Erro 77-4. O download de memórias falhou. Deseja tentar novamente?

— Sim.

O Sistema Sem Nome está sendo reiniciado. Não desconecte o sistema da fonte de energia até que a configuração tenha terminado completamente. Deseja nomear o Sistema Sem Nome?

— Sim.

Insira aqui o novo nome do sistema.

"Shawn!" O grito rasgou sua garganta. O carro. As árvores. O sorriso. "Nick.."

— Shawn Peter Raul Mendes.

Importante! Número de caracteres excedido. Insira um nome mais curto.

— Shawn Mendes.

O Sistema Shawn Mendes inicializou o download de memórias. Certifique-se que o Sistema continue conectado a fonte de energia; não desligue ou o reinicie até a conclusão do download.

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Era o primeiro dia de aula quando se conheceram. O moreno estava eufórico, era seu primeiro dia no High School, e logo completaria 14 anos. O início do seu Sophomore. Encostou-se no batente da sua nova sala de aula; por ter passado com boas notas em seu último ano, estava na classe A. Se sentia importante! Havia uma sala do primeiro ano logo na frente da sua, e o menino se pegou fantasiando em estar naquela classe no próximo ano, junto com os seus amigos.

Seu divagar foi interrompido com um baque em seu corpo magro. Piscou com força e focou a atenção ao mundo a sua volta. Um outro menino havia sido empurrado pelo seu amigo, e ambos riam. Seus olhos encontraram com os do "agressor", e um deles exibia um estranho brilho azulado.

— Me desculpe. Ei, essa é a sua turma? – O moreno assentiu. Recebeu um sorriso. – Legal. Minha classe fica em frente à sua. Você é..?

— Shawn Mendes! – Ele suspirou, mantendo-se firme onde estava embora quisesse se esconder devido à sua timidez.

— Nicholas. Nicholas Jonas. – Esse era o nome do desconhecido, quem havia interrompido seus devaneios. – Mas você pode me chamar só de Nick.

Os olhos se encontraram mais uma vez, e um sorriso foi trocado. O amigo – que Shawn descobriu mais tarde se tratar do irmão de Nick, Joe – tocou o ombro do mais velho levemente, e Nicholas assentiu.

— Então.. A gente se vê por aí, Shawn Mendes. – Uma piscadela discreta, e ele se fora em direção à sua classe.

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— Eu tenho a leve impressão de que não deveria estar fazendo isso, Nick.. – Seu tom de voz era trêmulo, devido ao nervosismo e ansiedade. Olhava para os lados sem parar enquanto seguia o mais velho.

— Qual é, vai ser divertido. Você nunca matou aula antes? – Nicholas, por outro lado, detinha um tom de voz travesso e risonho enquanto escalava habilmente o muro dos limites da escola. Se sentou na divisória e estendeu a mão para o menino inseguro. Ele negou com a cabeça.

Com um longo suspiro, Shawn segurou a mão firme de Nick.

Sorrisos foram trocados antes que eles descessem do muro e entrassem no carro que os esperavam na rua. Ele era dirigido por Kevin Jonas, o mais velho dos irmãos, e no acompanhante, Joseph – ou Joe, o "amigo" que levara Shawn e Nick a se conhecerem no primeiro dia de aula.

Fizeram o caminho até o parque de diversões mais próximo, e lá passaram o restante da manhã e toda a tarde, indo em todos os brinquedos possíveis quantas vezes desse vontade, mesmo que fossem apenas os dois. Kevin e Joseph gostavam mais de paquerar, por serem já alguns anos mais velhos. Shawn foi mimado por Nicholas com chocolates, algodão doce, pipoca, sorvete, e o menino ria com as gracinhas do mais velho.

Na hora de irem embora, resolveram ambos irem a pé, sozinhos: a casa de Shawn ficava ali por perto, de qualquer maneira. Seus dedos se entrelaçaram no caminho sem que percebessem, assim como seus destinos. A mão de Nicholas cobrindo a de Shawn enviou um arrepio involuntário pela sua coluna e o fez dar sorriso tímido, sozinho, que se desfez quando avistou a porta da sua casa.

— Te vejo amanhã. – O Jonas sussurrou, se inclinando para beijar suavemente a bochecha do menino e se afastar, caminhando de cabeça baixa pela rua sem olhar pra trás.

A bochecha de Shawn queimava, e teve que esconder o sorriso com ambas as mãos para entrar em casa.

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— Mãe, eu não quero. Eu não vou! – O Mendes mais novo fazia birra, no meio da sala, de cara fechada e braços cruzados.

— Mas, Shawn.. É apenas um encontro! Você já é um rapaz, precisa arrumar uma namorada logo. – Karen Mendes insistia. O encontro em questão dizia respeito a filha de sua melhor amiga; ela e Shawn costumavam brincar juntos o tempo inteiro quando mais novos, mas ele não possuía nenhum interesse nela dessa maneira.

— Não quero! E não vou sair num encontro com Bonnie Lewis!

Um olhar compreensivo vindo de Manuel – o pai – mirou a esposa. E viu os ombros dela caírem. Não era como se fosse preconceituosa, mas Shawn só saía com aquele tal de Nicholas agora, e Karen estava preocupada. Ela suspirou, e, com dificuldade, desistiu. O mais novo da família saiu pisando duro e bateu a porta do quarto quando entrou no cômodo, trancando logo em seguida: o sinal da sua extrema revolta e indignação. Ele se jogou na cama e buscou seu celular.

Shawn Mendes ficou online.

Shawn: Fala sério.. Minha mãe é tão babaca.

Nick J.: O que aconteceu dessa vez?

Shawn: Ela quer me forçar a ir num encontro com uma garota. Dá pra acreditar nisso? Estou tão estressado, daria qualquer coisa por..

Os dedos tamborilavam na lateral do smartphone. Deveria terminar a frase? Seus dentes apertaram o lábio inferior.

Shawn: ... Uns chocolates e a sua companhia aqui pra me distrair.

Nick J. ficou off-line.

O Mendes estranhou a falta de resposta, mas não enviou mais nada. Resolveu esperar, e se surpreendeu cerca de vinte minutos depois. Pedrinhas eram jogadas na sua janela. Shawn correu para abrir, e se deparou com Nicholas sorrindo travesso do outro lado do vidro, mochila nas costas, abastecida com a sua munição anti-estresse.

— Rapunzel, Rapunzel, jogue-me suas tranças! – Ele disse dramaticamente, o que fez com que o moreno risse. Nick não precisava de tranças, preferiu escalar habilmente o jardim vertical que sua mãe havia passado tanto tempo se dedicando.

Em poucos minutos, ele já estava ali, afagando os cabelos macios de Shawn enquanto ele comia os chocolates que tinha pedido.

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O coração batia enlouquecido no peito. As palmas de suas mãos suavam. A respiração entrecortada, o frio na barriga. Ele se olhava constantemente pela câmera do celular, inseguro sobre sua aparência. Não entendia por quê estava agindo dessa maneira; iria apenas sair com Nick outra vez. Já tinha feito isso um zilhão de vezes.

— Eu me atrasei, desculpe. Ah! Feliz aniversário! – O timbre foi ouvido pelas costas de Shawn, e ele tomou um susto. Quase morrera de ataque cardíaco logo no seu aniversário de 14 anos.

Ao invés de responder, o abraçou apertado. Já faziam alguns meses que se conheciam, e Shawn se sentia vivo. Vivo de verdade, não apenas um ser existente. Saboreava sua liberdade, e se sentia invencível, com vontade de gritar para que o mundo inteiro ouvisse o quanto estava feliz.

— Vai ter que me dar um presente de aniversário extra pra compensar o seu atraso. – Murmurou, rindo, mas Nick o olhava seriamente. Aquele olhar bambeava as pernas de Shawn.

Era tão intenso que se sentia único no mundo de Nicholas Jonas.

E era.

Estava hipnotizado com tanta força, que só fechou os olhos quando os lábios grossos de Nick pressionaram os seus. Entrou em choque, seu cérebro entrou em curto. Suas mãos tremiam quando seguraram firmemente nos ombros do mais velho. Seu peito explodia fogos de artifício.

Seu presente de aniversário fora um pedido de namoro, no mesmo dia, através do que mais tinham em comum: música. Nicholas tinha levado seu violão, porque havia composto uma música apenas para Shawn, onde segredava seus sentimentos e pedia que os aceitasse. O Mendes chorou quando viu que Nick tinha até mesmo comprado alianças.

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O tapa ardeu a lateral do seu rosto. A lágrima escorreu silenciosamente.

— Shawn Peter Raul Mendes! Você O QUÊ? – A voz de Karen espalhou-se pela sala silenciosa. Estava enfurecida.

— Eu sou gay, mãe. Eu sou gay, tá bom? Será que a senhora pode parar de bater no meu rosto agora, por favor? – Sussurrou Shawn, apertando os olhos ao receber mais um tapa. – Já entendi, mãe.. Não vou mais incomodar. Vou sair da sua casa.

Manuel Mendes tentou interferir, mas o menino passou reto pelos pais e seguiu até seu quarto. Karen não moveu um dedo. Shawn embolou todas as suas roupas dentro da sua maior mochila e a jogou nos ombros, preparado para ir embora. Nunca mais veria seus progenitores, e se sentia vazio por dentro. Esperava algum conforto, aceitação, porém recebeu discriminação.

— Pra onde vai, filhote? – O tom compreensivo de Manuel fez com que Shawn parasse um instante e erguesse o olhar até o pai. Sorriu triste e ergueu a mão direita, onde exibia orgulhosamente a aliança que havia ganho de Nicholas.

— Vou morar com o meu namorado, pai.. – E virou as costas.

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Os finos dedos deslizaram pelo porta-retratos empoeirado distraidamente por uns segundos antes que Shawn reconhecesse vagamente o cenário. Prestando mais atenção, trouxe a fotografia velha para mais perto do rosto e a analisou minuciosamente.

— Não acredito.. – Sussurrou.

— No que? – Nick parecia ter se materializado atrás do garoto. Suas mãos o envolveram num abraço carinhoso em que aproveitou pra olhar por cima do ombro do namorado.

— Sou eu. Aqui. Nessa foto. – Apontou para a sua versão menor, que brincava com o mini-Nicholas no jardim da antiga casa dos Jonas.

— O que? 'Tá falando sério? – Ele assentiu. Depois, riram juntos.

Pararam pra relembrar, e fazia sentido que não soubessem que já haviam sido amigos: nessa época, Shawn tinha acabado de chegar do Canadá, e poucos meses depois, Nicholas teve que passar um tempo no Texas, onde nasceu.

— Quais eram as probabilidades da gente se encontrar de novo depois de tanto tempo? – Riu o Jonas, se inclinando para deixar um casto selar na pele alva do pescoço do Mendes.

Ele se encolheu, levemente corado, aproveitando da deixa para se aninhar nos braços do mais velho. Pelo menos, agora havia uma explicação do por quê se sentir em casa com Nicholas: gostava de acreditar que estavam destinados a ficarem juntos desde o jardim de infância, quando se conheceram.

Como naquela lenda do fio vermelho.

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— Achei que fosse entrar pra faculdade nesse ano.. – Começou, surpreso, quando Nick o contou que ia ficar por conta do mais novo ao invés de dar início ao ensino superior.

— Vou entrar ano que vem. Com você. Assim, vamos formar juntos, começar nossa carreira juntos.. – Ronronou o Jonas, acariciando o rosto do seu amado com o polegar. Shawn sorriu, as bochechas esquentando consideravelmente.

— Eu não tinha pensado nisso.. – Confessou, apoiando o rosto na mão do mais velho para que este não parasse o carinho.

— Gosto de planejar nosso futuro, Shawn. Já estamos namorando e morando juntos há tanto tempo. – Nick falava sério. Afinal, já era o início do quarto ano, eles frequentemente falavam sobre mudarem de casa, adotarem crianças, até um ou outro sonho de casamento. Já tinham o "eu aceito" um do outro desde que seus olhos se cruzaram pela primeira vez no Sophomore.

O Mendes fez que sim lentamente com a cabeça. Estava arrepiado, mas não era de um jeito ruim. Só sabia, bem lá no fundo, que ficaria com Nick até o fim da sua vida.

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• Olfato.

Flores. Tulipas, sim, tulipas. Shawn adorava o cheiro das tulipas. Eram suas flores favoritas desde que descobrira seu significado. Amor eterno.

Churrasco. Hambúrgueres feitos em casa. O aroma impregnava suas narinas e o trazia flashes de dias em que se reunia no quintal com toda a família e passavam a tarde comendo e conversando, a música baixa no fundo. Depois que saiu de casa, os Jonas adotaram esse hábito para que Shawn tivesse lembranças boas ainda que longe dos seus pais.

Álcool. Das vezes em que ia em festas com Nick e seus irmãos, e a mistura de álcool com gelo seco parecia grudar em seu olfato por dias.

Natureza. Eram seus momentos favoritos; quando caminhava com seus amigos, seus "irmãos" (eles consideravam Shawn como parte da família Jonas) ou seu namorado. Faziam trilhas, acampamentos, ou simplesmente iam até a reserva. Se deitavam na grama e ficavam lá, sentindo a tensão esvair dos ombros de cada um.

• Visão.

Nicholas. Os filamentos azuis subindo pelo seu braço quando as pontas dos seus dedos encontravam a pele nua de Shawn. O brilho celeste forte que acendia em seu olho quando o mais novo reagia positivamente. Seus lábios pronunciando o seu próprio nome. "Shawn". Seus ombros largos, seu rosto bonito demais.

A escola. Um fluxo intenso de garotos e garotas desesperados para encontrarem suas salas de aula, prontos para abrirem seus cadernos e estudarem inutilmente para o teste final em quinze minutos.

A faculdade. As irmandades. O trote. Os dedos de Nick deslizando pelas teclas do piano, como se tivesse nascido pra isso – E talvez tivesse mesmo.

• Paladar.

Os beijos que recebia, de arrepiar os fios da nuca e deixar as pernas bambas: o gosto de álcool, menta e cigarros da boca do Jonas.

Suas comidas favoritas, e outras diversas que havia provado ao longo dos seus primeiros 20 anos de vida. Não gostava muito do sabor amargo, ou azedo. A comida feita pela sua mãe ou pelos seus avós sendo substituída pelas guloseimas feitas pelas mãos de Denise-Miller Jonas, e depois, pelos meninos Kevin e Joseph, até enfim, chegarem nas mãos de Nicholas.

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• Tato.

A pele sintética quente. O contorno dos ombros largos, o áspero nas pontas dos seus dedos da barba por fazer. O coração pulsando. A aliança deslizando pelo seu anelar e se encaixando perfeitamente.

A areia sob seus pés, a água salgada banhando seu corpo, da primeira vez que fora até a praia.

Seu corpo sendo tocado, a sensação de que era realmente amado inundando seu corpo, embaralhando seus outros sentidos, o deixando anestesiado o suficiente para achar que estava no Paraíso.

Seus dedos apertando firme o lápis enquanto desenhava. As cordas do violino vibrando quando tocava. Os pequenos prazeres da sua vida. O lençol macio contra sua pele ao se deitar depois de um dia exaustivo. O cobertor roçando suas pernas num dia frio e chuvoso em que juntavam a família Jonas para assistirem filmes.

• Audição.

"Rapunzel, Rapunzel, jogue-me suas tranças!"

"Feliz aniversário."

"É apenas um encontro."

"Pra onde vai, filhote?"

"Eu amo você."

"Cuidado, tá?"

A melodia ressoava em seus ouvidos, a voz de Nick no auge dos seus 15 anos cantando sobre os hábitos estranhos de Shawn, aquele dia, na clareira do parque. Sua risada quando notou que o Mendes chorava emocionado.

"Você aceita namorar comigo, Shawn?"

"Nicholas. Nicholas Jonas."

"Você nunca matou aula antes?"

• Lembranças.

Seus pais, Nick, Joe, Kevin. Seus professores do jardim de infância, seus colegas de classe. A enxurrada de informações era constante; 20 anos de detalhes eram processados aos poucos.

Demetria o recebendo na casa dos Jonas quando saiu de sua própria, o aconselhando, o ensinando a lidar. O jeito como Demetria e Joseph se olhavam. Shawn os invejava secretamente, sem saber que o casal fazia o mesmo sobre sua relação com Nicholas. Os olhos do Mendes até brilhavam pela simples presença do seu amado no mesmo recinto.

Seus primeiros amigos. Charlie, Cameron, Ed. Estavam todos na faculdade agora, também, e se lembrava das noites em que se reuniam na casa de algum deles para jogarem videogame a madrugada inteira.

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A faixa. A festa. Quase podia ouvir a voz de Nick perto do seu ouvido; "Te vejo logo, amo você". Não se viram até o acidente. O acidente.. Ele se lembrava que estava tudo escuro, sangue escorria pelo seu rosto enquanto dirigia, e de repente tudo rodava. Ele se lembrava que não conseguia se mover, e se recusava a olhar pra baixo, porque, no fundo, Shawn Mendes sabia que não terminaria aquela noite vivo. Um grito cortou a noite. A dor no timbre manteve Shawn vivo por mais tempo, tentando adiar o sofrimento do seu amado ao máximo.

"Shawn!"

Download de memórias para Sistema Shawn Mendes 100% concluído, aguarde enquanto o sistema se inicia. Não desligue ou reinicie o computador durante o processo...

Os olhos se abriram de repente, as íris completamente azuladas sem foco até voltarem ao seu tom castanho habitual. Seu peito subiu e desceu, e sua respiração era o único som do ambiente.

Shawn Mendes estava vivo.