Conto 6 - Librâncer (Piper Palace)


Autora: Piper Palace

PiperPalace

Conto: Librâncer (Jonas e Lara)

Música Tema: City of Stars – La La Land

Classificação: +16

***

Cidade das Estrelas

Você está brilhando só para mim?

É amor...

Sim, tudo o que estamos procurando é o amor de outra pessoa

Uma emoção

Um olhar

Um toque

Uma dança

A expressão nos olhos de alguém

Para iluminar os céus

Para abrir o mundo e fazê-lo dançar

Uma voz que diga 

"eu estarei aqui e você ficará bem"

Eu não ligo se entendo...

Para onde quer que eu vá...

Pois tudo o que eu preciso é desse sentimento louco

Um ra-ta-ta em meu coração

Acho que quero que isso permaneça...

CITY OF STARS - LA LA LAND

_________ SZ _________

Sem dúvida alguma, essa era a melhor hora do dia. O momento em que saía do escritório, entrava em seu Toyota e desafrouxava o nó da gravata. Se tratando de uma sexta-feira, a coisa ficava ainda melhor. E poderia ser perfeita quando estava em sua cidade. Mesmo não conseguindo sair mais cedo como planejara, 20 horas não estava tão ruim.

Já havia virado tradição. Jonas encontrava os amigos no Lounge B toda última sexta-feira do mês. O rapaz não participava com tanta frequência do happy hour devido as várias viagens que fazia por semana. Havia anos que os rapazes cumpriam bravamente esse ritual.

— Demora, hein, cara!

— Calma aê, mano. Tava falando com a Jéssica. Puta que pariu! Toda vez é a mesma merda.

— Já te falei que essa mina não presta, brother!

— Pegou o contrato dos Thomáz Valle? — perguntou o mais novo, claramente irritado.

— Não muda de assunto não, Pedro! Você 'tá fodido se continuar comendo essa garota!

Jonas tocou para o Bar e o clima não estava nada agradável entre os irmãos. Pedro não era capaz de raciocinar quando uma bela bunda estava sentada no seu colo e Jonas não suportava tal vulnerabilidade. Sem contar com o fato da garota ter se oferecido algumas vezes para "relaxar o cunhado". Jonas não teve coragem de lhe contar isso. Pedro não costumava ser grosseiro com o mais velho, pois havia ali uma relação quase paterna. Quase.

Embora, Pedro fosse imaturo e fraco se tratando de relacionamentos amorosos, era um excelente advogado. Aprendeu as técnicas e macetes na atuação do Direito Criminal com um dos melhores do estado de São Paulo, seu irmão, Jonas Lamar, um prodígio no ramo do Direito e um verdadeiro búfalo dos tribunais de todo o país. Com apenas 36 anos de idade, vem construindo uma carreira sólida e muito promissora. Seus belos olhos verdes e uma barba que já criou raízes não são o que mais chamam a atenção no advogado, e sim, seus 1,90 de altura e uma voz de dublador do Brad Pitt. Para ele, seu crescimento profissional estava de acordo com sua estabilidade emocional. O namoro de dez anos mantem-se totalmente sob controle. Perder a cabeça não é algo que faça parte de sua personalidade, ao contrário de seu irmão mais novo.

— O contrato está comigo. Desculpa. Eu não deveria me meter na sua vida — disse depois de alguns minutos com as mãos firmes ao volante.

— Eu vou terminar com ela. Já deu — respirou fundo e começou a tirar o paletó e depois a gravata — Você tem um baseado aí?

— Porta-luvas. Abre a janela e pega um pra mim também.

A erva aspirada lentamente pelos irmãos acalmam os ânimos. Até chegarem aos seus destinos, a conversa se desenrola em torno de clientes e contratos.

Antes de sair do carro, Jonas passou um pouco de perfume e colocou um Trident na boca.

Uma hora no trânsito era exaustivo mas a meia-luz do ambiente estava agradável e a música era o que ainda os atraíam. Poucos bares na zona sul tocavam clássicos do Rock como o Lounge B. A infestação da música eletrônica e sertaneja estava por toda parte.

— As mocinhas sempre atrasadas, né?

— Cala a boca, seu viado! — respondeu Pedro.

Os irmãos abraçaram Wagner, um dos amigos do clube do bolinha. Só faltava mais um integrante, Pedro constatou.

— Cadê a bicha do Marcelo? — perguntou o rapaz, enquanto analisava alguma bunda interessante a sua volta.

— Não vem. A Clarinha está doente.

— Por isso fiz vasectomia — disse Jonas indiferente, procurando algum garçom.

Os rapazes sentaram-se a uma das mesas próximas do palco. Embora Jonas gostasse da música, não suportava a altura do som. Preferia se sentar na bancada, onde poderiam conversar com mais tranquilidade.

— Já que o Marcelo não vem, vamos sentar no bar. O som aqui é mais alto.

— Lá vem você de novo. A vista aqui é mais bonita. Olha lá! Que delícia!

Wagner apontou com a cabeça para uma belíssima morena acompanhada de uma oriental igualmente linda. Pedro, que já estava virado naquela direção, levanta seu copo sorrindo para as garotas, que retribuem o gesto.

— E aí, velho? Já esqueceu dá namorada? — perguntou o mais velho.

— Vou terminar com a Jéssica hoje — sorriu cínico.

Inquieto, Jonas vai ao banheiro. Ao voltar, percebeu sua mesa vazia, e ainda de longe, varreu o local com os olhos a procura dos rapazes, achando-os na mesa das garotas que estavam flertando.

— Puta que pariu! Que merda o Marcelo não vir hoje!

Sedento por algo alcoólico, o rapaz sentou-se no bar, pegou o celular e conferiu suas mensagens enquanto aguardava um bartender qualquer. Amanda enviara-lhe cinco mensagens avisando que chegaria na manhã seguinte e que gostaria de vê-lo. Sucintamente, ele respondeu: "Ok. Estarei em casa. Boa Viagem."

— Boa noite, Senhor! O que vai beber?

Uma voz muito animada tirou Jonas de seus pensamentos sobre a grande carência de sua namorada. Uma jovem com cabelos castanhos e sorriso infantil, o encarava como se estivesse na Disney vendo o Mickey Mouse. Quantos anos tem essa garota?, pensou. Como demorou a responder devido aos devaneios que, insolitamente lhe tomavam, a garota continuou:

— Posso te recomendar um drinque, Senhor?

Jonas olhou curioso para a moça sorridente questionando qual o barato daquele trabalho. Não deviam pagar tão bem para tanta alegria. Depois de pensar por alguns segundos, não quis ser indelicado.

— Claro. O que tem de forte e colorido?

Senhor! Que voz é essa?, pensou a garota, sentindo-se atingida como se fosse um alvo.

— Gostei! — disfarçou o encantamento, abriu um largo sorriso e começou a pegar seus apetrechos — Forte e colorido! Bloody Mary com abacaxi e hortelã?

— Nem tão colorido. Sem, por favor.

— Mais forte que colorido, então! — disse, sorrindo e olhando Jonas nos olhos.

Ela possuía uma agilidade atraente, mas o rapaz percebera que uma grande inocência permeava seu espírito. Era contraditório, pensara, mas não podia deixar de imaginar como era docemente sensual. Seu decote também não ajudava muito. Jonas não costumava trair Amanda. Não mais. Havia anos desde a última vez. Sossegara um pouco o pinto dentro das calças e não sentia tanto entusiasmo com o sexo como antes. As coisas entraram numa rotina e saturação que era difícil continuar ou abandonar o barco. O trabalho costumava consumir todo o seu foco e energia. Não sobrava muita coisa para a namorada.

— Se estivéssemos nos anos 20, você não precisaria temer uma blitz por causa desse drinque, sabia? — perguntou olhando rapidamente para a frente e voltando sua atenção na proporção exata de sal do drinque.

— É mesmo? — perguntou curioso, observando cada movimento da garota.

— Esse drinque foi uma encomenda, na verdade. A lei seca vigorava nos Estados Unidos a todo o vapor. Foi solicitado à um parisiense renomado, um barman foda, Fernand Petiot, que criasse um drinque à fim de despistar as autoridades. E assim foi criado nosso amado Bloody Mary!

O rapaz sorriu simpático, estreitando os olhos. Havia algo naquela garota que o fazia querer conversar. Isso nunca acontecia, pois Jonas era muito retraído com essa coisa de "novas amizades." Entretanto, suas merecidas férias estavam chegando, deixando o seu humor excelente ao se lembrar disso. Resolveu dar trela para aquela conversa.

— E deu certo?

— Claro! A polícia passou a consumir a bebida também.

A moça arrancou uma risada de Jonas que se sentiu a vontade para dobrar as mangas da camisa.

Depois de chacoalhar o suco de tomate, a garota o derramou lentamente no copo para não estragar as especiarias ao fundo.

— Seu drinque, Senhor!

Aquele tratamento o fez sentir-se extremamente velho e distante da juventude da moça.

— Por favor, só Jonas.

— Ok! Espero que goste, Jonas!

Sorridente, tirou o canudo do copo e deu um pequeno gole do líquido. A sensação que tanto ansiava veio de imediato. Uma pequena ardência na garganta foi o suficiente para começar a sentir seu corpo relaxar. Aquilo era bom. Muito bom.
Saboreou a bebida com os olhos fechados, esquecendo-se brevemente de Amanda, de seus amigos e de todos os processos que urgenciavam sua atenção. Ao abrir os olhos, a bartender o estudava com interesse. Se encararam por alguns segundos. Jonas não lembrava da última vez que olhara uma mulher nos olhos daquela forma. Era tão pessoal, íntimo. Lhe pareceu que podiam saber de todos os seus segredos sujos. Sexo, corrupção, drogas. Tudo estava na superfície de seus olhos.

— Leão. Acertei?

O advogado escapou uma risada com a pergunta.

— Como é que é?

Ela continuou analisando Jonas e buscava se concentrar semicerrando os olhos. Enquanto a moça refletia sobre o signo do rapaz, ele se aprofundava em coisas sem sentido. Jonas se achou tolo como há muito não sentia. Jamais admitiria a carência que o dominou.

— Leonino. Signo do fogo. Governado pelo sol. É o seu signo, certo?

De onde saiu essa garota?, pensou divertido.

— Câncer. Não faço ideia do elemento. Governado por mim mesmo.

— A sua lua deve ser Leão.

— Não faço a menor ideia.

— Não acredito que errei de novo. Merda!

— A probabilidade é grande, visto que não nos conhecemos, não acha?

— Mas esse é o barato! Descobrir o signo das pessoas somente com algumas palavras trocadas. Ou olhares... Interpretação física. Já ouviu falar?

— Minha profissão exige isso o tempo todo.

— Psicólogo? — indagou confusa.

— Você não é boa nisso, né? — disse irônico.

Um rapaz muito alto e muito magro gritou do outro lado do balcão:

— Lara! Não deixa as coisas fora do lugar!

— 'Tô guardando, Dan!

A menina recolheu sua pequena bagunça e sorriu nervosa para Jonas.

— Eu costumava ser realmente boa nisso na adolescência. Devorava a Shipper's Zodiac e apostava com minha prima sobre os signos dos caras. Agora é só pra tirar onda mesmo — deu de ombros.

— Lara! Mesas!

Gritou o magrelo enquanto secava um copo.

— É meu terceiro dia aqui. Ainda estou me acostumando com tudo — disse guardando coisas na gaveta.

— Lara, né? — perguntou já apontando pro magrelo do outro lado — Ele falou.

— Ah, sim! Me desculpe, Jonas. Mas assim que der uma folguinha com as bebidas das mesas nós... conversamos mais! — disse nervosa.

— Mas eu quero outro drinque... — sorriu com os olhos.

Os dois olharam para o copo do rapaz que estava pela metade e as sobrancelhas se ergueram claramente pensando a mesma coisa. Jonas virou o restante da bebida de uma vez, batendo o copo na bancada ao terminar.

— Pronto. Outro drinque, por favor? — sorriu.

Lara o olhou desconfiada e depois retribuiu o sorriso.

— Danado... Acho que errei, viu? Sua lua é escorpião. Certeza.

— Não me leve a mal, mas eu não acredito nessas coisas...

— Tudo bem — ela se aproximou, ficando na altura do rapaz — Também não acredito muito.

O semblante de Jonas virou um ponto de interrogação. Não era a resposta que esperava. Definitivamente. Foi quando a garota recolheu seu copo que viu a tatuagem na vertical do pulso esquerdo, assim que sua pulseira, cheia de penduricalhos, subiu.

— Não é o que parece — disse encarando o desenho.

Ela olhou para o símbolo libriano mal feito e desconversou.

— Preciso fazer sua bebida agora ou serei dispensada. Isso seria péssimo para o meu currículo.

— Claro, claro — disse levantando as mãos.

"Nota mental: que porra de tatuagem é essa?", pensou Jonas.

— Posso te recomendar um drinque de minha criação? — Lara voltara a sorrir docemente como se estivesse oferecendo-lhe um cupcake com confetes coloridos.

— Porquê não? — sorriu sedutor.

Mas que merda eu 'tô fazendo? Não acredito que 'tô flertando com essa garota!, pensou.

— Digo... Pode ser — tentou ser casual e pigarreou.

Lara pareceu não notar. Enquanto organizava seus ingredientes, voltou a falar.

— Ganhei em primeiro lugar no curso de bartender com esse drinque, viu? Você vai entender quando beber.

De fato, ele entendeu. Assim que o líquido passou por sua língua e desceu garganta a baixo, teve sensações de êxtase denunciadas pelo seu corpo. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha deixando um rastro de excitação agudo e os pêlos arrepiados. Percebeu sabores como limão e pimenta. Lara o estudava. Estava aflita. Precisava de uma aprovação. Era sempre assim.

Ao perceber o efeito que aquela bebida causara no rapaz, sentiu-se extasiada. Começou a reparar nos lábios que se juntavam úmidos e a língua que insistia em passear por ali. Aquela barba fazia uma moldura exata para o rosto tão proporcional do rapaz. Antes que Jonas abrisse os olhos — e a avaliação continuasse corpo abaixo — Lara balançou a cabeça à fim de espantar tais pensamentos.

— Meu Deus, garota! Isso é muito bom! O que tem aqui? — bebeu mais um gole — Isso é tequila?

Jonas estava realmente espantado com a qualidade daquela bebida. Era um homem viajado, conhecia boa parte do mundo, então, sabia reconhecer uma mistura explosiva.

Lara não conseguia tirar o sorriso bobo da cara. Amava aquela alquimia de elementos tão opostos transformarem-se, juntos, numa combinação perfeita.

Assim como os signos, pensou sorrindo.

— Conselho: Pare com essa coisa de adivinhar signos e se concentre NISSO. Você é boa! É praticamente um trabalho artístico.

— Justamente. Eu SOU uma artista. Sou libriana. Isso é natural!

— Lá vem você...

— Não! Olha só... Embora, hoje em dia eu não acredite tanto nisso, não posso ignorar o fato de libra me representar totalmente. Cara! Eu sou a libriana mais libriana que existe entre todas as librianas! Isso aqui — mostra a tatuagem no pulso — aposta perdida aos 16 anos. Minha prima não brincava em serviço.

Jonas ri mais uma vez. Agora alto. O álcool começava a fazer efeito. Aquela bebida estava forte, pensou. Percebendo o quanto se sentia à vontade com aquela conversa fiada, o advogado não hesitou em entender o porquê daquela obsessão.

— Ok. Me convença — desafiou, cruzando as mãos sobre o balcão.

Lara fechou a torneira, olhou para o lado e voltou sua atenção para Jonas. O gerente magricelo não estava por perto. Ótimo! Pegou o pano de prato e começou a enxugar alguns copos.

— Não consigo decidir nada de forma rápida. Faço parte de um movimento feminista desde os dezesseis anos... hã... sempre procuro ser justa nas minhas ações e julgamentos... é... sensível, romântica demais — até pro meu gosto. Também adoro trabalhos artesanais, converso sozinha, sou insegura e preciso da aprovação das pessoas em tudo. Definição de libra!

— Você deve ter lido tanto dessa merda toda de signo que enfiou isso na sua cabeça. Fica procurando encaixar o que lê com o que você realmente é.

Jonas estava incrédulo com tudo que ouvia e acha impressionante que alguém pudesse atribuir sua personalidade á características tão universais.

— Não! Eu SOU assim! Sério! Desde que nasci!

Ele riu novamente. Bateu a mão no balcão e deu outra gargalhada.

Puta merda, ' bêbado pra caralho, pensou.

— Você está rindo de mim? — Lara perguntou séria, parecia irritada.

Jonas ruborizou e se endireitou no banco. Antes que pudesse abrir a boca, a garota emendou:

— Relaxa! Tô brincando! O humor também é uma característica incrível dos librianos! — gargalhou.

Ele sorriu entre dentes e Lara imaginou o que estava pensando: "Minha mãe é libriana e não tem nada de bem humorada" ou "Tive uma namorada libriana que passava longe de ser engraçada".

— Vamos. Diga — instigou a garota enquanto abria duas garrafas de cerveja para um casal ao lado.

— O quê? — questionou desconfiado, bebendo um pouco de sua bebida.

— Em quem você pensou?

— Eu? Ninguém.

— Vamos! Eu sei que pensou em alguém. Você é canceriano! Está pensando em algo para rebater meu argumento — desafiou.

— Olha só, Lara... o único motivo que tenho para saber meu signo é que quando era criança meu primo disse que eu era câncer e achei que estava doente.

Dessa vez é Lara quem riu alto, mas logo parou abruptamente lembrando-se de onde estava.

— Engraçado como vários cancerianos passam mesmo por situações como esta!

— Você não tem cara de quem busca aprovação das pessoas — comentou Jonas, ignorando o assunto anterior.

— É um grande defeito, bem... estou buscando melhorar. Cara! Isso já me custou quatro anos de Administração! Acredita nisso? Não posso nem lembrar, meu Deus! — coloca a mão no peito — Você não é administrador, é?

— Não. Não sou — sorriu — Então, você é formada em administração e vende bebidas? Isso, por acaso, tem a ver com alguma penitência zodíaca? — perguntou irônico.

Lara sentiu-se afetada pelo comentário que se assemelhava com os que ouviu por muito tempo de seu pai. Qual a porra do problema de querer conhecer o mundo, criar bebidas exóticas e viver tranquilamente sem toda essa loucura por dinheiro? Por que todo mundo tem que colocar a droga do dinheiro em primeiro lugar?

— Não, meu caro. Nem todo mundo vive em função do dinheiro. Prefiro fazer o que gosto, mesmo que não ganhe tão bem assim, a viver em um cubículo, de terninho apertado, cheia de papelada, reuniões intermináveis e um chefe onde sua missão de vida será me infernizar o dia todo. Não, muito obrigada!

O rapaz pediu outro drinque exatamente igual ao que acabara de beber. Lara sentia o coração acelerado. Não gosta de ficar justificando suas escolhas como se fizesse algo errado. Ainda mais para um estranho. Um estranho interessante, gostoso, mas estranho.

— Vou colocar laxante na sua bebida — fingiu desagrado.

— Acrescente vingativa na lista dos librianos — eles riram — Interessante seu ponto de vista.

O Rock feroz de Led Zeppelin se misturava ao barulho dos instrumentos sendo testados no palco. Enquanto Jonas degustava sua bebida, Lara foi à algumas mesas anotar os pedidos. O advogado virara para o palco à procura de seus amigos e não foi surpresa vê-los quase fazendo sexo em pleno bar. Aquele tipo de cena jamais aconteceria com ele.

— Talvez os cancerianos sejam mais reservados — pensou em voz alta.

— Oi? Falou comigo? — perguntou uma loira muito atraente ao seu lado.

Ele encarou a moça de cima a baixo, fazendo-a sorrir provocante.

—Voltei! —disse Lara, retornando à seu posto e começando a preparar os pedidos. É claro que ela percebeu a troca de olhares entre os adultos à sua frente — e torceu para aquele batom vermelho não levar o barbudo misterioso dali. Jonas, por sua vez, se voltara para a bartender e esquecera imediatamente da loira. Eles já haviam estabelecido uma ligação.

— Você acha que os cancerianos são criaturas retraídas? — perguntou pensativo, como se isso fosse uma grande questão.

Lara não aguentou segurar sua risada. O som da banda estava alto demais para que seu gerente pudesse a repreender. A conversa se manteve um tom acima para que se ouvissem.

— Criaturas? Meu Deus! Você veio da Idade Média, Jonas?

— Se tratando desse assunto, tô mais pra Era Primitiva.

A moça o analisou por alguns segundos e sentiu aqueles olhos verdes invadir cada canto dos seus castanhos. Não é seguro olhar tanto tempo pra esse cara, pensou ao sentir uma atração crescente. Se concentrou no que buscava; informações mais contundentes sobre a personalidade do rapaz, mas a verdade, é que tudo que sabia sobre o assunto vinha do senso comum e de uma conexão que estabelecera com Jonas. Resolveu arriscar.

— Você é exigente. Comprometido até o último fio de cabelo. Ansioso. Protetor com as pessoas que ama... Sensível e carente; embora não admita. O típico bom moço.

O que Lara esqueceu de citar sobre si, era o quanto era observadora. Ao mencionar as características de Jonas, o canceriano, percebeu seus ombros encolherem-se, seu semblante endurecer e seus olhos alternarem entre os da moça e seu copo.

Jonas pensou em todos os traficantes que defendeu, todos os empresários corruptos que representou. Não. Definitivamente, ele não era o mocinho. Na verdade, nunca quis ser, contudo, não era correto levar a boa fama.

— Estou longe de ser um bom moço. Bem longe — dessa vez estava sério.

Lara colocou seu indicador no peito do rapaz e disse com doçura.

— Estou falando disso aqui. Da sua essência.

— Isso é algum resultado do Google para Câncer hoje?

— Tá. Ok! Pode ser. Mas... sei lá, eu sinto essa energia de você.

— Acredite em mim. Eu não sou assim.

— Nossa, credo! Você é o quê? Um tipo de advogado do diabo? — disse irônica, sorrindo nervosa.

— É... quase isso — admitiu condescendente.

Com quase uma hora de conversa, em meio a pausas para atendimentos, esse era o primeiro momento de silêncio. Eles se olhavam de rebarba e voltavam sua atenção a seus afazeres; preparar drinques, beber drinques. Lara pensava no quão misterioso era o homem sedutor à sua frente e no quanto sentia vontade de tocá-lo. Suas mãos grandes, braços fortes, pescoço largo. Observara cada particularidade daquele homem cheiroso e agradável.

— Que insanidade — sussurrou para si.

Jonas também pensava nos atributos físicos da moça. Ela era pequena, miúda, mas muito atraente. O avental preto que colocou escondia seios fartos, ainda assim, suas curvas eram visíveis. Gostava de conversar com ela e do seu bom humor. Bem diferente de sua namorada libriana. Daí vinha um grande motivo para que ele não acreditasse naquelas bobagens. As duas eram diferentes demais. Se Lara lhe explicasse que ainda existia toda uma análise do ascendente, Vênus e o cacete a quatro, ele se levantaria e iria embora. Ou não. Naquele momento, Jonas se imaginou em outro lugar com a bartender. Aonde pudessem conversar sem interrupções e sem gritar para que se ouvissem. Aonde ela não precisasse sair a cada dez minutos e demorar uma eternidade para voltar.

A banda Cover de Arctic Monkeys começava um som familiar. As pessoas gritavam com a guitarra inicial de Do I wanna Know e Lara se manifestou com um Uhuuuu. Jonas sorriu para a garota e levantou seu copo.

— Obrigado, Deus, pelo pai roqueiro que me deu! — disse o rapaz entornando parte da bebida. Lara sorriu e simulou segurar um copo e brindar também. Seus olhos se perderam, mais uma vez, nos verdes brilhantes de Jonas.

A banda tocava e a conversa picada se manteve pelas próximas três horas. Algumas afinidades e centenas de diferenças. Jonas disparou a falar de sua criação precária com o pai e a avó. Da morte de sua mãe no nascimento do irmão e todo o esforço para estudar, ser alguém na vida e recompensar o pai por todo o esforço que dedicou aos filhos. Desabafou sobre o namoro fracassado de dez anos com uma mulher que nunca amou de verdade. Das viagens intermináveis defendendo criminosos. E finalmente, das merecidas férias depois de seis anos sem uma folga sequer. O álcool foi determinante para que falasse tanto, uma vez que Jonas nunca havia feito isso antes. Mas Lara, com seu jeitinho "psicóloga", foi dirigindo a conversa para o destino que desejava. Ela estava completamente sóbria, já Jonas, começava a embargar a voz.

Pedro e Wagner passaram por Jonas, que entregou a chave do carro para o irmão, e se despediram. Os rapazes saíram acompanhados e planejavam alguma suruba, imaginou Jonas.

Já passava das 04 da manhã, o bar começava a fechar e a conversa entre o canceriano e a libriana parecia não ter pressa de acabar.

Lara também falou um pouco sobre sua vida. O conflito com os pais por diferentes ambições de vida, a vontade de conhecer o mundo, sua paixão por francês, o pouco tempo que trabalharia ali e a grande oportunidade de trabalho que aguardava resposta.

— Esse é o emprego dos sonhos de qualquer Bartender! Um dos melhores Navios do mundo passeando por cada cantinho incrível da Europa. Vou fazer o que gosto, tenho liberdade para criar, pagam em Euro e a comida é à vontade! Diz que não é demais!

— Pra quem não se o interessa por dinheiro você está bem empolgada, hein? — provocara com ironia.

— Primeiro, que eu não sou retardada pra rasgar dinheiro; segundo, estarei trabalhando COM-O-QUE-GOS-TO. A comida também é determinante. Entendeu, Doutor?

— Boa sorte! Você é boa, Lara. Vai conseguir embebedar todo mundo! — Riram com intimidade.

A banda guardava seus equipamentos e um som mais tranquilo da Legião Urbana ecoava no ambiente. Quando só restavam os funcionários no local, o segurança avisou que Jonas precisava ir embora.

Saíram juntos da casa noturna e se despediram com um beijo no rosto. O toque no ombro de Jonas, a barba raspando sua bochecha e aquela mão grande no seu rosto, era o contato físico que a garota ansiava por toda a noite. Aquele beijo demorou mais do que o normal. Quando afastaram lentamente seus rostos um do outro, Lara foi capaz de sentir o hálito das bebidas que preparou. Os olhos de Jonas estavam fixos nos dela e suas bocas entre abertas, ansiavam uma pela outra. Assim que os olhos do advogado recaíram sobre os lábios da moça, ela se afastou.

Ele tem namorada, porra! , resmungou em pensamento.

Lara colocou as mãos no bolso do moletom e sorriu fraco pendendo a cabeça. Respirou fundo e sentiu-se idiota por se preocupar com aquilo. Jonas colocou uma mão no bolso e parecia constrangido.

— Vamos, Lara!

Ela olhou para seu gerente que estava parado do outro lado da rua com uma cara nada boa. O magrelo entrara no carro e a chamava movimentando as mãos.

- Bem... Vou lá. Ele vai me dar uma carona... Ó! Seu Uber!

Se despediram com olhos carentes e no caminho para casa, ambos, pensavam no quanto fora divertido toda aquela conversa de signos. Lara ainda fantasiava com o retorno no rapaz, já Jonas, embarcou num sono pesado com a cabeça encostada no vidro do carro.

— Só espero que ele volte até semana que vem — pensou alto.

— Oi? — o magrelo perguntou.

Ai, Meu Deus! Que mania de expor meus pensamentos em voz alta..., dessa vez mantém esse pensamento só para si.

— Porque não peguei o telefone dele?

— Oi?

— Eu disse isso em voz alta?

_________SZ_________

— Porque eu não peguei o telefone dela? Mas que merda!

— Telefone de quem, amor?

Amanda gritou do banheiro enquanto secava os cabelos. Jonas fuçava o celular de cabo a rabo e não encontrou registro algum que pudesse ter sido feito no horário em que ficou no Louge B. Aquela maldita ressaca estava acabando com sua cabeça. Não lembrava direito como foi embora, na verdade, sua última lembrança era de se controlar para não beijar Lara quando ainda estava no seu terceiro drinque. A risada gostosa da garota ainda estava em sua cabeça e se viu sorrindo ao pensar nisso.

— É só uma cliente.

Jonas esperou que o banheiro estivesse totalmente desocupado para que pudesse tomar seu banho sossegado. Pensou em ir à noite encontrar com Lara. Daria uma desculpa qualquer à Amanda, como sempre fazia quando não queria sua companhia, e dessa vez, pegaria o telefone da moça. Durante o dia, procurou se envolver com o trabalho para que o dia passasse mais rápido. Fazia tantos anos que não se sentia ansioso com uma garota que começou a sentir-se incomodado quando a imagem de Lara vinha a sua mente.

No fim da tarde, perto das cinco e meia, recebeu uma ligação de seu sócio dizendo que um de seus maiores clientes, um famoso empresário do ramo agropecuário, havia sido preso naquele momento no Paraná. Jonas precisava, literalmente, voar para lá.

— É Lara... Você esqueceu de Sortudo na sua lista sobre mim — lamentou, enquanto arrumava sua mala.

Daí pra frente, foram quase duas semanas entre um estado e outro. Os problemas com clientes fizeram-no se esquecer brevemente da bartender, contudo, assim que retornou à São Paulo, tomou um banho e foi depressa até o Longe B. Estava tão nervoso com a expectativa de rever aquela libriana maluca que sentiu o suor brotar em sua testa. Chegou cedo para que pudesse aproveitar ao máximo o tempo com a garota, mas todos os seus planos foram por água a baixo quando o magrelo do gerente lhe informou que Lara já havia cumprido seu estágio e não trabalhava mais ali havia três dias. A decepção fora imensa. Parecia-lhe que perdera um caso. Que um cliente havia sido preso e não existia mais possibilidades de recorrer.

— E você não tem o telefone dela? Ela não deixou nenhum recado pra mim? Jonas. Jonas Lamar.

— Não — respondeu com descaso.

— Nada? Jonas... Nada pra Jonas? Ela precisa assinar alguns documentos para encerrar uma ação onde eu a represento — inventou a história de supetão.

— Não.

O rapaz deixou Jonas sozinho e foi até o balcão. Ele ficou parado ali, no meio das mesas, enquanto a banda da noite se preparava para iniciar o show.

— Que humor... Cacete, que signo deve ser esse idiota?

— Capricórnio.

Jonas se virou de uma vez e usara todo o seu autocontrole para permanecer onde estava e não voar na boca da moça. Lara estava a sua frente. Linda. Sorridente como sempre. Vestia-se casual; calça jeans, sapatilhas, uma bata amarela com flores e os cabelos num coque alto. O advogado não pode deixar de admirar o quanto ela era naturalmente linda. Eles ficaram parados ali, se olhando e sorrindo feito bobos.

— E dessa vez eu acertei. E foi no meu método de poucas palavras, viu?

— Nossa... Que bom te ver, eu... Foi tão corrido os últimos dias e... Eu queria ter vindo antes mas só cheguei hoje de viagem. Nossa... que bom te ver. De verdade!

Jonas estava completamente desconsertado. Sentia-se no ensino médio quando ainda tinha espinhas, estava acima do peso e precisava conversar com uma garota. Lara parecia à vontade, segura, e até divertir-se com o jeito de Jonas.

— Que sorte a minha te encontrar aqui! O capricórnio ali acabou de dizer que você não trabalha mais aqui.

Ela riu com sua referência ao ex-gerente.

— Eu estava fazendo estágio. Eram só duas semanas mesmo. E consegui aquela vaga no navio que te falei, lembra?

— Claro! Nossa, que bom! Então você... Vai pra Europa.

Jonas não conseguiu esconder sua frustração. Estava feliz por ela, claro, no entanto, esse seria seu último momento com a moça. Seu semblante entristeceu e o barulho dos instrumentos sendo testados começou a deixá-lo irritado em proporções absurdas.

— Pois é! Estou muito feliz!

— E quando você vai?

— Amanhã. Embarco pra Londres às nove da noite — desfez o sorriso.

— Nossa... Já? Mas... Lara, será que poderíamos ir a outro lugar conversar. Não me interprete mal, por favor, mas eu queria... eu preciso muito falar com você e esse barul...

— Eu estava pensando a mesma coisa!

Lara sugeriu o parque do Ibirapuera por já estarem próximos e ser um lugar público e seguro para estar àquela hora da noite. Sentaram-se perto do lago, encostados a uma árvore.

— Tantos anos morando aqui e nunca vim nesse parque, acredita? — comentou Jonas.

— Não! Você não pode estar falando sério! É brincadeira, né?

— Juro! Na verdade, eu não costumo ter um tempo livre dessa maneira há anos. Meu trabalho me consome por completo.

— Isso aqui é precioso demais para ignorar. Eu não abro mão​ de um tempo assim... só pra mim. Sair a hora que quero. Me distrair, me entregar às coisas que realmente importam. Vou sentir falta desse lugar.

Jonas se virou para a moça e passou a mão em seus cabelos. Eram tão macios que o fez arrepiar. Mais uma vez os olhos brilhantes de Jonas atravessaram ferozmente os de Lara. Ela sabia que aquilo não era certo. Ele era comprometido. Nunca tinha ficado com um cara comprometido, mas, Céus! Ela não era mais capaz de fugir daquele desejo que inundava seu corpo.

— Acho que eu não tinha motivos suficientes para querer aproveitar esse tipo de coisa, sabe?

— Agora você tem? — perguntou a garota.

— Agora, sim. Amanhã, mais precisamente depois das 21 horas, continuarei sem motivos.

— Jonas, eu nem sei o que dizer...

— Você sabe que existe alguma coisa entre nós, não sabe? Eu sinto e sei que você também sente — seus corpos se aproximaram e Jonas puxou o palito que prendia o cabelo de Lara — Me perdoe, eu já deveria ter terminado com Amanda, mas ainda não sei como fazer isso direito e você... Você vai embora amanhã! Meu Deus! Eu queria fazer tantas coisas com você até aman...

— Shiiiii... — Ela colocou o dedo sobre seu lábio — Porque não começa com isso...

Ela mal acreditava que finalmente estava nos braços daquele homem. Suas mãos passeavam por seu cabelo milimetricamente arrumado, enquanto que os braços bem torneados de Jonas rodearam toda a cintura da moça colocando-a sob uma de suas pernas​. Aquele beijo tinha a famosa química. Os dois pensavam na mesma coisa naquele momento: "Não acredito que vai durar tão pouco!" Lara também agradecia pela coincidência incrível de encontrá-lo naquele bar quando ela só havia entrado para pegar um casaco que esquecera. A moça esperou por Jonas todas as noites de trabalho. Por fim, quando se conformou que não o veria mais, encontrou o canceriano perguntando dela para Dan! Xingou tanto o motorista que não parou no ponto de ônibus quando estava indo para o bar e agora já idolatrava o infeliz. Ela acreditava no destino!

— Eu me odiei tanto por não pegar o seu telefone. Você não faz ideia!
— abraçou a moça com força e pensou no quão agradável e excitante era seu cheiro. Jonas adorava o cheiro do xampu fresco. Eles sorriram e se beijaram novamente.

— Faço ideia sim, porque também sofri com isso... Não, sofrer não... Também não é assim, né?

Eles gargalharam e Jonas não perdeu a oportunidade:

— Pode confessar. Eu sei que você sofreu... Libra sofre com essas coisas — falou fingindo sabedoria.

— Ai, Meu Deus! Criei um monstro!

Tudo se encaixava com perfeição. O beijo, os carinhos, a conversa, as piadas, as ideias e até mesmo os conselhos.

— Porque eu não te conheci antes? — Jonas sentia-se arrebatado por Lara. Imaginou como seria tê-la por perto sempre que voltasse de suas viagens.

Lara passou suas mãos delicadas pelo rosto de Jonas. Queria sentir sua barba, seus lábios, seu nariz. Era como se estivesse gravando aquela imagem e aquela sensação. Seus dedos percorreram os cabelos pretos do rapaz e eles se encararam por longos segundos.

— Eu ia dizer isso nesse exato momento.

A medida que os beijos se intensificavam, a privacidade do casal começava a ser necessária. Estavam sedentos um pelo outro, como se não tivessem mais tempo. E não tinham.

Jonas estava excitado como há tempos não ficava. Sua relação com Amanda era tão morna e automática que se esquecera de como era estar louco por sexo. O corpo de Lara correspondia a proximidade do advogado, pois sentia-se da mesma forma.

— Passa a noite comigo... — sussurrou no ouvido do rapaz.

— Impressionante como a gente pensa as mesmas coisas — disse sorrindo.

— Eu só queria dizer que nunca fiquei com uma pessoa no primeiro encontro. Não quero que pense que sou esse tipo de mulher — explicou olhando em seus olhos, colocando o cabelo atrás da orelha. Ela levantou de cima de sua ereção e prendeu os cabelos novamente com o palito que estava na grama. Jonas a acompanhou.

— Eu também não, Lara! Também não quero que pense que sou um canalha aproveitador, um filho da puta infiel,... Eu... Não sei explicar. Você causa uma ansiedade em mim. Uma vontade louca de querer só estar com você.

Jonas estava nervoso. Enquanto explicava seus sentimentos turbulentos, mexia muito as mãos, passava a mão na cabeça. Lara achava fofo como ele se desconcertava. Era tão Câncer! Ela sorriu e se aproximou, colocando os braços em volta de seu pescoço — na ponta dos pés, claro.

— Ainda não arrumei tudo o que preciso — Jonas a encarou com expectativa — Mas podemos ficar juntos por algumas horas...

Saíram de mãos dadas do parque e voaram para o apartamento dele.

O sexo aconteceu assim que entraram. Na sala mesmo. Estavam afobados, ávidos um pelo outro.

Jonas deitou Lara em cima da mesa de jantar e arrancou sua calça sem muita dificuldade. Lara enlaçou as pernas em volta da cintura do rapaz e os braços fortes dele envolveram a sua. O ritmo era intenso. Os beijos quentes e libertinos. Terminaram exaustos e ofegantes. Jonas pegou Lara no colo e a levou para sua cama.

Ela se encantava com a doçura que era tratada. Depois de uma ducha rápida, deitaram e a conversa não tinha fim.

— São apenas seis meses na verdade. É um contrato de trabalho temporário. Depois tenho um mês de "folga" — faz as aspas com os dedos — e se gostarem do meu trabalho, renovam o contrato por mais seis meses.

— E isso vai durar quanto tempo? Preciso saber quantas vezes terei que ir naquele navio — disse de forma tão natural que Lara o olhou surpresa.

— Que foi? Não quer mais me ver?

Não, seu idiota! Eu quero casar com você agora mesmo, fugir para as Ilhas Malvinas e fazer sexo o dia todo, pensou sorrindo.

— Que cara é essa? — perguntou inseguro.

— Eu não disse nada? Nossa, que bom....

— Em que você estava pensando?

Jonas puxou a garota para seus braços e deitou-se por cima dela apoiando um braço na cama e o outro fazendo carinhos em seu rosto.

— Que ia adorar te ver naquele navio. Seria... bem legal — disse, contendo o sorriso.

— Legal? Só legal?

Lara riu. Teria ela achado alguém mais inseguro e apegado que ela? Em outra circunstância, isso seria muito bem vindo. Jonas continuou:

— Então, eu sou legal? — enfatizou a última palavra.

Os dedos de Jonas deslizavam nos cabelos de Lara, que pendeu a cabeça para o lado, dando acesso à sua boca esfomeada. Sua língua percorria um pescoço quente, fazendo a garota suspirar.

— Isso aqui é só legal? — sussurrou em seu ouvido.

— Isso é... muito legal... — ironizou, arrancando sorrisos desafiadores do rapaz.

— Tenho a impressão que não é exatamente isso que está pensando...

Depois de deixar rastros poderosos de um arrepio por todo o corpo, ele beijou seus lábios docemente; olhou em seus olhos e disse com sinceridade.

— Eu vou lá naquele fim de mundo te ver. Saio de férias em um mês e agora já tenho seu telefone. Você não me escapa — piscou atrevido.

Nos trinta dias que se seguiram, o advogado e a bartender trocaram mensagens diárias. Um "Bom Dia" e "Boa Noite", acompanhados de algumas fofurices era sagrado. Mas a partir daí, Lara não recebeu mais mensagens. Na primeira semana estava meio paranóica, achando que poderia ter acontecido alguma coisa com Jonas.

— Ah... sei lá! Ele vive no avião. Vai que aconteceu alguma desgraça! Ai meu Deus, não posso nem pensar nisso! — confidenciou à uma amiga que fizera e trabalhava na limpeza do Navio.

Mas a revista "Karas" tratou de informar sobre o ótimo estado do rapaz, com uma reportagem sobre um grande evento em São Paulo, no qual a legenda da foto comprovava que aquele homem gostoso, lindo de morrer e acompanhado não era um irmão gêmeo de Jonas. E ainda por cima, sua cara estava ótima nas fotos! Uma mão rodeava a cintura da loira peituda e a outra estava no bolso. Seus olhos eram um enigma, mas aquele sorriso contido era de matar. Desgraçado!

"Um dos maiores advogados criminalistas da atualidade, Jonas Lamar, compareceu ao evento da OAB acompanhado de sua bela namorada, a empresária, Amanda Fidélis."

Isso explicava o fato do rapaz sumir há mais de duas semanas. Nada de mensagens, áudios, fotos,... nada. Lara tinha certeza de que fizera as pazes com a namorada.

A garota chorou por um dia inteiro. Sentia raiva por não conseguir controlar seu coração. Por sempre se entregar a ponto de não dar ouvidos à razão.

— Depois de dez anos namorando uma pessoa que o deixa tão livre para encantar e enfeitiçar moças inocentes, porque ele a deixaria? — perguntou chorosa para a amiga.

— Bem, você não é a moça inocente, né? — Luana perguntou.

— Um pouco — respondeu soluçando.

A terceira semana sem notícias de Jonas já se passava e Lara mergulhava de cabeça na rotina turbulenta do Navio. Trabalhava o máximo de turnos que seu corpo permitia à fim de esquecer aquela praga canceriana que volta e meia rondava seus pensamentos.

Do outro lado do oceano, Jonas organizava sua mala e sentia-se ansioso para rever Lara. Havia certa preocupação sobre o que a garota estaria pensando sobre seu desaparecimento. Em uma briga pós-rompimento, Amanda sumiu com o celular do namorado. Mas isso seria muito fácil de explicar. Ele tinha certeza que não haveria problemas quanto a isso. Lara era uma moça muito tranquila, madura e segura para se transtornar com aquilo.

Mal sabia ele o quanto a bartender o odiava no momento.

Á caminho de Londres, Jonas tentou se concentrar nos processos que estudava em seu laptop, contudo, a ansiedade o sufocava.

Assim que chegou ao Navio, deixou suas malas em seu espaçoso quarto, tomou uma ducha e procurou pela garota que tirava seu sono havia dias.

Lara estava entretida conversando com sua amiga. Elas riam muito e a bartender parecia estar imitando alguém.

Senti saudade dessa alegria, pensou sorrindo.

Ainda estava parado observando a libriana, quando numa virada repentina, seus olhos se cruzaram. Sensações como a de um infarto estava iminente. Ele sorria para a moça que permaneceu estática e surpresa. Até aí, tudo bem, porém, seus semblante mudou drasticamente para algo mais rancoroso.

— Quem é vivo sempre aparece — disse cuspindo ironia enquanto ele se aproximava.

— Também senti saudades, Lara — sorriu — Podemos conversar?

Mesmo relutante, Lara foi convencida por Luana a tirar seus trinta minutos de descanso e resolver aquele imbróglio.

— Nossa, essa foi a desculpa mais descarada que eu já ouvi! Você é um profissional. Acho que poderia fazer melhor.

— E qual o motivo que eu teria pra vir até aqui e inventar uma história como essa? Pra te beijar novamente? Dormir com você? E depois? Voltar pra São Paulo e continuar minha vida feliz como se nunca tivesse te conhecido? Lara... Você realmente acha que eu viria ATÉ AQUI se você não fosse importante o suficiente?

OK,ok! Você já me convenceu! Eu caso com você, porraaaaa!, pensou, tentando a todo custo controlar suas expressões faciais. Havia um "orgulhinho" camuflado por ali?

— Não sei... Não confio nos cancerianos — fingiu desagrado.

O sol que há pouco brilhava com intensidade, estava se pondo e deixava um clima ameno e uma beleza incrível no horizonte. Eles estavam no convés e ainda havia grande movimento no local. Jonas se apoiava nas barras de proteção e Lara, de braços cruzados, estava um pouco distante do rapaz. Aquele comentário o encorajou a estender o braço pedindo a mão da garota. Ainda estava querendo se fazer de difícil, mas a verdade é que estava louca de saudades daquele homem complicado.

Lara segurou sua mão e ele a puxou. Um sorriso tímido escapou-lhe da carranca, o que fez Jonas sentir-se nas nuvens. Um braço envolveu a cintura da moça e o outro foi para suas costas. Aquela mão grande fazendo carinho em sua nuca, tirava o absoluto controle que Lara tentava, em vão, estabelecer minimamente.

— Senti sua falta — disse Jonas, suave, com a boca em seu ouvido.

— Fiquei preocupada — virou-se para olhar aqueles olhos brilhantes do homem que não esqueceu nem por um dia — Também senti sua falta.

Jonas beijou os lábios que ansiou por quase dois meses. A lembrança do êxtase veio à tona assim que sentiu o gosto agradável da garota. Aquele beijo conseguia fazê-lo esquecer da merda que estava sua vida, dos problemas com o trabalho e do pouco tempo que teriam juntos. Jonas queria Lara. Queria senti-la por inteiro novamente.

Se abraçaram com paixão, então, Jonas tirou um pequeno embrulho do bolso.

— O que é?

— Não vou ficar muito tempo. Comprei isso pra que se lembre de mim.

Lara abriu o saquinho verde e tirou da caixinha dois berloques. Ficou surpresa ao ver os símbolos de seus signos gravados nas peças com tanta delicadeza. Seus olhos iam de Jonas ao presente e o sorriso não tinha previsão de sair dali.

— Meu Deus, Jonas! Eu... eu não sei o que dizer. É lindo demais! — Ela deu uma risada alta — É a nossa cara!

— Você sabe que eu não acredito nessas coisas, mas... pensei que era uma forma de você não me esquecer.

Ela segurou o rosto do advogado com ternura e passou seus dedos pelos traços do amado.

— Porque você tem que ser tão fofo?

— Eu? Fofo? — perguntou com alegria.

Lara arregala os olhos e afunda a cabeça no peito de Jonas.

— Ai meu Deus... eu disse fofo? — sussurrou.

— Eu sou fofo mesmo, não tem problema algum dizer isso.

Eles riem e se beijam. Definitivamente, eles combinavam.

Uma semana não era suficiente para aproveitarem o tempo juntos, uma vez que Lara se desdobrou em mil para desfrutar o máximo de tempo com seu canceriano. Mas a hora que tanto evitaram pensar, chegou. Não sabiam quando se veriam novamente. Também não sabiam se aquele sentimento resistiria ao oceano que os separavam e a vida tão divergente que levavam, no entanto, uma coisa era certa, os astros estavam adorando colocar um no caminho do outro.

FIM.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top