O pedido de desculpas

Com tudo o que se estava a passar Marco esqueceu-se completamente de Filipa. O importante agora era Mia estar bem... já tinha passado uma hora e nada de notícias...

Estava a pegar no casaco e nas chaves para ir para o hotel ter com Mia quando ouviu o telefone tocar. Largou tudo num ápice e atendeu o telefone:

- Estou?

- Sim? Sr. Marco? - perguntava uma voz familiar.

- Eu mesmo...

- Daqui fala a Mónica do hotel Anjos. O senhor ligou para cá, lembra-se? Por causa da sua amiga?

- Sim, sim... Tem novidades?

- Temos sim, a sua amiga está bem, teve um ataque de pânico, mas está bem. Por segurança chamamos a ambulância e vamos guardar aqui as malas da sua amiga, até ela chegar.

- Muito obrigada. Fico-lhe grato...

- Não tem de quê. Quando tivermos mais novidades, seja eu, seja os meus colegas, alguém o informará.

- Que alívio! Fico-lhe mesmo agradecido.

- É o nosso trabalho. Tenha um bom dia.

- A sra. também. Marco sentou-se na cadeira de novo e recostou-se, esticando as pernas. Respirou fundo e fechou brevemente os olhos. Resolvido aquele problema podia focar-se novamente no trabalho. Bateram à porta e ele avançou para a secretária e preparou-se para receber a pessoa:

- Entre!

- Marco, já reuni as pastas que me pediste. - disse Cíntia ao entregar-lhe as pastas que trazia na mão, continuando: - Já agora, o diretor da HIT ligou, pediu para reunir assim que possível; diz que tem dúvidas nos relatórios que lhe mandaste e quer debater contigo os números.

- Ok. Marca para hoje há tarde ou amanhã de manhã. E traz-me o processo dele completo para fazer uma breve analise, por favor. - Cíntia acenou afirmamente e deslocou-se em direção à porta quando foi interpelada novamente por Marco:

- Olha, e já agora marca-me também a reunião com aquela empresa nova que entrou a semana passada, por favor; Tenho de os conhecer.

- Já marquei. Enviei-te para o e-mail todas as informações que precisas e marquei como importante. Também já marquei nas agendas e reservei a sala de reunião, e já confirmei com o cliente. - Marco não esperava outra coisa de Cíntia, mas mesmo assim não podia ficar surpreso com a eficiência dela.

- O que é que eu faria sem ti?

- Já fizeste. Bom trabalho. - Há três anos, Marco tinha evitado que fosse despedida injustamente, e para tal tornou-a sua secretária pessoal, pois já a tinha visto em ação e tinha gostado da destreza dela. Era de facto muito perspicaz e atenta, e essas qualidades não se encontram muitas vezes, ou pelo menos, na qualidade dela.

Marco ficou novamente sozinho na sala e virou-se para a fachada de vidro para olhar o parque. Viu Filipa sair para a hora de almoço, e lembrou-se da discussão do dia anterior; uma força da natureza como ela não podia esperar outra reação. Mas que burro fora! Com a sabedoria que ele tinha como é que poderia ter colocado aquela mulher entre a espada e a parede? Agora que raciocinava convenientemente e conscientemente podia vê-lo.

Tinha de a recuperar, conseguir com que ela o perdoasse... afinal, foi a primeira mulher que o deixava inseguro, sem chão, sem noção do que estava a fazer, completamente perdido.

Filipa ao chegar ao carro olhou para a fachada do escritório de Marco a tentar escortinar se ele estava no escritório ou não. Ia evitar ao máximo discussões e confrontos com ele. Ponderava mesmo em sair da empresa, apesar dos anos de serviço. Ia guardar esse trunfo para o fim, afinal, não era isso que ela queria. Reparou que Marco estava a encará-la e Filipa entrou no táxi que tinha chamado há 10 minutos, de maneira a esconder que estava a reparar na fachada do escritório. Sentiu o telemóvel vibrar e olhou para a tela do telemóvel: era Marco, tinha de atender.

- Sim?

- Bom dia, Filipa. Já vais almoçar?

- Sim, porquê? O que precisas? - perguntou ela, suspirando.

- Almoçar contigo. Dás-me boleia?

- Posso dar... Mas porquê, é trabalho?

- Não, é pessoal.

- Então esquece, estou ocupada e com pressa! - Ele percebeu que ela estava a evitá-lo.

- Pois, para teres vindo de táxi, imagino que seja importante. - disse ele sarcasticamente. Ou estás a esconder alguma coisa?

- Outra vez?! Olha, faz um favor a ti próprio e esquece. E não me ligues se não for de trabalho, ok? - ele percebeu que meteu novamente o pé na poça.

- Filipa ... Filipa! - Ela tinha desligado a chamada. - Mas que carago! - barafustou - Que teimosa!

Marco sabia onde ela tinha ido almoçar, não era difícil, ela ia todos os dias ao mesmo sítio: um pequeno e discreto café, que servia umas sopas fabulosas, bem em frente a rodoviária "Lilly's Café". Um cantinho bem agradável, e com pessoas muito simpáticas, que a faziam sentir-se família. Pegou no casaco, nas chaves e foi ao encontro dela, mas antes passou numa florista.

Entrou na florista e cumprimentou a dona:

- Bom dia, Isabela.

- Bom dia, Marco. Como estás? Há tanto tempo que não te vejo!

- Estou bem e tu e o Manuel?

- Separei-me... mas eu estou bem, obrigada.

-Isso é que é uma pena.... Mas é assim a vida...

- É verdade, mas não vieste aqui apenas para falar de mim... O que é que precisas?

- Preciso de um ramo que diga " sou um idiota, desculpa, mas sou ciumento e inseguro"

- Hummm, essa é difícil.... foi muito mau? - enquanto olhava para diferentes flores que lá tinha - aos anos que te conheço nunca te vi penar por uma mulher... das duas uma, ou te fez um "caldinho", ou é uma mulher extraordinária.

- Foi muito mau... - disse ele cabisbaixo - E sim, é uma mulher extraordinária, uma daquelas que só encontras uma vez na vida...

- Bom, mas nada melhor que um ramo bem florido... - dizia enquanto preparava um ramo de girassóis, rodeado de rosas e ornamentado com umas verduras de folha larga.

- Uaauuu.... Acho que esse ramo diz tudo...

- Também acho.... Vai lá, despacha-te, vai arrebitar esse coração!

- E a conta?

- Não te preocupes, este não é o último ramo que me compras - disse rindo-se.

- Também tens razão - sorrindo, saiu porta fora e caminhou até Filipa.

Quando chegou ao café, reparou que ela estava de costas e fez sinal ao empregado para não dar pela presença dele. O empregado assentiu e Marco continuou a sua demanda. Chegou-se perto dela pelas costas e:

- Boa tarde. - disse-lhe enquanto mergulhava o seu nariz no cabelo dela, enquanto com a mão direita lhe esticava o ramo ao lado dela. - A menina aceita um pedido de desculpas de um idiota inseguro? - Filipa virou-se repentinamente e perguntou-lhe surpresa:

- Será que merece? Dê-me uma boa razão para aceitar.

- A razão é que a menina é a dona do meu coração e estando nessa posição de inferioridade, facilmente se é um grandessíssimo idiota inseguro.

- Também tem razão - diz ela sorrindo. Marco tinha-lhe derretido o gelo do seu coração com aquele pedido de desculpas. - Sente-se aqui e coma alguma coisa.

Marco sorriu, levantou-se e sentou-se na frente dela. Filipa levanta-lhe a questão-chave que ressoava na sua cabeça:

- Como é que sabias que são as minhas flores favoritas? - Marco lançou um sorriso maroto para lhe responder:

- Tenho uma excelente florista....

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