58 - PETER

Eu disse! Disse o que estava trancado dentro de mim a um grande tempo.

Amor.

Isso é o que eu sinto pela Samantha. A amo como nunca amei ninguém. Nem mesmo Elize. E o melhor de tudo, ela disse que também. Eu poderia estar mais feliz?

Já de manhã, levei Agatha para a escola e vim direto para a empresa. Estou tendo alguns problemas com acionistas, mas nada que eu não possa resolver.

Estou concentrado em meu computador passando um e-mail quando batem na porta.

— Entra! – digo sem tirar os olhos da tela do computador.

— Sr. Miller? – escuto Jenna. — Trouxe os relatórios que o senhor pediu.

— Pode trazer aqui. – ela caminha até minha mesa e me entrega alguns papéis. —Obrigado. – agradeço e sorrio.

— É minha obrigação. – sorriu. Analisei os relatórios e depois voltei a encara-la.

— Algum problema? – pergunto tentando não soar tão grosso.

— Er, bem... sim.

— Pode dizer. – ela suspira e me encara.

— Olha, eu realmente não queria chegar a isso, mas tem coisas que eu não sei como controlar. O senhor é bonito, inteligente, gentil, é algo incontrolável. – a encarei sem entender. 

— Onde quer chegar com isso?

— Eu... – deu a volta em minha mesa e se aproximou de mim. — Eu só não consigo. – sentou em meu colo.

— Jenna se levante! Pare de dizer absurdos.

— Não é nenhum absurdo desejar você. – antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela colou seus lábios nos meus. No mesmo momento a afastei e a retirei do meu colo.

— Isso foi totalmente desnecessário! – digo. — Está maluca?

— Eu só... – ela tenta mas a interrompo.

— Está demitida.

— O que?

— O que você acabou de ouvir. Eu não vou tolerar esse tipo de atitude. Pode se retirar. Depois passa no RH para pegar suas contas. – ela nega com a cabeça e sorri.

— Não me importo. – se jogou novamente para cima de mim.

Vai sair de cima dele por conta própria ou eu vou ter que te tirar pelos cabelos?

Foi a voz que eu conhecia muito bem que soou na sala fazendo a mulher descontrolada sair de cima de mim e a encarar. Eu fiz o mesmo dando de cara com Samantha parada na porta com os braços cruzados assistindo tal cena.

— Samantha... – comecei.

— Ele quem me agarrou! – Jenna exclama me apontando. — Eu estava fazendo meu trabalho e ele me agarrou!

— Tá bom, e eu sou o patati patata. – Samantha diz com sarcasmo pegando Jenna de surpresa. — Dá logo o fora daqui se você ainda tiver amor pela vida. – a mulher a olhou em choque e saiu da sala como um furacão.

— Samantha, juro que não fiz nada. Tudo que ela disse foi mentira! – começo a vendo observar a sala. — Ela se jogou em cima de mim.

— Gostei do quadro. – apontou para um quadro antigo na parede.

— Obrigado? – perguntei incerto. — Samantha, você ouviu o que eu disse? Eu não...

— Eu sei. – me cortou e se sentou na cadeira a frente da minha mesa finalmente me encarando. — Eu sei que foi ela.

— O que?

— Qual é Peter? Eu assisto filme, séries, novelas e leio livros. Tudo o que está acontecendo com nós dois é algo que já era previsível.

— O que? – questionei ainda em choque.

— Somos um casal feliz em tem uma piranha que tenta ser vilã tentando nos separar. Apenas isso! – diz com a maior tranquulidade. — Isso tudo foi plano da Pilar, ela vem me dando umas alertas sobre seus supostos relacionamentos passados e hoje mesmo ela frizou seus relacionamentos com secretárias. – soltou uma risada. — Eu apareci bem na hora que aquela pau mandada se jogou em cima de você. Previsível, não? Deve ser horrível para a Pilar ser a vilã mais inútil da história do planeta.

— Calma, então você acredita que não fui eu? – ela ri.

— Sim, isso mesmo meu querido. – soltei um suspiro aliviado.

— Eu achei que iria morrer. – digo me sentando em minha cadeira. — Do nada aquela louca se joga em cima de mim. Você não tem noção do quão apavorado eu fiquei quando te vi ali. – ela me sorri e se coloca de pé rodeando a mesa vindo até mim e se sentando sobre minhas pernas.

— Eu sei, trancou tudo não foi? – riu novamente. — Eu sei que você não assediou aquela louca e nem mesmo me traiu. Relaxe. – me beijou de leve.

— Afinal, o que faz aqui?

— Vim saber sobre o meu tal estágio, mas deixa quieto. Mudei de ideia. – diz agora ficando séria.

— Como assim? – questionei sem entender. Ela se coloca de pé e retorna para o acento em minha frente.

— Eu basicamente tive um ataque de nervos hoje com a Pilar e quase a joguei da sacada. – arregalei meus olhos e a encarei.

— Você o que?

— Me desculpe Peter, mas eu não aguentei. Quando eu dei por mim já estava prensando ela para fora da sacada. – suspirou. — Eu sei que foi errado, que eu tenho que controlar minha raiva principalmente se tratando de uma mulher grávida, mesmo ela sendo uma piranha. – soltou um suspiro pesado. — No início eu estava só querendo dar um sustinho mas depois virou uma raiva tão grande. Tudo o que ela fez com a Agatha me subiu a cabeça. – vejo seus olhos marejarem. — Eu não sou assassina Peter, eu nunca mataria ninguém. Muito menos uma criancinha inocente. – soluçou. Me coloquei de pé e me aproximei me agachando ao seu lado e segurando suas mãos.

— Samantha...

— Eu sempre brinco dizendo que vou matar um, mas não é verdade. É só brincadeira! – soluçou novamente.

— Eu sei disso, sei que nunca seria capaz de fazer isso. – segurei seu rosto entre minhas mãos.

— Mas eu tenho medo. – voltou a soluçar. — E é por isso que eu decidi que vou para o Brasil. – a encarei sem entender.

— Como assim, ir para o Brasil?

— Eu preciso respirar Peter, colocar minha cabeça no lugar. Eu estou me sentindo um monstro, eu quero voltar e poder colocar minha cabeça no lugar.

— Mas por que lá? Por que não faz isso aqui?

— Porque não vou conseguir. – me encarou. — Eu quero ficar ao lado dos meus irmãos, meu pai, Anna, Alexandra, meus sobrinhos. Eles são meu refúgio, é sempre para lá que eu vou quando estou prestes a explodir.

— Samantha...

— Não vou abandonar vocês Peter. – me cortou novamente. — Eu tenho uma família aqui, eu amo você, eu amo Agatha, Emilly, Ryan. Isso aqui faz parte de mim agora, eu nunca iria abandonar vocês. Eu só preciso de um tempo. Os últimos meses para mim foram... intensos. Eu só quero respirar. – encarei seu rosto perfeito.

Era difícil, uma situação difícil tanto para eu quanto para ela.

— Eu penso em Agatha. – continuou. — Eu quero ser a melhor mãe que ela pode ter, quero que ela possa me ver como um exemplo, eu não quero decepcionar ela de nenhuma forma, por isso eu quero ir e voltar uma Samantha melhor. Quero tirar essa sensação monstruosa de mim, não quero passar isso para ela. – a encarei.

— Eu quero dizer que tudo bem mas mesmo que eu disesse que não fosse irá da mesma forma, não é? – ela afirma sorrindo.

— Eu te amo Peter, te amo muito. – segurou meu rosto em suas mãos. — Isso não vai mudar tão cedo, nem que eu encontre um carioca sarado e bonitão chamado Robertão. – ela diz rindo.

— Samantha! – ela me sorri novamente.

— Você é único, Peter. Único que consegue me aturar além do Brian e isso é realmente admirável. – sorriu mas depois seu sorriso sumiu. — Não estou terminando com você, mas também não vou pedir para que você espere por mim.

— Samantha? Acha mesmo que eu seria capaz de te trocar por outra pessoa? Depois de todo esses meses você acabar com a minha sanidade, você acha mesmo que eu irei simplesmente jogar isso para trás e seguir em diante? – perguntei indignado.

Isso era um absurdo!

— Desculpe, só estou dizendo. – deu de ombros.

— Tudo bem, Samantha. Se essa viagem é pelo seu bem, eu apoio totalmente. Mas se você não voltar, eu vou até lá de buscar. – ela sorri e afirma.

— Eu irei voltar, não se preocupe. – selou seus lábios nos meus e em seguida me abraçou.

Meu peito dói só de pensar em ficar sem ela, mas se é pelo bem dela eu não posso impedi-la.

***

No dia seguinte, o dia estava nublado. Parecia que os céus sabiam o que estava acontecendo e resolveu não deixar o sol sair em apoio a nós.

O dia anterior foi complicado. Complicado para Agatha entender que Samantha não estava indo embora para sempre, e que voltaria. Complicado para Emilly que achou que eu era o culpado e quase me acertou um soco, complicado para eu que estava tendo que deixar o amor da minha vida ir.

Samantha partiria hoje, mas ainda estava dormindo. Agatha insistiu para dormir com nós dois e nem ousamos em negar. Encarei as duas dormindo enroscadas uma na outra com os rostos inchados de tanto chorar.

Minha cabeça latejava, eu quase não dormi durante a noite com o pensamento de deixa-la ir. Eu sabia que ela precisava daquilo, sabia que ela estava se sentindo mal com o que aconteceu e que realmente precisava daquele tempo.

Desde então, Pilar não entrou mais em contato e nem nada. E eu realmente devo acabar com essa história, isso tomou proporções que eu não esperava.

Após me vestir e tomar o café do qual eu não estava nenhum pouco afim, ajudei Samantha com as coisas dela. Ela e Agatha já estavam acordadas e não se desgrudavam por nada e aquilo era realmente compreensível.

— Me leva mamãe, por favor! – Agatha insistia já deixando algumas das poucas lágrimas caírem.

— Eu não posso meu amor, você não pode abandonar a escola, a Eleanor, seus outros coleguinhas, Marie e nem o papai. – Samantha diz me olhando de solsaio. — Eu prometo que vou entrar em contato todos os dias, pode ser?

— Todos os dias?

— Todos os dias. Assim você não fica com tanta saudades e nem eu, tudo bem?

— Ta bom. – Samantha sorriu a puxou para um abraço apertado e a enchendo de beijos. — Se comporta, não deixe seu pai ficar velho. Quando eu voltar eu ainda espero encontra-lo sem cabelos brancos. – ela murmura e Agatha sorri concordando.

— Pode deixar, mamãe! – diz antes de fazer um hig-five com Samantha. Esta se coloca de pé e se aproxima de mim, como aqueles lindos olhos azuis inchados, a franjá loira caída sobre os olhos e o sorriso que me tira o fôlego.

— Então quer dizer que eu sou o único que vai envelhecer por aqui? – questionei e ela sorriu.

— Eu sou decendente de Peter Pan, vou ficar sempre jovem. – sorriu novamente. — Já você, não posso ter tanta certeza.

— Estou me sentindo ofendido. – ela ri de leve e enlaça seus braços ao meu pescoço.

— Não se sinta, como diz minha mãe: Quanto mais velho o vinho, mais gostoso fica. – murmurou mordendo o lábio inferior em um meio sorriso.

— Você sabe que fazer algo assim nesse momento, é pura crueldade.

— Me desculpe, não resisti. – riu. — Cuida bem da nossa pequena, por favor.

— Farei isso, não se preocupe.

— E se cuide também, coma bastante. Eu realmente quero ter em o que pegar quando voltar. – diz apertando meus bíceps me fazendo rir.

— Vou sentir sua falta.

— Eu também vou. – sorriu e me abraçou apertado. — Eu te amo Pete.

— Eu te amo Sam. – a apartei mais contra meus braços.

Nos afastamos e a vi enxugar uma lágrima.

— Cuide de Dora também, por favor.

— Ela é minha filha também, não é? – soltei uma risada sem humor.

— Você é maravilhoso! – riu. — Agora eu preciso ir, não chorem. – pediu e abraçou Agatha pela última vez. Se aproximou de mim e depositou um beijo em meus lábios. Abriu a porta e saiu.

Ela se foi.

— Papai! – Agatha correu chorosa até mim e a peguei no colo a abraçando.

Sei que ela é a que mais vai sofrer com isso, e isso me machuca muito.

Subo com Agatha e a faço dormir. Fui até o meu quarto, e ver que suas coisas não estão mais ali, me dói. Dói muito.

Peguei seu travesseiro e o abracei. Tem o seu cheiro. O cheiro que eu estava acostumado. Que me deixava sem sentido.

Sequei minhas lágrimas e me deitei.

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