Capítulo 01 - Vermelho
O vento balançava silenciosamente a copa vazia das arvores. O céu estava turvo enquanto eu me abraçava em uma tentativa vã de não me sentir sozinho e vazio. Eu estava olhando para aquele ponto há quanto tempo? Eu realmente não sabia. Minhas mãos passeavam pelo terno escuro enquanto em uma tentativa infantil eu buscava em quem me amparar. Meus olhos estavam turvos, eu não conseguia enxergar muito bem naquele momento, algo escorria pela minha face e gemidos baixos interrompiam o silencio.
Levantei meu rosto e olhei para as poucas pessoas que rodeavam aquele buraco no chão enquanto o caixão estava sendo abaixado. A dor estava me consumindo de uma forma que eu não esperava, de uma forma que eu nunca pensei que sentiria. Era como se tivessem me tirado um pedaço do meu coração e deixado a ferida aberta enquanto meu sangue pulsava dentro das poucas veias que haviam sobrado, impossível de ser estancado. Eu me sentia perdendo a vida lentamente e preso em um mar de angustia e desespero.
Eu desejei estar morto.
Só Deus sabe o quanto eu queria estar morto, que o cinto de segurança não tivesse feito tão bem seu trabalho, mas ao mesmo tempo eu sei o quão doloroso seria se eu tivesse ido e um deles tivesse ficado aqui, minha mãe não gostaria disso, nem mesmo meu pai. Eu era tudo para eles e me manter seguro sempre foi a prioridade deles, mesmo que isso algum dia custasse as suas vidas, como custou. Mas aquilo doía, me machucava. Não era justo e não era fácil de aceitar.
Sinto uma mão encostar no meu ombro, me viro devagar e olho para minha tia que estendia os braços em minha direção. Não houve como conter as lagrimas que já estavam vazando e escorrendo pelo meu rosto, eu apenas desabei, chorei como uma criança perdida e sem chão. Como uma criança sem seus pais. A agarrei com todas as minhas forças enquanto ela devagar acariciava meu cabelo tentando me acalmar, mas ela mesma choramingava baixo tentando conter seu choro para me apoiar.
Um estrondo.
Algo frio toca minha pele. Do céu começava a cair uma chuva fraca, mas algo impede o contato das gotas com meu corpo então vejo meu primo Samuel com um guarda chuva negro nos abraçando com um olhar indecifrável e com pesar nos olhos. Desvencilho-me de minha tia e sigo em direção ao buraco fundo e escuro, meus olhos estão presos naquele maldito lugar. A chuva toca minha face e começa a me encharcar. Meus cabelos molhados pingavam enquanto eu permanecia estático obsevando a terra sendo jogada dentro do buraco e pouco a pouco cobrindo os caixões que guardavam os corpos sem vida dos meus pais.
As lagrimas se misturavam a chuva e caiam da minha face. Novamente sinto o abraço acolhedor de minha tia que me cobre com o guarda chuva, ela me puxa enquanto devagar me movo, seguindo-a enquanto meus olhos vasculham o lugar, não havia mais ninguém alem de nos ali. Todos já haviam ido para suas casas para as suas vidas. Elas falariam de forma saudosa deles, dirão que foi uma fatalidade e serei o jovem órfão merecedor de piedade. E logo ninguém se lembrara de mim ou de meus pais, talvez nos convites de missa em que se passa um ano eles dirão que passou tão rápido, mas eu lembrarei disso por mais tempo que a maioria. Eu caminhava pela pequena trilha do velho cemitério de River Spring.
O carro nos esperava, minha tia me ajudou a entrar no carro fechando a porta e logo depois entrou. Samuel deu a partida no carro e seguimos pela rodovia trezentos e dezessete para o centro da cidade. A janela estava borrada e embaçada por causa da chuva, as arvores passavam rápidas de mais e eu não havia falado mais nada, apenas chorado e em algum momento eu adormeci.
Já haviam se passado quantos dias desde o enterro dos meus pais? Eu não sabia. Havia parado de ir à escola e estava trancado no quarto incomunicável. Eu não chorava mais. A dor não precisava mais ser expressada em lagrimas, mas minha face estava tão vazia quanto meu coração.
O inverno começava a chega a cidade. O frio tomava conta das ruas e do interior das casas. Levantei-me da minha cama e segui para o banheiro, olhei para o meu rosto vazio e sem vida, olheiras profundas tomavam meus olhos e eu havia emagrecido, minha pele tinha ganhado um tom pálido e sem vida. Caminhei para o chuveiro e o liguei, deixando que a água quente escorresse pelo meu corpo, encostei na parede e escorreguei para o chão enquanto a água continuava caindo sobre meu corpo.
Eu estava chorando.
Olhei vagamente para o vidro molhado e me levantei devagar, sem pressa. Peguei um dos barbeadores e arranquei uma das laminas. Caminhei para a banheira e deixei que ela se enchesse de água. Adentrei e fechei a torneira. Olhei vagamente para a lamina e para meu pulso. A ideia estava formada em minha mente. A segurei com força e cortei meu pulso. Deitei-me na banheira e deixei meu braço em contato com a água, ela ganhou um tom avermelhado, então fechei os meus olhos, esperando não acordar mais.
Meus olhos se abriram devagar, a luz branca deixou minha visão embasada enquanto eu tentava me focar no teto igualmente branco. O som dos bipes ecoava em meus ouvidos, olhei vagamente para o ambiente bem iluminado. Eu estava deitado em uma cama de hospital, meu braço estava enfaixado.
Eu havia falhado.
Eu não queria me levantar daquele sono, preferia ter emergido em meio a escuridão do que continuar vivendo aquela vida miserável que eu tinha. Não havia sentindo continuar, não para mim. E porque os meus malditos olhos começavam a lacrimejar quando eu não deveria chorar, eu tinha que ser mais forte, eu tinha que me erguer de alguma forma, mas eu não queria. Um sentindo tão ambíguo a minha relis existência.
A porta do quarto se abre devagar e olho vagamente para minha tia que entrava no quarto com um vestido bege que realçava sua pele alva, seus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo, seus olhos verdes cintilavam com as lagrimas que brotavam em seus olhos, seu sorriso estava largo e seus braços abertos vindo em minha direção, ela não falou nada apenas me abraçou. Talvez eu precisasse de uma bronca, algo que indicasse que ela estava enfurecida por eu ter tentando algo tão...
Mas ao contrário, ela não disse nada. Ela me olhou com as lagrimas escorrendo pela sua face. Seus olhos diziam que ela não estava brava, mas feliz por eu ainda estar vivo. Ela me compreendia de alguma forma.
- Desculpe. – disse por fim olhando minhas mãos inquietas brincarem consigo mesmas.
- O importante é que você esta bem. – ela sorriu me puxando para que eu a olhasse nos olhos. – Você logo estará de alta e poderemos ir embora.
- Embora? – perguntei incrédulo. – Porque eu faria isso?
- Não vou deixa-lo naquela sozinho – disse ela, secando uma das lagrimas. – Mas isso não importa agora você vai para casa e voltara a ter uma vida. Era o que seus pais iriam querer para você, que continuasse sua vida bem e feliz.
Olhei para minhas mãos novamente. A menção aos meus pais, me fazia sentir uma culpa enorme por desvalorizar algo que eles desaprovariam. Eu não poderia mais pensar em fazer algo que pudesse macular a lembrança deles.
- Vou deixar você descasar, preciso resolver algumas coisas antes de te darem alta, você vai morar comigo em Shadow Falls. – disse ela se levantando e saindo do quarto convicta de sua decisão.
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