O Segredo de Aspen

na noite em que Madeline Stuart morreu

Aspen vomitou pela segunda vez. Toledo riu da primeira, mas agora parecia irritado. O garoto cuspiu na lata de lixo, tentando se livrar do gosto do vômito, mas sabia que logo colocaria as tripas para fora novamente. Toda vez que piscava via Madeline no chão, morta, os olhos abertos e vazios. E o sangue. Não pensou quando pulou em cima da loira e a segurou entre os braços, e agora se arrependia, pois a blusa cheirava a uma mistura de morte e perfume francês. Me perdoe, ele pensava a todo momento. Odiou Madeline por anos, e se apaixonou por ela em um mês, apenas para vê-la morrer. 

— Se vomitar nos meus sapatos, vai ficar com o nariz quebrado — alertou Toledo. — São sapatos caros.

— Estou bem.

Os dois estavam nos prédios da ala oeste, indo em direção a sala de segurança. Toledo tinha a chave, e iria apagar as filmagens das câmeras. Mas não todas, para não parecer suspeito, ele completou, piscando.

— Você já fez isso antes? — indagou Aspen, não por curiosidade, mas porque se não falasse iria vomitar novamente.

— O que? O assassinato ou as câmeras?

— Ambos.

Toledo ficou em silêncio por alguns segundos. Aspen imaginou que não ia conseguir uma resposta, e então ouviu:

— Mais vezes do que consigo contar.

— Temos alguma chance de sairmos dessa?

— Sim — Toledo parou em frente a uma porta, olhando para os lados antes de pegar a chave no bolso. — Se fizerem tudo certo.

— Mas... É assassinato.

Toledo se virou bruscamente, agarrando a gola da camisa de Aspen. Seu hálito quente bateu no rosto do garoto quando disse:

— O primeiro passo para não ser pego, é jamais admitir o que fez em voz alta.

— E o segundo passo?

— Ouça a garota esperta. Lola, certo?

Aspen se livrou do toque de Toledo. Não gostava de se lembrar de como Lola estava fria, vendo o cadáver de uma amiga. Namorou com a Simón por anos, mas apenas naquele momento via sua verdadeira face, na verdade, a verdadeira face de todos os seus amigos.

— Vamos, garoto — chamou Toledo. — Temos muito o que fazer. 

🔪🔪🔪

A primeira câmera explodiu em milhares de pedaços. Aspen se assustou com o barulho, começando a se sentir paranóico, mas o corredor estava vazio. Toledo segurou o taco de beisebol e mirou na próxima câmera. Bum. Em segundos também estava destruída. O barulho da música ia diminuindo conforme seguiam o caminho para o gramado. Destruindo qualquer evidência que pudesse comprovar que eles haviam seguido Madeline.

— Você já apagou as filmagens — sussurrou Aspen, olhando em volta. — Por que temos que destruir as câmeras? Por que você simplesmente não as desligou quando estávamos na sala de vigilância?

— Porque se, coincidentemente, todas as câmeras da faculdade ficassem desligadas quando uma garota foi assassinada — explicou Toledo, abaixando o taco de beisebol e olhando para o garoto. — A polícia saberia que alguém com acesso às câmeras faz parte do crime. E eu não gosto de policiais na minha cola, sacou?

— Mas...

— Agora algumas câmeras foram destruídas? Qualquer adolescente bêbado poderia fazer isso. E veja só, estamos cercados de adolescentes bêbados — Toledo deu um sorriso e entregou o bastão para Aspen. — Vamos, lá. Destrua a última.

— Eu não quero.

— Ande logo, rapaz! É bom extravasar a raiva.

Não é raiva o que estou sentindo, Aspen quis dizer. Em vez disso, segurou o taco com as mãos e olhou para a última câmera, pendurada em cima da porta, dando uma visão panorâmica do que acontecia no gramado. Ou seja, toda a discussão com Madeline, a forma como ela fugiu para o bosque, como a seguiram. E como todos voltaram, exceto ela. Ele mirou e então acertou com tudo, pedaços de metal e vidro voaram por toda parte.

— Boa — disse Toledo, apertando o ombro do rapaz. — Sente-se melhor?

Aspen revirou os olhos.

— E agora?

— Agora, vamos encontrar sua namoradinha.

Por um momento, Aspen não sabia sobre quem Toledo estava falando. Lola, seu subconsciente alertou. Sentindo o estômago embrulhar novamente, ele devolveu o taco de beisebol e eles começaram a andar em direção ao vestiário feminino.

— O que vai fazer com Clarisse?

— Como assim? — questionou Toledo, erguendo uma sobrancelha. 

— O que vai fazer com ela? Ela acabou de... — Aspen se interrompeu. Nunca admita o crime. — Ela está bem abalada.

— Clarisse vai ficar bem. Um pouquinho de especial-k e ela vai estar fazendo piada sobre tudo isso.

Aspen quis vomitar pela terceira vez.

— Não se importa com ela, importa?

— Garoto — a voz do traficante parecia levemente irritada. — Eu não gosto de receber muitas perguntas, entendeu? Cuide dos seus problemas.

Eles seguiram em silêncio dessa vez. O banheiro feminino estava escuro, com as luzes apagadas, e quando Aspen tentou acendê-las levou um tapa na mão. Lola o olhou com a testa franzida.

— Não acenda. Não podemos chamar atenção.

Demorou alguns segundos para que os olhos do Trevor se acostumarem com a escuridão. E então, conseguia ver Anastásia limpando o sangue de Clarisse, a esfregando debaixo do chuveiro. A White ainda estava choque, com os olhos perdidos, e apenas demonstrava reação quando Toledo se manifestava. A segunda cena mais deprimente da noite. 

— Sua mão está sangrando — murmurou Lola, o fitando com preocupação.

Aspen encarou os dedos, uma unha rachada sangrava mais que o normal, e ele não sabia quando havia se machucado. Talvez quando se jogou no chão para pegar o corpo morto de Madeline e colocar a cabeça sobre seu peito, na esperança de ouvir um batimento cardíaco. Em vão. E agora estava sujo de barro e sangue, cheirando a perfume de Madeline, e ela estava jogada nos bosques. Deformada e morta.

— Aspen, Aspen — chamou Lola, trazendo-o de volta à realidade. — Não faça isso. Pare de pensar nela, por favor.

— O garoto vai surtar — murmurou Toledo, enquanto ajudava Anastásia a vestir Clarisse. — Precisa conversar com ele.

— E eu preciso ir — disse Anastásia. Ela já devia ter se limpado, pois até mesmo os sapatos estavam brancos novamente. — Jackson e Roman já se livraram do galho, agora só falta Blaire e Dallas fazerem sua parte.

— Tem certeza que pode alterar o horário das câmeras da sua casa? — indagou Lola.

— Sim. Já fiz antes. Você vai ficar bem?

— Nos encontramos amanhã...

— Na minha casa — completou Toledo.

— Certo. Certo.

Quando Anastásia se foi, Lola voltou para Aspen. O rapaz havia escorregado pela parede, sentando-se no chão, começando a tremer violentamente.

— Aspen, por favor, me escute. Estamos juntos nessa, entendeu? Eu vou proteger você.

O celular de Lola tocou, pelo canto do olho, Aspen viu o nome Andy brilhar na tela. 

— Merda! — a Simón respirou fundo, digitando furiosamente no celular e então voltando sua atenção para Aspen. — Durma na minha casa hoje, ok? Eu vou te explicar tudo o que tem que fazer. 

— Dormir... Com você?

— Sim. Mas se alguém perguntar, nós não estamos juntos, entendeu?

A cabeça de Aspen rodou, e ele queria apenas fechar os olhos e dormir. Dormir até que tudo desaparecesse.

— Está tudo bem — a mão de Lola tocou-lhe o rosto, e o toque era tão familiar que Aspen soltou um suspiro. — Eu te amo. Você me ama, não é?

Ele apenas assentiu, sem conseguir dizer as palavras. 

— Nós vamos resolver isso. Eu vou te proteger, porque eu te amo, Aspen. Sabe disso, não é?

Acenou mais uma vez.

— Então — Lola o ajudou a se levantar, enquanto sussurrava docemente. — Só faça o que eu mandar, ok? Só assim nós podemos ficar juntos, entende? O nosso futuro, Aspen, você não quer que fiquemos juntos para sempre? Foi o que você me disse aquela vez. Juntos para sempre. Certo, Aspen? 

Ele não acreditava em uma palavra sequer que saia da boca de Lola. Era tudo mentira. Tudo calculado para poder o controlar, para que não estragasse seu plano. E mesmo assim, aquelas falsas promessas e as declarações vazias de Lola eram tudo que ele tinha, portanto, se agarrou a elas.

— Certo.

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