Musa Multiforme
I
Escondida como um vidro entre os arbustos,
por sinais a entrevejo, e impressentida
ela irrompe inumana e em meu susto
anima toda a sépala do ar; e a vida
verdeja com mais dor no solo vário
dos sentidos, tal um corpo que, multiplicado,
pelas cópias retorcidas de um sudário
seus contornos pelo mundo despejados
não contivesse mais em si o som da onda
que o dominasse, azul, no frasco mínimo.
E tudo se perdesse; e expandido, sonda
no mais solitário de mim como se fora o Dídimo
apóstolo, meu ser inexato - enquanto ela
sobre o leão alado do meu clamor mais íntimo
ergue o espelho ingrato da quimera.
II
Já é antiga; em tudo quanto fui, no recesso
da luz primeira em que enxerguei o mundo
ela assumiu a forma da inocência; e tão mutável
clarão de lua em noite variada
roubou de humanos rostos uma forma exata
com que assumir depois minha miséria. Em sua roda
de incansável jaspe lançou, pantera, as garras
na oblíqua insônia, no ranger de dentes
com que abri caminho, sangue & sêmen.
E não se cala; assomando, às vezes,
na rosácea de uma tarde, por um vívido
anel de cristal e arabesco
vai se movendo; vai me levando
outra vez para mar & sombra.
Autor: RodrigoP36
Livro: Ruínas de Bizâncio
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