6 - ARMADILHA

— Olha só quem está aqui. — Caim continua sentado em seu trono de Marfim, branco, coberto de ouro puro. — Você não se acha, talvez, somente um pouco petulante chegando diante de mim assim? — A pergunta do monarca, ao ver o ex-general de Nimrod entrando em sua sala do trono, encharcado com tanto sangue dos soldados, que o corpo nu parece está vestido de vermelho. O questionamento é mais uma ironia com Bel-Sar-Uxur, do que propriamente uma pergunta.

A Sala do Trono, vista de cima, parece exatamente uma imensa peça de engrenagem. Uma catraca gigante, onde no centro dela, está o trono.

— Caim, a cidade está cercada pela Sagrada Horda, chamada "Anjo da Morte"... e se não retirar o feitiço primordial da realidade, pessoas inocentes perecerão aqui. — O monarca levanta suas sobrancelhas, abre um sorriso maroto e ainda sentado responde:

— Meu caro amigo, quem tem um nome tão digno "Salve a vida do rei"— Caim ao falar o significado do nome Bel-Sar-Uxur, faz sinais com as mãos, como quem está mostrando o nome do visitante como sendo importante... num letreiro. —, deve está aqui para cumprir sua missão, e não uma outra qualquer. Caim faz alusão à sua proteção.

— Você não é o meu rei, e nunca o será. — A voz seca e dura de Bel-Sar-Uxur, alveja o monarca igual uma pedra que fora lançada por uma funda.

— Mas posso o ser. Imagine todas as riquezas, sangue, mulheres ou homens que pode ter?

— Não sirvo a mais ninguém. E quando digo ninguém... é ninguém.

— Será mesmo? Se não me engano, o seu rei foi morto, por aquele generalzinho... como é o nome daquele arcanjo intrometido?

— Pouco importa o nome dele agora. Venho até aqui, cobrando um favor e nada mais. Prometo ir embora assim que você pagar o que me deve.

— Thell... o nome dele é Thell. — Como quem desperta dos pensamentos, Caim volta sua atenção para o general da extinta Ordem do Dragão. — Ops... que coisa sem modos, você vem até aqui, em meu palácio, mata meus soldados, bebe-lhes o sangue e vem me cobrar um favor? — Caim levanta-se do trono. — Eu sei que você sabe de quem sou filho. Eu não devo nada a você!

— Pouco me importa de quem você é filho. Eu exijo meu favor pago com a liberdade dos inocentes. Não esqueça que salvei a sua vida. — Caim desce os degraus do trono. Quatro guerreiros entram pelas portas laterais. Dois por cada lado.

— Eu exijo? — Caim gargalha. — É sério isso? — As pessoas que você chama de inocentes, vem até Sodoma ou Gomorra em busca de prazeres que normalmente nunca as teriam, nas outras cidades.

— Verdade. Algumas sim. Todas não! Há pessoas que entraram em Sodoma ou Gomorra apenas para comer algo, descansar e seguir viagem. — Bel-Sar-Uxur, afasta a perna direita sessenta centímetros para trás, preparando-se para defender-se e atacar.

— Falando assim, nem parece o assassino sanguinário que é. Mas, de certa forma entendo que deseja salvar também aqueles que são iguais a você. E já vou te avisando que é perda de tempo. E não faz essa cara não... você sabe muito bem o quão eles são diferentes... só pensam em saciar todos os desejos, principalmente os de beber sangue. São Kingus, Bel-Sar-Uxur, apenas Kingus — É o termo sumério para vampiros. —! É isso o que eles são! E não sua família.

— Caim não adianta resistir. O Anjo da Morte, não deixará pedra sobre pedra. Abbadom destruirá e matará a todos! A cidade está cercada. Se não acredita no que estou dizendo, dirija-se até os vitrais e vide com seus próprios olhos. — Caim esconde suas mãos para trás. — Abbadom não destruirá a cidade se existir dez pessoas inocentes... e você sabe que há mais, bem mais que dez pessoas.

— Bel-Sar-Uxur, pouco me importa com o que Abbadom vai fazer aqui. Além do mais, a Sagrada Horda serve a quem mesmo? — Bel-Sar-Uxur rodopia sua espada feita de purílio.

— Poupe a vida desses quatros homens e a sua. Não quero problemas com seus pais. — O sorriso na voz do forasteiro, detona o pouco senso de humor que ainda existia no monarca. Escutar que "não quero problemas com seus pais", foi a gota d'água.

— Bel... se eu matei meu irmão, a quem amava, quanto mais ter piedade de estranhos, ou mesmo de um ignóbil igual a você e os da sua laia. Garanto que não serei eu a morrer. Homens, matem-no!

— Como essa cidade fede. — Reclama Miguel.

— Sim. — Responde Thell pensativo.

— E o mau cheiro vem da pior magia negra, possível. O que está pensando?

— O porquê dessas cidades existirem?

— Eu também estou me fazendo essa pergunta.

— Começou com Sodoma, depois Gomorra... o que Caim ganha com isso?

— Caim, matou Abel por inveja. E foi marcado. — Responde Miguel enquanto se aproximam da rua de Ló.

— E muito bem marcado. Todos de imediato sabem que ele matou o irmão.

— Verdade... o Altíssimo fez os dois globos oculares de Caim ficarem diferentes. O esquerdo totalmente preto, igual seu interior, e o direito tão vermelho como o sangue do irmão, que respingou em sua cara,quando o matou.

— Agora todos sabem o que ele fez...

— Exato. — Responde o líder dos arcanjos. Thell para Miguel na rua de Ló, que o pergunta: — Por que paramos?

— É por isso que estamos aqui. Vingança Miguel. A mais pura e mortal vingança.

— Caim se vingando da humanidade?

— Não! Do Eterno! Ele sabe que a sentença foi dada. E que de qualquer forma seria dada.

— Toda alma que pecar... morrerá.

— Sim, e mais do que isso. O Eterno prometeu que nunca mais destruiria a Terra habitada pela água.

— O Anjo da Morte! O fogo!

— Miguel, de todo jeito, parece que Sodoma e Gomorra estão perdidas! As cidades não são armadilhas para os humanos, mas sim para o Eterno.

— Se a cidade viver, teremos outras cidades cheias de Kingus. Criaturas da noite. Mas, não iguais a Bel-Sar-Uxur!

— Serão piores! Muito piores. E se O Eterno destruir, os povos circunvizinhos colocarão a culpa...

— No Eterno! — Miguel prende os lábios com decepção, agonia e dor, quando responde a Thell, que o olha esmorecido. — E dirão que matou inocentes ou qualquer outra coisa.

— O que faremos? — Pergunta Thell.

— Vamos tirar Ló e sua família da cidade.

— E enquanto você sai da cidade com eles, eu vou ao encontro de Abbadom. —Sentencia Thell, o seu destino.

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