Miguel

Também me sento ao seu lado na cama. Pego meu violão e o coloco em cima das minhas pernas. Toco alguns acordes, a encarando o tempo todo. Ao ver que estou pronto, começo a cantar para ela. Não vai ser tão difícil assim. Naquele dia em que ela me desculpou vindo aqui em casa eu cantei a última música para ela e todos os nossos amigos ficaram olhando. Mas o que eu posso fazer se eu já estava enfeitiçado? Eu só espero que cantar a música de hoje seja tão fácil como foi naquele dia.

— Eu quis dizer, você não quis escutar... Agora não peça, não me faça promessas... Eu não quero te ver, nem quero acreditar... Que vai ser diferente, que tudo mudou — canto as primeiras frases da música.

— Você diz não saber, o que houve de errado e o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria... Ah meu Deus era tudo o que eu queria, eu dizia o seu nome, não me abandone jamais — continuo a cantar, parando de tempos em tempos para olha-la.

— Não me abandone jamais... — enfatizo novamente a última frase da música, para que ela perceba que eu nunca quero que ela me deixe. Tomara que ela também perceba isso.

Assim que eu acabo, ela logo bate palmas e em seguida se aproxima de mim.

— Você cantou maravilhosamente bem, amor — seus lábios encostam nos meus e eu queria muito beija-la nesse exato momento, mas se eu fizesse isso não teria tempo de executar a última parte do plano e eu não quero beija-la e só depois lhe perguntar, quero fazer isso agora como planejei, pois, depois daqui eu só quero ama-la.

Afasto os seus braços que já prendiam o meu pescoço e ela se afasta, voltando a sua posição inicial.

— Agora o que eu tenho para te dizer... — ela concorda. Imediatamente, com as mãos tremendo, pego a caixinha que eu tinha guardado no meu bolso e lhe amostro, da qual fica sem reação. E eu aproveito para continuar o que tanto quero lhe falar: — Eu sei que eu fui um completo idiota com você no começo e eu espero realmente que você tenha me desculpado por isso, só que de uns tempos para cá as coisas foram mudando e a gente foi se tornando cada vez mais amigos, mais próximos um do outro e só para você saber, ninguém nunca em tão pouco tempo se tornou tão importante e especial para mim assim como você — respiro fundo e faço o pedido. — Flávia Alencar, você aceita namorar comigo?

— Aí, meu Deus — seus olhos já estavam marejados. — Sim, sim, sim, claro que eu aceito, Miguel — vem ao meu encontro, prendendo os braços no meu pescoço e em seguida os seus lábios tocam os meus com um certo fervor.

Nosso beijo estava em uma perfeita sintonia, sua língua pedia por passagem e eu cedia. Às vezes eu parava de beijar sua boca e me abaixava, indo de encontro ao seu pescoço onde deixava por lá várias mordidas de leve. Enquanto apertava sua cintura, uma de suas mãos seguravam os meus cabelos ao mesmo tempo em que a outra cravava suas unhas em minhas costas.

Ficamos assim por um bom tempo, até que já estávamos ficando sem fôlego e nos afastamos.

— Ah, eu quase ia me esquecendo... — pego sua mão onde coloco em seu dedo o anel que eu havia comprado, há alguns dias atrás, e ela logo faz a mesma coisa comigo, colocando o outro anel em meu dedo. Olho para ele e imagino.

Eu não acredito que estou em um novo relacionamento... parece que foi ontem quando eu disse para mim mesmo que não amaria mais nenhuma mulher na minha vida, porém aqui estou eu, de frente a uma garota maravilhosa, que me fez mudar todo o paradigma de amor.

— É lindo, eu amei! — Me desperto quando escuto sua voz. Olho para ela e vejo que a mesma admirava o seu anel, completamente feliz, enquanto mexia nele com os dedos.

— Eu já esperava que você fosse gostar — dou um sorriso de orelha a orelha. — Vamos bater uma foto? — Pergunto e ela logo vira o seu rosto para mim encarar. — Quero mostrar para a Jade que você aceitou — explico.

— Para de ser bobo — dar uma risada ao mesmo tempo em que suas mãos bagunçam os meus cabelos. Eu me estico para pegar meu celular de cima da cômoda e ela se ajeita para a foto. Assim que vimos que ela tinha ficado boa, imediatamente eu aperto em enviar, mandando para a minha irmã.

Depois de alguns instantes, recebo a sua resposta.

— Eu já sabia que ela ia aceitar. Seus lindos!

Dou uma risada e mostro para a Flávia que também faz a mesma coisa que eu.

— O que a gente faz agora? — Pergunto assim que deixo o celular novamente em cima da cômoda e olho para ela, esperando a sua resposta.

— A gente pode ficar aqui, deitadinhos — me olha, fixamente, mordiscando o seu lábio inferior.

Eu gosto quando ela me olha assim, como se estivesse querendo a mesma coisa que eu. Mas diferente do que eu fiz com o meu último relacionamento dessa vez eu quero ir com mais calma. E eu sei que ela também quer isso. Relacionamentos conturbados são uma merda. Então é sempre melhor não cometermos os mesmos erros do passado.

Com isso concordo com o que ela falou e pego em seu rosto. Trago-o para mais perto de mim. Toco seus lábios e aprofundo cada vez mais o nosso beijo. Quando dou por mim já estávamos deitados olhando um para o outro. Ela se vira para o lado, desviando os seus olhos dos meus, e eu vejo quando ela pega meu violão e me entrega.

— Canta pra mim? — Pergunta com um brilho no olhar e com um sorriso resplandecente.

.........

Já estava indo deixar a Flávia em sua casa, mas como ainda não tínhamos entrado dentro do carro, eu aproveito para ligar para a minha irmã.

— Jade, eu vou deixar a Flávia na casa dela agora, quando eu estiver voltando eu te pego. Onde você está? — Pergunto.

— Estou na casa do Raul. Estarei te esperando — responde e com isso eu desligo o celular, encerrando a chamada.

— Vamos? — Flávia pergunta ao meu lado.

— Vamos — confirmo e entramos no carro. Ficamos o caminho todo conversando.

Eu pude perceber que ela ficou muito feliz depois que eu a pedi em namoro. Em nenhum momento ela recusou por estar com medo de acontecer a mesma coisa que tinha acontecido com o seu antigo relacionamento.

E eu espero realmente está fazendo-a feliz. Não quero nem pensar em hipótese alguma magoá-la um dia.

Flávia

Entro em casa e vejo minha mãe e meu pai conversando, na cozinha.

— Mãe, pai, tenho uma novidade para dizer a vocês — digo assim que entro na mesma e rapidamente eles olham para mim.

— Nós também temos — meu pai comunica, feliz.

— Sério? Então hoje é o dia das novidades — dou uma risada e me sento de frente para eles, que estavam lado a lado.

— Diz logo você, filha, qual é a sua novidade? — Minha mãe pergunta.

A minha notícia é que o garoto que eu estou bastante apaixonada me pediu hoje em namoro e na hora eu não consegui acreditar, meus olhos se encheram d'agua e eu só sabia falar "sim, sim e sim", até que eu só pude me acalmar mais quando enfim beijei os seus lábios.

— O Miguel me pediu em namoro e eu aceitei — digo só esse breve resumo a ela, pois meu pai está bem ao nosso lado e eu não surtaria de felicidade bem na frente dele. Ainda mais quando o assunto envolve um garoto. Mas mais tarde falaria disso, demoradamente, com a minha mãe. Ela vai adorar.

— Ah, então foi por isso que ele te chamou para ir à casa dele, né? Garoto esperto — mamãe começa a rir, completamente feliz.

— Foi sim, mais agora vocês, qual é a novidade? — Pergunto.

— O Benjamin vai entrar de férias amanhã, então depois de amanhã ele vai estar aqui, conosco — mamãe me dar a notícia, bem alegre. E é aí que eu me lembro que também ficaria de férias, mas só daqui a uma semana, por isso que eu nem cheguei a perguntar a ela quando o Ben viria, se é que viria, já que o que ficasse de férias primeiro iria visitar o outro.

— Sério! Não acredito — o meu irmão vem pra cá, ele vem pra cá. Eu já estava gritando por dentro de felicidade. — Mas quando ele ligou avisando?

— Um pouco depois que você saiu — papai responde.

— Que pena que não foi antes de eu sair, faz tanto tempo que não falo com ele. Mas o importante é que ele vem para cá e eu vou ficar curtindo ele bem muito — deixo eles ao me levantar da cadeira e seguir para o meu quarto.

Visto um vestido frouxo e me deito na cama pensando em como o dia de hoje foi legal, pois além do Miguel ter me pedido em namoro — olho para o meu dedo, onde estava o anel que ele havia me dado — depois de amanhã o meu irmão vai estar aqui, do meu lado.

Eu não podia estar mais do que feliz.