9. O FORNICADOR

Observo o povo de Salem gritar freneticamente para o corpo frio e sem vida da Srta. Pirce para que queime no inferno, enquanto alguns cospem em seu corpo. A brisa da manhã que sinto da janela de meu quarto não poderia ser mais agradável do que aquela. Isaac havia colocado seu corpo em uma carroça e a puxava em direção a todos os corpos queimados por bruxaria eram jogados.

— Você deveria pagar um extra aquele rapaz por levar os corpos a um caminho mais tortuoso. – ouço Tituba ao meu lado enquanto observa comigo o movimento da população naquela manhã.

— O espetáculo é o combustível para o nosso fogo. – digo secamente.

— E a dúvida é apenas um espetáculo para os ricos e mimados. – diz ela em objeção, reprovando meu estado de espirito nada humano. – Lembre-se que você nasceu também. – finaliza ela enquanto se afasta de mim.

Respiro fundo e suspiro pesadamente e sigo em direção a entrada da propriedade onde o nosso querido e amado Jacob Mather está parado, apenas observando o movimento das pessoas, quando na verdade deveria esta incitando mais o ódio na pacata Salem.

— Por tudo o que mais sagrado reverendo, não oferece nenhum conforto, orações ou palavras de encorajamento. Só fique parado como uma estátua contra o povo de Salem. – as palavras saiam com um tom claramente irritado – Não os ofereça absolutamente nada.

Ele me olha de forma tranquila e questiona.

— E o que você quer que eu faça?

— Quero que faça o seu trabalho. Orientar e apoiar em nossa hora de necessidade, aqueça nossos corações com palavras de sabedoria, assegure que a vontade de Deus é que esmiuçemos o Diabo. Ou pelo menos no mínimo, ore. – digo me caminhando de volta a casa.

— Dia trágico. – a voz de magistrado ecoa em meus ouvidos.

— Trágico, mas necessário. – digo impaciente.

— Tragicamente necessário. – diz ele ao se aproximar de mim. – Certamente o sofrimento das massas da uma pausa.

— A maioria cospe e amaldiçoa enquanto invoca as chamas do inferno.

— Há também aqueles que choram por ela e acham que foi enforcada sem motivo.

Nós paramos em frente a porta da minha casa. Me viro para olhar nos olhos Hale.

— Não o suficiente para desviar nossas intenções. O sucesso do pânico depende dessa escalação. O grande ritual começou, aguardemos nossa próxima vitima. – me viro para entrar mas sou interrompido.

— E o que eu discordo mais veementemente me oponho não significa nada a você? – olho novamente para ele enquanto ele continua – Nos fomos vistos em nosso Sabah e você jogou cautela ao vento.

— E já identificou quem nos viu?

Sua face mostra claramente que não. A incompetência precede os anos de tentativas frustradas de realizar o Grande Rito mas sem sucesso.

— Talvez suas divergências e oposições veementes – digo olhando para ele e dizendo cada palavra devagar e sarcasticamente – pudessem suportar mais peso se pudesse concluir uma simples tarefa. Bom dia Hale. – finalizo finalmente entrando em minha casa.

— George! Serio? – digo caminhando em direção ao meu querido marido que está com a mão na boca forçando uma tentativa de vomito. – Você é pior do que... – arranco os dedos de sua boca enquanto ele gemeu – Uma criança. Ele segue as minhas ordens, não as suas. – digo incisivamente o olhando nos olhos. – ele não vai sair de você. Ônw... – acaricio a barriga de George onde está meu familiar – Calma meu pequeno homenzinho, não de atenção a fera. Descanse agora, eu verei sua refeição depois.

— Issac trouxe as poções do mestre – anuncia Tituba na porta do quarto.

— Diga-lhe para esperar. – Tituba da meia volta e desce as escadas.

— Ô George, sua camisola está completamente encharcada de vomito. Fique com ela o dia, todo meu querido.

Dou meia volta e desço as escadas, enquanto George grunhi. Isaac está me aguardando na sala, em suas mãos a um pequeno pacote com os remédios do Sr. Sibley.

— Para o Sr. Sibley. – ele estende o pacote.

— Ah... Em nenhum momento tão cedo. Ele acabou de sofrer outro ataque.

— Se não se importa que eu diga meu jovem mestre, é um fado que carrega um peso suportado sem choro ou reclamação.

— Meus encargos não se comparam com aqueles da própria Salem. Como acha as bebidas na praça?

— Fracas jovem mestre. – diz ele sem jeito. – Péssimas.

— Talvez haja consolo nas memorias em que passamos pelo pior. – a imagem de Isaac sendo marcado em praça pública me toma a mente, mas logo retorno a realidade – Quem poderia imaginar que em uma única noite poderia ter consequências para tantos. Nem todas as cicatrizes podem ser vistas, no entanto elas existem.

Nós olhamos ternamente, apesar de tudo eu cuidava de Isaac depois de tudo o que ele passou. Eu podia ver a tristeza em seus olhos, a vermelhidão que e formava ao redor de seus olhos, mostravam as lagrimas que ele não queria derramar. O nosso destino havia sido traçado naquela noite.

— Na manhã seguinte ela se foi – a voz de Isaac era quase inaudível, ele usava os cabelos para esconder a testa marcada e seu rosto – Fugiu e desapareceu.

A dor de Isaac era praticamente a minha dor. Eu gostava dele como um irmão que nunca tive. Meus olhos não conteriam as lagrimas.

— Ah, a sua doce Ab...

— Admito que me pergunto o que aconteceria se eu a visse um dia novamente. Saber dela ou ouvir do seu destino. Seria melhor ou muito pior?

— Posso lhe assegurar Isaac – as lagrimas estavam prestes a cair pela minha face – Se fosse vê-la novamente encontraria seus sentimentos enterrados profundamente na esperança de ressureição.

Ele me olha com cautela.

— Tenha um bom dia Isaac.

— Bom dia jovem mestre. – diz ele ao se virar e sair da minha casa.

A noite estava fria, enquanto eu caminhava pelas ruas de Salem ao lado de Tituba quando vejo Isaac sendo levado pelos guardas e pelo magistrado Hale. Fico surpreso com o que está acontecendo e então me aproximo de Arnald.

— Magistrado.

— Sr. Sibley.

— O que você fez? – digo visivelmente irritado.

— Este idiota nos viu na floresta.

— Isaac!? – digo surpreso. – Então você fez isso sem consentimento.

— Ele não estava sozinho. Vamos descobrir quem estava com ele e queima-lo.

— Você não fara mais nada. – ordeno.

— Como? – diz ele surpreso.

— Nada! – respondo contidamente. – Vá para casa magistrado. Você fede a floresta.

Ele me olha, posso sentir uma brasa de ódio queimar em seus olhos. Mas ele se vira e caminha rua abaixo. Tituba se aproxima de mim, a olho e dou uma ordem.

— Encontre a Rose.

Os sapos coaxam insistentemente. A nevoa cobri a terra e os galhos secos em meio a floresta. Quantas vezes me vi caminhando por uma dessas várias trilhas que me levaram a um destino imaginável. As arvores balançavam tranquilamente coma brisa noturna, ate que vejo Rose, sentada em um barranco, me aproximo dela e me sento de costas para ela.

— Rose, longe do magistrado. Que chance eu tenho de aproveitar a fidelidade do corpo?

Ela suspira.

— Os outros estão divididos entre os velhos e novos. Difícil prevê o resultado de tal separação.

— Você é velha e ainda assim você não é dominada por esse medo.

— Não é a idade que nos divide, mas a ambição.

— Ele não está sem ambição.

— Ele se irrita a se curvar para você. Mas ele o faz para que o nosso proposito maior possa viver.

— Era para eu ser o líder.

— Era e é.

— Questionado e desafiado a cada passo. Cada decisão buscando dúvidas e perguntas.

— Por mais que possamos desejar primazia não vive no abismo.

Silencio.

— Isso tudo não pode ter sido em vão.

— Sibley... E...

— Isso tudo não pode ter sido em vão... – as lagrimas começam a descer pelo meu rosto. – Está vida, minhas...

— Escolhas.

— Houve uma escolha? Ou a escolha foi tirada de mim?

— É tarde demais para pensar nessas coisas.

— É mesmo?

Silencio.

— Não deve ter sido fácil. – ela segurou meu rosto, me olhando nos olhos – Vê-lo novamente. A decisão cabe a você meu menino. O que vão e o que não é.

— E você vai apoiar minha decisão?

— Até certo ponto. – Rose dá um meio sorriso.

Dou um suspiro com um sorriso torto.

— As raízes do mestre são antigas. Ele viu e sofreu demais. Não deve subestima-lo.

Levanto-me e deixo Rose sozinha no pequeno barranco enquanto caminho novamente em direção a cidade de Salem. Não demora para que meus pés toquem as ruas e quando estou perto de entrar em minha casa ouço a voz de Jhon.

— Sr. Sibley. – ele me intercepta.

— Capitão Aurus. – segue me acompanhando enquanto caminho pela calçada.

— Isaac não é uma bruxa. Se você não fizer nada, ele será enforcado. Temos que parar com isso.

Silencio. Continuo caminhando sem dizer uma única palavra. Jhon me ultrapassa e diz de costas para mim.

— Não sobrou nada em você. Nenhum sentimento. Sem coração. Você não é o garoto que eu conheci.

— Eles já o interrogaram?

— Não. – ele se vira para mim e volta em minha direção – Porque deram algo para ele dormi.

— Então ele não disse nada.

— Nada. Mas Jacob está ansioso e foi difícil afastar o magistrado.

— Hale!? – digo surpreso. – Estava lá?

— Ele veio direto para interrogá-lo.

Abaixo a cabeça e a levanto novamente.

— Você tem a minha palavra de honra.

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