8. O JULGAMENTO

O brilho do sol se estendia por toda Salem naquela manhã, os sinos da igreja soavam avisando que deveríamos nos reunir, e como filho adotivo dos Sibley quem cumpria as funções que eram de George, e tinha controle sobre aquela cidade era eu.

Sai de casa animadamente para mais uma demonstração de poder, os seres humanos são tão fáceis de manipular que não conseguem enxergar o verdadeiro mal nem se este estivesse em sua frente. Seus desejos e anseios são mais fortes que se próprio caráter.

Por uma razão obvia, bruxas não amam. Sentimentos são fraquezas que nos fazem desistir de concluir alguma tarefa. Amor, saudade, alegria, medo, tantos sentimentos inúteis que controlam a existência de seres tão minúsculos e desprovidos de conhecimento, presos em seus pilares de moralidade decadente e em ruinas.

Eu sou o exemplo vivo de que a moral e os bons costumes são fachadas para a verdadeira natureza humana e hipócrita que caminha sob esta terra. Eles louvam e dizem ser tementes a Deus, mas mesmo assim, pecam em seu nome. George Sibley, um homem de Deus. O reverendo desta maldita saudade antes de Mather chegar, usou meu corpo e me feriu em nome desse Deus que ele tanto exaltava. Seria essa vontade do Deus dele, ou seria apenas o seu egoísmo?

Desde o dia em que aceitei fazer parte de tudo isso, só há uma coisa em minha mente. Vingança. Quero destruir esta maldita cidade moralista, limpar esta terra impregnada por homens que se escondem em suas fachadas morais e tortura-los até que seu sangue lave o chão em que eu colocarei meus pés.

— Não pai, por favor não faça isso. – a voz de Andy Hale fez com que minhas feições humoradas se desfizessem.

Todos os moradores estavam a caminho do palco do meu show, magistrado Hale e Jacob Mather haviam acabado de se aproximar quando ouvimos os gritos do jovem e inocente Andy.

— Por favor espere. – ele se posta na frente de seu pai, com as mãos em seu peito – Você conhece Jane. Como pode pensar que ela é culpada?

— Isso não tem nada haver com o que eu penso. – ele segurou os braços do filho e continuou a caminhar.

A igreja já estava lotada, me sentei no centro onde estavam as cadeiras postas para os conselheiros de Salem. Tituba já estava sentada em meio ao povo, observando o desenrolar de meu plano. Os cidadãos dessa cidade estavam assustados como ratos encurralados. Jacob se apressou, e se pôs à frente do povo, estando de costas para mim.

— Eis aqui o mandado de julgamento – ele mostra o vidro com o bebe malformado e morto enquanto caminha pelo espaço – para os nossos pecados individuais e coletivos. Ele foi assinado pelo próprio Diabo, uma mensagem direta do inferno, para anuncia a chegada do Mal em Salem. E quem entregou essa mensagem para ele? Jane Pierce – Mather se aproxima de Jane – Você tirou ou não tirou esse monstro daquela garota?

— Sim... – respondeu ela receosa enquanto todos a olhavam, escutando atenciosamente o julgamento.

— Você cuidou ou não cuidou daquela garota enquanto ela carregava a criança?

— Sim senhor, mas eu...

— Você – interrompeu Mather sem deixa-la explicar sua versão da história – Deu ou não deu, com certa frequência, doses de remédios e poções, misturas de ervas de sua própria invenção para ela...

— Senhor, isso é o que eu faço...

— E você colocou ou não colocou a mão em cima da barriga dela e assim pouco antes do monstro sair...

— Eu estava virando o bebe!

— Virando não. – suas mãos seguraram seu queixo e o empurraram para trás, fazendo com que as costas de Jane se chocasse na cadeira – Transformando. Em que?

— Pare! – disse Andy Hale, o povo de Salem ficou supresso enquanto os múrmuros ecoavam pela capela, Mather se vira para Andy e o olha – Seja o que a pobre criança de pedra pode ser, você é o verdadeiro monstro.

Mather afrouxa as mãos e solta o queixo de Jane.

— Eu peço desculpas pelo meu filho – diz calmamente o magistrado Hale – a acusada é uma grande amiga dele, mas eu compartilho sua preocupação. Você acusaria uma mulher que todos nós conhecemos e confiamos. – ele se levantou e seguiu para o centro vazio enquanto eu o acompanhava com o olhar – E que nuca fez nada a não ser ajudar outras mulheres, parir seus bebes e cuidar daqueles que ninguém queria e agora de repente acreditamos que ela é uma bruxa?

— O diabo é paciente. – Mather se volta para o povo – E assim são os seus servos, nossos amigos, nossos vizinhos. Até que finalmente são chamados para servi-lo. Jane Pirce você ajudou a dar à luz um monstro no mundo. – ele se volta para Jane novamente, ficando atrás dela – Você foi vista em seu verdadeiro disfarce. A bruxa da noite por sua vítima e mesmo aquele que foram enganados por sua imagem inocente, podiam sentir o cheiro do mal – suas mãos seguraram seu pescoço com força e o direcionou para o vidro com o bebe deformado – ao redor deles enquanto você destruía um bebe no berço da vida. Um sinal do seu mestre de declaração de guerra contra nos. – as mãos de Mather deslizam pelo pescoço da garota e se voltam para o público e novamente em sua direção – Como você se declara?

— Eu sou inocente. Eu não fiz nada disso. – ela se levanta – Você tem que acreditar em mim!

— Estou um pouco confuso Mather – Jhon se levanta e caminha ao centro e o confronta – Jane fez aquele sinal... Ou Deus? Não, não, não, não, espere eu me lembro. Deus falou ao Diabo e o Diabo a fez fazer isso? Eu estou entendendo tudo corretamente?

Mather o encara enquanto os burburinhos entre os aldeãos se multiplica no pequeno espaço fechado.

— Não? Talvez eu não seja tão inteligente como você – continua Jhon – Não li todos os livros, mas tenho visto algumas coisas no mundo e coisas ruins acontecem geralmente sem significado como em uma jogada de um dado.

— Essa – Mather caminha em direção de Jhon – Monstruosidade é só uma jogada azarada de Deus? – Mather caminha em direção a Jhon e se posta em sua frente.

— Provavelmente a mais azarada que já vi.

— Bem... Então temos profundas diferenças de opinião.

— Sim. Temos. – Jhon usa um tom desafiador – Mas você ia enforcar uma mulher por conta de sua opnião.

— A sua deixaria um agente do próprio diabo livre para fazer mais maldades.

O burburinho entre os aldeões retorna, aquela pequena discussão de acusação e defesa estava deixando o povo de Salem em dúvidas quanto ao próprio julgamento puritano.

— Coloque ela em julgamento também. – bufou Jhon apontando para Kitty, a garota que teve o bebe horrendo retirado de suas entranhas – Não pare por ai. Havia outras como elas, ou talvez todas elas sejam responsáveis.

— Não. Você não pode. – disse indignada uma das prostitutas do bordel de cabelo ruivo e de seios salientes. Vestia um vestido vermelho ao que parecia ser novo. Provavelmente presente de algum admirador. – Isso não é culpa minha senhor.

Jhon se vira para a multidão em direção a saída, mas para e olha para Mather mais uma vez depois de olhar para a garota.

— Não é sua culpa? Não. Talvez você esteja certa. Pode ser impensável para você Mather, mas talvez não seja culpa de ninguém. Todos nós sabemos que matar é diferente, matar é sempre a culpa de alguém. As pedras ainda não estão secas do sangue de Currey.

Os aldeões estavam cheios de duvidas, o murmúrios de suas vozes impregnava o ambiente, a duvida que pairava sob os olhos do próprio Mather não me indicavam que aquilo era um bom sinal. Tituba me olhava calmamente, mas ao mesmo tempo intensamente. Eu precisava resolver aquela questão. Emment Lewis continuava amarrado a estava de madeira na igreja, entretanto naquela situação eu precisaria ser um pouco mais assertiva em minha ação. Não poderia haver falhas, não agora que eu estava tão longe e ao mesmo tempo tão perto dos meus desejos.

— Agora você esta disposto a enforcar Jane Pirce – continuou Jhon em defesa da garota – Pro inferno, jogue algumas prostitutas que não fara falta. E pra que?

A ideia de que Jane poderia não ser enforcada estava se fortalecendo nas conversas baixas e confusas entre os aldeões da pequena Salem, Tituba me olha com intensidade, como se lê-se meus pensamentos. Olho para Emment e em seguida para o fraco do Mather.

— Talvez seja hora de ouvirmos Emment não acha reverendo? Ela não é obrigada a reagir diante da bruxa culpada. Ou das bruxas?

Silencio.

— Meu pai e especialistas concordam.

— Então leve-as para ela. – digo em tom irritado.

Mather me olha com medo, seus olhos evidenciam isso.

— Elas? – ele olha para Kitty e as outras prostitutas da cidade.

— Capitão Jhon pode estar certo. Todas podem ser culpadas. – digo olhando-o nos olhos. A irritação fracamente disfarçada em minha voz. – Leve a parteira e as três prostitutas também.

Kitty é acompanhada por um guarda e colocada de frente a Emmnet que não mostra nenhuma reação. A sala estava em total silencio, uma camada de medo tomava o ambiente. Logo em seguida a protistuta mais velha foi colocada a frente da estaca onde o jovem identificador de bruxas estava amarrado. Mas apenas ouve um suspiro e ele virou sua cabeça para o outro lado pendendo a mesma no ar.

Em nenhum momento o jovem Mather olhou para as prostitutas, mas a terceira em especial seus olhos acompanharam, cada passo que era dado e eu podia sentir o medo que sobressaltava sua pele. O medo de perde-la ali. A jovem e bela moça ruiva, mas como aconteceu com as anteriores Emment não se moveu. Magistrado Hale olhou brevemente para mim, seus olhos sérios e acusadores, mas não havia o menor medo do que estava por vir.

Pude ouvir o suspiro aliviado de Mather ao ver sua bela jovem se afastar ilesa, então agarrou Jane Pirce e a colocou de frente a Emment que não se moveu, mas com um meneio de cabeça meu seu corpo começou a tremer e de sua garganta saiu um grito estridente e junto com ele de sua boca jorrou sangue que caiu sob Jane que caiu de joelhos chorando enquanto logo em seguida pregos quicavam no chão e o resto de sangue escorria pela boa de Emment.

— Podemos votar? – disse incisivo.

Jane foi levada ao centro da cidade, no palanque onde os postes estavam preparados e prontos para qualquer bruxa que aparecesse na cidade. A corda foi colocada em seu pescoço enquanto toda a Salem observava. Em seus últimos esforços Jane tentou apelar ao divino.

— Senhor, o senhor que vê e conhece os segredos do nosso coração. Deve saber que sou inocente. Por favor, por favor, por favor dá-lhes um sinal visível dessa simples verdade. Por favor. – ela chorava.

Mather olhou para o peão que puxou a corda, a choramingo ficou abafado seu rosto começou a se avermelhar, sua boca se abriu a procura de ar e instantaneamente suas pernas lutaram para encontrar apoio e se salvar daquele destino, sem sucesso e em poucos segundos Jane Pirce estava morta. E quando seu corpo parou de se mexer urina desceu por entre suas pernas, encerando ali a vida da parteira.

— Que bagunça você fez... – magistrado Hale se aproximou de mim que estou afastado da multidão em frente à minha casa em baixo da copa da arvore observando todo o movimento – Estávamos praticamente arruinados por conta de um argumento do homem que você não deixou ficar preso. Eu me pergunto porque deixamos você entrar nessa?

— Porque? – disse ultrajado. – Porque este é o cumprimento de todos os nossos sonhos. Vinganças pelos séculos de opressão. Muito tarde para dúvidas agora Hale, estamos todos juntos nisso.

— Sim. E vamos queimar juntos nesse ritmo. Você é muito jovem para entender o risco que está tomando. Eu vi minha família queimar na fogueira, senti o gosto das cinzas deles na boca. Não tenho desejo de provar a minha própria ou da minha filha.

— Talvez suas velhas bruxas do velho mundo sejam simplesmente muito assustadas ou muito cicatrizadas para reivindicar este mundo, não eu.

— Não estou sozinho, os anciões também têm dúvidas.

— Todos os seus medos são desnecessários. Sangue inocente transborda e continuará a fluir. Resultados sr. Hale, é tudo o que importa. E por falar em resultados, e quanto a sua missão?

— Petrus nos garante que em breve saberemos quem nos viu.

A lareira esquentava a pequena sala onde eu me encontrava, sentado em frente a máquina de costura quando vejo adentrar de forma abrupta em minha casa Jhon Aurus. Eu o olhos nos olhos e me levanto caminhando em sua direção.

— Ter vivido com os índios deve ter lhe tirado a civilidade, já que entrou aqui sem ser convidado. Parece mais um animal, feroz.

— Não, menos paciente.

— Está deixando Salem?

— Pelo contrário. Andy Hale me lembrou de que Salem merece o melhor, sempre mereceu.

— Serio? – disse ironicamente – Sempre pensei que odiasse essa cidade.

— Eu pensei também. Só que não era Salem que eu odiava, mas são as pessoas que governam. Um amigo disse que é bem mais fácil quebrar as coisas do que consertar.

— E você planeja consertar a coisas? – disse ironicamente.

— Talvez.

— Como planeja fazer isso?

— Tem um assento extra, no conselho dos escolhidos com o nome de Aurus. Talvez esteja na hora de requere-lo. Posso ser apenas uma voz, mas já é um começo.

A porta range e Tituba faz um pequeno ruído se postando na porta, em uma fração de segundo Jhon consegue ver o cordão que há em meu pescoço com a metade da moeda que ele havia me dado anos atrás. Escondo o mesmo por baixo da roupa enquanto ele olha para Tituba e se volta para mim novamente.

— Estarei de olho em você. – disse por fim saindo da minha casa.

Caminho de volta até a mesa de costura, estou balançado pela presença e pelas palavras de Jhon, mas isso não irá me atrapalhar, volto aos meus afazeres e concluo a costura da roupa da pequena boneca que estou fazendo. Ao meu lado há uma caixa com um pequeno rato cinza.

O pego e o seguropelo rabo, coloco ele na minha mão direita e espremo seu corpo até que eleestoure e o sague com suas vísceras caia dentro da boneca. Colho na cestaalgumas baratas e uma erva e selo o interior da boneca.    

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