Capítulo 1


A maresia dançava no ar, misturando-se ao riso das crianças que brincavam na orla e ao burburinho dos turistas fascinados pelo que a cidade tinha a oferecer. Desde que minha memória se formou, nada havia mudado por aqui. As ruas continuavam a ser pulsantes, e as praias, um convite irrecusável ao descanso. Contudo, meu coração não pertencia a este lugar. Quando os navios se afastavam do porto, uma onda de saudade me invadia, uma vontade incontrolável de embarcar e seguir rumo iao desconhecido.

- Você não acha que sou maluca por não começar a faculdade no ano que vem? - perguntei, deitada sobre um lenço colorido, enquanto aproveitávamos a sombra do nosso ombrelone preferido. Meu amigo Léo, com seus olhos azuis reluzindo sob a luz do sol, me olhou com uma expressão de quem não acreditava na pergunta.

- Maluca? - Ele sorriu, sentando-se. – Esse sempre foi o nosso plano, Gabi.

O olhar de Léo se aprofundou, capturando minha hesitação.

- O que está acontecendo? - ele perguntou, a preocupação em sua voz era palpável.

- As meninas da escola não perdem a chance de dizer que eu vou me arrepender de deixar a faculdade para ir ao sertão. Às vezes, confesso que isso me incomoda... - Minha voz tremia ligeiramente, e eu não pude evitar olhar para o horizonte, buscando respostas nas ondas que quebravam na areia.
Léo assentiu, a seriedade em seu olhar refletia a profundidade de suas preocupações.

- Pense bem, você só tem dezessete anos. Nessa idade, muitas meninas estão perdidas nas ilusões do mundo. E você? Você deseja ir ao sertão para levar água e comida, e, mais importante, esperança a quem precisa. A pergunta é: será mesmo que você é quem vai se arrepender?

Ele tinha um ponto.

- E outra, senhora Gabriela, não se esqueça que essa ideia toda partiu de você! - Ele tocou a ponta do meu nariz com uma expressão de brincadeira. - Você está proibida de me deixar sozinho nessa. Se precisar, eu te sequestrarei e te levarei na mala!

Gargalhei, imaginando a cena absurda.

- Você é um bobo! - Com um gesto espontâneo, encostei a cabeça em seu ombro, buscando conforto. - Fazer missões sempre foi meu sonho. Você sabe que nada me afastará disso. Mas, mesmo assim, às vezes fico assustada. Depois de tantos anos me dedicando à escola de missões, ainda não sei se estou pronta para os desafios que virão pela frente.

- Fica tranquila, Gabi! Estou certo de que o Espírito Santo te guiará nessa jornada, fazendo de você uma fonte de luz onde quer que vá. - Ele tomou minha mão, entrelaçando os dedos, e eu senti meu coração disparar. - Lembre-se: por mais capaz que você seja, essa obra não será feita apenas por suas mãos. - O carinho em seu toque me aquecia. - Sei do seu amor pelo Reino de Deus, mas não assuma o peso do que só o Espírito Santo pode realizar.

A verdade ecoava na minha mente. Não podia pensar que a salvação do Reino dependia exclusivamente de mim. As palavras de Jesus vieram à tona, lembrando-me que Ele nos deixou o Espírito Consolador, que estaria ao nosso lado todos os dias de nossas vidas. Era firme nessa promessa que eu planejava levar a preciosa semente do evangelho.

- Obrigada por sempre me lembrar onde realmente devem estar meus olhos e meu coração. - as palavras saíram carregadas de gratidão. - É incrível como Deus te usa para me exortar e consolar ao mesmo tempo. Deve ser um dom!

- E você faz exatamente a mesma coisa comigo, mas de um jeito mais irritante! - ele brincou, mas logo seu semblante ficou sério. - Por favor, não deixe que o medo tire sua paz. Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de força. E eu mal posso esperar para servir ao sertão ao seu lado!

O alvoroço do mar atrás de nós parecia refletir o tumulto de emoções que borbulhavam dentro de mim. Com cada onda que quebrava, um desejo mais forte surgia - a certeza de que a jornada que se avizinhava seria desafiadora, mas significativa. O sertão me chamava, e, de alguma forma, sabia que eu estava pronta para responder.



O Espírito do Senhor
está sobre mim,
porque ele me ungiu
para pregar boas-novas
aos pobres.
Ele me enviou
para proclamar liberdade
aos presos
e recuperação da vista
aos cegos,
para libertar os oprimidos

Tudo isso tenho dito enquanto ainda estou com vocês. Mas o Conselheiro, v o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu disse.

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