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Flávia

Já era de manhã e eu estava à procura do Miguel, para almoçarmos juntos, quando chego perto de um cômodo e escuto duas pessoas, discutindo. Eu não iria ouvir nada. Passaria direto. Até porque é feio ouvir as conversas dos outros. Mas uma coisa me chamou atenção, na verdade uma não, duas; o fato de que uma das pessoas que estavam discutindo era o Miguel e a outra foi de eu ter acabado de escutar o meu nome, no meio da conversa.

Me encosto mais na parede, para que ele e a outra pessoa que até agora eu não reconheci a voz, não me vejam e que eu consiga os escutar mais detalhadamente.

É sério que nós vamos continuar brigados, só por causa de uma garota, só por causa da Flávia? Era a voz do Cauã. Sim, com certeza é ele. Pelo que eu ouvi direito ele diz que eles ainda estão brigados; eu pensei que essa fase já havia se passado, mas pelo visto, não.

Você está se referindo a minha namorada, sabe disso, não sabe? Miguel o responde, com agressividade na voz.

Nós somos amigos desde criança e nunca uma coisa nos abalou tanto como agora a voz do Cauã se eleva cada vez mais, como para ficar da mesma altura que a do seu "amigo".

Eu sei que somos amigos desde criança, não precisa ficar me lembrando disso o tempo todo dava para perceber o desprezo na voz do Miguel.

É só por causa daquilo que eu falei naquela festa... naquela maldita festa, que se você não ficasse com ela, já que você pegava todas, eu ficava? Essa pergunta do Cauã faz com que eu comece a suar.

Pois eu acabo de me lembrar que nessa festa o Miguel só estava no bar, bebendo, ou até mesmo com os seus amigos conversando, enquanto que eu estava dançando, loucamente, e quando dei por mim ele já beijava o meu pescoço e consequentemente iria me beijar, se caso a Jade não tivesse interferido. Essa minha observação, mais as palavras do Cauã, fazem realmente sentido.

Você sabe muito bem que isso começou assim, a partir do momento que você falou isso para mim, então não me venha com conversinhas Miguel o responde agora com uma certa calmaria em sua voz.

Eu não achei que você fosse levar tão a sério, eu já tinha bebido umas, certamente falei algumas bobagens, mas isso não importa, é passado, você sabe que eu gosto dela, mas ela te escolheu. Eu só quero saber se você realmente a ama ou se isso tudo que você está fazendo é só para esquecer a Ester ou pior, só para ter a Flávia como um troféu, o seu troféu? Cauã vai aos poucos abaixando a sua voz, chegando a ficar igual o Miguel, bem calmo.

Só que eu não estava nada calma.

E nessa hora eu já não aguentava mais ouvir qualquer coisa que o Miguel viesse a dizer. Eu não queria saber a sua resposta. Não queria me magoar ainda mais do que já estava magoada.

Era isso... desde o começo fora isso, agora tudo, simplesmente tudo se encaixava; os dois pegando na minha mão no dia em que fomos ao cinema. O Miguel mal falando com o Cauã. Ele por sua vez ficando estranho depois que eu comecei a ficar com o Miguel.

Cauã...

O meu amigo gosta de mim de verdade, eu cheguei até a suspeitar que ele gostava da Heloísa, do jeito como ele olhava e conversava com ela, podia jurar que eles teriam algo, mas não, ele gosta é de mim e só agora eu vejo que aquela nossa conversa de ontem eu não imaginei coisa alguma, ele realmente disse, na minha cara, que gostava de mim. E eu fui bastante cega para não ver isso, na verdade eu fui cega duas vezes; primeiramente por isso e segundamente ter me apaixonado por um cretino que só quis ficar comigo para aumentar o seu ego. Como eu não pude perceber essas duas coisas antes?

Idiota.

Idiota.

Idiota.

E eu ainda cheguei a dizer a mim mesma que ele não era aquele tipo de garoto que eu conheci no começo, e realmente ele não era, só que eu me esqueci de dizer que ele ainda continua sendo um grande canalha por fazer alguém se apaixonar por ele, sendo que tudo sempre foi uma mentira. E é aí que uma coisa aparece a minha mente; eu achava que pelo fato de sermos namorados, contaríamos tudo um para o outro, mas eu estava completamente enganada, pois ele nunca chegou a me contar isso, me contar sobre esses seus planos.

Como eu fui idiota ao ponto de me deixar enganar novamente... eu não posso mais ficar aqui. Não posso!

Então sigo direto para o quarto, em que eu estava hospedada, e me tranco; por sorte as meninas não estavam aqui, eu poderia chorar à vontade, deixar que as lágrimas finalmente descessem pelo meu rosto, as que eu estava aguentando muito, segura-las.

Mais é claro, a Ester, como eu não pude perceber isso antes? Digo para ninguém em particular ao mesmo tempo em que me olho pelo espelho do banheiro. Eu sabia que a reconhecia de algum lugar, ela é a garota da foto que eu vi na primeira vez em que entrei no quarto do Miguel. Ela é a sua ex-namorada essas últimas palavras pesam muito no meu âmago; não por ela ser mesmo a ex dele, a ex que o deixou, mas sim porque ela está aqui, de volta, e se ela voltou, é porque alguma coisa ela quer.

Várias e várias coisas se passam na minha mente, até que uma ideia, em meio a tantos pensamentos confusos, surge.

Vamos para nossa casa agora a tarde. Falta pouco tempo. Eu aguento. Vou disfarçar como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse ouvido nada. Absolutamente nada.

Flávia? Miguel bate na porta do banheiro e eu logo olho para ela à espera do que ele vai falar. Tomara que ele não tenha me visto naquele cômodo. Vamos almoçar? Pergunta.

É isso. Almoçar. Como se esse fosse o menor dos meus problemas, agora.

Já estou indo consigo dizer enquanto limpo as minhas lágrimas que ainda caiam pelo meu rosto, sem parar. Eu tenho que dar logo um jeito nisso, senão ele pode perceber e me perguntar algo. E eu ainda não estou pronta para questiona-lo, na verdade ainda estou processando tudo o que acabei de ouvir.

Olho para o espelho mais uma outra vez e proferi essas palavras na minha mente, como se fosse um mantra: "tenho que ser forte". E assim abro a porta.

Aconteceu alguma coisa? Pergunta bem perto de mim, com a sua mão em meu rosto. Você está com os olhos vermelhos comenta.

Você nem consegue imaginar por que eu esteja assim, não é?

Não é nada abaixo minha cabeça para que a sua mão deixe o meu rosto. Só estou com saudades de casa. Saudades da minha mãe e do meu pai, só isso dou o meu melhor sorriso que eu consigo fazer nesse momento.

Não se preocupa, nós só vamos almoçar e partiremos coloca seu braço em cima do meu ombro, e eu não gosto nem um pouco disso. O melhor agora é eu manter distância, mas não tanta para que ele não perceba. Eu também estou com saudade dos meus pais, mas vamos ver eles daqui a algumas horas sorrir.

É, você está certo tiro sua mão do meu ombro e quando percebo que fiz isso, sem querer, pego nela novamente, a segurando.Vamos almoçar começo a descer as escadas, puxando o Miguel pela a sua mão.

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