Gabriel Lemos
Marco corria a passos largos para a empresa, passou pela secretária de Cíntia e pergunta-lhe ofegante:
- A Filipa já ligou?
- Não... O diretor está no teu escritório. – disse enquanto Marco se apressava nessa direção.
Quando entrou no escritório, deparou-se com Gabriel Lemos a olhar pelas vidraças do edifício e cumprimentou-o:
- Boa tarde, Sr. Lemos.
- Não é muito boa tarde Marco. – disse-lhe, virando-se para Marco e encarando-o com uma cara pesada.
- Cíntia disse-me que estava cá...
- Ora, Marco, surpresa minha que não estavas na empresa... - disse em tom de pergunta.
- O que não quer dizer que não esteja a trabalhar.
- Não, quando se cumpre as funções... Sabes Marco, eu contratei-te por uma razão, e dei-te a gestão desta empresa pelas tuas qualidades de ser humano, o que se reflete na gestão e nos lucros da empresa, no entanto, as coisas não tem corrido bem... Queres-me explicar o que se passa?
- Bem, Sr. Lemos – disse ele em tentativa de se justificar – Tem acontecido umas coisas que tem saído do controlo.
- Eu sei o que se tem passado... Na verdade, eu já desconfiava, mas hoje inteirei-me de factos reais. Estou-te a dar a oportunidade de te justificares... não posso ignorar anos de árduo trabalho e sacrifício pela empresa, pela minha casa. – Marco estava perplexo... não sabia o que lhe dizer... o que sabia era que o nível de tensão tinha descido drasticamente.
- Bem, o que acontece é que me tornei próximo de Filipa. Na verdade, apaixonei-me por ela à medida que via a mulher extraordinária que ela se tornava..., mas, só há uns tempos para cá é que decidi avançar; no entanto, uma mulher independente e indomável como ela, é impossível de tentar chegar perto. Quando pensamos que está tudo bem, ela salta fora, ou ataca-nos...
- E o que é que isso tem a ver com a empresa? Se fosses novo aqui e não tivesses redigido as normas, ainda podia concordar contigo, mas sabes perfeitamente que no caso de um envolvimento hierárquico, um de vocês tem de ser reestruturado noutra parte da empresa, noutra função, ou desistir do lugar que ocupa, para não haver a chamada "subjugação e aproveitamento hierárquico". Sabes para quem é que foi criada essa regra?
- Não... - disse Marco envergonhado...
- Quando as mulheres começaram a ganhar empoderamento e a poder ocupar lugares iguais aos homens, e a terem direito de não serem discriminadas pelo seu género, de poderem-se sentir seguras no seu lugar de trabalho sem terem de serem vítimas de assédio sexual ou de género por parte dos colegas e dos superiores, foi criada essa regra, para proteção delas. Hoje é diferente, é utilizada para proteção de pessoas de cargos superiores e inferiores, para que nenhuma parte possa acusar a outra de tentativa de assédio ou subjugação.
- Agora eu entendo... - disse Marco envergonhado pelas suas atitudes.
- Ora, agora senta-te aqui - disse Gabriel Lemos, apontando para o sofá que estava encostado à parede do lado direito. – Sabes, quando te contratei, foi porque vi que tu consegues tratar as pessoas condignamente e esse era o meu primordial objetivo; no entanto, do que me adieta ter a principal pessoa a representar a empresa, se fora da empresa, ele não consegue manter uma relação saudável com alguém e principalmente se envolve com uma pessoa da empresa e numa relação de subordinação direta, que a olhos externos é considerada abusiva, e a própria pessoa em causa me diz, diretamente que essa relação não é saudável? Entendes o que te digo? – Marco ainda estava confuso com todo aquele discurso.
- Acho que sim – pronunciou Marco lentamente, o que levou Gabriel a continuar:
- Sabes que Filipa pediu pessoalmente uma licença sem vencimento sem data para voltar? – Marco foi apanhado de surpresa, mas não estava preparado para aquilo com que ia ser confrontado a seguir – E sabes que ela disse que a razão pela qual ia pedir a licença era para se afastar de ti, porque a vossa suposta relação não é saudável, porque tu és ciumento e não a respeitas? Que não tens limites?
- Mas... Mas... porquê? Eu não entendo Gabriel... Eu apenas não consigo lidar com a personalidade forte dela... só isso!
- Ela vai embora ainda esta semana.
- Vai despedi-la? Não pode! Eu despeço-me!
- Claro que não! Eu aprovei-lhe a licença. – Marco pode respirar de alívio.
- Ainda bem. Mas para onde ela vai?
- Marco, ela é minha neta, eu não podia fazer outra coisa senão isso. Como eu podia privar a minha própria neta de ter liberdade para ir aonde quiser? – Marco começou a soar instantaneamente assim que ouviu que Filipa era neta de Gabriel, parecia irreal.
- Neta? Como neta?
- Bom, é minha neta... Qual é o espanto?
- É que, bem, ela devia estar a ocupar o meu lugar... ela é herdeira... pertence-lhe – disse ele em tom de afirmação.
- Um dia há-de ocupar esse lugar, por enquanto, não. Ainda tem muito que aprender.
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