50
Miguel
No outro dia assim que me acordo estico meu braço para pegar meu celular que está em cima da escrivaninha — o cansaço e o sono eram tantos que mesmo tendo dormido por mais de onze horas eu não havia conseguido me recuperar da noite anterior, até porque enquanto eu estava na festa vez ou outra quando a música acabava eu ia em direção ao barman e pedia para ele encher o meu copo com mais uma dose da minha bebida preferida — então luto para consegui alcança-lo e assim que o pego, coçando um pouco meu olho para poder enxergar melhor sendo que a claridade, por conta da janela aberta, com certeza foi a mamãe que abriu, não está me ajudando em nada, mas assim que espero por alguns segundos a ardência passar, desbloqueio a tela do celular e vejo que já passa do meio-dia. Suspiro. O lençol enrolado ao meu corpo me chama para que eu deite na cama novamente e adormeça aconchegado a ela. Queria eu poder fazer isso, mas acabo de me lembrar que a Flávia e o Ben dormiram aqui e que devem estar só a minha espera. E é esse pensamento que me dar forças para levantar da minha cama macia e convidativa.
Sigo para o banheiro e lá dentro escolho tomar banho com uma água bem fria, dessas que servem para tirar a ressaca, pois é disso que eu estou precisando nesse exato momento. Me arrepio quando a água bate no meu rosto e desce pelo meu corpo me limpando e renovando as minhas forças, por completo. Ao sair do mesmo, depois de passar alguns minutos lá me refrescando depois de me acostumar com a água gélida sobre o meu corpo, vou em direção a cômoda e tiro de dentro dela uma bermuda branca e uma blusa branca, começando a me vestir. Em seguida, ao me ver como estou no espelho, saio do meu quarto.
Assim que desço as escadas, vejo os meus pais na sala assistindo a algum filme que eu não consigo reconhecer, até porque a minha mente não está focada nisso e sim na minha namorada e no seu irmão, se já foram ou não para casa deles.
— Bom dia, mãe. Bom dia, pai — digo, chamando a atenção deles logo de cara, para ver se eles conseguem me dar a informação de que eu tanto preciso saber.
— Bom dia, filho — minha mãe diz me lançando um sorriso, confortante.
— A sua namorada está na cozinha com o irmão dela e com a Jade — meu pai comenta me indicando a cozinha com a cabeça, como se eu não soubesse aonde ficava, mas não ligo muito para isso, pois logo parto em direção pra lá. Era exatamente isso que eu queria ouvir — por ser tarde pensei que eles já tivessem ido para a casa.
Ao chegar na cozinha vejo que eles comiam e conversavam, animadamente, chegando até a passar de vez em quando alguma comida para o outro, como: uma jarra de café, de leite e até mesmo pães e bolos. Observo um pouco eles, se divertindo, mas ao puxar para fora do meu bolso meu celular para olhar as horas novamente, noto que cada vez vai ficando mais tarde, então descido interferir na conversa deles, mesmo não gostando muito disso.
— Eu vou só comer alguma coisa bem rápido, depois irei deixar vocês, está bom assim? — Me sento em uma cadeira ao lado da Flávia e da Jade e mais que depressa pego um copo de vidro e despejo leite dentro dele. Feito isso logo opto por comer pão, já cortando o mesmo e colocando dentro uma fatia de queijo e presunto. Assim que levo o pão a boca para lhe dar uma boa mordida, vejo que todos eles pararam de conversar e olhavam para mim, confusos, cada um franzindo a sobrancelha e eu me pergunto porque que eles estão fazendo isso, se o que eles deveriam estar fazendo agora e depressa era terminar o seu lanche, pois é exatamente isso que eu estou fazendo.
— Não precisa se preocupar, cara — Ben é o primeiro que se pronuncia, tirando o seu copo dos lábios, que eu vejo que é suco de laranja, para colocá-lo em cima da mesa. — Nos acordamos agora. Pode comer sossegado, não há porque ter pressa — balança a sua cabeça para os lados e as suas palavras fazem com que eu diminua mais o meu ritmo, que ao perceber agora estava mesmo bem acelerado, por isso as caras confusas em direção a mim. Mas o que eu posso fazer, eu não sabia que eles tinham acordado a pouco tempo e que não estavam nem um pouco preocupados, com o que a mãe deles fosse falar quando chegassem em casa, na verdade eles estavam bem relaxados. Estranho.
E o meu questionamento é respondido a seguir, pela a Flávia:
— Não se preocupe, estou vendo pela a sua cara que você está pensando sobre isso, mas nós já ligamos para a nossa mãe avisando que vamos chegar mais tarde em casa — sua mão cobre a minha e eu sorrio a vendo comer um pedaço de bolo de chocolate, chegando a ficar com um pouco de cobertura do mesmo no lado esquerdo de seus lábios, mas que rapidamente a limpa com o dorso de sua mão. Solto uma risada baixinho por conta disso, ainda bem que ninguém ouviu e percebeu o que eu percebi, só eu e ela testemunhamos isso, já que as outras pessoas ao nosso redor estão só se encarando. Então mesmo que a minha irmã minta ou me esconda dar para perceber, desde ontem, o clima que sempre acaba se instalando quando ela e o Ben estão compartilhando do mesmo espaço. Eu só espero que ela não saia com o coração partido, mas isso eu só saberei mais tarde quando conversar com ela.
Deixo de olhar para eles, que já nem notaram mais a minha presença ali, e volto a encarar a Flávia, lhe respondendo:
— Tá bom — dou de ombros e abaixo minha cabeça para olhar o meu lanche e noto que até agora eu não havia mexido em nada; o copo de leite ainda estava com a mesma quantidade que eu havia colocado e o pão que na hora em que eu ia come-lo eu vi como eles me olhavam, então mais que depressa, com a minha barriga suplicando por algum alimento, levo meu pão a boca e finalmente dou uma mordida no mesmo, o saboreando. Em seguida volto a falar com a Flávia. — Vocês que sabem a hora que querem ir — alterno meu olhar a ambos e noto que o Ben já não olhava mais para a minha irmã, porém com um sorriso nos lábios, ele concorda com um mexido de cabeça com as minhas palavras. Depois de nos acertarmos, começamos a conversar, normalmente.
Já era uma hora da tarde quando eu fui deixar eles dois em casa. O caminho todo ficamos conversando, comentando o quanto foi bom lá na balada, o Ben dizendo que já amava aqui — mas isso eu já suspeito porque seja, porém, não quero chegar a imaginar coisas que não sejam verdades mesmo — e ao chegar na casa deles, os mesmo se despedem de mim com um aceno, a Flávia um pouco diferente, já que aproxima o seu rosto do meu e me beija, rapidamente, logo me agradecendo pela noite passada, seguida de uma piscada de olho e eu entendo muito bem o que ela quis dizer. E assim que vejo eles entrando em casa, dou a volta com o carro e mais que depressa volto para a minha.
Quando chego em casa e passo pela porta, noto que ao chegar na sala não vejo nem a minha mãe nem o meu pai, que até algumas horas atrás estavam aqui assistindo ao um filme, e ao invés disso, sentada bem no lugar deles, estava a Jade. Ótima hora para ter aquela conversinha.
Me aproximo mais dela, a mesma não parece notar a minha presença ou se faz que eu não estou aqui, já que a sua atenção está toda atraída ao que se passa na televisão e ao virar o meu rosto para saber o que tanto ela olha, atentamente, balanço minha cabeça para os lados, vendo que é um programa de televisão qualquer. Assim que me sento ao seu lado no sofá, antes mesmo dela virar o seu rosto para mim encarar, lhe faço uma pergunta:
— Nossos pais estão em casa?
— Não, eles saíram — vira o seu rosto para mim. — Você quer me perguntar alguma coisa? — Arqueia uma sobrancelha. Ainda bem que ela jogou limpo, desde ontem que ela está me fazendo essa pergunta, só que ao contrário de ontem dessa vez eu não vou deixar para mais tarde, está só nós dois aqui, não tem que se preocupar se caso os nossos pais cheguem a ouvir algo, já que nem mesmos estão aqui. Eu só espero que ela seja bem sincera com a pergunta que eu vou fazer a seguir, já que ela quer essa conversa tanto quanto eu.
— Sim, eu quero. — Digo determinado ao mesmo tempo em que franzo minhas sobrancelhas em sua direção, a olhando bem sério, como para intimida-la. — O que diabos você tem na cabeça para beijar um estranho?
— O Ben não é um estranho! — Balança a sua cabeça para os lados e quando para, olhando para mim novamente, consigo ver um sorriso, bem alegre, posto em seu rosto.
Ah, não...
— Não agora, que você já o conhece, mas antes ele era — explico para ela o meu ponto de vista, o que eu acho disso tudo, mas do jeito que ela está enfeitiçada acho pouco provável que ela possa me dar ouvidos. — O que aconteceu? Você brigou com o Raul e quis tipo... se vingar, beijando um desconhecido? — Pergunto isso, pois é a única coisa que me vem à cabeça, é a única explicação que eu tenho para isso. E eu espero estar certo, porque se os meus pensamentos estiverem errados eu já não sei mais de nada.
— Não foi isso que aconteceu, não totalmente... — responde, deixando de me olhar para encarar as suas mãos, que estão entrelaças, em cima de seu joelho, como se estivesse perdida em pensamentos. Ela respira fundo e logo começa a falar: — Eu discuti ontem com o Raul, mas eu não queria me "vingar" dele — vira o seu rosto rapidamente para mim, com lágrimas não derramadas em seus olhos. Minha irmã estava sofrendo. — Só aconteceu e pronto — uma lágrima cai e eu me pergunto por quem ela está chorando; se é pelo Raul, por ter feito isso com ele, ou se é pelo Ben, pois vai que talvez, assim como ela, ele tenha alguém.
Descido lhe perguntar a primeira opção.
— Você contou para o Raul? — Minha mão vai de encontro a sua, e eu a entrelaço com a dela. Ela sabe muito bem que pode contar comigo para o que der e vier. Sempre fomos assim. Vendo que isso não estava adiantando de nada, me aproximo mais dela e faço com que ela deite a sua cabeça em meu peito. Ela acalma a sua respiração aos poucos.
— Não sei se devo contar ou não, mas eu pedi um tempo... — responde a minha pergunta, e depois disso eu não sei mais o que falar, o que faz com que o silêncio reine sobre nós. Mas esse tempo foi bom, pois tanto eu como ela tínhamos que absorver essa informação. Acho que depois daqui vou falar com o Raul, saber como ele está, mesmo que eles não tenham mais um caso — já que eu não sei realmente o que eles têm — eu espero que a amizade deles prevaleça, ou será que até isso vai se desmanchar?
— E ele, disse alguma coisa? — Pergunto para quebrar o silêncio, até porque eu também queria saber o que o meu amigo achava sobre isso, antes mesmo de telefonar para ele.
— Ele aceitou — diz simplesmente, levantando a sua cabeça para me olhar nos olhos. — Ele acha que é pelo fato de nós termos discutido — eu queria saber mais sobre essa discussão, saber o que levou a eles brigarem, pois isso é coisa que não acontece com eles, mas descido não perguntar nada, já que isso só diz respeito a eles, então só eles podem resolver.
— E o Ben? — Agora finalmente pergunto a segunda coisa que está martelando na minha mente, desde que a vi chorar. Já havia acabado de perguntar sobre o Raul, agora vai ser sobre o Ben; os olhares juntamente com os sorrisos, com certeza para a minha irmã foi mais que um beijo, agora eu preciso saber dele.
— O que tem ele? — Me olha sem entender ou se faz que não entende para que eu não perceba algo, que talvez ela esteja escondendo.
— Está sentindo alguma coisa por ele ou foi só um beijo? — Lanço a pergunta sabendo que com toda a certeza é a primeira opção. A minha irmã não me engana. Mesmoque as vezes ela queira.
— Não sei dizer ao certo, mas sei dizer que eu fiquei balançada — abaixa a sua cabeça para falar sobre isso. Em seguida dar uma risada, contida.
Para não pensarmos mais sobre isso, já que é muito informação para mim digerir; ela acabou de dar um tempo com o Raul, e ficou balançada, pelo irmão da Flávia, que conheceu ontem. Descido então contar para ela os meus planos para as férias, já que só tem essa semana de aula.
— Eu estava pensando em convidar todo mundo para ir a nossa casa de praia, assim que ficarmos de férias, que tal?
— É uma ótima ideia — seus olhos brilham em direção a mim, o que me deixa extremamente feliz, pois até minutos atrás ela estava chorando.
— Mas você vai ficar bem? — Pergunto, e ela franzi as sobrancelhas, confusa. Volto a explicar: — Porque eu vou convidar o Raul e o Ben, então se for uma barra para você, eu enten... — ela imediatamente me interrompe.
— Eu vou tentar lidar com esse problema... — sua mão aperta mais a minha, dizendo com o seu olhar que vai ficar tudo bem. — Pode convidar eles — e eu confio em suas palavras.
— Certo. Então assim que ficarmos de férias, já na sexta-feira, eu vou convidar todo mundo. — Encerro o assunto e depois nossa atenção fica voltada ao que se passa na televisão, que por sorte agora está passando uma programação interessante, diferente daquela que ela estava assistindo assim que eu cheguei aqui.
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