Flávia

— Aqui é lindo, Miguel — comento com ele assim que chegamos na praia. Foram apenas poucos minutos andando, ainda bem que o caminho era fácil. Vejo ele expirar e inspirar profundamente, bem tentando se reconectar com esse lugar. Deixo de olha-lo para encarar as ondas que se formam no mar, para no final, já perto da areia, elas morrerem por completo. Fecho meus olhos. Eu sempre me sinto tão viva e revitalizada quando estou numa praia. Segundos depois sinto uma mão apertar a minha. Viro meu rosto para o lado.

— Eu sabia que você ia gostar daqui — seu sorriso vai se abrindo aos poucos, e eu percebo que assim como eu ele também gosta muito desse clima, já que no seu rosto eu via o quanto ele estava feliz. Sua mão livre vai de encontro ao meu rosto e quando ele o segura, traz meu rosto para mais perto do seu, depositando um beijo bem delicado nos meus lábios. E quando ele se afasta eu faço uma cara para ele dizendo que não foi o suficiente, que eu quero mais. Ele sorrir por isso e seus olhos se fixam nos meus, intensamente, e quando ele já estava se aproximando de mim novamente, ouvimos passos atrás de nós, o pessoal já estava chegando. Então paramos qualquer coisa que fôssemos fazer a seguir, não queríamos público.

Todos pararam ao nosso lado e olharam por alguns segundos o mar, igual como eu estava fazendo há minutos atrás antes de fechar meus olhos, do Miguel me beijar e eu pedir por mais. Nossa, como eu estava necessitada dos seus beijos, calorosos.

— Vocês vão ficar só aqui parados, mesmo? — Jade pergunta, fazendo-me parar de pensar nisso. — Vamos nadar — ela nos incentiva olhando e apontando para frente.

— Vamos! — Respondo mais que depressa, com certeza a água irá me acalmar, por completa. Espero realmente que isso consiga resolver o meu problema.

— Só se for agora — Miguel diz e eu me viro para olha-lo, quando os nossos olhares se encontram ele pisca para mim. Acho que o mar não vai me acalmar não.

Vejo quando ele e os outros começam a retirar as suas roupas, ficando só com a roupa de banho, colocando as suas blusas, shorts e bermudas na areia, atrás deles. Quando o Miguel acaba ele olha para mim, dos pés à cabeça, com as sobrancelhas franzidas, e é só então que eu percebo que ainda estava com a minha roupa — mas como tirar a minha se quando ele começou a tirar a sua blusa, eu vi os seus gominhos? Não teve jeito. Eu comecei a babar pelo seu corpo. Não tenho culpa — ele abaixa a sua cabeça para ver aonde eu estava olhando, com tanto desejo, e quando ver o que é começa a rir, só que não por muito tempo, já que ele mesmo me diz para mim tirar a minha roupa, e eu fico pensando: tirar minha roupa? Ele ver a confusão no meu rosto e olha ao redor. Eu faço o mesmo movimento que ele, vendo todos ali só de biquíni, então rapidamente retiro minha regata e meu short jeans sem que ninguém perceba.

Assim que coloco minha roupa na areia, a Cecília olha para todos nós e pergunta:

— Vamos entrar todos juntos? — Todos concordaram com a cabeça. — No três, então.

— Um — Cecília e o Otávio, dizem juntos.

— Dois — Jade, Ben, Cauã e o Raul, completam.

— Trêees — quando eu e o Miguel terminamos a contagem, todos nós corremos em direção ao mar como se nossas vidas dependessem disso. Vejo quando minhas pernas se chocam com a água e meus pés sentem a areia de baixo d'água, mais mole. Adentro mais no mar e olho ao redor, vendo cada pessoa começar a mergulhar para um lado; a minha direita, vejo o Miguel indo para perto da sua irmã, a minha esquerda a Cecília e o Otávio conversavam com o Cauã e o Raul, até que ao deixar de olhar para eles e olhar para frente, vejo o Ben vindo para onde eu estava.

— Aqui é bem legal, não é? — Ben faz uma pergunta, na verdade ele estava mais afirmando do que perguntando algo. — Estou gostando daqui.

— Eu também estou — respondo.

— Que pena que é só um final de semana — ele olha para onde estávamos antes, com o olhar perdido. Entendo muito bem o que ele quer dizer com isso; só dois dias, dois dias em que ele vai poder olhar a Jade, à vontade.

— Sim, e falando nisso você só tem esse final de semana e a próxima semana para ficar perto dela, deveria aproveitar mais — jogo uma verde para ver se ele fala algo a respeito disso. Não pense que eu me esqueci que você beijou a minha amiga, irmãozinho.

— Dela quem? — Se vira para mim, rapidamente, com as sobrancelhas franzidas, não entendendo muito bem o que eu quis dizer, ou se fazendo que não entende.

— Da Jade, né? — Reviro os olhos ao falar isso. — Pensa que eu não vejo os olhares de vocês — ele se espanta quando eu falo isso, mas depois relaxa o seu corpo e um largo sorriso aparece em seu rosto.

— Tenho que lhe confessar uma coisa — ele olha para baixo, para frente, para os lados, mas menos para mim. E isso me intriga. — Depois que nos beijamos, eu não consigo parar de pensar nela — ele a segue com o olhar, cada movimento que ela faz; seja nadando ou conversando com o Miguel, e então ele solta a seguinte frase: — Ela é uma garota incrível... — talvez ele não tenha reparado que falou isso, já que o mesmo falou bem baixo, como se fosse só para ele mesmo, mas eu consegui ouvir muito bem, e ao mesmo tempo em que essa frase me deixa feliz, ela consegue me deixar triste.

— Ela é mesmo — comento. Ele vira o seu rosto de encontro ao meu e sorrir, vendo que eu o havia escutado. E então eu faço a pergunta, que devido eu ter escutado aquela frase, me deixou triste. — Mas e a Heloísa, já se esqueceu dela? E a promessa que vocês tinham feito um para o outro? — O meu irmão nunca mentiu para mim antes, e eu espero que ele seja sincero com o que vai falar a seguir, ele assim como eu ama a Heloísa, e sabe muito bem como eu fiquei quando eu tive o meu coração partido.

— É, tem isso também... — abaixa a sua cabeça e olha o seu reflexo nas águas do mar. Ele respira fundo depois de prosseguir, minutos depois. — Mas acho que estou me apaixonando pela a Jade — novamente ele me encara, no seu rosto havia confusão; ele queria estar feliz como estava a minutos atrás ao falar da Jade para mim, só que agora devido ao fato de eu ter mencionado a Heloísa na conversa ele ficou pensativo, como se isso de estar apaixonado pela a Jade fosse errado, como se fosse uma forma de traição, mesmo que eles não tivessem mais juntos, eles prometeram esperar um ao outro. E pelo visto ele acha que vai quebrar essa promessa.

Eu digo a ele a única coisa que eu poderia dizer nesse momento.

— Eu torço pela a sua felicidade, irmão — digo do fundo do meu coração e ele sabe o quanto isso é verdade. Ele me dar um meio sorriso por conta isso. Pego em seu ombro como se fosse um certo tipo de apoio, e prossigo com as minhas palavras: — Só que se essa felicidade for com a Jade você tem que falar logo com a Heloísa, senão ela vai ficar te esperando para sempre... — comento isso para relembra-lo aonde ele está se metendo, além de que eu não quero que a minha amiga sofra mais que ela já sofre, ao pensar e esperar por ele. Ele tem que ser honesto consigo mesmo e com ela.

— Eu sei disso — confirma com a cabeça — eu vou ver primeiro o que rola entre mim e a Jade. Mas não se preocupe, se nos firmamos, eu vou conversar com a Heloísa — pega na minha mão que estava debaixo d'água e a levanta. — Eu prometo que eu vou fazer de tudo para não magoá-la, mas temos que ver que não mandamos no nosso coração, Flávia.

Eu não sei o que lhe dizer agora, nem ao menos sei se lhe abraço ou faço alguma coisa assim do tipo; essas suas palavras foram tão profundas que eu não sei que tipo de ação tomar.

— Ben — Cauã grita interrompendo esse nosso momento "dúvidas", já que era exatamente sobre isso que conversávamos. Saímos do transe que nós mesmos havíamos criado e mesmo que ele tenha chamando só o meu irmão eu acabei olhando também. — Vamos jogar? — Pergunta.

— Já estou indo — Ben o responde, gritando de volta.

— Parece que vocês ficaram bem amigos — comento o que desde o começo eu percebi.

— Sim, eu considero muito o Cauã — ele balança a cabeça, rindo, tentando deixar aqui, no mar, essa nossa conversa. — Você vai ficar aqui ou volta comigo? — Pergunta.

Olho ao redor e vejo que só nós estávamos aqui, no mar. Todos já haviam voltado para a areia, e eu me pergunto que horas isso aconteceu? As meninas estavam colocando uma toalha na areia e os meninos estavam tirando uma bola de dentro da bolsa. Por isso chamaram o Ben, eles estão formando um time, pequeno, mas vai ser só para passar o tempo.

— Vou voltar com você — respondo, percebendo que se eu fosse continuar aqui, eu ficaria sozinha.

Saímos do mar.

Ele vai para onde os garotos estão, para jogar bola com eles, e eu caminho em direção as minhas amigas, para conversar com elas.

Me deito, ao lado da Cecília, em cima da toalha que elas haviam colocado.

— Querida, me passa a bola — ouvimos o Otávio dizer, mas sabíamos muito bem a quem ele se referia. A bola tinha parado bem na nossa frente, então a Cecília se levanta e a pega, jogando logo em seguida para eles. E ela tinha um bom arremesso. Quando ela ver que eles pegaram e começaram a jogar, ela se junta a nós.

Estávamos conversando, tranquilamente, quando de repente a bola é arremessada, de novo, só que diferente da vez anterior, dessa vez ela quase bateu no nosso rosto.

— Desculpa, garotas — meu irmão diz assim que pega a bola e já sai de perto de nós, mas sem antes soltar uma piscadela para a Jade, da qual cora instantaneamente e vira o seu rosto para o lado aposto a ele. A Cecília não chegar a notar isso. Mas eu sim notei, e não vou deixar essa chance passar despercebida.

Tenho que ver se ela também gosta ou sente algum interesse pelo meu irmão, assim como ele sente por ela.

— Então, eu sei que já se passou alguns dias, mas... você e o Raul não estão mais juntos, certo? — Faço essa pergunta para ela, assim que a mesma fica mais relaxada com a gente.

— Certo — balança a cabeça, afirmando. — E acho que você já deve saber o motivo — ela deixa de me olhar para olhar outro ponto especifico em que eu não estou. Sigo o seu olhar e vejo que ela olhava para o meu irmão correndo e sem camisa.

— Espero que dê certo vocês dois — digo me lembrando se a felicidade dele for com ela mesma. Porque se for eu vou amá-la como cunhada, isso é obvio, o que só me deixa triste é se caso eles ficarem juntos mesmo, como a Heloísa vai ficar nessa história? Devastada.

— Espera que dê certo você com quem, Jade? — Cecília pergunta, com uma sobrancelha arqueada enquanto presta atenção nessa conversa, ou pelo menos tenta entender, já que ela olha para nós duas como se conversássemos em alguma língua diferente da sua, da qual ela não entende nada.

— Da Jade com o meu irmão — digo e a Cecília franze as sobrancelhas, como se com esse meu comentário complicasse ainda mais as coisas, ela não estava conseguindo ligar uma coisa à outra e foi aí que eu me lembrei, a Cecília e o Otávio não sabiam, porque eles não foram para a festa em que a Jade e o Ben, se beijaram. — Eles se beijaram — espero que com isso ela entenda o que eu quero dizer.

— Você ficou com o Ben? — Pergunta para a Jade e a mesma só concorda com a cabeça, com um alegre sorriso no rosto. — Mas como foi que isso aconteceu? — Ela estava completamente espantada devido essa informação.

— É uma longa história — Jade lhe responde, rindo.

— Você pode me contar depois se quiser, mas eu quero saber — Cecília pisca para ela.

— Eu vou contar, pode deixar — ela começava a ficar corada novamente e abaixa o seu rosto para o esconder com as mãos.

— Eu também tenho uma coisa para contar para vocês... — Cecília comenta, de repente.

— Conta aí, então — a incentivo. A Jade levanta a sua cabeça, para também saber do que essa notícia se trata.

— Eu... — Cecília continua, mas logo ela é interrompida.

— Vamos voltar para casa, garotas, já está ficando tarde — Miguel diz ao chegar perto de nós. Se ele estivesse mais longe, ela com certeza continuaria, mas como ele estava ao nosso lado, ela decidiu parar. Espero que ela conte depois.

Então nos levantamos. Recolhemos a nossa toalha e entregamos a eles, para colocarem também dentro da bolsa, para ficar junto da bola. Em seguida voltamos pelo mesmo caminho que viemos, indo para casa.