41
Flávia
Hoje nem acordada pelo despertador eu fui de tão ansiosa que estou.
Meu irmão vem hoje, nem estou acreditando nisso. — Me levanto da cama e comemoro com uma dancinha. Estava feliz. Muito feliz.
Vou ao banheiro. Tomo um banho. Visto um vestido xadrez, vermelho com preto, do qual há um cinto para amarrar na cintura. Assim que dou o laço, me olho no espelho para me ver como fiquei nele. Faz muito tempo que eu não visto esse vestido e olhando para ele, o mesmo ainda serve perfeitamente em mim. O Ben havia me dado ele de presente de aniversário, então unindo o útil ao agradável, já que vou vê-lo hoje, nada melhor do que ele me ver com essa peça de roupa. Pego minha bolsa que estava em cima da cama e saio do meu quarto. Desço as escadas indo para a cozinha e encontro minha mãe sentada a mesa, já comendo um pedaço de bolo.
— Bom dia, mãe — me curvo para depositar um beijo em sua bochecha, assim que passo por ela, da qual sorrir para mim.
— Bom dia, meu amor. Está ansiosa pela chegada do seu irmão? — Pergunta assim que puxo a cadeira para me sentar ao seu lado e ela logo passa para mim a jarra de suco de laranja. Pego de sua mão.
— Estou sim, acho que não vou nem conseguir prestar atenção nas aulas direito — sorria tanto imaginando o momento em que vou vê-lo novamente, que se eu não me concentrasse no suco que estava despejando no copo de vidro, ele poderia muito bem transbordar e me molhar toda. O que seria um desastre.
— É uma pena saber que vão ser apenas só duas semanas... — um meio sorriso aparece em seu rosto assim que ela estica a sua mão para poder pegar na minha. Pego na sua. Olho por um momento nossas mãos assim, juntas, unidas, e volto novamente a olha-la nos olhos.
Mamãe sempre foi muito apegada aos seus filhos e ao saber que o seu primogênito iria para um outro lugar para fazer faculdade, um tanto mais longe de onde morávamos, sendo três horas de viagem, acabou sofrendo muito com isso. As poucos ela foi se acostumando com a sua partida, que em breve chegaria. E quando ele foi para Natal, ela chorou por dias, mas sabia que isso fazia parte do seu futuro, o que a confortava era saber que ele ia conseguir se virar muito bem. Aliás ele sempre soube. E quando eu contei para ela que tinha passado na faculdade, porém em um outro lugar, no caso Recife, ela não pensou duas vezes e me acompanhou. Ela não aguentaria se distanciar dos seus dois filhos, pelo menos não agora.
— Mas pelo menos teremos a nossa família junta por pelo menos essas duas semanas. — Tento conforta-la de alguma maneira, fazendo com que ela não chore aqui, na minha frente, porque se ela fizer isso, com toda a certeza eu vou fazer também. Então antes de me levantar para me despedir dela, lhe lanço um olhar cúmplice. — Ok, agora eu tenho que ir — beijo novamente a sua bochecha e saio de casa.
Caminho até a parada de ônibus e assim que ele vem, o pego. Chego na faculdade. Sigo para a sala e me sento na cadeira à espera do professor chegar. Quando vejo a Jade entrar na sala e acenar para mim, vindo na minha direção.
— Fláviaaa — diz ao chegar perto de mim, bem feliz, e logo depois me abraça.
— Jadeee — digo o seu nome com a mesma intensidade que ela disse o meu, assim que nos separamos. Em seguida começamos a rir. Somos tão idiotas. Mas as melhores amizades são essas.
— Ontem eu nem falei direito com você. Me desculpa — seu semblante estava triste agora. — Mas os meus pais vieram e eu estava com tanta saudade deles — sua empolgação de antes havia voltado, porém não por muito tempo. — E ainda tinha aquela garota... — revira seus olhos ao dizer isso.
— Não precisa se desculpar, eu te entendo — e como eu entendia. — Mas quem é aquela garota mesmo? É alguma amiga de vocês? — Pergunto ao me lembrar que ontem antes de eu dormir ela apareceu em meus pensamentos.
— Bom... ela... — sua voz dava algumas pausas, como para ver qual a palavra certa falaria a seguir, mas assim que ela ver o professor entrar na sala logo se senta em sua cadeira, que fica ao meu lado.
— Jade... Jade — a chamo, mas a mesma permanece impassível, sem nem mesmo virar o seu rosto para me olhar, me deixando completamente no vácuo.
Eu hein, quem é essa garota afinal? — Penso, mas acabo por esquecer esse assunto assim que o professor começa a explicar o conteúdo novo.
..........
Estávamos voltando para casa, quando o Miguel fala comigo:
— Baby, vamos sair hoje? — Vira o seu rosto, rapidamente, para o lado para poder mim ver.
— Hoje eu não posso — respondo instantaneamente, pois acabo de me lembrar do Ben. Hoje eu só passaria o dia com o meu irmão. Sem mais ninguém.
— Você vai sair para algum outro lugar? — Seu olhar agora fixo na estrada, dava a entender que ele ficou bem decepcionado com a minha resposta, como se não esperasse por isso. Mas o que eu posso fazer? O meu irmão vem em primeiro lugar.
— Não, eu só vou ficar em casa mesmo — o que em si é bem verdade, mas rapidamente me aproximo de seu rosto e lhe dou um beijo, delicado, nos lábios como para me despedir e depois sigo para minha casa.
Ao parar em frente a porta de casa, olho para a mesma e respiro fundo tentando acalmar o meu coração.
Como será que o meu irmão está? Será que mudou o visual? Só o vendo para saber — e é com esse pensamento que entro dentro de casa.
Assim que abro a porta a primeira pessoa que vejo é ele, do qual descia as escadas, mas assim que me ver me dar um sorriso maravilhoso e por alguns segundos o tempo congela. Mas depois disso tudo acontece muito rápido. Em instantes ele desce o restante das escadas e vem de encontro a mim, me abraça bem forte, quase me sufocando. Em seguida faz cosquinhas por todo o meu corpo — ele sempre faz isso comigo.
— Tá bom... paraaa... beeen... paraaa — digo em meio as gargalhadas, já vermelha de tanto rir, e acho que ele chega a ver isso em mim, pois logo seus dedos param de se mexer, me dando um total alivio de respirar. E me acalmar. — Que saudades eu estava de você, irmão. — O abraço novamente, mas dessa vez um abraço calmo, reconfortante. Ele se aconchega no espaço entre meu pescoço e ombro.
— Eu também estava morrendo de saudades, maninha. Volta comigo para Natal? — Pergunta assim que nos separamos do nosso abraço, fazendo uma cara triste, suplicando pela minha volta, como se não fosse nada demais eu ir morar com ele em Natal e deixar tudo e todos aqui.
— Se eu fosse — aponto para mim — seria só para conhecer.
— Aí é né, pois me esquece logo — vendo que o seu rosto triste não havia surtido o real efeito em mim, ele começa a assanhar os meus cabelos. Porém eu tiro a mão dele de cima da minha cabeça e rapidamente, sem ele menos esperar, minhas mãos bagunçam mais ainda os seus cabelos, que por sinal estão cortados, ficando assim sem graça, já que não há muita movimentação entre os mesmos, mas que ainda assim serve muito bem como uma forma de vingança. Ele pega as minhas mãos e as segura para não ter o perigo de eu pegar nos seus lindos cabelos arrumados de novo, e continua a falar, agora com um belo sorriso no rosto. — E aliás, só para você saber, você está magnífica nesse vestido.
— Eu sabia que você ia gostar — solto nossas mãos para pegar nas extremidades do vestido e me abaixo, fazendo uma cena bem engraçada, diante dele.
— Vamos almoçar, crianças — nosso pai nos chama, atrapalhando o nosso momento "irmãos" e com isso paramos de brincar um com o outro e seguimos para a cozinha. Estávamos os quatro juntos, formando a nossa família mais que feliz.
.........
Depois que almoçamos nós fomos em direção ao quarto dele. Ajudava-o com as suas roupas, colocando-as dentro do guarda-roupa, de forma arrumada, já que se fosse por ele só fazia jogar dentro das gavetas. Enquanto ele me passava uma roupa e outra, conversávamos.
— Quero conhecer esse tal de Miguel, viu? — Ele diz de repente. Estava tão focada arrumando suas roupas, que de imediato só faço rir.
Eu havia contado para o meu irmão logo depois que eu me encontrei com o Miguel no parque, quando ele me disse que queria me conhecer melhor, assim que eu cheguei em casa a primeira pessoa que eu compartilhei isso foi com ele, já que sempre dissemos tudo um para o outro. Ele imediatamente quis saber tudo sobre o Miguel, de como ele era fisicamente até onde morava e quem eram os seus pais. Respondi tudo o que ele me perguntou, rindo direto.
— Você vai conhecer ele. Tenha calma. Não precisa bancar o irmão ciumento — me lembro do dia em que lhe contei. — Na verdade, você vai conhecer todos os meus amigos que eu fiz aqui, não se preocupe — digo simplesmente.
— Eu não estou bancando o irmão ciumento — rebate, me olhando sério.
— Ah, está sim, você não é assim — retribuo o seu olhar. Ele não consegue se segurar por muito tempo e logo começa a rir e eu o acompanho. É tão bom ouvir a sua risada novamente ainda mais quando se junta a minha.
Que demore bem muito essas duas semanas dele aqui, quero poder aproveitar o meu irmão ao máximo.
— Quando terminarmos de arrumar essas roupas, que tal andarmos de skate? — Passa outra roupa para mim. — Estou com saudades — há um brilho em seus olhos.
Eu também estou, irmão... e como estou.
— Certo, e eu vou passar na sua cara o quanto eu melhorei desde a última vez em que você estava aqui com nós — digo e ele só concorda com a cabeça como se dissesse: "eu imagino", com um grande sorriso nos lábios. Depois disso continuamos a arrumar o restante das suas roupas que ainda estavam na mala e quando enfim terminamos eu vou para o meu quarto tomar um banho bem rápido.
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