40 - COLETAGEM
— E então, Américo? O que você achou?
Adriano, está impaciente e olhando fixamente para o rosto do médico da Família Nabuco.
Américo da Silva, tem sessenta e cinco anos, cabelos pintados de preto e usa um óculos de grau armação redonda e dourada.
— Em vista gerais, é seu filho. Victor, sabia quem sou... me reconheceu assim que entrei e lembrou-se de quando quebrou o braço depois de cair da mangueira que fica no fundo do quintal da minha casa. O rapaz desde criança sempre faz isso.
— Por que sempre se lembra disso?
— Por que ele gosta, por que pode... quem vai entender? Mas, se lembrar da queda sempre que nos encontramos faz parte da nossa rotina.
— O que mais? — Pergunta Austrageliso.
— Bem, coletei resíduos que estavam embaixo das unhas, peguei amostras do cabelo para o DNA, mas, Victor não me deixou verificar seus batimentos cardíacos, aferir sua pressão ou coletar seu sangue para testes rotineiros.
— O que ele disse?
— Adriano, o porquê de não ter me deixado fazer aferimento e afins, ele não disse, apenas gesticulou mostrando o que podia ou não fazer.
— Isso é estranho.
— Na verdade não acho. Adriano, pelo que escutei quando cheguei, vocês receberam uma ligação confirmando a história do cemitério. Correto?
— Sim, correto. — Responde Austrageliso ao invés de Adriano.
— Se coloque no lugar do rapaz. O menino foi enterrado vivo! É normal que esteja arredio.
— NÃO! Ele não foi enterrado vivo! Meu pai viu a autópsia!
— Verdade... vi sim.
— O senhor viu mesmo? Os órgãos foram para doação? Por que podemos pedir o registro dos órgãos que foram para doação.
— Não fazemos doação de órgãos. Nós vendemos... e o senhor sabe muito bem disso. Inclusive, vendemos os órgãos dele!
A resposta sai crua e raivosa.
— É uma pena que tenham vendido... me adiantaria muito o trabalho. Então teremos que esperar o resultado de DNA. Mas, adianto logo, quem está ali é mesmo seu filho.
Austrageliso, ficou em silêncio. Observando Américo falar, para então dizer:
— Américo, acredito que não esteja levando a sério que presenciei á autópsia.
— Não é que não acredite. Mas, pensa comigo... como isso que me disse é possível, estando seu neto ali dentro?
— Ainda não temos resposta para tudo. Porém, sei que muitas vezes o natural não explica o sobrenatural.
Adriano olha incrédulo para seu pai, não acreditando no que acabara de escutar.
— Só mais uma coisa... — Américo, interrompe o silêncio dos dois — colocando mais uma pulga atrás das duas orelhas... Se minhas suspeitas forem confirmadas, poderemos passar a ter um problema maior.
— O delegado.
Responde Austrageliso.
— Exatamente. Não me lembro que alguém tenha voltado dos mortos. Principalmente, se o corpo foi periciado.
— A polícia pode achar que estejamos envolvidos e que tentamos mantar Victor.
Adriano, olha para seu pai.
— Hum, é possível mesmo. Um assassinato que não deu certo, porque a vítima conseguiu escapar do cativeiro em baixo da terra. Meu Deus, quanta asneira.
— O que faremos? — Adriano pergunta pensativo.
— Podemos fazer o que não conseguiram ou seja, achar que tentou mata-lo.
— Essa situação começou a ficar mais que perigosa.
Pai e filho olham ao mesmo tempo para a porta do quarto onde Victor descansa.
— O que vocês pretendem fazer?
Pergunta Américo, mexendo no bolso do jaleco procurando o maço de cigarro.
— Vamos ligar para o delegado, marcando uma nova visita lá em casa. Precisamos dele bem próximo, nesse momento.
Adriano, balança a cabeça concordando com seu pai.
— E com Victor presente para responder todas as perguntas do delegado.
Américo e Adriano se olham. O velho, sem piscar os olhos, parecia olhar para um futuro bem próximo.
— Bem, estou indo. Preciso levar o material para o teste de DNA. Mantenho contato assim que tiver alguma resposta.
— Nós vamos continuar por aqui. — Explica Adriano Nabuco.
— Minhas costas e pernas doem. Irei sentar ao lado do meu neto e descasar um pouco.
Adriano, em silêncio, observa seu pai e Américo irem embora por caminhos diferentes.
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