Temporada 2 - Capítulo 8| "O cerco se fechou"
Casa de Jesse Greene, pouco depois da 13:00 hora da tarde.
Os olhos da garota despertaram-se no momento em que ela ouviu um barulho vindo do andar de baixo. A menina calçou seus sapatos e caminhou até o corredor, logo percebendo que estava sozinha. Os policiais haviam deixado a residência há alguns minutos, e o único som que percorria a casa era o do telefone a tocar.
Jesse desceu as escadas com cautela e avistou o aparelho sobre a mesa. Sem muita demora, agarrou-o de uma vez e levou até o ouvido. Do outro lado da linha, uma respiração lenta e controlada causava certo desconforto à garota.
— Quem é? — perguntou de uma vez.
— Preciso saber de uma coisa, Jesse. Quem você acha que é a próxima peça a cair? — sussurrou.
— Eu sabia que era você. Do que está falando? Já sabemos qual é o seu jogo. Você não vai derrubar mais ninguém se eu puder evitar. — ela segurou o telefone com mais força ainda.
— Ótimo! O único problema é que eu já a tenho em mãos. Então, o que deveria estar se perguntando é: quanto tempo você tem até que eu a derrube? — ele respondeu.
— O quê? Que... quem? — Jesse questionou, com medo. — Qual é a peça?
— Ouça por si só. — ele distanciou o telefone de sua boca, e a menina pôde reconhecer os grunhidos de alguém ao fundo. Não demorou muito tempo pra que Jesse percebesse que aquela pessoa era Jenny.
— Como... como? O QUE VOCÊ FEZ COM ELA? — gritou Jesse.
— Ora, ora. Achei que tivesse dito que conhecia o meu jogo. É hora de usar suas peças, Jesse. Faça isso rápido ou a princesinha deixará o tabuleiro em breve. — ele disse em voz baixa.
— Você não vai ganhar. Não dessa vez. Está me ouvindo? — ela aproximou os lábios do aparelho. — Porque se Jenny cair hoje, você cai também. Eu vou te encontrar.
— É o que eu mais quero. E já que tem tanta certeza de que vai conseguir, vou te ajudar: Onde um raio cairia pela segunda vez? É exatamente onde sua amiga está. — exclamou ele. — Agora comece a correr, Jesse. E nada de policiais.
A menina prendeu o telefone sobre a superfície plástica na mesa, cortando a voz dele no mesmo instante. Jesse correu até seu quarto e pegou seu celular, enviando imediatamente uma mensagem a Sam e os outros três. Entretanto, o que ela não sabia é que três dos seus quatro amigos estavam "ocupados" demais agora. Então seriam apenas ela e Sam correndo contra o tempo.
Fábrica de brinquedos, 13:15 da tarde.
A cada minuto que se passava lá, aquele cubículo ficava ainda mais quente. Millye continuava desacordada, e Josh já havia percebido que aquela música irritante havia sido impregnada no pequeno aparelho de alguma forma, e desligá-la era impossível. Quanto à terceira jovem, caminhava de um lado ao outro daquela sala há mais de dez minutos, confrontando suas próprias escolhas naquela manhã.
— Só está gastando mais fôlego caminhando desse jeito. — disse Josh.
— Cala a boca, Joshua. — Melissa parou de andar por um segundo. — Eu preciso me concentrar.
— Em quê? — ele rebateu. — Não há jeito de abrir aquela porta. Pelo menos por enquanto. — o garoto escorou-se sobre a parede atrás dele, feita de algum tipo de concreto, o que fazia com que a estrutura não estivesse tão quente quanto à porta metálica.
— Já sei disso. Mas já se passaram mais de duas horas. Devem estar procurando por nós. Não acha? — perguntou ela.
— Na verdade, se estivéssemos em um dia normal haveríamos acabado de deixar a escola. O que significa que estamos desaparecidos há menos de quarenta minutos, e não há duas horas. — explicou.
— Então somos só nós. — ela suspirou. — Por que será que Jesse, Sam e Jaremy não foram mandados para o mesmo lugar?
— Acho que ele nos queria fora da jogada por enquanto. Jenny continua desaparecida, então talvez ele queira que apenas Jesse e Sam estejam no tabuleiro. — disse Josh, tentando manter sua respiração calma.
— Tabuleiro? Quando foi que começaram a fingir que estamos em dentro de um jogo de peças? — Melissa indagou.
— Desde que ele deixou a peça do cavalo ao lado do corpo do... — Josh lembrou-se de que Melissa não estava presente quando o grupo discutiu sobre isso. — Droga.
— Seth Hastings? Então... havia uma peça, certo? Aparentemente estamos em um jogo de xadrez. — respondeu ela.
— Parabéns, Sherlock. — Josh utilizou a mesma palavra que a loira havia dito antes, sorrindo em seguida.
— Então a dinâmica do nosso velho amigo mudou, e nenhum de vocês pensou em me avisar? — ela o encarou. — A cada dia que passa eu agradeço de novo por ter entrado nesta cidade.
— Nós íamos te contar, só... não achamos que fosse necessário. Mas isso nem importa agora. — disse ele, desviando o olhar. — Na verdade, eu tenho uma pergunta. — voltou a olhar para ela.
— O que foi? — Melissa ficou em silêncio, deixando que o único barulho na sala fosse o das labaredas na parede.
— Você disse que recebeu a mesma mensagem. Mas... como chegou aqui antes da gente? — questionou Josh.
— Do que está falando? Eu só segui a localização. — respondeu ela.
— Eu sei. Mas, digo, como sabia que era nessa sala? Já estivemos aqui antes e levamos mais tempo para encontrá-la. — ele cruzou seus braços.
— Isso não faz a droga do menor sentido, Evans. Vocês chegaram exatamente cinco minutos depois de mim. — Melissa franziu a sobrancelha.
— Eu só estou dizendo que é muito estranho. Quer saber? Tudo isso é muito estranho. Desde a parte em que você chega na cidade e um dia depois coisas ruins começam a acontecer. — Josh se levantou.
— Quer falar sobre coisas ruins, Evans? O meu único e maior desejo era nunca ter posto meus pés aqui. PORQUE ESSA DROGA DE LUGAR ARRUINOU A MINHA VIDA! — gritou a garota.
— Pe... pessoal? — a voz doce da garota de óculos invadiu a conversa, mas não era alta o bastante pra que os dois lhe escutassem.
Josh continuou a atacar Melissa com teorias que talvez não fizessem o menor sentido. Enquanto isso, ela sobrepunha sua voz sobre a dele, como se estivessem competindo sobre quem gritava mais alto. Millye observava aquela cena do chão, e não levou muitos segundos pra que ela tomasse uma atitude.
— PESSOAL! — ela se levantou, chamando a atenção dos outros dois.
— Millye? Minha nossa. Como você está? — Josh se aproximou dela.
— Eu... eu acho que bem. Só me sinto um pouco tonta. — ela olhou para a outra garota. — Encontraram alguma coisa?
— Nada. Esses bonecos começaram a me dar arrepios. — respondeu a loira.
— Josh, quanto tempo acha que temos até que a situação piore? — Millye perguntou.
— Se não conseguirmos parar as chamas, poucas horas. Não vai sobrar mais nada do que fumaça aqui. — ele respondeu.
— Então é melhor acharmos de uma vez um jeito de sair. — Millye começou a procurar por qualquer objeto que lhes ajudasse a abrir a porta.
E conforme as labaredas tomavam conta de um lado da sala, cada vez mais difícil seria permanecer naquele lugar. O ar já parecia poluído o bastante para que, em algumas horas, como Josh havia previsto, não houvesse mais como continuar respirando-o. Havia um relógio imaginário na cabeça de cada um dos três jovens, e o único barulho que ele fazia era o de seus ponteiros correndo na direção contrária à deles.
Rua Sayfield, 13:45 da tarde.
— Por que demorou tanto? — Jesse abriu a porta do carro ao avistar o ruivo estacionando.
— Desculpa. Alguns problemas com minha tia. Onde estão os outros? — perguntou.
— Não faço ideia. Enviei mensagem mas nenhum deles responde. — Jesse disse.
— Acha que ainda estão na escola? — exclamou Sam.
— Eu não sei. Mas não temos tempo pra esperar. Talvez... talvez seja melhor que eles não estejam correndo perigo. — ela respondeu.
— Claro. Por onde começamos? Acha que devemos ir até a delegacia? — Sam questionou.
— Definitivamente não. Ele deixou claro que não podemos avisar a polícia. — a garota escorou a cabeça sobre o banco.
— Isso é sério? Jesse... Jesse, é suicídio irmos até lá sozinhos. — Sam a encarou.
— E o que quer que eu faça, Sam? São as drogas das regras! Se dermos qualquer passo em falso, acabou. — Jesse respondeu. — Além disso, da última vez que o xerife Moose tentou ajudar acabou não sendo assim tão útil.
— Você é quem sabe. — Sam suspirou, depois de alguns segundos em silêncio. — Para onde vamos? Você ao menos sabe o que fazer? — ele agarrou a direção.
— Não! Eu não sei. Ele não disse nada. Só deixou claro que não deveríamos chamar a polícia. — ela franziu a sobrancelha.
— E como espera que encontremos a Jenny? Porque eu acho que nosso tempo está passando. — Sam parecia mais nervoso do que o normal, e isso talvez não o ajudasse muito.
— Será que pode parar de dizer isso? Sam, eu estou tentando entender como essa droga de jogo funciona enquanto ainda há tempo. Mas eu não tenho certeza de absolutamente nada! — Jesse levou suas mãos até a cabeça.
— Me desculpa. Eu não queria deixar você nervosa. É só que... não é a primeira vez que isso acontece, e eu também não faço ideia do que fazer. — o ruivo explicou.
— Espera. O que foi que disse? — Jesse olhou para ele.
— Que não faço ideia do que fazer. — exclamou.
— Não, antes disso. Você disse... disse que "não é a primeira vez". Ele disse algo parecido no telefone, eu... eu me lembro. — Jesse ergueu sua cabeça, encarando a rua vazia à frente deles. — "Onde um raio cairia pela segunda vez". Foi isso!
— E no que isso nos ajuda? É onde Jenny está? — questionou o menino.
— Exato. É uma pista. Mas por que ele se referiu a ela dessa forma? Eu não... não entendo. — a garota falou.
— É uma metáfora, Jesse! Na primeira noite aqui você me contou sobre o ano passado. Disse que Jenny foi levada por Seth uma vez. Lembra? — Sam disse.
— Sim. Exato. Eu cheguei na cidade no dia em que ela foi dada como desaparecida. E isso aconteceu... é... — Jesse tentava se lembrar. — eu estive lá com a oficial Katy naquele dia. Foi na floresta, próximo à estrada 96. É pra lá que precisamos ir, Sam.
— Jesse, você é incrível. — Sam sorriu. — Vamos salvar a Jenny.
E então o menino iniciou o trajeto que os levaria diretamente ao local onde Jenny foi pega pela primeira vez. Estavam confiantes de que chegariam a tempo. E talvez com um pouco mais de sorte, os outros três também tivessem acabado no local correto. Infelizmente, agora só haviam duas pessoas em pé no tabuleiro, sem contar uma terceira peça que estava muito longe de ser um dos mocinhos.
Fábrica de brinquedos, 14:06 da tarde.
— É perda de tempo! — gritou Josh, afastando-se daquele buraco que pegava fogo. — Não há nenhuma passagem do outro lado das chamas. Já chequei cada canto dessa sala, também não há nenhuma ferramenta que possamos usar.
— Eu não sei por mais quanto tempo consigo aguentar. — Melissa sentia sua garganda ardendo.
— Já tentaram o telefone? — Millye encarou o aparelho jogado no chão.
— Não serve pra nada. É impossível desativar a droga da canção e não temos sinal aqui embaixo. — Josh explicou.
— Eu sei disso. Quero dizer, talvez haja algo nele além dessa música idiota. — Millye percebeu o quão quente aquele smartphone estava ao agarrá-lo com as duas mãos.
Josh e Melissa aproximaram-se em seguida. Não importava se aquela era a opção mais improvável, se houvesse alguma chance de ter algo ali, eles precisavam conferir. Millye vasculhou cada parte dos arquivos do celular, mas nada funcionava. De alguma forma, o aparelho foi "bloqueado" para que apenas quem o configurou conseguisse utilizá-lo.
Apesar disso, havia uma mensagem no bloco de notas, e era a única coisa que parecia ser relevante no telefone. Millye leu e releu as palavras em fileira, mas sua cabeça parecia girar tão rápido que nada fazia sentido. "As paredes têm ouvidos, mas nem mesmo elas podem contar o que aconteceu no quadragésimo oitavo dia daquele ano", era a frase anexada no arquivo. Só isso. Mais nenhuma pista.
— Que droga é essa? — Melissa afastou seu rosto da tela do celular. — Porque se forem me dizer que isso precisa fazer algum sentido, eu desisto.
— Calma. É isso. Precisa ser isso! É a única coisa que encontramos aqui, então esta frase tem que significar algo. — Josh exclamou, enquanto lia o texto outra vez.
— Mas de que droga ele está falando? — questionou Melissa.
— Vamos com calma. O quadragésimo oitavo dia do ano é... — Josh tentou calcular o mais rápido possível.
— É dezessete de fevereiro. — Millye respondeu.
— Uau. Como pensou nisso tão rápido? — Melissa se manifestou.
— Porque é a única data de que não poderíamos nos esquecer. Dezessete de fevereiro de 2001. A noite em que Jacob Woods cometeu um massacre na Rainwood High. — ela retirou seus óculos.
— Pronto! E voltamos à estaca zero. Se isso for verdade, então quer dizer que quem está fazendo isso tem algo a ver com o que aconteceu? — Josh perguntou.
— Não exatamente. Pensamos isso no ano passado e Seth só havia utilizado a história para nos manter ocupados. — explicou Millye.
— Okay, detetives. É uma ótima linha de raciocínio, mas a identidade do assassino não nos convém agora. Precisamos utilizar essa pista nesta sala. Mas como? — disse Melissa.
— Ele disse que as paredes têm ouvidos, então... — Josh olhou ao seu redor, percebendo os quatro lados da saleta repletos de miniaturas esquisitas. — acho que há alguma coisa nos bonecos.
— Boa, Evans. — Millye se movimentou até perto de uma das paredes.
— Acho que os números são... são a sequência. — Melissa aproximou-se também. — Dezessete de fevereiro significa o décimo sétimo boneco da segunda coluna?
— Pode ser que sim. — Josh começou a observar cada uma das pequenas criaturas. — Droga! Alguns deles estão... estão derretendo. Isso é bizarro.
— Pessoal, eu não sei como, mas cada uma das fileiras tem dezessete bonecos, com exceção da segunda. É a única que só tem dezesseis. — Millye cruzou os braços, tomando distância para observar novamente.
— O que vamos fazer então? Não podemos ter errado! Fevereiro é o segundo mês do ano, isso só pode indicar a segunda fileira! — Melissa protestou.
— Vamos pensar. Já chegamos até aqui, não vamos morrer por conta de um boneco de pano ou... plástico derretido. — Josh as encarou com determinação.
E o tempo continuava a correr. Seus corpos estavam tão cansados quanto suas vozes. Era cada vez mais difícil respirar e se movimentar lá dentro, mas nenhum deles pretendia parar. Se antes não faziam ideia de como escapar daquela armadilha, agora tinham um ponto de partida. Só precisavam entender aquele enigma de uma vez, antes que fosse tarde.
Floresta de Rainwood, quase 15:00 horas da tarde.
Os dois jovens caminhavam floresta adentro sem ao menos saber por onde começar. A Sam, lhe incomodava o fato de que aquele terreno fosse sempre tão sombrio, e que independente da época do ano, aquela névoa densa afogasse a visão de qualquer um que entrasse no lugar. Quanto à Jesse, ela tentava se manter mais calma. O cheiro das folhas molhadas brevemente lhe remetia aos passeios no parque, quando ainda vivia em Gravewood com sua mãe.
De repente, depois de tanto andar, Jesse reconheceu um barulho anormal vindo da parte mais funda da floresta. Era como se um rio banhasse o centro do lugar, e houvesse uma pequena cachoeira perto dali. A garota não tirou a concentração de Sam, e simplesmente resolveu afastar-se um pouco do rapaz para ter certeza.
— Achou alguma coisa? — ele quebrou o silêncio, observando a menina a alguns metros de distância.
— Eu acho que há uma cachoeira mais para baixo. Não sabia dessa parte do lugar. Talvez Jenny esteja lá. — Jesse falou em voz alta.
— Tem razão. — Sam começou a caminhar na direção dela. — Acho que não há nada aqui além de árvores e mais árvores.
Ao se aproximarem, os dois reconheceram um enorme barranco que levava à margem do rio. Mais à esquerda, estava o início de uma pequena cachoeira que cobria parte do restante da floresta. Havia algum tipo de construção abandonada do outro lado. Entretanto, apesar do bizarro cenário que poderia facilmente ser o esconderijo de Jenny Hopps, Sam avistou rapidamente a presença de um cercado extenso que dividida as delimitações do rio.
— Acha que ela pode estar lá? — Sam perguntou, enquanto recuperava o fôlego.
— Se estamos no lugar certo, só pode ser lá. Mas como vamos atravessar isso? — Jesse fixou seus olhos no caminho de água, tentando encontrar o fim do cercado.
— Acho... acho que vamos ter que descobrir. Vem comigo. — Sam puxou a mão da menina, andando em direção ao lado esquerdo, onde imaginava que haveria uma passagem.
Depois de alguns minutos andando, o ruivo enxergou um buraco quase imperceptível entre os arames. A entrada os permitiria atravessar o rio e, consequentemente, chegar até a construção. Depois de chegarem do outro lado do riacho, Jesse foi na frente, e assim que ultrapassou o que deveria ser a porta de entrada, teve visão do quão escuro e profundo era o lugar. Ao olhar para baixo, ela reconheceu o som de água pingando, e o barulho do vento que lhe causava arrepios. Havia uma escada entre destroços que levariam os dois à morte caso não tomassem cuidado.
— Então... iremos descer? — perguntou o garoto, encarando a penumbra daquele lugar sem fim.
— Infelizmente, já sabe a resposta. — Jesse respirou fundo. — Não solta a minha mão.
E assim como o menino imaginou, aquele lugar parecia não ter fim. Quanto mais fundo chegavam, mais escuro e bizarro se tornava. Foi somente quando encontraram um corredor estreito, a pouco mais de dezesseis metros de profundidade, que puderam ter claridade a iluminar seus olhos mais uma vez. Existia algum tipo de luz alaranjada que seguia o caminho a partir dali.
— Consegue ouvir isso? Eu acho... acho que é a Jenny. — exclamou Jesse.
— Mas de que lado está vindo? — questionou o garoto. — Parece vir das duas direções.
— Ela não deve estar sozinha. Consegue ouvir? Parece... parece com medo. Sam, precisamos fazer algo agora! — disse Jesse. — O que acha de nos dividirmos?
— Ficou maluca? O que acontece se encontrarmos o assassino nesse lugar? — ele refutou.
— Não vamos o encontrar. Só precisamos achar a Jenny e sair daqui de uma vez. Você segue esse caminho — ela apontou. — e eu vou por aqui. Nos encontramos do lado de fora em menos de dez minutos. Me entendeu?
— Espera. Mas e se não acharmos ela? — Sam perguntou, repleto de nervosismo.
— Um de nós vai. Se não estiver no caminho certo e se passarem exatos dez minutos, você volta até lá em cima e me espera. Entendeu? — ela o encarou.
— Jesse, é perigoso demais. — Sam balançou a cabeça.
— Não temos outra escolha, Sam. — a garota agarrou seu pescoço, beijando os lábios do rapaz em um movimento rápido. — Nos vemos daqui dez minutos.
Sam não teve a chance de ver o rosto da menina outra vez depois que fechou seus olhos durante o beijo. Quando os abriu, ela já havia o deixado. Mesmo que lhe doesse ter que rezar para que saíssem vivos de lá, ele não poderia deixar que mais alguém morresse, então fez exatamente o que Jesse mandou. E em dez minutos, algo precisava ter acontecido.
Fábrica de brinquedos, 15:02 da tarde.
Mais de meia hora já havia se passado. Melissa, Josh e Millye continuavam buscando qualquer que fosse o sentido naquele desafio mortal. Mas era difícil continuar pensando, quando não eram só seus corpos que estavam cansados. Eles já não tinham mais forças armazenadas que fossem capazes de mantê-los em pé.
— Eu desisto. — Melissa colocou sua cabeça entre os braços, tentando reservar o restante de ar saudável que restava em si.
— Não tem mais o que fazer, Millye. É melhor descansar enquanto ainda pode. — Josh exclamou, enquanto olhava para a garota que não desistia de tentar. — Millye, será que pode me ouvir?
— DROGA, JOSH! EU NÃO VOU PARAR DE TENTAR! — ela se virou. — Eu não... não vou. Se quiserem gastar seus últimos minutos reclamando, então tudo bem. Mas eu vou continuar tentando.
Ela insistia em arriscar descobrir o enigma que os manteria vivos antes que seu tempo ali acabasse. De acordo com o que haviam entendido, se é que haviam, um daqueles bonecos conteria alguma chave ou algo do tipo. Dia dezessete de fevereiro significava, segundo Melissa, o décimo sétimo brinquedo da segunda fileira. O único problema é que tal fileira só tinha dezesseis brinquedos, e logo após, se iniciava a parede seguinte, com um enorme buraco em chamas. Mas Millye ainda se perguntava: onde está o décimo sétimo brinquedo?
— Tudo bem então. — respondeu Josh, tossindo. — Talvez fosse melhor que aquele buraco de chamas tivesse nos engolido assim que chegamos aqui. — seus olhos apontaram para as labaredas do lado esquerdo.
— É... é isso. — Millye exclamou. — É ISSO!
— O que foi? — Melissa abriu seus olhos rapidamente.
— Eu sei exatamente onde está o último boneco. — seus óculos expeliram o brilho do fogo.
E de repente, tudo fez sentido. A chave para que pudessem escapar estava exatamente ali, no local que os atormentou desde que chegaram na sala. A liberdade estava contida dentro das chamas.
— Está dizendo que o boneco está... está lá dentro? — Melissa a encarou. — E como vamos tirá-lo de lá, Millye?
— Está certa de que isso é verdade? — Josh levantou-se.
— Eu não tenho certeza. Mas é a única coisa que parece fazer sentido. — explicou.
— Dane-se. — Josh caminhou até lá.
O espanto alcançou as duas meninas no momento em que presenciaram Josh fazer aquilo. Ele literalmente colocou sua mão esquerda naquele forno gigante, deixando que a dor o corroesse por inteiro por alguns segundos. Se Millye estivesse errada, Josh estaria matando a si mesmo por nada. O tempo acabaria e eles morreriam com a fumaça.
Mas ela não estava. No momento em que Josh começou a gritar, alcançou algo em um compartimento debaixo das chamas. Ele arrancou o objeto de lá o mais rápido possível, impulsionando-se para trás. Melissa e Millye correram até o garoto, ajudando-o a levantar.
Seu braço estava em vermelhidão total, com ferimentos à mostra que não se curariam tão rápido. Mas foi necessário. Millye, apesar de assustada com o que seu amigo acabara de fazer, não perdeu tempo. Ela abriu a pequena caixa de ferro e encontrou um boneco de pelúcia. Ao lado dele, a "chave" de que precisavam: uma pedra pesada e um pé de cabra.
— QUE DROGA É ESSA? — gritou Melissa, em meio a todo tormento.
— NÃO DEVIA HAVER UMA CHAVE AQUI? — Josh perguntou, entre seus murmúrios de dor.
— ESSA É A CHAVE! TEMOS QUE USAR PARA ABRIR A PORTA! — Millye apanhou os dois objetos.
Estavam tão perto de escapar daquele pesadelo que nem parecia verdade. A garota dos cabelos loiros tomou o objeto comprido das mãos da outra, e no momento seguinte o encaixou sobre a lateral da porta. Millye logo iniciou as batidas constantes contra a fechadura, enquanto Melissa utilizava o pé de cabra para apoiar a pedra.
Josh observava do chão, tentando rastejar até lá. Sua visão turva o impedia de enxergar as coisas com clareza. Atrás de seu corpo, o calor das chamas o perseguia. Ele só precisava aguentar mais um pouquinho. E então, de repente, a luz do exterior daquela sala tomou conta de seus olhos. Estavam livres.
— JOSH! RÁPIDO, MELISSA! — Millye correu até o menino, ajudando-o a levantar e o levando até o lado de fora em seguida.
— Estamos... estamos livres. — Melissa deixou que seu corpo caísse no chão, enquanto observava aquele inferno ficar para trás. O pesadelo acabou.
Floresta de Rainwood, 15:12 da tarde.
Cada passo mais próximo na direção de que vinham os ruídos significava uma chance a menos que Jesse tinha de dar meia volta e ir embora. Ela se aproximou até a entrada de um compartimento minúsculo, e mesmo que no meio do escuro, percebeu algo se mexendo perto da parede.
Com cuidado, a menina colocou um pé seguinte ao outro, e aos poucos chegou mais perto. Não havia chance alguma daquele ser o lugar errado, porque assim que Jesse abaixou seus olhos, reconheceu aquela pessoa. As vestes cor de rosa entregavam imediatamente que Jennifer Hopps estava realmente ali. E então, uma sensação de alívio.
— Jenny? Ah meu Deus, Jenny! — Jesse correu até ela, retirando de sua boca a mordaça que prendia seus lábios.
— O que... o que está fazendo aqui? — perguntou Jenny, com a visão um tanto ofuscada.
As olheiras e a voz rouca revelavam o quão torturante deviam ter sido suas últimas horas naquele lugar. Uma dor de cabeça irritante acompanhava a loira, e seus punhos estavam em vermelhidão por conta das cordas que a prendiam. Jesse não poderia imaginar, de qualquer forma, como aquilo havia sido horrível para a jovem, sem contar no que pode ter acontecido enquanto ela permaneceu sozinha naquela masmorra com o desconhecido.
— Viemos aqui para salvar você. Você lembra... lembra como chegou aqui? — perguntou Jesse, enquanto buscava um jeito de desamarrá-la das cordas.
— Eu não sei. Eu estava em casa e então... abri os olhos em algum momento, pude enxergar os carvalhos da floresta. Depois disso, só acordei ao ouvir sua voz. — respondeu ela, contorcendo-se.
— Não se preocupe, nós vamos sair daqui em segurança. Está me ouvindo? Ninguém vai se machucar. — Jesse finalmente conseguiu retirar as mãos da menina dos laços.
— Espera. Onde... onde estamos? — Jenny levantou-se, olhando ao redor.
— Eu não faço ideia. Mas precisamos alcançar a escada do outro lado e estaremos na floresta. Acha que consegue me acompanhar até lá? — disse Jesse, concentrada nos ferimentos que haviam pelo corpo de Jenny.
— Eu acho que sim. — Jenny começou a seguir a menina através das paredes estreitas do lugar. — Há mais alguém aqui embaixo? — ela parou de andar imediatamente.
— O Sam. — Jesse caminhou até o lado oposto da parede, procurando ouvir qualquer barulho novamente.
— Jesse, eu... eu estou com medo. — Jenny disse, eufórica.
— Vem, vamos sair logo daqui. O Sam vai nos encontrar lá fora, não podemos perder mais tempo. — ela agarrou a mão da loira, começando a subir as escadas que levariam ao lado de fora.
Todo e qualquer instante era precioso. Um passo em falso e seus corpos cairiam naquele buraco. Isso se o monstro que percorria o andar de baixo não as encontrasse antes. Jenny continuara a subir degrau por degrau, sem soltar a mão de Jesse. E apesar de seu coração bater freneticamente, ela sabia que não era hora de parar.
— Estamos chegando? — Jenny aproximou suas pálpebras ao sentir a luz estonteante do dia lhe cobrir.
— Sim. Estamos quase lá, nós só... — Jesse voltou seus olhos para o escuro que perseguia Jenny, e no mesmo momento percebeu que havia alguém subindo as escadas. — Meu... meu Deus. Jenny, temos que ir agora.
Jesse voltou a correr na direção da passagem entre os destroços, que as levaria até as margens do rio. Uma gota de esperança lhe rodeou quando ela enxergou a água movimentada em sua frente. Mesmo assim, ainda havia um obstáculo. O cercado logo depois do rio era totalmente fechado, não havia passagem alguma. O único jeito de ultrpassá-lo era contornando o terreno, pelo mesmo lugar onde chegaram ali.
— JESSE! JESSE! — Jenny se desesperou ao enxergar a clara imagem do assassino deixando para trás a construção abandonada.
— Espera... espera. — Jesse encarou a expressão assustada da loira, em seguida as grades que as impediriam de escapar, e por último aquela máscara chegando mais perto de onde estavam. — Não temos tempo de dar a volta. Precisa haver outra saída. RÁPIDO, JENNY!
As duas voltaram a correr. A correnteza levemente tomava suas pernas, encharcando até perto do joelho de Jesse. Jenny estava logo atrás dela, mas havia uma atmosfera de medo e azar atuando sobre a jovem naquele instante, como se independente do que fizesse, ela soubesse que ele iria alcançá-la.
Jenny pôde sentir seus pés tropeçando em passos errôneos enquanto atravessava o riacho, e não demorou muito para que ela caísse no chão. Jesse chegou ao outro lado da margem e voltou os olhos para o lado oposto, enxergando a amiga ficando para trás.
— JENNY! — Jesse agarrou seus braços, e no mesmo segundo as duas alcançaram as grades.
Ela tentou procurar por qualquer buraco na cerca que lhe propusesse a chance de fugir, mas não encontrou. Então logo percebeu que o único jeito seria pular por cima do cercado, o que lhe tomaria tempo e esforço. Recém aproximando-se da água, o mascarado ainda levaria alguns instantes para chegar no cercado. Mas talvez não fosse tão fácil assim chegar ao outro lado. Não era possível alcançar a parte de cima com eficácia em tão pouco tempo, e ambas concluíram que uma teria de ajudar a outra e depois fazer o mesmo sozinha.
— Você vai primeiro, Jenny. O importante é que saia daqui de uma vez. — Jesse esperou que a loira pusesse suas mãos sobre os arames de uma vez.
— O quê? Não. Eu vou te ajudar a chegar ao outro lado, consigo subir mais rápido. E não adianta tentar me convencer, Greene. Sobe logo! — gritou a menina, encarando a figura negra que se aproximava em passos curtos.
Jesse não viu outra escolha, e então pôs-se a escalar aquela parede de arames em conjunto. Quando chegou ao topo, jogou de uma vez o corpo para o outro lado e voltou a colocar suas mãos sobre a cerca.
— Anda, Jenny! Só precisa colocar um pé depois do outro. Quando cair, eu vou estar aqui. ANDA! — gritou ela, enquanto observava-o chegando mais perto com cautela.
— Mantenha-os seguros, Jesse. — Jenny agarrou os dedos dela através dos buracos no cercado.
— O quê? De que droga está falando? JENNY, NÃO TEMOS MAIS TEMPO! — implorando a menina, começando a se desesperar.
— Acho... acho que nunca tivemos ao certo. — um sorriso enfraquecido apareceu em seu rosto. — Não devia ter vindo até aqui, Jesse. Mas você sabe que nunca sairíamos vivas. Não sabe? Depois dessa cerca nos encontraríamos em um longo e cansativo caminho aberto até a estrada. Ele nos alcançaria de qualquer forma. — Jenny retirou seus calçados dos pés.
— Não, Jenny! Nós podemos. Vamos sair daqui e continuar lutando até o último segundo. Você sabe que existe esperança. Por favor, só... me deixe ajudar. — Jesse deixou que escapassem suas ardentes e amargas lágrimas.
— Eu cansei de lutar. Não quero que desista, porque ainda tem motivos pelo qual. Sua mãe, o Sam, e... todos eles. — Jenny respirou fundo. — Eu estou sozinha aqui. E sinto saudades de casa, Jesse. — ela secou suas lágrimas rapidamente.
E naquele pequeno tempo até o momento em que o mascarado alcançasse a garota, Jesse entendeu do que ela estava falando. Jenny era extremamente grata pelo fato de Jesse e Sam terem arriscado suas vidas para salvar a dela, mas estar ali não era mais tão importante assim. O verdadeiro significado de "casa", ao menos para Jennifer Hopps, se revelava entre os estilos variados de roupas de Suzen, ou debaixo da boina de Claire. E ela estava longe de casa agora.
— Só me prometa que... que... — por uma última vez, Jenny segurou com força as mãos dela, do outro lado. — que vai vencer essa merda de jogo.
E então, ela deixou a grade para trás. Jenny sabia que não era tão forte e muitas vezes não era a mais esperta. Mas ela gostaria de ser o herói naquele instante, e não apenas a garota esnobe que usava roupas caras. E assim como quis, Jennifer Hopps foi a heroína naquela tarde.
Ela encarou a máscara negra que ele usava, podendo enxergar também o terçado que carregava em mãos. Jenny colocou seus pés na água cuidadosamente e então ficou frente à frente ao seu maior e pior pesadelo. O monstro que havia levado tudo de mais valioso de si. Mas ela não queria matá-lo.
— Quer saber de uma coisa? — Jenny aproximou sua boca do rosto dele. — Não importa quem está debaixo desta máscara, nem como é ou por que está fazendo isso. Você nunca, nunca, nunca será como nós. E sabe por quê? Porque não sabe como sobreviver fora da droga do seu jogo! — ela jogou seus punhos contra o peito dele, continuando a empurrá-lo com força.
Até que ele tomou uma atitude. O mascarado ergueu sua arma e agarrou o pescoço de Jenny ao mesmo tempo. Segundos depois, largou-a sobre a água calma que percorria seus corpos. Ele tentou perfurar de uma vez o coração da garota, mas ela segurou a faca com as duas mãos. Não seria o suficiente, obviamente, pois em pouco tempo o metal atravessaria sua pele e alcançaria seu peito. Mas ela continuou resistindo.
Do outro lado, Jesse gritava o mais alto que poderia. Ela não conseguia aceitar o fato de que Jenny havia entregue sua própria vida àquele assassino. Mas não havia nada que pudesse fazer a não ser fechar seus olhos enquanto se torturava por não ter feito o suficiente para mudar o caminho do jogo. A verdade é que não havia mais nada que Jesse pudesse ter feito, de fato. Aquele sempre foi o destino de Jenny, assim como o de Maryan, Suzen, Seth, Zoe, Claire e seria ainda o de mais pessoas ao seu redor.
Quanto à menina que enfrentava o assassino, ela continuou firme. Em pouco tempo o terçado fez estrago em suas mãos, perfurando seu peito e levando um choque repentino ao órgão interno que lhe bombeava o sangue. Jenny ficou paralisada por um instante. Ela não conseguia respirar, não conseguia falar ou se mexer, mas ainda retia aquele mar de lágrimas em seus olhos.
Ele levantou o corpo da loira com seus braços, deixando que o sangue escorresse pela água e fazendo questão de que Jesse enxergasse tudo. E assim, em um último momento antes que fosse jogada sobre as pequenas pedras na margem do rio, Jenny sussurrou algo olhando na direção da outra garota. "Vá", ela disse. Era hora de ir. Jenny não tinha mais como escapar daquele pesadelo, mas Jesse ainda podia.
Lhe ardeu cada parte do corpo quando entendeu que deveria deixar para trás a menina que devia ter protegido. Jesse continuou correndo entre as árvores até que não aguentasse mais. Seus gritos de desespero e decepção circundavam a floresta inteira. Mas ao contrário do que imaginava, ele não viria atrás dela. Aquele capítulo do pesadelo era inteiro e somente de Jenny, e ele havia chegado ao fim naquele dia. Jesse estava livre das garras do mascarado por enquanto.
Depois de afirmar que havia rodeado a masmorra toda em busca de Jenny e Jesse, Sam encontrou a menina caída no meio dos carvalhos enquanto respirava ofegante, como se algo desesperador houvesse a atingido, e realmente havia: o luto. O ruivo cobriu o corpo de Jesse com seus braços, deixando que ela chorasse o quanto fosse preciso, mesmo sabendo que ali não era seguro. Mas nenhum local era, de fato. Tudo em que Jesse conseguia pensar agora era que acabara de perder mais uma pessoa. E aquele jogo não iria reiniciar-se quando chegasse ao fim.
Delegacia de Rainwood, 19:45 da noite.
As estrelas caíram sobre a cidade assim como o ânimo daqueles estudantes foi ao nível mais baixo possível naquele dia. Jesse tentou enviar mensagem aos outros três amigos assim que ela e Sam conseguiram deixar a floresta em segurança. Infelizmente, nenhum deles respondeu. As duas garotas haviam levado Josh até o hospital momentos depois de escaparem da fábrica, e por sorte, nada grave aconteceu ao seu braço.
Uma reunião de última hora havia sido convocada pelo departamento policial local, em conta dos últimos eventos. Afinal, os pais queriam saber quais seriam as atitudes tomadas pelo novo xerife, enquanto imaginavam se seria seguro continuar deixando que seus filhos fossem à escola. Os pais de Jenny compareceram ao pronunciamento, mesmo que ainda estivessem abatidos pela notícia da morte da filha naquela tarde.
— Eu não... não sei como começar a falar sobre o que vem acontecendo na cidade nos últimos dias. — disse o xerife, ao se locomover até o microfone.
— Por que não começa tentando explicar a morte da nossa filha? — disse o sr. Jensen, pai de Claire, em um tom de voz mais alto, que trouxe à tona cochichos por todo o local.
— Eu entendo que estejam perdidos e preocupados, mas... não tínhamos como lidar de melhor forma. Fizemos o nosso trabalho. E eu prometo que estamos tentando, a todo custo, mantê-los em segurança. — o homem fardado respondeu.
— Xerife! Xerife! — uma repórter aproximou-se. — O que tem a dizer sobre o rapaz inocente que levaram para a delegacia nesta semana? — ela colocou o microfone perto do rosto do homem.
— Jaremy Fiztgerald foi levado até a delegacia apenas para que respondesse algumas perguntas. Não havia nada de errado. — ele tossiu, tentando esconder o nervosismo que lhe acolhia frente ao público.
— E quanto ao baile? A escola vai continuar com as programações normais esta semana, xerife? Mesmo tendo um assassino à solta? — insistiu a repórter.
— Tudo... tudo o que posso dizer é que estamos trabalhando para encontrar o autor destes crimes e acabar com este pesadelo logo. Quanto ao baile anual, conforme combinado com o diretor da escola e o prefeito Dikins, nós... — ele respirou fundo. — nós vamos nos assegurar de que seus filhos estejam seguros na escola na próxima noite.
Jesse e Sam estavam sentados próximo à porta de entrada, e a notícia lhes atingiu de forma brusca. Não só a eles dois, como ao restante das famílias, porque parecia ignorância continuar com um evento sabendo que qualquer coisa de ruim poderia vir a acontecer. Era inadmissível que uma decisão daquelas viesse do departamento, mas não surpreendente.
— Seguros, xerife? Da mesma forma que a minha Jenny está segura agora? — levantou-se uma mulher da platéia, carregando no peito suas mãos fechadas. — Oh, céus.
— sra. Hopps, sentimos muito por sua... — Moose não conseguiu terminar de falar.
— SENTEM MUITO? — outro rapaz se manifestou. — VOCÊS DEVERIAM IMPEDIR QUE NOSSOS FILHOS MORRESSEM! ONDE ESTÁ A SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR? — ele gritou.
[Música: The Beginning of the End - Klergy]
E no exato instante em que disse aquilo, um constante coral de gritos raivosos se iniciou na platéia. Não demorou muito para que o xerife fosse atingido por um copo de café cheio. O restante das autoridades tentou controlar a confusão, mas já era tarde demais. Todos os cidadãos presentes tinham ódio e desprezo em seus olhos.
Josh, Millye e Melissa invadiram a entrada do lugar exatamente no meio do tornado, e assustaram-se com a cena que presenciaram. As pessoas estavam possessas, a mãe de Jenny gritava desesperadamente enquanto tentava atacar o oficial à sua frente.
— Que droga está acontecendo aqui? — Josh se aproximou de Jesse e Sam.
— Onde estiveram o dia todo? — o ruivo enxergou o ferimento coberto por um tecido hospitalar no braço do menino. — E o que aconteceu com você?
— É uma... uma longa história. — Millye explicou. — Estávamos atrás da Jenny.
— Aliás, onde ela está? — perguntou Melissa, se aproximando deles.
— Acho que aquela mulher pode falar por si só. — Jesse apontou para a sra. Hopps, no meio da multidão. — Nós tentamos.
— Espera. A Jenny... morreu? — Melissa se afastou devagar, sentindo um pesado choque sobre seu corpo.
A notícia lhes agarrou como um demônio em busca de tristeza e solidão. Não podia ser verdade que mais um de seus amigos havia sido engolido por aquele monstro, mas era. Josh sentou-se no chão enquanto encarava os gritos e a onda de violência que possivelmente se aproximava. Millye não conseguiu dizer nada. Infelizmente, por mais difícil que fosse, aquele não era o fim do dia. Porque Jesse ouviu seu telefone tocar.
— O que você quer? — a menina cobriu o microfone do celular com os dedos, para ofuscar o barulho atrás.
— Não é incrível, Jesse? Eu não imaginava que Jenny fosse assim tão fraca. Esperava isso vindo da garota nova, mas não dela. Enfim, restam seis. — ele gargalhou.
— Você é a droga de um doente psicopata! Acha isso engraçado? Isso é... é loucura! — gritou Jesse, enquanto seus amigos ouviam a transmissão ao lado dela. — Dane-se o seu jogo.
— Eu não diria isso, pequena Jesse. Ainda mais agora que estamos nos aproximando do último ato. Você sabe que não estou mentindo. Mas se ainda duvida, veja por si só. — ele respondeu.
— O quê? Do que... do que está falando? — Jesse perguntou, confusa.
Foi quando ela teve coragem de distanciar seu rosto do celular e percebeu exatamente o que estava acontecendo ao seu redor. Eles estavam vivendo um jogo, isso era fato. Jesse e seus amigos eram as peças e Rainwood era o tabuleiro. E quisessem ou não, este tabuleiro estava prestes a explodir. Talvez não fosse a pessoa por trás da máscara o maior perigo da cidade, e sim, a própria cidade. Não era à toa que o lugar foi nomedo como "a cidade da chuva", porque tudo ali era bizarro e estranho.
Naquela noite, Rainwood estava em guerra. A fúria e a desesperança engoliram a delegacia de uma vez, trazendo à tona o que se prendia dentro de cada cidadão ou estudante que ali vivia. Estavam fartos. Aquele pesadelo havia se iniciado há mais ou menos cinco dias, e a única coisa de que tinham certeza agora era que ele estava chegando ao fim. Mas eis a questão: isso era bom ou ruim? Aqueles seis adolescentes estavam perdidos, e escapar agora não era uma escolha.
— Eu te disse, Jesse. — sua voz rouca sussurrou, enquanto a menina sentiu seu coração acelerar no meio daquela batalha inesperada. E antes que a chamada se encerrasse, ele lhe propôs um último aviso. — Junte suas peças, posicione-se sobre o tabuleiro. Vamos jogar de novo.
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