O Segredo de Roman
na noite que Madeline Stuart morreu
A primeira lembrança de Roman sobre amor, era com Clarisse. Lembrava-se de olhar no berço, encorajado pela mãe, e encarar a irmã recém nascida, ela era tão frágil, tão pequena, e tão sorridente. Roman sentiu algo quente e acolhedor espalhar-se pelo seu peito, e ele soube, naquele exato momento, que, não importava como, sempre a protegeria. Não sabia porque essas lembranças vieram à tona enquanto dirigia até a casa de Dallas, só sabia que ultimamente, sentia que estava falhando, Clarisse parecia cada dia mais afundada na própria merda. Percebeu a piora no comportamento da irmã no último mês, ela estava mais magra, quase não comia, estava sempre irritadiça, e ficava trancada no quarto o dia todo — isso se estivesse em casa. Ele a ouvia gritar à noite, por conta dos pesadelos.
Eu só quero ajudar, pensava com amargura, Eu só quero te proteger. Gostaria que voltassem a ser crianças por um momento, apenas para poder fazer tudo de novo, mas da maneira certa. Nesses momentos, Roman odiava os pais. Onde eles estavam, quando Clarisse começou a definhar? Quando as drogas tornaram-se sua única fonte de alegria? Irritado, socou o volante. Aumentou a música da rádio e tentou dirigir sem causar um acidente. Logo, estava subindo as escadas para o quarto de Dallas. Ele viu Blaire primeiro, os cabelos loiros caindo pelas costas, ela estava arrumando a fantasia para a festa de halloween, mas não era ela quem ele queria naquele momento.
— Onde está Dallas?
— No banheiro...
Ele deu meia volta, sem escutar o resto. A ruiva estava com um roupão, penteando os longos cabelos enquanto se olhava no espelho. Roman a abraçou por trás, afundando o nariz na curva do seu pescoço, o cheiro de sabonete floral era familiar, lembrou-se de ouvir Dallas reclamar de sabonetes que cheirava a doces, ela achava ridículo.
— Você está bem? — ela indagou, franzindo a testa.
— Não.
— Seus pais?
Roman odiou que ela já soubesse.
— Clarisse está piorando — murmurou, olhando pelo reflexo do espelho. — E eles não dão a mínima.
— O que eu posso fazer? — Dallas se virou, segurando o rosto dele entre as mãos. — Me diga o que fazer para ajudar.
— Eu só... Eu só quero que Clarisse fique bem.
— Eu sei.
Dando-lhe um leve beijo nos lábios, ela o levou até a cama. Roman a abraçou, deitando a cabeça em seu peito e fechando os olhos. Ele só queria cinco minutos onde não estivesse se preocupando com a saúde mental e física da irmã mais nova, ou como o pai era ausente, ou nas provas da faculdade que ele estava falhando. Roman só queria ficar abraçado com Dallas, mesmo que fosse apenas por cinco minutos.
🔪🔪🔪
— Pensei que não mentissemos um para o outro — Roman soltou com acidez.
Clarisse desviou o olhar, estava aérea, o que não era incomum, mas por algum motivo, deu calafrios em Roman. Era como se ela não percebesse a magnitude de suas ações durante os últimos meses. Namorando, não só o professor da universidade dez anos mais velho que ela, mas também um traficante, sentiu-se estúpido por não ter notado antes, afinal, Toledo também era seu fornecedor.
— Clary! Olhe para mim!
— O que você quer que eu diga, Roman? Que eu vou parar?
— Quero que me diga onde estava com a cabeça quando começou a namorar um traficante!
Clarisse suspirou, colocando o dorso da mão sob os olhos pintados de preto, murmurou algo inaudível e então se afastou do irmão, deitando no gramado. Roman soltou um palavrão alto e Dallas aproximou-se com cautela, segurava o celular entre as mãos.
— Ela não está atendendo.
— Porra — a raiva fez seus punhos se fecharem. — Ela vai foder com a gente!
Dallas também soltou um palavrão. Ele estava, propositalmente, ignorando o que Madeline disse, aborto, sempre adorou o pescoço de Dallas, mas naquele momento ele gostaria de torcê-lo entre os dedos. Não pelo aborto, mas pela ideia que vinha com ele, pelas mentiras, não só ela não queria ter o seu filho, como mentiu descaradamente sobre isso.
— Roman — ela começou, com os olhos cuidadosos e assustados.
— Agora não. Temos problemas maiores.
De repente, Clarisse se levantou, olhando de maneira determinada para o bosque. As próximas palavras que saíram de sua boca atormentaram Roman pelo resto de sua vida:
— Vamos procurar por ela.
— E entrar no bosque à noite? — indagou Lola com sarcasmo. — Que ótima ideia!
— Bem, ela não vai aparecer. E acabou de nos ameaçar, vamos ficar parados esperando?
— Mads não vai dizer nada — disse Dallas, mas não soou convincente. — Não vai...
— Bem, se vocês querem ficar aqui.
— Clarisse! — Roman gritou em vão, a garota já adentrava a mata. — Inferno!
— Isso não é uma boa ideia — sussurrou Blaire, e ele concordava veementemente.
— Não há ideia melhor — disse Jackson, que, até então, estava em silêncio.
Eles se entreolharam, e em concordância, seguiram para o bosque.
🔪🔪🔪
A primeira coisa que ele viu foi o sangue. Sangue nas mãos de Clarisse, em sua roupa, em seu rosto, em seguida, o corpo de Madeline. A loira estava caída no chão, a cabeça entortada para a direita, e mais sangue, suas roupas cor de rosa estavam manchadas de vermelho, assim como seu rosto perfeito e ao seu lado estava a arma que foi usada, uma pedra grande o bastante para fazer um estrago.
— O que você fez? — questionou, segurando os braços de Clarisse.
Ela não respondeu. Estava atônita.
— Clarisse! — ele segurou suas mãos, manchando-se de sangue também. — O que você fez?
— Eu a matei.
Clarisse caiu no chão, abraçando os joelhos e chorando, chorando como uma criança. E Roman tinha sangue nas mãos. Sua mente estava tão perplexa que não conseguia pensar em mais nada, além do corpo caído de Madeline e seus brilhantes olhos azuis, era como se ela o encarasse. Você fez o que prometeu que ia fazer, ele percebeu. Porque Madeline Stuart tinha acabado de ser assassinada, e iriam atrás do culpado. Culpada. Clarisse iria para a cadeia. Ele sabia o que acontecia com drogados na cadeia, o que faziam.
Seu pulso se fechou novamente.
Roman fitou o galho em que havia tropeçado quando encontrou a irmã. Era quase do tamanho de um taco de beisebol, ele observou Clarisse arregalar os olhos, conforme pegava o galho e sentia a madeira pesada. Sempre foi uma criança com problemas de raiva, extravasava com esportes, drogas e sexo, talvez estivesse na hora de tentar algo diferente. Quando se aproximou do corpo de Madeline novamente, ela segurou a barra de sua calça, não sabia como ela ainda tinha forças para fazer isso.
— Não... Por favor... — Madeline tentou dizer, saiu de sua boca também, os dentes estavam vermelhos. — Morrer... Sozinha... Por favor...
Ele não a deixou terminar. O galho desceu em direção ao abdômen, acertando com força, em seguida ao seu rosto, seu belo rosto que lhe garantia tanta fama nas redes sociais, não tão belo agora, sujo de sangue, os olhos arregalados em terror, e as marcas que a madeira deixava. Roman acertou uma vez, depois outra, e então parou de contar, sangue espirrou em suas mãos, na sua roupa, pelas folhas no chão, por todo lugar. Clarisse não disse nada, e ele só parou quando a mão de Madeline soltou sua calça.
— Roman!
Dallas soltou um grito, não soube reconhecer se era dor, surpresa ou medo. Talvez uma junção de todos. Ela o empurrou do caminho, debruçando-se sobre o corpo morto de Madeline.
— Não faça isso — ele ralhou e tentou puxá-la para longe. Estava ofegante de excitação. — Vai se sujar de sangue.
— O que você fez? — Dallas perguntou entre lágrimas, as mãos abraçando o corpo de Madeline. — Por que?
— Clarisse a acertou com uma pedra — Roman disse, esfregando a mão suja de sangue no rosto. Não queria se explicar, queria um cigarro. — Eu... Eu só terminei o serviço.
— Roman — a Monroe o olhou com horror estampado na face. — Você tem noção do que acabou de fazer?
Sem aguentar, segurou Dallas pela cintura e a puxou para longe de Madeline. Os olhos azuis pareciam encará-los com ódio. Assassino. Assassina, eles diziam, os irmãos homicidas. Dallas afastou-se dele, balbuciando palavras desconexas, ele viu uma luz se aproximando, provavelmente o restante dos amigos, seguindo o som do choro de Clarisse.
— Merda — disse, em seguida acendeu um cigarro.
Ele fitou os olhos de Madeline sobre a fumaça. Assassino.
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