Capítulo 01 - O conto das almas Gêmeas

Era como ver um replay em minha mente, em todas as vidas. Era mais forte que eu. Eu tinha o instinto de protege-lo e como todas as outras vezes o medo toma conta de meu corpo. Era tão familiar sentir meu corpo sendo jogado ao alto com uma força sobre humana. Era óbvio que eu não podia detê-lo, mas eu queria ajuda-lo. E mesmo naqueles últimos instantes de vida eu sabia que nosso amado filho estava seguro e teria uma vida. Mesmo que ela fosse amaldiçoada por nossa causa. Eu gostaria de poder vê-lo algum dia, espero poder reconhece-lo.

Em um piscar de olhos, sinto minha cabeça se chocar com o chão e meus olhos escurecerem ao mesmo tempo. Eu apago e acordo e sinto algo molhado sair de minha cabeça e mesmo que eu queira gritar para ele as últimas imagens que vejo são de Moacir e Jandir se matando novamente em um ciclo vicioso, sob a visão de Jacir no alto em seu auge.


TRÊS HORAS ANTES

- Mamãe, me conta novamente...

Começo a sorri enquanto embrulho meu filho na pequena cama.

- Já contei a você tantas vezes que acho que já de mais falar dela mais uma vez.

- Não mamãe. Eu amo essa história.

Ela dá um doce sorriso, lhe afago o rosto e começo a contar o conto que ele ouve atentamente segurando o cobertor sobre seu corpo.

Era uma vez em um lugar muito distante de onde hoje nos encontramos, em uma mata virgem viviam dois irmãos gêmeos, Moacir e Jandir. Sua mãe, Raíra tinha longos cabelos lisos e sedosos que brilhavam a luz do sol, e seu pai Rudá, era um guerreiro da tribo, alto e forte. Seus filhos dividiam das características de seus pais.

Moacir veio primeiro ao mundo e era mais alto que seu irmão, sua pele contrastava com seus olhos amendoados que brilhavam na luz do sol e do luar. Havia herdado a genética de seu pai quanto ao físico, possuindo desde muito novo pernas e braços fortes e que se desenvolveram com o decorrer do tempo.

Jandir nasceu logo em seguida, era o caçula por poucos instantes, sua pele era mais clara do que a de seu irmão que aparentava estar sempre bronzeado por conta do sol. Seu cabelo se assemelhava ao de sua mãe, no qual orgulhosamente deixava-o solto ao correr pela floresta. Sendo mais gentil e amável que seu irmão.

Ambos com o tempo se tornaram homens e por ironia do destino se apaixonaram pela mesma índia, neta do pajé. Seu nome era Nina. Moacir logo se interessou pela jovem que sempre acompanhava sua mãe em algumas tarefas diárias. Trazia grandes caças e a oferecia como presente, sempre a cortejando. Mas ele não sabia que sua aproximação com Raíra se dava por conta de Jandir.

Nina sempre observou o jovem Jandir, seu sorriso e carinho com os animais da floresta. Demonstrava o devido respeito ao equilíbrio da vida. Sempre agradecendo a Tupã pela comida e demonstrando respeito pela vida que retirou de um ser vivo para se manter de pé, o oposto de seu irmão que caçava e exibia os mesmos como troféus e sinal de força.

Certa noite Moacir chegou de uma caçada, depois que o sol já havia se posto no horizonte as primeiras estrelas pareciam dançar no céu. Uma fogueira estava acessa no meio da tribo e havia uma pequena movimentação em volta do que seria o jantar naquela noite. Deixou parte da caça de uma anta com sua mãe e levou a outra parte para quem ele desejava em segredo. Procurou por algum tempo sem encontra-la, até que perguntou ao seu pai por onde andava Nina, logo foi informado que ela havia saído com seu irmão.

Moacir se apressou por entre a mata até chegar à beira do rio e a cena que ele viu lhe arrancou o coração do peito. Diante da lua, ele viu Jandir e Nina se beijarem. Algo lhe subiu à cabeça, um sussurro de Anhangá lhe dizia que ele teria que fazer o que todo guerreiro deveria para ter o amor da sua vida ao seu lado e que se ele quisesse ele poderia lhe dar o poder de ter o que ele desejava. Mas que haveria um preço a ser pago.

Sem pensar ele aceitou a oferta de Anhangá e diante de Jaci, que é a deusa Lua e guardiã da noite, protetora dos amantes e da reprodução perdeu aos poucos sua forma humana, seus dentes caiam e seu corpo se contorcia no chão. Seus ossos se quebravam e se reconstituíam, enquanto novos dentes nasciam em sua boca que se alongava. Suas mãos que agora eram garras arrancaram os olhos e deles saiam o sangue que inundou sua nova íris, adquirindo um rom carmesim e ameaçador.

Os gritos de dor fizeram com que o casal se assustasse e logo em seguida fosse assombrado por uma enorme fera de olhos vermelhos que caminhava em quatro patas e rosnava em sua direção. Com um movimento o enorme lobo pulou em direção a Jandir lhe mordendo o ombro, fazendo-o gritar. Assustada a jovem índia, mesmo temendo a sua própria morte correu para socorrer seu amado, mas ao encostar na fera sua pata a lançou a margem do rio e sua cabeça atingiu uma pedra.

Anhangá que se escondia na floresta e observava tudo de longe, estava satisfeito com o que tinha feito. Jandir em pouco tempo havia se transformado assim como seu irmão em uma enorme fera, mas seus olhos não eram como os de seu irmão. Eles brilhavam em um âmbar liquido que brilhava a luz da Jaci. Os irmãos brigaram por dez dias e dez noites sempre se afastando cada vez amais da aldeia, se perdendo em meio a enorme floresta.

Apesar do que seu irmão havia feito Jandir não mataria seu irmão e no decimo primeiro dia, ele implorou ajuda a Jaci, ele já havia perdido o amor de sua vida e não queria mais existir nesse mundo sem ela. Compadecida de sua dor, ela prometeu lhe ajudar, mas que isso poderia lhe causar mais dor ainda e que em uma noite diante de sua presença ele teria que escolher entre o amor e a família. Ele não poderia ter ambos, pois Anhangá havia amaldiçoado eles e seus filhos e todos que vierem depois deles.

Decidido a impedir que a dor se propagasse ele aceitou a oferta de Jaci. E naquela noite ele voltou a caminhar sob dois pés. Mas ela o advertiu que ele ainda se transformaria, mas com o tempo aprenderia a controla-la. Ansioso ele perguntou por Nina, ela se limitou a dizer que ele teria uma longa jornada, mas que encontraria ela. Quando os olhos dele se encontrassem com os dela, ele saberia que ela era sua alma gêmea, mesmo que ela estivesse em outra forma.

Com um sorriso no rosto, finalizo a história enquanto meu amado filho abaixa as pálpebras e cai em um sono profundo. Levanto-me devagar e deixo o quarto, desligando a luz e mantendo a porta entre aberta. Júlio, meu marido estava sentado do lado de fora da casa, observava as estrelas daquela noite. Me aproximo dele e o abraço.

- No que está pensando?

- No quão minha vida é vazia sem você. – ele se volta a mim e olha diretamente para os meus olhos verdes. – Demorei tantos sois e luas para te encontrar novamente.

- Eu sei meu amor. – acaricio sua pele.

Ele se aproxima de mim e me beija. Era como voltar no tempo e sentir a água em meus pés, e a boca dele tocando a minha. Aquela era a decima terceira noite de lua cheia. Nossa decima segunda encarnação.

- Você fez os preparativos? – ele me olha preocupado.

Com um meneio de cabeça respondo-lhe que sim. Sento-me na varanda ao seu lado e coloco a mecha de cabelo que estava solta atrás da orelha. As nossas reencarnações nunca eram iguais, nem sempre eu recebia tudo da melhor forma, mas em algum momento tudo fazia sentindo para mim. Era como sentir a mesma dor durante anos a fios da mesma maneira.

- Éramos apenas dois no começo. – ele interrompe meus pensamentos e o olho – Agora existem tantos de nós, porque me deixei pensar que tudo seria resolvido e ele por vingança gerou para cada filho abençoado por Jaci um por Anhangá.

Aperto sua mão e ele me olha.

- Eu amo você Eduarda.

- Eu amarei por toda eternidade Júlio. – lhe toco os lábios e um uivo ao longe faz com que nos afastemos.

- Eles estão a caminho. Cuide de nosso filho.    

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