí? De vocês faz tempo que não ouço nada. Falem um pouco suas vozes estão tão caladas. Sei que agora devem estar impressionando os anjos com suas risadas.

A chuva começou a cair, se misturando as lágrimas, lavando minha tristeza. Estranhamente, não era gelada. Parecia um abraço molhado e morno.

Mas de você faz tempo que não ouço nada. Fala um pouco, sua voz tá tão calada

-Ai de cima fala alto que eu preciso ouvir! Como é que está aí?

O som do monitor cardíaco quando estávamos no hospital volta a me atormentar. Forço minha memória para os bons momentos.

Minha primeira noite de bebedeira onde Gui cuidou de mim.

Meu primeiro namorado, onde minha mãe ficou do meu lado.

Meu irmão me consolando quando quebrei o braço.

Minha mãe me abraçando quando eu ficava confusa na minha adolescência.

Os dois sempre me protegendo e cuidando de mim.

Sorri em meio às lágrimas.

Sei que deve estar impressionando os anjos com sua risada.

Aí de cima fala alto que eu preciso ouvir

Como é que tá aí?

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