A fuga
- Estou? – Ouviu-se do outro lado.
- O cupão passou de validade. – disse Mariana.
- Diga qual é o nome do filme por favor.
- Os Óscares
- A quem devo remeter o cupão?
- Raquel. – Mariana indicou o seu nome real, conforme procedimento.
- Qual é a bilheteira que deseja receber o cupão?
- ÓperaCaffe. – Mariana deu a sua localização para tratarem da extração para a sua segurança.
- Por favor, levante o seu cupão as 13h, junto de Paulo. – Paulo era o agente que tinha tratado de a acompanhar no Programa de Proteção a Testemunhas.
- Obrigada. Vou comprar pipocas. – era o código para lhe dizer que estava dentro do café.
A chamada desligou-se e Mariana olhou de novo para ver se estava a ser seguida. Como não estava, atravessou a estrada e entrou no café. Quando entrou no café, procurou um recanto escondido, escondida pela penumbra. Como as mesas estavam cheias era difícil encontrá-la no meio da multidão.
Olhou para o relógio, faltava apenas 30 minutos para ser extraída... era imperativo a sua sobrevivência!
Mariana sentia-se muito ansiosa, achava que alguma coisa não estava bem, tinha a sensação de que aquele homem vinha atrás dela.
Viu uma senhora procurar um sítio para se sentar, e ofereceu lugar na sua mesa:
- Se a senhora quiser pode sentar-se aqui.
- Agradecida. Francisca. – apresentou-se. Mariana reparou no chapéu que a senhora trazia de abas largas, daqueles de moda de verão: era mesmo aquilo que ela precisava, porque enquanto apreciava o chapéu, viu aquele homem sair á rua olhando à volta à sua procura.
- Mariana. Gostei muito do seu chapéu.
- Obrigada.
- Posso experimentar, por favor? – Francisca fez cara de surpreendida pelo pedido, mas assentiu.
- Claro... - respondeu dando-lhe o chapéu para a mão. Mariana despiu a camisola, colocou o chapéu e sentou-se de costas para a porta rapidamente de forma que o homem não a pudesse identificar, mas que conseguisse ver os seus movimentos, colocando a camisola no colo.
Francisca observou as ações de Mariana e ficou intrigada... aquilo não lhe parecia natural, aliás, até lhe parecia bem suspeito, de tal forma que teve de lhe perguntar de forma cordial:
- Está tudo bem?
- Sim. Adoro teu chapéu – Quando Mariana falou para Francisca, agarrou a mão de Francisca. Francisca sentiu que ela estava gélida, trémula; pareceu-lhe mesmo que estava prestes a desfalecer. Ela não sabia o que se passava, mas sabia que Mariana estava em pânico; a incerteza dizia-lhe para questionar, mas por outro lado, o medo no olhar de Mariana dizia tudo: a respiração dela era profunda e amplamente acelerada. Mariana tentava acalmar a respiração, mas parecia que os pulmões lhe iam sair pela boca. A única coisa que Francisca se lembrou de lhe dizer foi:
- Calma, ele já se vai embora. – Francisca apercebeu-se do homem que entrara no café com atitude suspeita, e juntou dois mais dois. Quando ele saiu porta fora, Francisca acalmou Mariana, mas ela queria saber mais... ela queria saber o motivo daquelas atitudes, tanto de Mariana, como daquele homem. – Agora explica-me: o que é que se passa, de quem é que estás a fugir?
- Estou a fugir de alguém que me destruiu a vida toda.
- Violência doméstica?
- Algo assim parecido – Mariana não queria conta a verdade a Francisca. Se ela soubesse podia denunciá-la e ela não podia ser denunciada. Estava tão perto de fugir, de ficar a salvo, não podia agora entregar a sua vida assim na mão de uma estranha.
- Eu não me quero intrometer, mas estou com medo... As tuas atitudes estão tão estranhas, tenho medo...
- Não tenhas, eu não fiz nem faço mal a ninguém... Mas alguém me destruiu a minha vida por completo.
- Já fizeste queixa as autoridades?
- Essa pessoa já foi condenada, não sei como me encontrou... - Mariana começou a chorar ao proferir estas palavras.
Francisca sentiu pena de Mariana quando a ouviu. Tentou-se colocar no lugar dela, mas não conseguiu. Tentou encontrar palavras que a pudessem consolar, mas não as encontrou. Mas havia uma coisa que ela podia sentir: o pânico; o pânico nos olhos de Mariana podiam dizer tudo! Francisca conseguia sentir o pavor que ela sentia em que encontrassem, que ela fosse descoberta, e não conseguiu ficar indiferente: por baixo daquele pânico, daquele sofrimento todo estava um ser humano que precisava de apoio de suporte, precisava de um ombro amigo naquele momento. E se Francisca estava ali, ela tinha uma missão naquele momento: apoiá-la, suportá-la, acarinhá-la! Francisca abraçou-a e disse-lhe:
- Calma, eu estou aqui. Não vou deixar que nada te aconteça. – O choro de Mariana era cada vez maior, os soluços intensificaram-se e Francisca pode sentir que Mariana apertava a sua mão cada vez com mais força. E também ela se sentiu confortada: no desamparo total daquelas duas pessoas, uma porque estava em pânico porque fugia, outra porque o pânico era por não saber o que fazer, apoiavam-se mutuamente num objetivo comum. Mariana agradeceu-lhe:
- Obrigada. – disse limpando as lágrimas – Sem me conheceres, sem saberes da minha história, salvaste-me a vida. Serei eternamente grata, um dia vou-te agradecer, nunca me esquecerei.
- Não te preocupes com isso agora, procura ficar bem.
Abraçaram-se as duas, pensando nas suas vidas e em como se tinham encontrado, e como a partir daquele momento as suas vidas estariam para sempre ligadas.
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