33 - SAMANTHA
Meu mundo foi a baixo. Eu não posso acreditar no que acabei de ouvir! Agatha não pode ter sido sequestrada, não pode!
— Você está brincando comigo, não é? – perguntei quase perdendo a voz. — É mentira, não é?
— Não, Samantha. – diz Miller com os olhos cheio de lágrimas. — É verdade, infelizmente.
— Sam se acalme. – tentou Emilly.
— ME ACALMAR COMO? – gritei em desespero. Odeio quando as pessoas me pedem calma em momentos onde a calma é inexistente.
— Senhorita, já acionamos a polícia. – diz o tal detetive.
— Eu estou pouco me ferrando para a polícia, que mais atrapalha do que ajuda! – digo andando de um lado para o outro. — Me diz como você se descuidou? – pergunto a Marie. — E vocês dois? Como podem ser tão tapados? – pergunto a Jack e Jonh. — Como uma menina de cinco anos é sequestrada dentro de uma casa como essa, repleta de empregados, babás e seguranças?
— Samantha se acalma! – diz Miller.
— COMO EU VOU ME ACALMAR? ME DIZ! PETER É A SUA FILHA! – gritei novamente perdendo a paciência.
— EU SEI! – gritou ele de volta. — Não vai adiantar ficar surtando. Temos que deixar a polícia tomar conta da situação.
— Deixar? Peter, a sua filha está por ai, nas mãos de sabe-se lá quem, passando sabe-se lá o que e não vamos agir? Vamos simplesmente sentar, tomar um chá e esperar aqueles bobocas tomarem conta da situação? Você pode até querer fazer isso, mas eu não!
— E o que vai fazer? Sair por ai batendo de porta em porta achando que alguém vai te dizer onde ela está? – perguntou ele com a voz controlada.
— Se for preciso sim, mas eu não vou ficar aqui sem fazer nada.
— Samantha, não vamos complicar as coisas ok? Deixe eu fazer do meu jeito, a filha é minha!
— Então tome uma atitude verdadeira de pai! Sentar e esperar não é o máximo que você pode fazer. – o encarei e subi correndo para o meu quarto. Fui até a janela e tentei ao menos respirar sem ter um peso em meu peito. Escuto a porta se abrir e fechar atrás de mim.
— Sam... – escuto Emilly dizer e logo depois a sinto me abraçando por trás. — grita, xinga, bate, faz o que quiser para desabafar.
— Eu... eu só quero um abraço. – me virei para ela e abracei forte e comecei a chorar.
— Shh, olha, logo vamos encontrá-la e tudo vai ficar bem.
— Mas dói! – me soltei dela e me sentei na cama sendo acompanhada por ela. — Dói saber que eu posso não ve-la mais. Hoje, eu fiquei totalmente desesperada achando que o Miller iria me mandar de volta para o Brasil. Eu não quero ficar longe dela. Eu não entendia nem enxergava o tamanho do meu sentimento por ela até hoje. Agatha é uma criança mais que especial para mim, eu não suporto pensar que alguém pode fazer mal para ela, isso me dá uma grande vontade de socar a cara desse alguém. Miller não pensa em outra coisa, você viu o quanto ele ficou calmo?
— Samantha, onde você viu isso? O fato é que ele não está calmo quanto parece, pensei que você soubesse disso. Ele está a ponto de explodir, porém não quer se mostrar fraco. Ele está fazendo o que pode.
— Não está não! – me levantei bruscamente. — Sentar e simplesmente esperar a polícia agir não é fazer o que pode. Você pode repetir essa frase novamente para mim, quando ele sair por ai agindo como deve agir. Batalhando para encontrar a filha, atravessando o oceano se possível. Sentar e esperar não é a solução!
— Tudo bem Sam, mas o que eu quero te mostrar é que ele está tão nervoso quanto você. Vocês estão parecendo... – se interrompeu e mordeu o lábio inferior.
— Parecendo um casal desesperado pela filha? – ela assentiu. — Eu estou aqui a poucos meses e já me apeguei tanto a eles.
— Até ao Peter? – suspirei e a encarei.
— Não sei. Talvez. – dei de ombros e ela riu. — Não pense que só porque você está apaixonadinha pelo irmão dele que eu também estou.
— Eu não estou apaixonadinha! Nem apaixonada.
— Tanto faz. Eu vou tomar um banho e vou sair. Não vou ficar parada de braços cruzados. – ela sorriu. — Você vai comigo?
— Claro né? Não precisa nem perguntar. – jogou um travesseiro em mim. Me levantei e fui até o meu armário pegando algumas roupas e entrei no banheiro. Abri o registro do chuveiro, me despi e entrei de baixo do chuveiro deixando a água quente cair sobre o meu corpo.
O desespero dentro de mim chegava a me sufocar.
Após tomar o meu banho, sai do banheiro já vestida não encontrando Emilly no quarto. Me olhei no espelho e suspirei. Eu vestia uma calça legging preta e um moletom branco. Peguei meu celular em cima do criado mundo, coloquei no bolso e desci. Ao entrar na sala encontrei três homens conversando com Miller, assim que ele me vê ele para de falar e me encara.
— Eu vou sair. – digo.
— Para onde? – perguntou ele.
— Eu já falei. – ele suspirou.
— Senhorita, é melhor que todos fiquem em casa. Precisamos pegar o depoimento de cada um. – um dos três homens me diz.
— Você está tirando uma com a minha cara? Está achando que eu sequestraria a Agatha?
— Não foi o que eu quis dizer...
— Ótimo, porque não vai ser você, nem ninguém que vai me impedir de sair. – encarei Miller.
— Mas... – o homem tentou novamente mas Miller o interrompeu.
— Deixe. É melhor a Samantha longe daqui do que atrapalhando.
— Como se você ajudasse em alguma coisa! – rebati.
— Samantha é melhor nós irmos. – Emilly veio até meu lado.
— E em que exatamente você está ajudando? Me criticar o tempo todo é ajudar? – perguntou ele se aproximando de mim.
— Eu só estou querendo uma posição de verdade da sua parte, mas você não deve compreender isso.
— O que quer que eu faça Samantha? Eu nem sequer sei quem poderia ter feito isso.
— Um grande pai vemos por aqui.
— Talvez nada disso estaria acontecendo se você estivesse no Brasil fazendo suas besteiras.
— É melhor nós irmos, que tal? – Emilly me puxou mas eu a soltei.
— Oh claro! Agora a culpa é minha. – rio sem humor. — Já pensou que você também pode ter sido o culpado? Como é que você disse mesmo? Pior pai do mundo? Talvez você tenha razão! A propósito, você não está com ela o tempo todo.
— Disso você deve entender bem não é? Já tentou entender por que está sozinha?
— E você? Já tentou pensar no por que você está sozinho? Ou por que dela ter te deixado? Talvez você seja o culpado.
— GENTE CHEGA! – Ryan gritou irritado. — Assim não dá! Vocês deveriam estar unidos para achar a Agatha e não tentando atingir um ao outro procurando o culpado! Vocês já pararam para pensar que enquanto vocês estão aqui dizendo merdas um para o outro, a Agatha pode estar correndo risco de vida? Parem com isso. Brigar, nem machucar um ao outro mais do que já estão machucados vai fazer a Agatha aparecer em um piscar de olhos, ou como em um show de mágica. Vocês são adultos, parem de agir como duas crianças idiotas e mimadas! – eu o encarei e ele me encarou.
— Não se preocupe. Quando encontrarmos a Agatha, eu volto para o Brasil e você ficará livre de mim. Quem sabe sua vida volte a ser perfeita? – rio sem humor lhe dando um último olhar e sai na frente de Emilly. Entramos em seu carro em silêncio e saímos da mansão.
— Tem alguma ideia de onde ir? – perguntou ela minutos depois quando paramos no semáforo.
— Dar um giro por ai. Rodar a cidade inteira, se possível.
— Quer conversar sobre o que aconteceu?
— Não estou afim de consulta com psicóloga agora, e você não tem tanta capacidade para tal área. – ela bufa.
— Samantha, para de agir como uma idiota infantil! Que droga! Onde está a minha melhor amiga? Essa não é você. Para com isso!
— Isso o que Emilly? Essa sou eu, não tenho culpa se você é cega e nunca enxergou!
— Você está se ouvindo? É a segunda vez que você me ofende em um só minuto.
— Exatamente, Emilly! Porque eu sou uma garota de merda. Eu estou cansada de mim mesma, cansada dessa inferno apelidado de vida!
— Do que é que você está falando? – cruzou os braços me encarando.
— De mim, da minha vida. Eu só cansei. Você está se preocupando por que? Você é só mais uma que um dia vai se esquecer de mim e agir como se eu nunca tivesse existido.
— Só mais uma? – riu sem humor. — Quando que eu iria me esquecer de você? Samantha, você é minha melhor amiga. Ter você e a Mia é a coisa mais preciosa do mundo. Nunca vou abandonar ou esquecer vocês, para com isso. Não sei de onde você tira essas coisas, eu amo você e independentemente de qualquer coisa, eu escolheria você. Todo esse tempo nada significou para você? Eu sou isso para você, só mais uma? Acha mesmo que eu tenho vocação para ser falsa? Acha que tudo o que eu digo é falsidade? Realmente? – riu novamente. — Para de descontar suas frustrações nas pessoas, você já deve saber que palavras machucam. Ninguém além do sequestrador tem culpa nessa história toda!
— Desculpa.
— Não, eu não desculpo! Só cala a boca, estou muito irritada com você para tentar dialogar. – deu partida no carro ouvindo alguns xingamentos, já que estávamos paradas ali por um tempo.
Sou uma grande imbecil.
***
Uma semana se passou. Eu estou quase entrando em um surto psicótico. Nenhum sinal da Agatha, nem contato nem nada.
Miller e eu não nos falamos em nenhum desses dias.
Emilly também não.
O único que ainda tem a boa vontade de falar comigo é o Ryan. Talvez eu saiba o que Emilly viu nele.
Nesses três dias eu tenho saído, procurado, interrogado pessoas que nunca vi na vida, mas nada.
Acordei, tomei o meu banho. Coloquei meu moletom, um estilo que eu tenho adicionado esses dias. Amarrei meus cabelos em um coque e desci. Entrei na sala encontrando os três caras, no caso policiais e o detetive. Eles estiveram acampados aqui todos esses dias mexendo em um aparelho de rastreamento, do qual é ligado ao telefone. Se alguém ligar eles rapidamente encontram. Enfim, os quatro homens mexendo naquele treco e Miller jogado no sofá totalmente apagado. Não vou negar que esses dias não foram fáceis, posso até sentir uma gotinha de dó, mas uma gotinha bem pequena.
— Anne deu a ele um calmante e ele caiu no sono. – o detetive diz me chamando a atenção.
— An? Ah ta. Alguma notícia?
— Nenhuma. – ele bufa.
— Vou tomar alguma coisa. – quando eu me virei escutei o telefone tocar. Sem pensar corri até ele e o atendi. — Alô... – ninguém respondeu. — Alô... – escuto uma respiração do outro lado. — Ok, é sobre a Agatha? Só me diz isso. – demorou um pouco e meu coração já estava acelerado, Miller já estava acordado me encarando assustado.
— Quem é que está falando? – um homem perguntou do outro lado da linha.
— É ou não é sobre a Agatha? – pergunto.
— Quem é você afinal?
— Eu... eu... – encarei Miller. — é... eu sou a mãe dela! – eu realmente disse isso? Miller me encarava sem reação.
— Que eu saiba ela só tem pai, será que da para para de brincadeira e passar para o pai dela? Ou as coisas podem ficar complicadas.
— Mas ela tem sim uma mãe, agora me diga logo! – ele suspira. Parece conversar com alguém do outro lado da linha.
— É o seguinte, nós estamos com a sua filha sim e queremos uma grana pelo resgate dela. Do contrário nós a matamos! – suspirei tentando não ficar nervosa.
— Tudo bem, quanto vocês querem?
— Três milhões de dólares vivos.
— Ok, tudo bem. Mas antes eu quero falar com ela.
— Nem pensar!
— Nem pensar digo eu! Vocês roubam minha filha, exigem três milhões pela vida dela e ainda acham que estão no direito de me negar algo?
— Pois estou sim, se não parar nós esquecemos o resgate e a matamos agora mesmo.
— Toquem um dedo nela e vocês vão ver quem sou eu! Eu acabo com vocês da forma mais dolorosa possível! Pare de tentar discutir comigo e passe ela para a linha agora! – ele fica quieto, logo depois diz algo que eu não consigo ouvir.
— Papai? – meu coração quase sai pela boca ao ouvir a voz chorosa muito bem conhecida pelos meus ouvidos.
— Gatinha! Gatinha, é você?
— Sam! Sam você vai vir me buscar? Eu não gosto daqui, eles são maus! – diz em meio a soluços.
— Calma meu anjo, eu vou sim te buscar, tudo bem? Se acalme. – sinto o telefone ser puxado da minha mão por Miller.
— Filha? Agatha? – Miller está a ponto de explodir. — Você está bem? Eles te machucaram? ... Tem certeza? – puxei o telefone de volta.
— Gatinha?
— Não! – escuto o homem. — Vocês já se falaram o suficiente. agora marque o endereço que deverá nos encontrar. – peguei um caderno em cima da mesinha de centro ouvindo as coordenadas do homem. — Você deverá vir sozinha, nada de polícia ou acompanhante. Você sozinha e o dinheiro, ou já sabe.
— Se ela estiver com um arranhão que seja, eu procuro vocês até no inferno e acabo com vocês! Juro pela minha cabra, que vocês irão se arrepender de ter nascido.
— Não temos medo de você.
— Deveriam!
— Maluca! – diz antes de desligar na minha cara. Suspirei e encarei Miller. Parecia que nós teríamos um infarto.
— Era ela. – diz ele.
— Sim, conseguimos. – ele me encara.
— Você conseguiu.
— Não, eu...
— Não, eu não fiz nada de novo. Foi você. Obrigado. – quando eu ia responder sinto seus lábios nos meus me envolvendo em um beijo. Isso está ficando cada vez mais constante. Não sei lidar. — Agora vamos busca-la.
— Não! – ele me encara sem entender, com o cenho franzido.
— Como não, Samantha?
— Eu vou sozinha.
— Nem pensar! Eu vou com você.
— Foi esse o combinado Miller. Nada de polícia ou outra pessoa. Apenas eu e o dinheiro.
— Samantha eu já disse que não, você não vai sozinha.
— Se você ainda querer sua filha de volta e viva, você vai ficar.
— Eu não vou ficar, exatamente porque é a minha filha.
— Você fica e pronto Miller! Eu quero Agatha bem, sem nenhum arranhão. Eu vou trazer sua filha sã e salva, e você vai sentar e esperar como foi planejado desde o início. – ele me olha indignado. — Não tente me impedir!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top