(02) um sonho que não pode se tornar realidade
Yeji acordara cedo, o som do despertador ecoando pelo pequeno apartamento. A manhã estava fria, e a luz suave do sol invadia seu quarto através da janela. Ela boceja enquanto se espreguiça, colocando os pés no chão com uma leveza quase felina. Seu cabelo ruivo, ainda amassado pela noite, cai em ondulações ao redor do rosto. Ela passa os dedos pelos fios, tentando dar uma ajeitada, antes de se dirigir ao banheiro.
No espelho, seu reflexo revela os vestígios da noite anterior. Ela se olha por um momento, meio sonolenta, e começa sua rotina de higiene matinal. Escova os dentes, já pensando na escola e nos amigos, mas ao apertar demais o tubo de creme dental, algo estranho acontece. O que deveria ter sido uma pequena quantidade de pasta, se espalha de forma exagerada, caindo em um grande montão no lavatório. Ela olha para o tubo e depois para a mão, que ainda parece firmemente apertando o plástico.
—— O que... que isso? - murmura, franzindo a testa.
Era como se tivesse dado mais força do que o normal, quase como se tivesse o poder de esmagar qualquer coisa. Seu coração dispara por um segundo, e ela se lembra da picada de aranha e do sonho que tivera alguns dias antes, mas decide rapidamente descartar a ideia.
—— Nada disso. - pensa consigo mesma. —— É só uma coincidência.
Ela respira fundo, balança a cabeça, e começa a se arrumar novamente, ignorando aquele pensamento estranho. O tempo estava passando, e a escola não esperaria. Coloca uma camisa de manga longa simples e uma saia, seus tênis brancos combinando com o estilo descomplicado que ela costuma usar. Ela coloca uma jaqueta por cima, segura a mochila e sai de casa apressada.
Ao chegar na porta do colégio, vê seus amigos esperando. O primeiro a aparecer é Hyunjin, com seus cabelos loiros e suas roupas largas. Ele estava de fones de ouvido, mas ao notar a chegada de Yeji, tira-os rapidamente e sorri.
—— Aí está você. Achamos que ia se atrasar hoje! — ele diz, com um sorriso brincalhão.
Beomgyu, ao lado de Hyunjin, está ajeitando o boné, e lança um olhar divertido para Yeji.
—— Parece que estamos esperando a estrela da manhã! - Beomgyu ri. —— Tudo bem, Ji?
Yeji sorri, embora sinta que algo ainda não estava certo. A leve confusão com a força de sua mão ainda pairava na sua mente, mas ela tenta não demonstrar. Com um gesto despreocupado, ela responde.
— Claro, só um pequeno acidente com o creme dental... Mas tudo certo. — Ela ri, dando de ombros enquanto finge desdém.
Chaeryeong, que estava ao lado de Beomgyu, já se aproxima com um sorriso caloroso. Seu cabelo preto brilha sob o sol, e ela usa o uniforme e uma saia simples. Ela abraça Yeji com força, como sempre fazia.
—— Querida! Como você está? Preparada para mais um dia de caos? — Chaeryeong ri, sabendo que a escola sempre tinha algo surpreendente reservado para eles.
—— Ah, caos não me assusta mais, eu acho. Espero não ter que aguentar aqueles insuportáveis da sala de novo.
Eles começam a andar em direção à entrada do colégio, trocando pequenas piadas sobre as aulas de matemática e o quão entediante seria a aula de história do dia. O clima no colégio estava como sempre, animado e cheio de conversas, enquanto o som dos adoentada conversando ecoava no ar frio da manhã.
—— Hoje vai ser um dia interessante, eu tenho um pressentimento! - diz Hyunjin, com um brilho nos olhos.
O garoto sempre começava o dia com pressentimentos, e se orgulhava no final do dia dizendo um típico “eu avisei” para irritar seus amigos que duvidaram dele.
—— A professora de biologia parece ainda mais estranha, vocês notaram? - o loiro perguntou.
—— Não sei... Acho que ela só está tentando nos assustar com aqueles experimentos malucos e com as histórias assustadoras da sua vida amorosa. — Chaeryeong responde, rindo.
Yeji, por sua vez, observa as expressões de seus amigos, tentando focar no presente, mas uma sensação estranha ainda a atormenta. Algo sobre ela mesma, algo que não consegue controlar. Ela olha para o horizonte, onde as árvores ao redor da escola balançam suavemente com o vento da manhã. A rotina, os amigos, e o mundo à sua volta continuam, mas dentro dela, um sussurro de dúvida persiste, enquanto a sensação de poder incontrolável cresce. O que está acontecendo com ela? E o que mais poderia vir depois daquela picada?
"Vou tentar esquecer disso por agora", ela pensa, tentando empurrar o sentimento para o fundo da mente.
Eles entram juntos no colégio, prontos para mais um dia, mas Yeji sabia que algo estava prestes a mudar.
E, de algum jeito, ela não estava tão certa de querer ignorar isso.
[...]
A aula de história está uma verdadeira tortura.
O professor fala sem parar sobre a Revolução Industrial, mas eu mal consigo prestar atenção. Eu não me importo com o que ele diz, com os livros e as datas. O que está na minha cabeça agora é outra coisa… outra pessoa, na verdade. Ela está ali, na minha frente, sentada na cadeira da frente na fileira do lado esquerdo, com os cabelos loiros impecavelmente arrumados, como sempre. O jeito que ela mexe neles, como se fosse algo natural, algo que todo mundo deveria fazer… mas só ela sabe fazer daquele jeito. Eu quase posso sentir o cheiro do seu perfume de longe, sendo ele levemente adocicado.
Não consigo desviar o olhar, mesmo tentando me concentrar no quadro, nas anotações que tentam me manter ancorada na realidade, mas é impossível.
Ela está ali, tão próxima, mas ao mesmo tempo tão distante. Seu rosto sério, como sempre, com aquele toque de mistério. As sobrancelhas perfeitamente desenhadas, o contorno delicado do seu rosto, tão… perfeito. Os olhos castanhos, profundos como um rio, que me atraem, me hipnotizam cada vez que ela olha para frente. E, de vez em quando, ela faz aquele movimento de cabeça, o cabelo dourado caindo de forma tão fluida, que parece que o tempo desacelera só para ela.
Eu a observo, fascinada, sem conseguir parar.
Meus dedos tocam a caneta sem muito propósito, a mente longe, pensando nela, nela e em como ela parecia tão calma, tão focada nos estudos, enquanto eu… Eu não consigo focar em mais nada a não ser ela. Como ela escreve, como seus dedos se movem com precisão, como seus lábios se apertam em um pequeno suspiro de concentração. Ela é tudo para mim agora, e semprwe foi.
E a cada segundo que passa, eu me sinto mais vulnerável, mais perdida no que sinto por ela. Será que ela sabe? Será que ela percebeu o quanto a minha atenção está sempre voltada para ela? Será que eu sou tão óbvia? Ou talvez, ela nem note minha presença. Eu sou só mais uma aluna na sala para ela. Mas, se ela soubesse… Se ela soubesse o quanto eu queria ser a razão do seu sorriso, o quanto eu desejava ser a pessoa que a faria esquecer os problemas e as preocupações por um momento. Eu queria tocá-la novamente, conversar com ela de um jeito que fosse só nosso, sem todas essas barreiras que eu mesma construí ao longo do tempo.
Eu não sei quanto tempo se passa, mas o olhar dela, de repente, se vira para trás, e nossos olhos se cruzam.
Eu congelo.
Um calor sobe pelo meu pescoço e eu desvio rapidamente o olhar, mas não posso deixar de sentir o impacto daquilo. Eu sabia que ela tinha me visto. Eu sabia. Meu coração acelera e fico paralisada, como se o mundo inteiro tivesse desaparecido em torno de nós. Por um breve segundo, os olhos dela parecem procurar algo em mim, talvez uma resposta que eu não sei dar. O que ela pensou ao me ver assim? Após o nosso passado, eu me tornei apenas uma conhecida distante, não é? Eu sentia um frio na barriga ao lembrar que ela não tinha mais sentimentos por mim, sendo românticos ou não. Qualquer mínima interação com ela me deixaria feliz, para falar a verdade.
Ela solta um suspiro baixo, quase imperceptível, e sua expressão muda, como se decidisse não se importar mais com o que aconteceu. Não sei o que ela pensa. Eu não sei o que ela sente, e isso me corrói, me dilacera de uma maneira que eu não sei como explicar.
E, antes que eu possa sequer reagir, Lia se levanta da cadeira, com aquela graça única que só ela tem. O movimento dela é suave, mas é como se ela estivesse se afastando de mim a cada passo que dava. Ela faz isso com uma tranquilidade que me desarma. Não faz barulho ao levantar, mas sua presença preenche toda a sala, como se ela fosse o centro de tudo e todos os olhos estivessem nela.
Eu a vejo sair, com os passos silenciosos e firmes, e eu fico ali, imóvel, observando-a enquanto ela se afasta da sala. Cada movimento dela parece lento demais, como se eu não pudesse suportar a distância que vai crescendo entre nós. O som dos seus passos ecoando levemente na sala é a única coisa que consigo ouvir enquanto ela se vai. Me sinto estúpida por não ter feito nada, por não ter dito nada, mas o medo de ser rejeitada, de ser ignorada, me paralisou. Eu poderia ter falado algo, poderia ter feito alguma coisa para que ela soubesse. Mas, em vez disso, tudo o que eu fiz foi observá-la, observá-la com uma obsessão silenciosa que agora parece estar se tornando impossível de controlar.
A aula segue, mas agora, o resto das palavras do professor soa como um borrão distante.
Eu não posso mais me concentrar. Só posso pensar nela. Ela está longe agora, mas ainda posso sentir a presença dela em cada canto da sala. E, por um momento, me pergunto se ela me viu de verdade, ou se fui só mais uma aluna que passou despercebida. Eu gostaria de acreditar que ela sentiu algo, que ela percebeu o quanto eu me importo, mas talvez isso seja só um sonho. O meu sonho.
E eu sei que é um sonho que pode nunca se tornar realidade.
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