40

*Imagem acima do Bernardo

Flávia

Assim que o Miguel me deixou em casa eu fui direto para o meu quarto, pensativa.

Ele estava tão estranho hoje, parecia que estava escondendo alguma coisa de mim, mas que não queria me contar.

Mas o que será? Será que ele não confia em mim ao ponto de não me contar suas coisas? Digo para ninguém em particular, andando de um lado para o outro no quarto, a espera de alguma solução para esse tipo de atitude dele. Mas eu não sei o que pensar, ele sempre contou tudo para mim. Acho que estou ficando paranoica.

Oi, filha minha mãe entra no meu quarto e eu acabo levando um susto por conta de estar imersa em pensamentos. Ela caminha para mais perto de mim e pega no meu ombro. Como foi o passeio? Pergunta.

Passeio?

Ah sim, o passeio, que absolutamente foi um dos mais estranhos que eu tive, em todos esses meses, com o Miguel.

Foi bom minto, não queria lhe falar sobre as minhas dúvidas a respeito de hoje. Eu conheci os pais deles dou um sorriso ao falar isso.

Essa foi a única parte boa de hoje, pois enfim, depois de tanto tempo, conheci os seus pais. Senhor Lorenzo já deu para perceber logo de cara, que ele gostou de mim, e eu digo o mesmo por ele, que ao pegar na minha mão sorria de orelha a orelha e me passava uma certa confiança. Um homem muito bonito que aparenta ser bem mais novo que a sua idade, seu ar jovial dar a ele mais elegância. E só hoje eu soube que o Miguel puxou os seus olhos castanho-claros do seu pai, além do seu cabelo ser um pouco parecido com o dele, a diferença é que o do seu pai é bem mais claro, chegando a ser praticamente loiro.

Já a sua mãe, com uma postura bem elegante, desde o andar até a hora em que ela juntou a minha mão na sua, que havia uma certa hesitação, como se ela não quisesse fazer isso, por qual motivo eu não sei, mas que talvez só o fez por ser educada. Mas depois todos os motivos possíveis de ela me detestar, não sei porque, sumiram quando ela sorriu graciosamente para mim. Morena-clara dos olhos azuis e longos cabelos castanhos, sua mãe tem uma beleza inigualável.

E eu amei conhecer os pais dele e posso apostar que eles também adoraram me conhecer.

Sério? Agora finalmente eu vou saber quem eles são mamãe dar uma risada e eu acabo rindo junto a ela. Eu sei que você chegou agora e deve estar cansada, mas você pode ir no supermercado pra mim? É porque o seu irmão vem amanhã de manhã e ... ela não chega nem a terminar a frase, pois logo a interrompo.

Claro, mãe, eu vou sim. Que horas ele chega amanhã? Pergunto ao sair do meu quarto e ela me acompanha, vindo bem atrás de mim.

Um pouco antes de você chegar da universidade só escuto ela dizer isso e saio de casa, com um sorriso no rosto. Está mais perto do que longe.

.........

Já havia comprado todas as coisas que a minha mãe tinha pedido para comprar e nesse momento voltava para casa, com as sacolas em mãos. Não prestava muita atenção na rua, ainda pensando do porquê do Miguel estar diferente hoje, quando de repente acabo esbarrando em uma pessoa e ia caindo no chão se a mesma não tivesse me segurado nos braços a tempo.

Que desastrada eu sou...

Me desculpa digo com a cabeça abaixada, por ainda me situar no que acabou de acontecer aqui, mas assim que levanto a minha cabeça aos poucos para falar um "obrigado" para essa pessoa caridosa que me ajudou, eu vejo quem realmente é... B-Bernardo mal consigo pronunciar o seu nome em minha boca. O que você faz aqui? Pergunto, passando os meus olhos por todo o seu corpo.

Nossa, que bom lhe reencontrar também, Flávia ele diz, ironicamente.

Oh sim, desculpe respondo rapidamente, querendo dar a ele pelo menos um meio sorriso, mas nem isso eu consigo fazer.

O que ele está fazendo aqui?

Você já me pediu desculpas duas vezes, em menos de um minuto, percebeu isso? Arqueia uma sobrancelha, rindo, e eu acabo por rir também só que de forma irônica sem que ele perceba. Mas vendo ele agora, aqui na minha frente, percebo que já não sinto mais tanta raiva dele assim como sentia antigamente. Acho que só estou espantada por esse seu súbito aparecimento, depois de tantos meses, o que me faz questionar quais são os seus motivos por estar aqui.

O que você está fazendo aqui? Pergunto logo de uma vez, pois quero saber quais são as suas reais intenções. Comigo.

Eu vim ver como você está, somos amigos ainda, não somos? Cruza os braços acima do peito a espera de uma resposta e eu concordo mais que depressa com a cabeça, não quero discutir com ele aqui fora, no meio da noite. Não convencido da minha resposta, ele continua: Ou só a Heloísa e a Eloá que podem vim te visitar?

Não é isso, é que... — coço a nuca para dar tempo de pensar em alguma coisafaz muito tempo que você chegou aqui? Nem chego a lhe responder o que havia me perguntado, e sendo até mais esperta, lhe faço uma pergunta, rezando aos céus que ele não se lembre da sua.

Não, na verdade eu cheguei hoje e como eu não conheço Recife e nem sei aonde é a sua casa, eu quis dar uma volta e acabei encontrando quem eu mais queria encontrar... sua mão delicadamente alisa o meu rosto, para cima e para baixo, por um momento fecho os meus olhos relembrando de quando ele fazia isso comigo enquanto namorávamos, ele sempre alisava o meu rosto como um pedido de desculpas quando fazia algo errado e sabia que eu iria ficar chateada, mas bem antes de eu ficar assim ele já fazia isso comigo, sabendo que esse era o meu ponto fraco e eu me derretia sempre.

Menos agora.

Então acho melhor você ir descansar. Lutando contra o seu toque e contra mim mesma, afasto a sua mão do meu rosto. Isso já estava me incomodando. Está tarde, amanhã você pode passear, se assim quiser dou um passo para trás, para manter uma certa distância entre nós para que ele não chegue mais a fazer isso. Agora eu tive forças para mim afastar, eu só não sei se vou conseguir numa próxima vez. Tomara que não tenha uma próxima vez. Ele percebe o meu afastamento e franze as sobrancelhas a respeito disso, mas, ainda bem, que ele permaneceu em seu lugar, sem dar nem um passo a mais para frente.

Oh, sim... amanhã olha para o lado e dar um meio sorriso. Em seguida dar a volta, seguindo o caminho que eu vinha a minutos atrás. Também faço a mesma coisa que ele, só que indo para a minha casa.

Por instinto, depois de dar exatamente uns dez passos, olho novamente para trás como para ver se ele ainda continuava caminhando ou se havia parado e estava me vigiando, querendo saber aonde ficava a minha casa. Mas assim que viro o meu rosto noto que a rua está completamente vazia e escura, sem rastros de Bernardo pelo caminho ele deve ter entrado em alguma esquina, para ter sumido tão depressa assim e com isso continuo a caminhar ainda mais pensativa.

Se antes eu estava pensando o porquê do Miguel está estranho comigo, agora eu estou pensando o que diabos o Bernardo está fazendo por aqui. Deve a ver alguma explicação lógica para isso.

Tomara que ele só tenha vindo para conhecer Recife mesmo e não para atrapalhar o meu namoro. Mesmo que agora eu não sinta mais raiva dele, vontade de lhe bater, de lhe xingar, entre outras coisas, eu não confio mais nele. Não como antes.

Ao chegar em casa vou direto para a cozinha, onde deixo as sacolas de compras em cima da mesa, e assim que me viro para sair da mesma, minha mãe aparece e me surpreende.

Tinha tudo o que eu te pedi para você comprar no supermercado? Pergunta me assustando por completa, por um segundo eu pensei que fosse o Bernardo, que ele havia me seguido e que agora sabia exatamente aonde eu morava.

B-bom, ahh... tinha sim, está tudo aí na sacola mostro para ela, rapidamente. Depois volto a encara-la. Mãe, eu posso faltar a faculdade amanhã? Me lembro que o Ben vai chegar antes de mim.

Por quê? Vai em direção as sacolas e começa a tirar de dentro delas as coisas que eu havia comprado.

Quero esperar o Ben chegar me encosto na mesa e olho para ela, esperançosa.

Deixa vai...

Só falta essa semana de aula, Flávia, perder aula só para esperar o seu irmão? Você pode ver ele quando chegar da universidade responde ao caminhar agora indo em direção a geladeira, sem olhar para mim.

Tá bom, você venceu levanto as mãos para o alto em sinal de rendição e com isso saio da cozinha e subo para o meu quarto.

Tomo um banho. Visto um vestido frouxo verde e vou para minha cama. Fico deitada esperando o sono vim, quando vem a minha mente a imagem da outra garota que estava hoje lá com a família Bittencourt, que se eu não me engano se chamava Ester. Parecia que eu já tinha visto ela em algum lugar antes. Ela me soa tão familiar.

Mas aonde?

E é com esse pensamento que adormeço.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top