39 - SAMANTHA
Digamos que eu estou tremendo. Agatha sumiu, evaporou, desapareceu, e eu não faço a mínima ideia de onde ela foi parar.
É a quinta vez que entro no quarto dela.
— Gatinha, eu já estou ficando cansada. Aparece vai, podemos fazer alguma coisa o que acha? – nenhuma resposta novamente. — Agatha Caroline Miller, onde você está? – me joguei no chão. Encarei o teto repleto de figurinhas que eu fiz o favor de colar. Suspirei e me levantei indo até o meu quarto. Entrei e me joguei em minha cama.
— Buuu!! – Agatha surge de dentro do meu armário me fazendo cair no chão de susto.
Não acredito nisso.
— Ai senhor... – digo e a escuto soltar uma gargalhada me fazendo rir também. — O que há com você hoje?
— Eu estou feliz. – diz e se deita ao meu lado no chão.
— Tudo isso por ir para escola?
— Também.
— E qual é o outro motivo?
— Você e o papai, você estar de volta, eu ter amiguinhos, meu aniversário.
— Opa! Seu aniversário está chegando?
— Sim, no próximo mês.
— Vai ficar velhinha é? – belisquei de leve sua barriga.
— Sim!! – riu.
— O que você quer de aniversário?
— Nada. – franzi o cenho.
— Como nada? Nenhum presentinho legal, uma boneca, ursinho?
— Não. Eu já tenho um presente.
— Hum, e que presente é esse?
— Você. – meu coração para por alguns segundos.
Ela realmente disse isso?
— E-eu? – ela assentiu. — Oh caramba, você me deixou sem palavras agora.
— Desculpa.
— Não precisa se desculpar, eu estou chocada mas ainda assim feliz. Obrigada.
— Obrigada por que?
— Porque você é uma garotinha incrível, e eu amo isso. E principalmente você, eu te amo muito, muito, muito! – a abracei.
— Eu também te amo muito, muito, muito.
— Ok, chega desse mel todo ou nós vamos ter que ir ao dentista por cáries. Vamos almoçar, pois já está pronto a muito tempo. – nos levantamos.
— Comer, comer, comer, comer. – começou a pular. — Sam?
— Eu.
— Você e papai estão namorando? – parei e a encarei.
— Não, gatinha.
— Por que não? – fez um beicinho.
— Ué, porque nós somos só amigos. – digo quando já estamos saíndo do quarto. — De onde tirou que namoramos?
— Vocês estavam se beijando.
— Mas isso não quer dizer que namoramos.
— Não? – me encarou.
— Não. – digo quando enfim descemos as escadas. — Foi só um beijo, isso não significa que vamos casar.
— Mas poderiam.
— E você quer isso? – a encarei.
— Sim. Gosto de você com o papai.
— Anjo, há algumas coisas bem mais complicadas que você não entenderia. Nem eu entendo, quem dera você. – suspirei. — Agora vamos comer. – estendi minha mão e seguimos para a sala de jantar.
***
Logo depois de almoçar eu e gatinha fomos brincar com Dora. Depois de muito brincar, fomos assistir um pouco de TV. Felizmente sua eletricidade deu um tempo e pelo cansaço, ela caiu no sono. Não que eu não goste de vê-la feliz, pelo contrário, amo vê-la assim Porém, eu não dou conta nem de mim com toda essa "eletricidade", imagine com uma criança de quatro anos.
Olho para TV e vejo a figura de uma porquinha cor de rosa, mais conhecida como Peppa Pig. O que as crianças vêem nesse bacon ambulante?
Meu celular vibra em cima da mesinha de centro e estico meu braço para alcançá-lo e não acordar Agatha, já que ela estava em cima de mim parecendo um gatinho felpudo. Com muito esforço e dificuldade, o alcancei e peguei vendo uma mensagem de Emilly.
"S.O.S"
"O que você aprontou agora?"
"Nada. Ainda..."
"Desabafa "
" Ex do Ryan. Eu. Vou. Mata-la. A. Sangue. Frio. 😡🔫"
" Vá em frente, só não peça para eu depor a favor de você..."
"😒 você é uma grande amiga..."
"Obrigada! :) "
" :( "
Olhei as horas e já era quase seis da tarde. Hora de acordar Agatha.
— Hey gatinha, hora de acordar. – fiz um carinho em seus cabelos e ela se remexeu. — Vamos preguiçosa, hora do banho.
— Hm Sam, só mais um pouquinho. – resmungou.
— Nem mais um pouquinho, já passou da hora da senhora acordar e tomar seu banho.
— Me dá um abraço. – estendeu os braços.
— Não me venha com a técnica do abraço, só vai ganhar um quando estiver bem acordada. – Agatha tem a mania de me abraçar quando acorda. Parece um pequeno gesto de carinho na hora de acordar, mas não se engane. É um golpe para ela continuar dormindo, porém em meus ombros.
— Tá bom. – passou suas pequenas mãos no rosto e se levantou e eu fiz o mesmo. — Papai já chegou?
— Ainda não, mas já está para chegar. – desliguei a TV e seguimos para fora da sala de estar. Quando estávamos a ponto de subir as escadas, a porta da entrada se abriu revelando Miller.
— Papai! – Agatha deu um sorriso fraco esfregando os olhinhos.
— Olá minha linda. – sorriu. —Olá Samantha. – sorriu novamente me fazendo franzir o cenho.
— Caiu de um precipício? – perguntei.
— O que? – me olhou sem entender.
— Está muito felizinho hoje.
— Não posso mais chegar em casa feliz?
— De modo algum, só estranhei. Não estou acostumada.
— Que carinha é essa? – me ignorou e encarou Agatha.
— Me dá um abraço papai? – essa menina está muito malandra.
— Claro amor. – a pegou nos braços e a abraçou forte.
— Eu não acredito que você caiu nessa. – soltei uma risada indignada. — De novo.
— O que?
— Sua filha está te dando um golpe do sono pela quarta vez.
— Agatha? Agatha? – chamou e a malandra estava onde? No terceiro sono. — Ok, eu me esqueci do esquema.
— Deve estar com a cabeça no mundo na lua. – comecei a subir as escadas.
— É, eu realmente não estou prestando muito a atenção hoje. – sorriu abobalhado e me seguiu.
— Viu o passarinho azul hoje? – ou passarinha...
— Melhor até. – sorriu novamente. Mais um sorrisinho e eu te derrubo dessa escada.
— Que bom para você.
— Bom é pouco, ótimo.
— Legal.
— Não vai me perguntar o que é? – me pergunta quando já estamos no quarto de Agatha.
— Não. Não me interessa. – digo indo ao armário de Agatha.
— Você está meio agressiva, algo aconteceu?
— Não, magina. Estou ótima. – sorrio com sarcasmo.
— Que bom. – o vejo colocar Agatha na cama. — Mesmo você não querendo, eu vou contar. – está querendo morrer. — Encontrei a Sofie hoje.
— Que diabo é essa? Quer dizer, quem é essa?
— A ex do meu irmão.
Isso explica muita coisa.
— Oh, deve ter sido um encontro bem agradável. – fingi interesse.
— Sim, muito agradável. – sorriu. — Ela é uma ótima mulher, fora que ela é muito bonita.
— Tá e dai?
— E dai que nós saímos, fomos tomar um café, bem agradável.
— Eu já ouvi agradável antes, muda o texto!
— Como eu dizia, nós fomos tomar um café. Conversamos bastante e ela me convidou para um jantar.
— E eu com isso?
— E então, estamos a ponto de fechar parceria, porém ela quer jantar comigo primeiro, conhecer melhor as minhas propostas. Vamos jantar no sábado a noite.
— Hum.
— O jantar pode demorar bastante tempo, então não sei se volto no mesmo dia porque...
— Já entendi! – o interrompi. — E você quer que eu cuide da Agatha? Sem problemas! Eu cuido, afinal você merece se divertir, não é mesmo? Vá em paz! E já que não vai ficar com a sua filha no sábado a noite, a ajude com o banho para compensar, tenho outras coisas para fazer! – joguei a roupa que eu tinha em mãos nele e sai do quarto batendo a porta. Não pensei em ter acordado Agatha, porém minha fúria foi além.
Afinal por que é que eu estou furiosa?
Entrei em meu quarto e bati a porta com força e me joguei em minha cama encarando o teto. Não sou obrigada a nada!
Eu não faço ideia do que eu esteja falando, só sei que estou com muita raiva, raiva do qual eu não sei de onde veio e nem o por que, mas se eu ver Miller em minha frente, eu o mato. Pode ter certeza!
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