39 - CAPITULO IX

Os dias que se passaram, depois de todas as vidas que assassinei, foram os piores da minha existência até hoje. Não tem um dia que não pense neles.

É verdade que a vida de Eleonor, me foi de um alento indiscritível, porém, preciso confessar que me arrependi no início em trazê-la comigo.

        Como comecei dizendo, os dias que seguiram foram horríveis. Eu via, em meus sonhos acordado, o que os três fizeram com Sophie, e também via o que tinha feito com as famílias deles.

O Conde havia alertado. Mas, não escutei. A dor pelo que fiz foi horrível. Então, parei de me alimentar.

Toda vez que olhava para Eleonor, via seus irmãos e mãe sendo mortos por mim.

       Quando Eleonor tivesse adolescente, como viveria no meio de vampiros? Como explicaria o inexplicável?

E cada vez que pensava nisso, mais certeza tinha do que deveria fazer: Colocaria uma estaca em meu coração.

      Mas, essa ideia não me foi apresentada de pronto. A mente de um vampiro sempre vai ter ojeriza daquilo que o machuca... fazendo-o fugir para bem longe.

      Eu não tenho medo de estacas. Posso desarmar um humano fácil-fácil, com uma estaca em punho, mas, um outro vampiro... a porra fica séria.

      Fiquei primeiro sem me alimentar, como já havia dito, fiquei semanas enfurnado dentro do meu esquife. Porém, continuava mais que saudável.

       Ao invés de acordar a noite enfraquecido, me acordava mais forte ou do mesmo jeito. Mais tarde eu saberia o porquê disso.

       Entendendo que minha dieta de auto aniquilação não estava funcionando corretamente, martelei uma estaca - que parecia mais uma tora de madeira - atravessando e prendendo-o a porta do meu esquife.

        Quando puxasse a porta do meu esquife, seria atravessado pela minha estaca.

— Você acredita que é o primeiro vampiro a pensar nisso?

     A minha brilhante ideia foi impedida de execução quando me fizeram essa pergunta.

      O Conde Vlad, não sei como - mesmo sendo um vampiro-, estava sentando bem na frente do meu esquife me olhando.

— O último que tentou fazer isso, ficou semanas preso do caixão num morre mais não morre. Lembrando que você herdou toda minha genética na sua transformação.

       Olhei para ele incrédulo. Não acreditava que já haviam tentado se matar desta forma.

        O Conde disse-me também que poderia enfiar a estaca no meu coração, se assim o quisesse... mesmo depois de ter perdido seu tempo, me alimentando enquanto dormia.

       Isso mesmo! O Conde Vlad injetou sangue humano, através de uma seringa por entre meus dentes.

       O Conde me agradeceu sarcasticamente por pensar em deixa-lo sozinho com um bebê, depois que morresse.

        Lógico que ele não iria fazer nada com a criança, mas, ao pensar em tirar novamente minha vida, só havia postergado o destino da menina.

       Que deveria ter deixado a mãe-natureza fazer o processo seletivo de quem morre ou de quem vive.

        Ele me argumentou que deveria ter deixado a criança lá, naquela casa, que a seleção natural das espécies cuidaria de mate-la viva ou não.

        As vidas que tirei... não consigo mais viver com isso. Foi meu pensamento como resposta.

— Eu te entendo, mas não justifica. Vou te contar um pouco da minha história. Eu nasci humano. Porém, quase não nasci... minha mãe morreu no parto, mas, antes de morrer, prometeu-me a deusa Lilith caso me salvasse, o que estranhamente aconteceu. Aos doze anos fui parar no templo da deusa para servi-la. Era o único menino naquele lugar... a deusa atendeu o pedido da minha mãe (Essa história foi contada em GUERRAS DRACONIANAS), mas, tiveram consequências eternas. Todas as escolhas trazem consequências.

              Eu escutava atentamente. E o Conde continuou:

— Foi lá que aprendi tudo sobre magia. E aí te darei novamente o poder da escolha.

          Os olhos do Conde Vlad, mudaram de cor, ficaram Lilás.

— Há uma magia chamada Tempo versus Palavra. Onde irei te ensinar a colocar palavras guardadas no tempo etéreo.

         Perguntei como funcionava.

— É parecido escrever uma carta e guarda-la dentro de uma caixa para ser aberta no futuro... porém a chave para abrir a caixa será a frase que foi colocada dentro dela.

        Sim! Eu havia entendido! Genial!

— Exatamente isso, Yvi. Escolha uma frase que marcou a vida de vocês e a guarde no tempo etéreo, quando Sophie reencarnar e proferir essa mesma frase, seus olhos a enxergarão no exato momento. Mas, vou adiantando, o caminho será quase impossível de ser achado.

          Fiquei pensativo com todas as consequências dessa magia. E se Sophie nunca mais voltasse? E vários "E se?" vieram na minha mente... Era um risco que deveria correr, mas tentaria. Levaria meu amor com resignação, mas não deixaria de correr os riscos que poderiam vir a existir.

— Não tenho como ajudar com seus remorsos. Não haverá magia alguma que mude o que foi feito. As consequências dos seus atos ruíram incontáveis futuros genealógicos ou pode ter salvo tantos outros... isso nunca saberemos.

        Eu baixei minha cabeça, aniquilei futuras gerações ou as salvei? Nunca saberei. Mesmo assim, a dor me segue até hoje, como o Conde disse que aconteceria.

— E Yvi, vou te ensinar a escolher suas alimentações, mas, mesmo assim, haverá consequências. Eu lhe disse que ser o que somos era mais uma maldição do que uma benção. Matar sempre será matar.

        Realmente havia me dito isso.

— O que te ensinarei é ser igual a mãe-natureza. Qual a sua escolha? Viver ou morrer?

       

      

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top