“Você morreu a exatos sessenta minutos. E eu não tenho a menor ideia de que forma devo agir. O quão correto seria ficar sem reação alguma?

        Quando te encontrei no banheiro da sua casa, com cortes em ambos os pulsos e sangue em quase todos os lugares, minha única reação foi chorar. Eu te disse uma vez que era algo extremamente difícil de acontecer, mas não consegui segurar minhas lágrimas perante a cena que estava à minha frente. Se você soubesse como eu estava aos prantos, provavelmente, começaria a rir. Sabia que sempre fora mais forte e melhor em esconder os sentimentos do que eu – eramos  contraditórios com relação ao que a sociedade diz (que homens são mais fortes emocionalmente do que as mulheres e que estas costumam ser mais frágeis). Confesso que por alguns minutos essa foi minha única reação. Eu sei, sou um idiota. Minha namorada estava no chão, aparentemente desmaiada, com os pulsos vazando sangue e eu fiquei chorando, igual a uma criança.

        Tenho que dizer que, demorei para voltar à mim e lembrar de que deveria chamar ajuda. A ambulância tardou a chegar. Foram, exatamente, vinte e dois minutos de espera. Observei o seu corpo por mil trezentos e vinte malditos segundos, antes que o socorro finalmente chegasse. Talvez se eles tivessem chegado antes, você ainda estivesse viva. Talvez se eu tivesse ligado imediatamente, você estivesse viva. Talvez se... É assim que tenho passado esses sessenta minutos, pensando nos 'talvez' e nos 'se', mas sem saber se realmente você estaria viva de alguma forma.

        Não entendo porquê você decidiu que tirar sua própria vida era o melhor a se fazer. Não entendo porquê não conversou comigo sobre o que quer que a estava incomodando para que eu pudesse mudar. Não entendo porquê não pôde viver e simplesmente me amar.

        Eu te amava Elem. Te amava como nunca tinha amado outro alguém.

        Quando declarei meu amor por você pela primeira vez, lembro que você me olhou como se eu fosse a pessoa mais estranha que vive no planeta Terra. Disse que não entendia como alguém poderia amar você. Havia sido a minha vez de te olhar com estranheza. Meu amor, como alguém poderia não te amar? Você era tão arisca e marrenta, mas ao mesmo tempo tão doce e autêntica. Você não sorria com frequência quando nos conhecemos e todos achavam isso esquisito, mas eu entendia que ninguém lhe dava motivos para abrir um amplo sorriso. Você criticava a maioria das coisas e pessoas, mas eu sabia que era apenas sua opinião sincera. Elem, eu te amava, apenas porque você era... você.

        'O que é o amor? O que é amar uma pessoa?' Me perguntaram uma vez (não me recordo quando, nem em quê circunstância). Não soube responder na época. Agora, eu sei. O amor é o mais profundo dos sentimentos e, como tal, tem o poder de destruir as pessoas de uma forma tamanha que depois é impossível se recuperar completamente. Isso soou, no mínimo, ruim, mas é o que eu acho. Quando se ama alguém, é o mesmo que dar uma parte de você mesmo aquela pessoa (a sua melhor parte) e isso dá a ela poder sobre você. Então, quando a pessoa te magoa ou você a perde, um pedaço seu vai embora junto. Um pedaço meu foi arrancado a minutos atrás. Nunca mais conseguirei recupera–lo.

        Porque você tirou sua própria vida?

        Gostaria de ter a resposta para essa pergunta, porque talvez assim eu não me sentisse tão culpado como estou me sentindo agora. Eu disse poucas vezes que te amava? Te deixei muito tempo sozinha? Não lhe dei alguma coisa importante? Você sofria de algum modo por causa de alguma coisa?... Eu nunca saberei.”

        Meu nome é Alex e escrevi essa pequena carta para a minha namorada, que se suicidou na noite de ontem. Não sabia o que fazer, então decidi escrever uma carta para ela, dizendo isso. Pode parecer estranho, mas eu estava tão confuso – ainda estou. Decidi postar a carta aqui porque acredito que possa vir a ser importante para alguém. Quem sabe algum namorado possa impedir que o mesmo aconteça com sua namorada. Impedir o que eu não consegui.

        Tenho vergonha de admitir, mas nem sabia que a Elem teve problemas sérios de depressão quando tinha quinze anos – sua mãe me informou hoje, pela manhã, afirmando que ela poderia ter voltado a ficar depressiva. Nós namoramos por mais de um ano e eu não sabia quase nada sobre sua vida...

        Não vou generalizar, dizendo que quando uma pessoa comete suicídio é por achar que ninguém a ama. No entanto, sem dúvidas, esse é o motivo em alguns casos – achar que ninguém sentirá sua falta. Há também casos em que o indivíduo se sente extremamente sozinho e incompreendido, acreditando que nunca é verdadeiramente ouvido.

        Eu espero que quem estiver lendo isso, diga a pessoa que ama que... a ama. Que tente sempre se mostrar presente; não deixe sua namorada – ou quem quer que seja – se sentir sozinha e tente sempre compreende–la, porque depois não tem mais como dizer que se está presente e que se importa.

        Aproveite a oportunidade que você tem de salvar o seu amor, porque eu deixei essa oportunidade passar. Sei que me arrependerei eternamente por isso.

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Obrigado por ter lido.