Capítulo 16

Marianne dormira feito um anjo após a sua chamada de voz profundamente excitante com o seu deus erótico. Ela encerrara a ligação completamente saciada e calma, prontinha para uma noite de bons sonhos. Estava com um sorriso estampado no rosto ao deitar sua cabeça confortavelmente no travesseiro. Não deu brecha para qualquer besteira que quisesse rodear a sua mente, e aquilo realmente valera a pena. Precisava dormir bastante e descansar não só o seu corpo, como também o seu emocional totalmente confuso.

Em Toronto, Dave levantara da cama amplamente disposto. Dormira pouco, aproximadamente cinco horas e antes mesmo das oito da manhã já estava de pé. Ele nunca fora de dormir demais e a aventura da madrugada o deixara ainda mais animado.

Estava determinado. Desde que se mudara para o Canadá não tinha se esforçado muito em relação ao seu condicionamento físico. Não era um filho da mãe de um sedentário e nem engordava com facilidade, mas fazia meses que ele não gastava o seu tempo para uma atividade física e sabia que aquilo era muito errado. Ele deveria manter a sua forma e seus quilos bem distribuídos naquele 1,90 de altura.

No seu banheiro, aliviou a sua bexiga, verificou a sua cara pós orgasmo vindo de um sexo por telefone, abriu a torneira e lavou seu rosto para terminar de despertar. Posteriormente, vestiu a sua melhor roupa para correr e colocou o fone de ouvido, atravessando o corredor do mezanino de seu apartamento novo e desceu as escadas, até encontrar a porta.

Ainda era cedo e Lucy estava em seu décimo sono. Sequer daria falta do irmão e acordar antes de seu organismo achar que devia era uma missão praticamente impossível, principalmente após beber horrores na noite anterior.

Ele riu antes de fechar a porta atrás de si e seguir seu rumo.

Dave não era do tipo que curtia fazer atividade física por prazer. Para ele exercícios físicos deveriam ser algo feito de extrema nobreza por alguém que quer viver longamente e saudável. O seu prazer por correr era mediano, se ele pudesse escolher ser saudável sentado em alguma poltrona lendo algum livro e tomando vinho, certamente ele o faria com gosto.

Toronto era uma cidade agradável. Era completamente diferente dos ares de Denver, com exceção das variações climáticas que eram basicamente parecidas, mas para o terapeuta a sua nova cidade era ainda mais charmosa e elegante. Gostava do ar que circulava ali. Gostava da estrutura arquitetônica moderna e da limpeza impecável que a cidade possuía. Gostava das pessoas. Os canadenses eram todos simpáticos e solícitos, pelo menos quando você precisava deles.

Algumas coisas Dave ouvira da boca de Max quando ele decidiu se mudar para a cidade, no intuito de fugir de tudo. Das lembranças amargas das turbulências com Samara e sua morte e da guerra declarada com os pais dela, precisamente com a mãe de sua ex noiva.

Russell está em Toronto há apenas seis meses. Chegara no Canadá completamente indeciso de seu destino, estava incerto se ficaria na cidade ou se voltaria para Denver ou se simplesmente sumiria do mapa. Tentou se instalar com naturalidade e, agora correndo em volta de seu novo bairro e aproveitando o que a cidade tinha de melhor a lhe oferecer, tinha total convicção de que estava no lugar certo.

Havia alguma razão para ele estar ali e tinha total certeza de que era ela.

Ah, enquanto corria e deixava o suor escorrer sem parar pelo seu corpo, Dave aproveitou para permitir que sua mente vagasse até Marianne.

Ele sorriu.

Pensar em Marianne naquela manhã parecia profundamente agradável.

E era.

Não estava puto por ter perdido algumas horas de seu sono e por ter feito sexo por telefone tal como adolescente com a sua paciente.

Dave estava satisfeito. Marianne havia o procurado, ainda que por telefone, mas ao menos tinha ido atrás dele. De um jeito totalmente diferente o qual ele imaginava, porém tinha valido à pena.

Sentia-se mais ansioso que nunca. E ansiedade não era uma característica comum daquele homem calmo e decidido.

Ele não parava de pensar nela.

Ele queria vê-la.

E ainda era sábado.

— Meu Deus, que horror! — Lucy protestou quando o irmão mais velho encostou-se nela, todo melado de suor.

— Bom dia para você também, mocinha — Dave aproximou-se ainda mais, fazendo-a gritar de protesto.

— Pelo amor de Odin, deixa de ser chato, cara — ela se desvencilhou, irritada. — Você está fedendo.

Dave gargalhou e foi até à sua geladeira para pegar água, observando a irmã mais nova preparar o café da manhã.

— Ficarei mal acostumado quando você ir embora. Passei seis meses acordando com o café pronto no apartamento do Max e você está aqui na minha primeira semana de casa nova, preparando essas panquecas para mim. Isso é covardia.

Lucy revirou os olhos.

— Quem disse que as panquecas são para você, meu adorável irmão?

Dave a encarou, com os lábios entreabertos, encenando uma demonstração de indignação e deu uma outra risada, guardando a garrafa de água de volta em seu refrigerador.

— Como é a sua relação com Maximilian depois do acidente de Samara? Depois de tudo? — Lucy indagou, não evitando a sua curiosidade, impedindo Dave de afastar.

O homem parou próximo à escada e se virou para ela.

— Nós somos amigos de infância, Lucy, e você sabe que Max é um cara do bem. Ele me ofereceu estadia até eu decidir se ficaria aqui ou não. Aguentou dividir a casa minúscula dele comigo até eu encontrar esse apartamento.

A loira assentiu, jogando mais massa na frigideira aquecida.

— Claro que sim. Max é bom demais para carregar o sobrenome que tem.

O mais velho franziu o cenho.

Sabia que Lucy tinha uma implicância com Samara mas sempre esteve certo de que tudo era somente por ciúmes.

— O que você quer dizer com isso?

Lucy arqueou uma sobrancelha, girando a panqueca da frigideira para cozinhar do outro lado.

— Nada além do simples fato de que ele é realmente um cara legal. Não tem nem vinte por cento da personalidade do brasão Norris e isso é interessante.

— Esteja certa que sim. Eu vou tomar um banho pois estou impregnado de suor e muito incomodado.

— Vá! Dará tempo para euzinha passar um café fresquinho.

Dave assentiu, sem desfazer o sorriso curto de seu rosto e subiu as escadas pulando degrau, até alcançar o seu mezanino e caminhar até a porta que levava para o seu quarto.

O seu novo apartamento era moderno e bem espaçoso para um homem sozinho ou um casal que está começando a vida. A construção era nova. As paredes eram brancas e desprovidas de texturas, a sala de estar era bem ampla e conjugada com a cozinha, que tinha a mesma proporção de tamanho. Não tinha sala de jantar e as janelas iam do teto ao chão, dando um toque bem arejado e ainda mais claro para o interior de sua casa. No andar de baixo, também estava instalado o quarto de hóspedes e seu escritório. Bem do jeito que ele gostava. As escadas tinham o formato L e os degraus eram laminados de madeira, que combinava perfeitamente com os móveis planejados e o estofado preto. O mezanino era aberto e no minúsculo corredor estava a porta da suíte principal do flat. Aquele quarto era muito parecido e próximo às lembranças do terapeuta de sua infância e adolescência em Denver. Era grande, masculino e tinha absolutamente tudo que Dave gostava.

Obviamente a mobília já estava ali e ele tinha gostado da cama de casal, mas assim que se mudara, aproveitou a visita de Lucy e a arrastou para ajudá-lo a comprar o enxoval que completaria a sua casa.

Ah, o seu banheiro também era bem espaçoso e atendia perfeitamente as suas necessidades e manias.

Sim, Dave tinha uma mania de organização absurda e odiava espaços pequenos demais. Considerava um guerreiro por ter sobrevivido à experiência claustrofóbica que tivera ao ficar temporariamente com Max.

Só que agora, com uma bancada espaçosa, uma banheira grande o suficiente e um box de chuveiro tomando a metade do cômodo, o homem respirava aliviado. Ele tinha exatamente tudo o que precisava.

Ele retirou a sua roupa encharcada de suor e jogou no cesto de roupas sujas. Agora que morava sozinho teria de aprender a se virar e se familiarizar com a lavanderia, uma parte da casa que ele simplesmente odiava.

Enquanto adentrava em sua ducha fria, anotou mentalmente para estudar sobre uma possível diarista para ajudá-lo nas tarefas de casa e não deixou de pensar nela outra vez.

Marianne despertou por volta de meio dia. Tivera um sono bem tranquilo e pesado ao mesmo tempo, e não deixou de sorrir satisfeita ao constatar que o seu corpo estava relaxado e descansado.

Ela espreguiçou feito uma gata, afastando o lençol fino de seu corpo e permitindo que a brisa gostosa oriunda do mar atingisse a sua pele e gemeu de satisfação. Aquilo era delicioso.

Preguiçosa, obrigou-se a se colocar de pé e tinha ânimo e disposição para tomar um maravilhoso banho na banheira, recheado de sais minerais e uma boa música lenta.

Uma ótima forma de começar o dia.

Ela sequer pensou em pegar o seu celular. Queria não se lembrar do que havia feito durante a madrugada, ainda que não estivesse se sentindo culpada por ter ousado — outra vez.

Enquanto enchia a banheira, Marianne encarava a sua imagem no espelho, suas partes íntimas ainda estavam cobertas com a sua lingerie vermelha e por um segundo pensou se deveria enviar uma foto sua daquele jeito para ele.

Seu pescoço incendiou e ela meneou a cabeça, girando a torneira para parar de encher a banheira, e retirou suas peças, ficando definitivamente nua e adentrou na água quentinha, sorrindo de prazer.

Ela estava aproveitando. O seu apartamento era minúsculo demais para ter uma banheira decente instalada e, as únicas vezes em que ela aproveitava um banho desses, era quando voltava para a sua casa em Boucherville e para lá ela não iria tão cedo.

Pelo amor de Deus!

Não dá para pensar outra vez em William. Não iria fazer isso, não enquanto estivesse aproveitando a sua viagem badaladíssima em Miami.

Estava em êxtase!

Muito relaxada para se preocupar com os seus problemas pessoais.

E pasmem, ela não estava apavorada de vergonha ou de arrependimento por ter ligado para o seu terapeuta às três da manhã.

Quando finalmente sentiu a sua pele enrugar, ela saiu da água e tratou de retirar a espuma de seu corpo, jogando um pouco de água corrente do chuveiro em si e, posteriormente, se arrumou para encontrar com Álvaro para almoçar e aproveitar o segundo dia de evento.

Ela optou por ficar mais confortável e elegante hoje. Quase agradeceu de joelhos pelo seu ciclo ter se encerrado e deu pulinhos de alegria ao descobrir que poderia usar a sua calça branca fresquinha, que combinava perfeitamente com o seu cropped azul marinho de mangas compridas e um decote generoso no vão de seus seios.

Marianne sabia bem como ficar elegante.

Claro que sabia. Ela entendia para caralho de moda.

— Meu Deus, como você está diva! — Álvaro precisou se segurar para não berrar no meio do hall do hotel, após vê-la surgindo em sua visão. — Boa tarde, né amore?

Ela sorriu, seus lábios marcados com um lindo e poderoso batom vermelho.

— Eu bebi horrores ontem. Não consegui dormir direito — ela omitiu. — Felizmente a minha menstruação acabou.

— Ai, que tudo! Pelo menos amanhã nós poderemos pegar uma praia, né querida?

Álvaro ficou empolgadíssimo e gesticulou para que eles começassem a guiar os seus passos até para a área externa do hotel, caminhando sempre um ao lado do outro.

Ele não era idiota.

Marianne estava corada e com um brilho diferente nos olhos. Ele sabia que a sua estilista favorita estava se sentindo bem e feliz. Álvaro sentia-se um verdadeiro anjo por constatar que tivera a melhor ideia ao trazê-la consigo neste evento maravilhoso.

William Dash estava esquecido, guardado debaixo do tapete, afinal de contas.

E Nanne estava feliz. Graças a ele. E Álvaro sequer imaginava o motivo.

Bom, os momentos de distração foram necessários para ela. Marianne ficava encantada com os desfiles e estava conhecendo pessoalmente os grandes nomes e motivos de sua inspiração e de seu interesse pela área.

Realmente estava feliz. Sentia-se bem melhor que na semana anterior e, definitivamente, a sua mente não pensava em firmar algum espaço dentro de si para pensar nas merdas de seu passado.

Entretanto, ela também permitiu que os seus pensamentos voassem para um único ponto de circunferência.

Dave — o seu interior sussurrava o nome dele em seu ouvido, com um tom aveludado, deixando-a imediatamente inquieta.

Ela mordeu os lábios e se lembrou da loucura que fizera durante a madrugada. Tinha amplo conhecimento do que havia feito e sua pele queimava como se ela tivesse transado de verdade com ele.

Doutor Russell — ah, era muito interessante pronunciar o seu nome daquela maneira.

Ela sentiu o formigamento invadir o meio de suas pernas. Respirou aliviada pelas luzes estarem distantes da plateia do desfile e por Álvaro não perceber a sua inquietação.

Marianne tinha um dever a ser cumprido. Ah, sim, ela sabia muito bem qual fora o pedido de seu terapeuta minutos antes de encerrar a ligação e, cogitar a hipótese de vê-lo pessoalmente, já lhe deixava em estado de alerta, totalmente nervosa e ansiosa.

Mas seria somente na próxima sexta. Não entendia o porquê estava apavorada. Deveria não pensar e não sofrer por antecedência e aproveitar ao máximo a sua viagem.

E era exatamente o que iria fazer.

E, a partir daí, a semana voara rapidamente para as duas pessoas.

Em quilômetros de distância, nenhum deles deixavam de pensar um no outro.

Dave aproveitou a companhia da irmã até que ela se reconciliou com a sua companheira e decidiu voltar para Denver ainda na segunda feira. Ao menos ela pôde conhecer o restaurante de Max no final de semana e ainda aproveitou para conhecer o Rebel, mesmo não gostando nadinha de ambientes daquele estilo.

Lucy se fora e o psicólogo tinha a missão de se acostumar com a sua nova rotina no melhor estilo solitário, livre e desimpedido.

Gostava da solidão, não iria mentir para si mesmo. Seu novo apartamento era aconchegante, não tinha como negar. Mas ele simplesmente odiava ter de acordar cedo e preparar um café só para ele. Para isso existia tanto Starbucks quanto qualquer outra cafeteria próxima ao seu consultório, portanto, não iria ousar sujar a sua impecável cozinha apenas para preparar algo para si.

Tinha outras ideias em mente e ele estava fervilhando.

A sexta feira estava quase próxima e estava eufórico.

Há muito tempo não se sentia assim. E queria, inquietamente, que Marianne tivesse conhecimento de seus desejos e vontade de estar com ela.

Ele queria conhecê-la.

A desejava ainda mais e não parava de pensar na madrugada do último sábado.

Deveria preparar algo para trazê-la ao seu apartamento. Não podia simplesmente exigir uma conversa seca em seu consultório e levá-la em sua cama posteriormente.

Quer dizer, não estava com intenção de ter uma conversa seca. Tinha em mente a ideia de deixar tudo às claras antes de propor-lhe algum acordo de interesses mútuos para aquele tipo de relacionamento.

Ah, as suas intenções de relacionamento.

Dave deveria ser cuidadoso e categórico. E amplamente sincero.

Só mais dois dias, e a conversa viria a calhar.

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