O reencontro
Tiago viu o homem passar novamente por si de rompante à porta, e novamente bateu-lhe no braço. Pelo canto do olho tinha visto Mariana, e sabia que as suas atitudes eram estranhas, mas... mais do que isso: ele agora compreendia claramente que ela estava a fugir, e aquele homem era o causador de tudo aquilo. Agora estava explicado porque é que ela não conseguia dormir de noite, porque é que tinha tantos pesadelos, e porque que é que Mariana fugiu para ali: aquela minúscula e acolhedora pastelaria, onde as pessoas mais pareciam sardinhas em lata, era um ponto estratégico, tinha uma boa vista e dava para se esconder no meio de tanta gente, e ele podia constatar isso, porque se não fosse ele saber que roupa Mariana tinha vestido naquele dia, ele não a iria conseguir identificar no meio de tanta gente. Principalmente porque o ar está totalmente saturado, e torna-se praticamente impossível respirar.
Aproximou-se de Mariana, reparou que não estava sozinha, e esquivando-se e dando cotoveladas aqui e ali, até que chegou próximo dela, baixou-se e segredou-lhe por baixo do chapéu:
- Estou aqui. – Mariana ao ouvir isto, assustou-se tanto que acabou dando um grito, e assim assustou as outras pessoas, que no mesmo instante que ela gritou, se viraram insanamente para ela, tentando perceber de onde vinha o grito. Assim que perceberam de onde vinha, voltaram ao que estavam a fazer pois perceberam que não era nada de importante. Francisca olhou para ela e mostrou-lhe a cara de descontentamento com aquela situação.
- Assustaste-me! O que é que estás aqui a fazer? – Indagou ela muito desconfiada.
- Bom, isso vou eu perguntar-te, não devias estar a trabalhar? – perguntou Tiago com voz de quem sabia que ela lhe estava a esconder alguma coisa.
- Bom... devia... é que... há algo que... bem... - as palavras não lhe saiam, era difícil para ela contar-lhe o que estava a acontecer, não sabia como explicar, como justificar. Ela estava em pânico, irrequieta, muito ausente do presente, mas ao mesmo tempo concentrada no que se estava a passar atrás de Tiago.
- Mariana? – Tiago percebeu que aquilo era estranho... lembrou-se que Mariana teve a mesma atitude naquele momento em que, depois de ser violada, e tinha pedido ajuda a Tiago, aguardava pela chegada das autoridades para prestar depoimento, mas ao mesmo tempo tinha medo de que o violador voltasse para trás.
- Tiago, não devias estar aqui... -declarou ela, tentando evitar-se explicar.
- Como assim? Podes-me explicar o que raio se passa? Eu sei que se passa alguma coisa! – Tiago manteve a intensidade da voz, mas o tom era outro: indignação! Indignação porque Mariana não queria dizer-lhe o que se estava a passar e estava a esconder-lhe coisas!
- Tiago, eu tenho de fugir, não sei se algum dia conseguirei voltar, mas quero que saibas que eu te amo, por mim, eu não mudaria nada entre nós; por outro lado eu não te posso pedir que fiques comigo sem saber se algum dia vou voltar – disse ela de rompante, soltando o nó que tinha na garganta.
- Agora ainda me estás a deixar mais confuso! – Mariana olhou-o nos olhos, podia claramente ver que o tinha magoado, que ele tinha perdido o chão debaixo dos pés. Numa tentativa de amenizar a situação, Mariana deu-lhe a mão, para depois continuar:
- Eu tenho de fugir, lamento. Não te posso explicar mais nada... para tua segurança.
- Mas porquê?
- Viste aquele homem? Ele está a tentar matar-me. – disse ela friamente.
- Então chamamos outra vez a polícia! – Enquanto dizia isto, tirou o telemóvel do bolso, e Mariana agarrou-lhe a mão:
- Não é preciso, eles já sabem, por isso é que eu tenho de fugir. – soltou num sobressalto, olhando por cima do ombro de Tiago para ver se estava a ser vigiada.
- Mas... mas... - Tiago não entendia: se o violador estava preso, porque é que ela tinha de fugir? E quem era aquele homem? O que é que ele tinha a ver com tudo o que se estava a passar?
- Não é por cauda do que estás a pensar... É por causa de um outro passado antes desse.
- Mariana, queres-me explicar o que raio se passa... bem também digo... não sei há quanto tempo isto dura, mas deve ser há tempo suficiente para nunca me teres contado... - Tiago falou de forma irónica, sentia-se traicionado, afinal ele tinha lá estado para Mariana em todos os momentos, fossem eles bons ou maus.
- Eu sei que não contei, mas foi para tua segurança, quer tu acredites ou não! Tu só me conheceste porque eu estou no programa das testemunhas.
- Como assim? – indagou Tiago ao mesmo tempo que pensava, "Mas que bonito, só podia melhorar!"
- É o que ouviste! – Mariana levantou-se para o enfrentar.
- Tu não confias em mim? É preciso tanto secretismo?
- É! É a minha família que está em risco, a minha vida corre perigo... a minha filha... - Foi-lhe impossível continuar a falar porque Tiago a interrompeu:
- Tens uma filha?? Mas quem és tu? – Mariana não foi capaz de responder, Francisca segurou na mão de Mariana, tomando consciência do que se estava a passar e que a situação em que estava envolvida era bem mais grave do que aparentava; Ainda não compreendia como tinha sido apanhada no meio daquela confusão toda. Tiago viu-se obrigado a sentar com a revelação de Mariana: perdeu completamente as forças nas pernas, estava apático, sem reação, Mariana tinha passado a ser uma completa estranha para ele.
- Tiago, lamento, mas compreende, eu não podia falar... Eu abdiquei da minha família, pela segurança deles, por um erro que eu cometi, não era suposto ser descoberta. – Tiago ainda se encontrava surpreso e só pode perguntar amarguradamente, soltando uma lágrima:
- Como foste capaz de me fazer isto? Eu dei tudo de mim, eu só te pedi a verdade, fosse qual fosse... Como? – Mariana ficou paralisada a olhar para ele sem conseguir responder, não tinha justificação para lhe dar.
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