54 - SAMANTHA

Eu não tinha conseguido pregar meus olhos nenhum pouco.

Já estava pronta para ir para faculdade, só estava preocupada com Peter. Ele ainda não tinha chegado e muito menos me ligado.

Coisas estão passando pela minha cabeça e garanto, não são as melhores.

Agatha estava falando, algo que eu não estava prestando muito a atenção.

— An? O que disse pequena?

— Perguntei se você falou com papai sobre eu dormir na casa da Eli. – ela diz enquanto Marie ajeita sua roupa.

— Ah sim, eu ainda não falei. Me desculpe, eu esqueci.

— Tá bom. Mas vai falar né?

— Claro, assim que eu tiver tempo e ele também. Só tenha paciência tá?

— Tá bom. – sorriu.

— Você está bem Samantha? – Marie me questiona.

— Sim, só não dormi direito durante a noite. – digo sorrindo fraco.

A porta da entrada se abriu e eu levei dei um pulo me levantando. Peter entra e eu suspiro aliviada.

Até ver uma figura morena entrar em seguida.

Pilar.

— Papai, o que ela faz aqui? – Agatha pergunta se encolhendo atrás de mim. Continuo em silêncio os encarando.

Ele não fez isso.

— Ela... bom... – suspirou e encarou Pilar. — Ela está passando por complicações. Tanto ela como... O bebê. E ela precisa de cuidados.

— E você se ofereceu para ser enfermeiro? – perguntei debochada.

— Samantha...

— Tá Peter, não vou discutir. – digo cortando-o.

— Papai ela vai morar aqui de novo? – Agatha pergunta e sinto o desespero em sua voz. — Eu não quero ela aqui! Eu não quero! – subiu correndo as escadas e Marie foi logo atrás.

Dei um olhar mortal para Peter enquando Pilar mantia um sorrisinho vitorioso nos lábios em meio a tamanha palidez na sua face sem vergonha. Soltei um suspiro frustrado e corri atrás de Agatha. Ao adentrar em seu quarto, a encontro jogada de bruços na cama enquanto Marie tenta acalma-la.

— Gatinha... – a escuto soluçar. Marie se afasta me dando espaço. — Ei, vem aqui. – sentei em sua cama. — Agatha, olha para mim. Não fica assim. – ela finalmente se senta na cama com o rostinho todo vermelho e molhado. — Vem. – abri meus braços e ela veio lentamente me abraçando. — Calma, gatinha. Eu estou aqui. 

— Eu não quero aquela bruxa aqui, não quero! Mamãe não deixa por favor! – a abraço mais forte ainda sentindo meio peito doer.

— Anjo, olha, não vai ser por muito tempo tá? Sabe por que ela está aqui? – ela nega. — Porque tem um bebezinho dentro dela e esse bebê não está bem. Como ela só conhece o papai, ela veio para cá.

— M-mas se ela está dodói, por que ela não fica no hospital? – soluçou novamente.

— Não sei também, só os médicos podem dizer isso. – bufo sem saber exatamente o que dizer.

— Mas promete que não vai deixar ela fazer mal para mim?

— Claro. Eu não vou deixar ela se aproximar de você, ok? Prometo também que isso não vai durar muito tempo, você confia em mim?

— Confio. – sorrio enxugando suas lágrimas e beijando sua cabeleira loura. — Marie, arrume as coisas da Agatha por favor. Ela vai dormir na casa da Eleanor hoje.

— Irei arrumar. – Marie diz indo até o armário de Agatha. Esta me sorriu e me abraçou novamente. — Eu amo você meu bebê. Nunca vou deixar que te façam algum mal, tudo bem? – ela afirma. — Ótimo, agora muda essa carinha ou vai chegar na escola e vai ser confundida com um pãozinho. Já pensou levar umas mordidinhas dos seus coleguinhas?

— Credo mamãe, não! – diz desesperada enquanto enxuga o rostinho me fazendo rir.

Algumas batidas na porta me chamam a atenção, logo em seguida Peter entrar no quarto.

— Eu...

— Conversamos no carro. – digo interrompendo-o. — E nem tente dizer que não vai levar a sua filha para escola! – o encaro séria. — Vamos! – puxei Agatha e as suas coisas e saímos do quarto. Descemos as escadas e saímos da casa entrando no carro.

Alguns minutos depois, Peter entrou no carro e partimos para a escola. 

Durante o trajeto foi total silêncio, um silêncio bem incômodo.

Chegamos na escola e colocamos Agatha para dentro. Entramos no carro e seguimos para a faculdade.

— Samantha...

— Eu entendo sua posição Peter, eu juro que entendo. – começo cortando-o novamente. — Você está confuso, você não sabe exatamente o que fazer e tudo mais. Eu não estou com raiva por eu e você, ou por causa do nosso relacionamento estar em risco ou algo do tipo. Quando eu aceitei namorar com você e assumi a posição de mãe da Agatha eu te disse que sempre a colocaria em primeiro lugar e é exatamente isso que eu estou fazendo agora. – faço uma pausa. — Pilar fez muito mal a Agatha, e nem é sobre o sequestro que estou falando. Desde o início ela vem colocando ela para baixo, vem magoando ela, culpando ela por coisa absurdas, desprezando-a e tudo mais. Eu seria incapaz de maltratar ou desprezar aquela criança que ela carrega caso realmente for seu filho, mas isso não significa que eu tenho que aceitar aquela mulher debaixo do mesmo teto que Agatha. – finalizo e solto um suspiro.

— Samantha, ela não irá morar lá. É só...

— É só uma noite? – o cortei novamente soltando uma pequena risada sem humor. —
Tá Peter, mas e depois? São nove meses. Toda a vez que ela ter alguma complicação você vai ter que leva-la para casa? Eu vou ter sempre que expulsar Agatha para a casa da Eleanor para ela não ter que ter uma crise igual ela teve hoje? Ela só tem cinco anos! – ele solta um suspiro e percebo que chegamos na universidade. — Ela é muito nova, ela é só uma criança e já passou por tanta coisa absurda. Minha psicóloga dizia que o bebê quando está no ventre da mãe, ele sente tudo. Eu imagino o tanto que ela sofreu durante a gestação da sua ex. Ela ainda carrega consigo isso, ela pode não demonstrar mas ela carrega. E é por isso que eu quero que ela sofra o menos possível e não duvido que você também não pense assim. Eu entendo que você tenha que dar assistência para o seu filho, eu nunca iria te cortar disso. Já disse que odeio possessividade. Mas assim como eu entendo a sua posição, eu espero que entenda a minha. Só estou tentando protege-la.

— Você tem razão, me desculpe. Eu novamente sendo o pior pai do mundo. – encostou a cabeça no encosto.

— Não começa com essa história de ficar se desprezando. Você é um ótimo pai Peter, você só precisa se colocar mais vezes no lugar da sua filha antes de tomar qualquer decisão que a envolve. – o encarei. — Eu sei que todo esse tempo você vem fazendo as coisas por ela, mas chegou um momento onde você só pensa no que é melhor para você. Ter filho é isso, você sempre colocar ele a frente de você.

— Eu vou tentar consertar isso, não se preocupe. – afirmei.

— Tenho que ir agora, até mais tarde. – abri a porta do carro e simplesmente sai e entrei na universidade.

Eu estou bem. Muito bem.

Entrei na sala de aula e comecei, ou tentei prestar a atenção.

*

Algumas horas se passaram e eu não estava mais suportando aquelas aulas. Simplesmente sai da sala e fui até o jardim me sentando por lá.

Uma leve brisa bateu em meus rosto enquanto as minhas lágrimas caiam. Por que eu estou fraca? Por que não posso voltar a ser o que eu era antes? Por que agora eu tinha que lidar com esses sentimentos idiotas.

Eu me odeio!

Abaixei minha cabeça e respirei fundo. Senti alguém sentar ao meu lado e apenas continuei quieta.

— O que houve? – escutei a voz de Mia ao meu lado. Levantei minha cabeça e a abracei. — Desabafa. – suspirei e a encarei.

— Eu não sei. Eu estou confusa, com raiva, eu me sinto fraca. Eu não sou a Samantha que veio para Nova York para infernizar um cara desconhecido e ferrar com toda a cidade. A garota que escalava prédios, atrapalhava casamentos, zoava a família toda. Quem sou eu? E o que eu fiz com ela?

— Você amadureceu Samantha. Aquela menina ainda existe, bem aí no fundo. Ela só está presa por essa nova Samantha, responsável, sentimental, justa.

— Não me fale em sentimentos. – bufei.

— Tanto faz. – revirou os olhos. — Se você precisa daquela Samantha para se sentir bem, a liberte.

— O que? – a encarei sem entender.

— Isso. A solte, deixe ela surtar ou o que for. Se esse é o seu jeito de se sentir melhor, só vai. Solta essa Samantha maluca que escala prédios. – sorrio.

— De onde você tira tanta paciência?

— É necessário. Ou acha que eu estou cursando psicologia atoa? – sorri e a abracei.

— Obrigada.

— Não agradeça, só arrasa. – eu ri.

— E aquela maluca da Emilly?

— Teve um surto e foi embora.

— Como assim?

— Estávamos no banheiro. Ela olhou para minha cara, começou a chorar, depois deu um soco no espelho e saiu do banheiro.

— Tadinho!

— Sim, espero que ela esteja bem.

— Estou falando do espelho. - ela solta uma risada e eu também.

— Tenho aula agora, você vem?

— Não, eu vou soltar a Samantha. – ela sorri.

— Tudo bem, tchau. – me deu um abraço e um beijo.

— Tchau. – ela se levantou e saiu. Ok. Então eu só tenho que liberar a Samantha. Mas como eu faço isso? — Samantha Campbell sua louca varrida, saia da sua caverna e venha aprontar aqui. Você detesta que de contrariem, que te interrompam, que te encham a paciência e que tente machucar as pessoas que você ama. – suspiro e olho para o céu. De repente uma bola me acerta. 

— Foi mal aí! –  um cara loiro diz se aproximando enquanto ria.

— Foi mal? Foi péssimo! Seu idiota, vai jogar bola na tua mãe!

— Foi só uma bolinha. Desculpa aí, patricinha. – sorriu. Me levantei e peguei a bola. — Se quiser marcar seu número na bola eu não vou reclamar, bonitinha. – me encarou como se eu fosse um pedaço de carne. — Mesmo que esse seu vestidinho te deixe parecendo uma vadia. – o encarei perplexa.

Ele disse o que eu penso que disse?

— Minha roupa me deixa parecendo uma vadia? – questiono o encarando e sorrio. — Parabéns para você, mexeu com a pior vadia que poderia mexer. – arremecei a bola em sua direção acertando sua cara.

— Ai! Está maluca?! – berrou indignado.

— Repete o que disse e você vai ver quem é a maluca, seu babaca! – retruquei o vendo sorrir mais largo.

— Vadia mimada que se acha a última coca-cola do deserto. –sorriu novamente. — Vai fazer o que?

— Mexeu com a vadia errada! – o encarei e sai correndo em sua direção, ele por sua vez saiu correndo. — Ei você! – apontei para um moreno alto que passava. — Qual é nome daquele cara?

— William McKenzie. – sorrio. — Ele faz medicina.

— Muito obrigada. – corri atrás do tal William.

Agora eu quero ver!

***

Depois de fazer boas coisas, cheguei em casa. Quando estou a ponto de subir as escadas Peter me interrompe.

— Samantha. – me viro e o encaro.

— O que?

— O que está acontecendo com você? Só hoje a sua diretora me ligou seis vezes reclamando de você.

— Eu? Ela deve ter se confundido. Eu não fiz nada. – me fiz de desentendida.

— Oh, sério? Pois bem. – cruzou os braços começou a andar. — Alguma garota maluca que não é você, é claro, bateu em um aluno e quase quebrou o nariz dele. Não muito satisfeita, riscou todo o carro dele. Logo depois, escreveu em TODOS os quadros "Liberte-se". Subiu na mesa do refeitório e fez um mini show da Maddona, incitou outros alumos a fazerem um strip tease. Depois trocou a água dos bebedouros por alguma substância colorida. – suspirou e me encarou. — Isso não te lembra alguém?

— Olha, para ser sincera, não. Deve ser alguma louca fazendo loucuras. Vou para o banho.

— Samantha não adianta. Eu sei que foi você. Agora me diz por que de uma hora para outra você voltou a fazer isso? – suspirei e o encarei.

— Porque me deu vontade.

— Simples assim?

— Sim. – dei de ombros.

— Você sabe que aqui as coisas são diferentes do Brasil não é?

— Tanto faz. – bufei. — Posso ir tomar meu banho em paz ou vou ter que continuar ouvindo você falar o que eu já sei?

— Pode sim Samantha, mas antes saiba que você quem irá cobrir o gasto do estrago que vez com o carro daquele cara.

— Não tenho dinheiro, sou a pobre do rolê.

— Não seja por isso, na segunda mesmo você irá começar a estagiar na minha empresa. – o encarei.

— O que?

— Isso mesmo, chega de ficar sem fazer nada além de criar ideias mirabolantes nessa cabeça. Não vou cobrir nenhun gasto seu e seu pai muito menos. – o encarei perplexa.

— E em que cargo eu vou atuar? Não me diga que vai ser como sua secretária. – sorrio. — E assim dar vida a aqueles típicos romances clichês da secretária e o CEO onde os dois sentem uma profunda atração pelo outro e que transam todos os dias na sala do chefe como se ninguém fosse descobrir mas depois descobrem e a carreira dos dois é ameaçada, a secretária sai como a vadia interesseira e o cara como o pegador mas no final eles têm cinco filhos e um cachorro chamado Bob. – finalizo e o encaro.

— Você ingeriu muita cafeína, não é mesmo?

— Três copos para ser exata. – coçei minha nuca incerta.

— Não vai ser como secretária, não se preocupe. – sorriu.

— Eu aceito o emprego, mas já vou dizendo que não vou pagar o estrago que fiz com o carro daquele babaca. Ele me chamou de vadia simplesmente por causa do meu vestido. – Peter me encara.

— Ele fez o que?

— Isso o que você ouviu. Mas não precisa dar uma de namorado super protetor, o chute que eu dei nele provavelmente o deixou incapaz de procriar. – sorrio orgulhosa. — Posso subir?

— Pode. – me sorriu.

Subo correndo para o "meu" quarto. Ao entrar,  tomei um susto.

— Volta para o mar oferenda! Está fazendo o que aqui? – pergunto vendo Pilar sentada na beirada da cama.

— Vim apenas lhe fazer uma visita. – deu um sorriso cínico. — O que foi? Está tendo problemas no namoro?

— É melhor você sair daqui agora ou eu esqueço que você está grávida e te dou uma surra. Se é que você está grávida, né?

— Sim, eu estou grávida Samantha. Ou você acha que eu seria burra de perder uma chance dessas? – sorriu. — Olha, não precisa ignorar essa vontade de me bater. Vá em frente, me encha de tapas, socos e até chutes. Quem vai perder é você. Imagino o quão feliz Peter ficaria.

— Eu tenho pena dessa criança. Muita pena por ter uma mãe como você. Se é que você pode ser considerada como uma.

— Não se preocupe, ele tem um pai que vai dar muito amor para ele. – sorriu novamente passando as mãos em sua barriga.

— Vá para o inferno! – bufei e sai indo até o closet.

— Ele já disse que te ama? – perguntou me seguindo.

— Não te interessa!

— Ah, me interessa muito. E pelo jeito ele ainda não disse.

— Por que se importa tanto com isso? – me virei e fiquei cara a cara com ela.

— Porque é aí que vou saber quando esse romance está acabando. – sorriu abertamente. — Como você acha que eu me apaixonei por Peter? Foi exatamente por causa daquelas três palavrinhas mágicas. – diz voltando ao quarto e eu a sigo.

— Pilar, você não tem mais o que fazer não?

— Eu só quero abrir seus olhinhos Samantha. Peter não é o príncipe encantado que parece ser. Se hoje eu sou essa maluca descontrolada por ele, é por culpa dele. Diversas vezes ele disse que me amava, mas era apenas para me usar. Ele ainda não superou o abandono da mãe da Agatha e por isso sai por aí iludindo a primeira que aparecer.

— Acha mesmo que eu vou acreditar nessa história? Me economiza!

— Não acredite, mas quando ele simplesmente dizer que não te quer mais como fez comigo e com outras, não vá chorar. Eu avisei. – piscou para mim e saiu do quarto.

Que um raio caia na minha cabeça. Ou de preferência na cabeça dela.

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