Flávia

No outro dia me acordo mais cedo que o habitual. Me levanto da cama e vou ao banheiro. Tomo um banho. Visto uma calça marrom e uma blusa de mangas compridas branca com listas pretas e desço para a cozinha.

Bebia um copo de suco de goiaba, acompanhado com algumas bolachas quando minha mãe adentra na cozinha.

— Já acordada meu amor, não dormiu bem? — Pergunta ao trazer a cadeira para mais perto de mim, se sentando em seguida nela.

— Na verdade, dormir sim — dou um sorriso tranquilizador. Ela assente e começa a cortar um pedaço de bolo. Quando ela já estava quase terminando de come-lo, se vira para mim, assoprando o café que havia em sua xícara e me faz uma pergunta:

— Filha, o que acha de quando você ficar de férias irmos viajar para Natal, visitar o seu irmão?

— Natal, mãe? — Faço uma careta.

— Sim, por que não? — Arqueia uma sobrancelha. — Você não tem vontade de conhecer? — Pergunta.

Na verdade, não, não tenho nenhum pingo de vontade. Mas não vou dizer isso a ela.

— Sei lá... — dou de ombros e invento uma desculpa. — Por que não resolvermos isso só quando vermos quem é que vai ficar de férias primeiro, se vai ser eu ou se vai ser o meu irmão?

Tomara que seja o Ben, não quero ir para Natal. Não quero passar as minhas férias longe dos meus amigos.

— Filha, não já estar na hora de você ir para a faculdade, não? — Aponta para o relógio de parede e eu olho para o mesmo.

Novamente atrasada.

— Verdade, nem percebi a hora passar — me levanto da cadeira. Deposito um beijo na sua bochecha e saio de casa.

........

As aulas passaram voando que quando me dou conta já estava no carro do Miguel, voltando para casa, com os meus amigos.

Conversávamos sobre assuntos variados e riamos bastante, quando a Jade vira o seu rosto para trás, na minha direção.

— Ei gente, vamos sair? — Olha para mim e para o seu irmão, já que éramos os únicos, tirando ela, que estávamos dentro desse carro.

Por relance olho para ele, do qual o mesmo imediatamente olha para mim pelo retrovisor. A Jade percebe e revira os olhos antes de falar com nós novamente, nos chamando a atenção.

— Aí que saco, eu sei que agora vocês só querem ficar juntos, mais do que nunca, mas poxa vocês também têm amigos, sabiam disso? — Faz uma pergunta retórica enquanto aponta para si.

— Para de ser dramática, Jade — dou uma risada ao lhe responder.

— Você sabe muito bem que a gente precisa falar antes com o pessoal, né? Vê se eles concordam em sair — Miguel responde a sua irmã agora focado na estrada.

— Sim, eu sei — ela faz uma careta enquanto volta a olhar para frente — eu só estava dando uma ideia — fecha sua cara e em seguida olha para a janela.

— Por mim tudo bem, é só nos falarmos por mensagem — digo para ver se ela levanta o seu ânimo e é o que acontece imediatamente, já que ela logo se vira para mim com um grande sorriso no rosto. Em seguida saio do carro, pois tinha acabado de chegar em casa.

Ao abrir a porta, sigo para a cozinha pois estava com muita fome. E ao terminar de almoçar, mamãe entra na cozinha.

— Oi, querida, como foi hoje na universidade? — Pergunta.

— Foi bem normal, mãe — me levanto da cadeira e vou em direção a torneira para lavar o prato. Minha mãe diz que poderia ela mesma lavar por mim, mas pensando melhor decido lavar eu mesma, sempre gosto de lhe ajudar, até com as pequenas coisas. Em seguida saio da cozinha e sigo direto para o meu quarto.

Tomo um banho bem relaxante para poder descansar melhor e quando saio do banheiro, escuto meu celular apitando direto e quando o pego para ver o que é, noto que há várias mensagens dos meus amigos falando quando seria ser esse "tal passeio", que a Jade tinha sugerido.

— Galera, vamos sair? — Jade jogou a mesma pergunta para eles, a mesma que tinha feito para mim e para o Miguel.

— Quando? — Vejo que o Raul foi o primeiro a responder, disparando uma pergunta a ela.

— Para onde nós vamos? — Miguel pergunta, segundos depois.

A pergunta essencial para um passeio. Acho que posso até eu mesma responder para onde podemos ir.

— Que tal nós irmos ao parque e fazermos tipo um piquenique por lá — sugiro por fim depois de ler a todas as mensagens.

— Gostei da ideia — Cauã responde.

— Também gostei — Miguel foi o próximo.

— Pois pronto, uma coisa já resolvemos agora falta mais duas. Quando e que horas iremos? — Jade pergunta.

— Podemos ir sábado, à tarde — Raul sugere.

— Isso! Poderíamos ir umas três horas da tarde. O que acham? — Pergunto. Tomara que eles concordem comigo.

— Perfeito! — Miguel diz.

— Para mim, está ótimo — em seguida o Cauã.

— Para mim também — Raul responde.

— Então está tudo marcado para sábado. Não se esqueçam — Jade nos lembra e como já ficou tudo acertado, eu paro de falar com eles e me ajeito na cama para dormir.

.............

Me acordo e desço para a sala. Ao ver a televisão desligada e alguns filmes em cima da mesinha de centro, fico com vontade de assistir filme. Quando já colocava o cd para rodar, me recordo da promessa que eu tinha feito com as minhas amigas, de me comunicar com elas se caso acontecesse alguma coisa entre mim e o Miguel. E é justamente isso que eu vou fazer agora. Coloco o cd novamente dentro da sua embalagem. Desligo a televisão e me sento no sofá para conversar com elas.

— Heloísa, Eloá?

— Oi, amiga, como você está? — Heloísa imediatamente pergunta.

— Tem novidades? — Eloá faz a pergunta que eu já sabia que ela iria fazer. Dou uma risada por conta disso.

— Estou bem sim e vocês? Para falar a verdade, tenho novidades sim — respondo.

— Estamos ótimas, agora conta a novidade que eu quero saber — Eloá como sempre curiosa.

Começo a escrever a mensagem, lhes explicando bem, o que aconteceu desde que elas foram embora da minha casa.

— Eu e o Miguel nos encontramos. Ele propôs da gente se conhecer melhor. Eu disse a ele que fazia pouco tempo que eu tinha saído de um relacionamento meio conturbado e não queria nada sério, pelo menos por enquanto. E ele disse a mesma coisa que eu: que também não queria isso no momento. A conclusão é que nós estamos ficando.

— Sério? Não acredito nisso — percebo pela mensagem da Eloá que ela está bastante feliz.

— Isso aí, amiga — Heloísa responde.

Depois de contar isso a elas, resolvo saber como estão os seus corações no momento.

— Mas e vocês, como estão de relacionamentos? — Pergunto.

Instantaneamente a Eloá responde a minha pergunta.

— Como o Cauã não deu bola para mim, eu estou ficando com um rapaz daqui mesmo, mas não é nada sério comparado ao seu, Flávia.

Rio com a sua mensagem. O meu também não é uma coisa assim tão séria, na verdade eu estou até na mesma situação em que ela. Só ficando. Com o Miguel. E mesmo que nós tenhamos dado um passo a mais, eu tenho que ter cuidado com os meus sentimentos, para que no final, se algo acontecer, eu não chegar a me ferir tanto.

— O meu também não é tão sério assim, vai que não dá certo... — digo o que temo que aconteça.

— Nunca mais diga isso, Flávia, vocês foram feitos um para o outro — rapidamente Eloá me responde.

— Ok, vou acreditar em suas palavras. Mas e você Heloísa, ainda não respondeu a minha pergunta — mando a mensagem, com o nome da minha outra amiga, para que ela perceba do que eu estou falando. De repente, ela se calou.

Segundos depois, vem a sua resposta.

— Se eu não tenho ninguém, imagine um relacionamento. Só se esse relacionamento que você fala é de mim, comigo mesma — dou uma gargalhada bem alta devida a sua mensagem, talvez até os vizinhos tenham ouvido.

A Heloísa é uma peça quando quer ser.

Continuo conversando com elas por horas, até que minha mãe aparece na sala e me pede para lhe ajudar com as coisas de casa — já que eu não tinha nada da universidade para fazer. Digo a ela que já vou lhe ajudar, que vou só me despedir das minhas amigas.

— Tchau garotas. Depois nos falamos. Vou ajudar minha mãe.

— Tchau — Eloá responde.

— Beijos — em seguida a Heloísa.

..........

Depois que termino de ajudar a minha mãe com algumas tarefas de casa. Descanso na cozinha e aproveito para jantar. Ela se junta a mim e comemos juntas. Assim que acabo, subo para o meu quarto. Estou tão cansada que só preciso de um bom banho para poder dormir. Isso é, se eu conseguir ao menos chegar no banheiro.

Lutando comigo mesma, sigo para o banheiro e lá dentro tomo um banho bem rápido. Ao sair, tiro da gaveta da cômoda um vestido frouxo amarelo e o visto. Já me ajeitando na cama para poder dormir, meu celular apita indicando ser uma mensagem. Ao olhar, vejo que é a Heloísa.

— Amiga, preciso te contar uma coisa e rápido, não vou conseguir aguentar por muito tempo — ao ler isso me desperto na mesma hora. Me sento na cama para me preparar para o que quer que ela fosse falar comigo.

O que será que aconteceu com ela? Até pouco tempo estávamos conversando tão bem.

— O que foi amiga, aconteceu alguma coisa com você? Ou com a Eloá, ou até mesmo com os seus pais? — Pergunto, já preocupada.

— Não, nós estamos bem, não se preocupe.

— Então, é o quê? — Pergunto mais aliviada. Mas se não é sobre isso, o que será que pode ser?

Será que é alguma coisa relacionada ao seu silêncio de algumas horas atrás? Minha amiga nunca foi silenciosa daquele jeito. Talvez, aconteceu alguma coisa...

Meus pensamentos somem quando eu recebo a sua resposta.

— Se lembra daquela pergunta que você nos fez: se a gente estava em algum relacionamento?

Bingo! Em uma coisa eu estava certa: o seu silêncio queria dizer algo, agora vamos ver se é o que eu estou pensando...

— Sim, me lembro bem. Você chegou até a responder: "só se esse relacionamento que você fala é de mim, comigo mesma". Mas também me lembro de você ter demorado um tempão para mim responder. Espera aí, por que você está me perguntando sobre isso? Você está ficando/namorando com alguém e não queria me dizer? — Pergunto.

— Na verdade eu não estou ficando/namorando com ninguém. Só que... — ela não chega a completar a sua frase.

Sério, ela quer que eu adivinhe?

— Só que...? — Pergunto, impaciente.

— Só que faz uns dias que eu estou conversando com o Cauã. É, eu sei que eu te disse que eu não falaria mais com ele, mas foi ele quem começou a conversar comigo. Eu queria ter te dito na mesma hora, porém a Eloá também estava na conversa e como ela mesma disse: "como ele não me deu bola", ela poderia ficar chateada dele estar conversando comigo e não com ela. Então eu preferi não falar nada.

Minha mente parou de raciocinar quando eu li o nome: Cauã. Eu tinha visto o jeito como ele olhava para ela, no dia da praia. E como ele gostava de puxar assunto com ela. Será?

No começo eu podia apostar que ele gostava de mim, mas o tempo foi passando e hoje pelo visto ele não pensa mais em mim dessa maneira. Isso é bom, porque diferente do Miguel, eu nunca cheguei a nutrir sentimentos pelo Cauã.

— Eu não acredito que você está conversando com ele. Mas que bom, porque vocês se deram tão bem e acabar assim, do nada, o início de uma grande amizade só por conta dos ciúmes da Eloá, é meio chato.

— Mas isso não vai passar de amizade. A Eloá é minha irmã e eu não quero magoá-la.

— Sim, eu entendo. Mas me conta, como foi que vocês começaram a conversar?

— Bom, foi depois que nós chegamos em casa, ajeitamos nossas coisas, e já estávamos prontas para dormir, que eu recebi uma mensagem. Pensei até que fosse sua, só que quando terminei de ler, lá estava o nome dele.

— E o que foi que ele falou? — Pergunto bastante curiosa, nesse momento eu estava dando uma de Eloá.

— Ele me perguntou porque que eu estava ignorando ele. Se ele tinha falado alguma coisa que eu não gostei, esses tipos de coisas. Eu respondi que não, que era só o meu jeito mesmo. Em seguida, lhe perguntei como havia conseguido o meu número e ele disse que conseguiu com o Miguel. Então desde domingo estamos nos falando.

— A Eloá ainda está mexida por ele, né? Dá um tempo para ela tentar esquece-lo, depois você diz a ela que estão conversando, senão ficando às escondidas — brinco com as últimas palavras que escrevi, já sabendo muito bem como ela vai reagir depois.

— O quê? Não! Você não leu a mensagem em que eu disse que vamos ser só amigos? Você sabe muito bem de quem eu gosto.

— Eu sei, amiga. Estava só brincando. Ainda quero que você seja minha cunhada. Mas o Cauã é um rapaz muito legal, um cara super bacana...

— Eu sei que ele é. Mas era só isso mesmo que eu queria te dizer, até porque somos amigas e contamos tudo umas para as outras.

— Isso mesmo! Boa sorte, amiga.

— Boa sorte para você também — ao encerramos a nossa conversa, encosto minha cabeça no travesseiro e durmo com um sorriso no rosto.