Tão perto, tão longe
— Benjamim, preciso falar com você. — Jéssica entrou no meu escritório, sem pedir licença, com os braços cruzados.
Estava com roupa de ginástica preta e roxa revelando o que fazia nas últimas horas. Seus lábios estavam em uma linha fina e parecia ser um assunto sério.
— Fale. — Incentivei.
— Eu vou querer a guarda de Gabriela. — ela começou sem rodeios. — E não tente roubá-la de mim, tenho suas garrafas contra você.
Senti-me sem chão mais uma vez naquela semana. Era como se o ar de meus pulmões estivesse sumindo e não tinha como obter socorro. Não ver Gabriela todas as manhãs seria doloroso demais para suportar.
— Mas... — Tentei argumentar
— Ela precisa de uma família estruturada. Eu posso dá isso para ela, você não. Gabriela não precisa de um pai bêbado para cuidar. — Jéssica falou já com a voz alterada.
— Uma família estruturada? — ri sem humor — Você quer que ela tenha um novo pai? Quem vai ser? Mark? Aquele cara não sabe nem amarrar seu próprio cadarço quanto mais cuidar de uma criança!
— Ao menos ele não é um alcoólatra! — ela apontou o dedo para mim e eu me levantei.
— Eu não sou um alcoólatra! Eu vou recorrer o que for preciso para ter minha filha perto de mim! — Gritei.
Jéssica soltou um barulho estranho em frustração, mas não falou nada e saiu do escritório. Eu perdi meu casamento e também perdi o amor da minha vida, mas nunca vou deixar perder minha filha.
Nunca.
Suspirei e cocei as têmporas. O relógio marcava quase dez horas e achei inconveniente ligar para Joey agora, porém, de manhã seria a primeira coisa que iria fazer. Lembro de ouvi Joseph falar que guardaria o documento para o divórcio se eu mudasse de ideia depois, e agora, ele tinha que tentar a guarda de Gabriela. Stamper teria um grande desafio pela frente.
Meu celular tremeu e um barulhinho conhecido o aparelho fez. Depois de tirar o bloqueio do celular e vi que era apenas uma notificação de um vídeo que Joey me marcou em uma das minhas redes sociais, totalmente esquecidas por mim. Entrei no site e vi a publicação. Meu peito doeu como se algo cortante afundasse em meu coração. Ele havia marcado mais três pessoas.
"Sempre sentiremos sua falta Olivia Everful :("
Cliquei no link mesmo com uma voz forte gritando em minha mente que isso ia fazer tudo mais doloroso. No vídeo, vi Liv sorrindo em cima de um palco e, eu tocando violão bem ao seu lado, no casamento de Joey e Alyna me fazendo lembrar-se daquele dia.
Na manhã que eu acordei com Olivia ao meu lado decidi levá-la até meu quarto — cabe ressaltar que ela dormia como uma pedra — e tomei banho fui logo indo direto para a cozinha, pois eu sentia muita fome. Quando voltei para meu quarto — com bastante dificuldade já que parecia que toda cidade estava dentro daquela casa — ela não estava mais lá e antes que eu fosse procurá-la, Joseph apareceu me chamando para arrumar-me antes que chegasse mais atrasado que a noiva. Lembro muito bem de ficar nervoso e sorridente enquanto esperava uma mulher nos organizar em casais e ainda ouvi Joey comentar que Alyne teve a brilhante ideia de juntar Liv e eu.
Eu sempre gostei da noiva dele mesmo não a conhecendo e, depois disso, passei a gostar mais ainda.
Joey comentou uma vez que nunca pensou que Jéssica e eu pudéssemos nos separar um dia; respondi que se estivesse casado com Olivia nada disso tinha acontecido e eu o fiz ri.
Mas era verdade.
Olivia sempre foi a mulher perfeita que sempre esteve em minha frente e eu fingi que ela era invisível.
No momento em que estávamos em fila para entrar no jardim onde acontecia o casamento, Olivia entrelaçou nossos braços e sorriu me fazendo perceber que era o certo. Eu e ela éramos o certo. Nós éramos certos juntos.
— Eu realmente não entendo como eu fui parar no seu quarto essa manhã. — ela franziu o cenho.
— Você acredita em mágica? — perguntei.
— Acredito nesses seus músculos. — ela cutucou meu braço com uma careta.
Ri dela e escutei meu nome e depois o de Liv. Com um sorriso em nossos rostos entramos no jardim. Era tudo tão bom a sensação de tê-la ao meu lado, quem me visse naquela hora não diria que há dias atrás eu estava na fossa.
Só depois daquela conversa que tivemos uma noite antes, me sentira melhor e observar Olivia virou meu passatempo favorito. Sinceramente, não me lembro de nada naquele casamento a não ser o sorriso que Olivia esboçava para Alyna.
Na festa todos nós estávamos nos entrosando. Confesso que eu sou eternamente grato pelo Joey ter me convidado, parecia que há tempos não me divertia desse jeito.
Então, depois de uma apresentação entre os padrinhos, Olivia deu uma ideia para que eu tocasse Be My Husband para os noivos enquanto ela cantava. Liv não tinha a melhor voz do mundo e todo mundo ria de sua macaquice no palco.
Foi naquele momento que eu percebi que estava apaixonado por ela. Eu sempre a amei; era como se tivesse despertado um sentimento antigo. Aquela mulher divertida que rebolava tentando parecer sexy, sem nenhum pingo de sucesso, era mais do que eu sabia e estava pronto para conhecê-la melhor.
Foi naquele dia em que beijei a pela primeira vez.
Ela estava em um lugar vazio do jardim e olhava para um canteiro de rosas brancas que parecia algum tipo de câmara. Olivia estava perdida em pensamentos mexendo com a barra deseu vestido de seda azul.
— Bonito lugar, não é? — Perguntei para chamar sua atenção. Ela virou para mim e sorriu.
— Sim. Eu adoro essa casa. — Comentou.
Desviei o olhar para o chão e pus as mãos no bolso andando para ficar ao lado dela. Eu não sabia o que dizer, mas queria conversar com ela sobre qualquer coisa, então, uma pergunta um tanto delicada me veio à cabeça, o que pensei por boa parte do tempo quando me casei com Jéssica.
— Olivia. — ela olhou para mim — Por que você não foi para meu casamento?
Liv ficou tensa e fitou suas mãos. Eu fiquei esperando ela falar ansioso. Claro que havia a perdoado, era como ela soubesse que ia dá errado, mas eu gostaria mesmo de saber.
— Quer saber mesmo? — Concordei com a cabeça.
Ela suspirou dramaticamente e olhou para mim.
— Eu não aguentaria ver o casamento do amor da minha vida.
Eu estava espantado e ao mesmo tempo estava feliz. Ela me amava. Ela me considerava o amor da vida dela.
— O quê? — sibilei.
— Esquece. — ela se virou indo para de volta a festa. A peguei pelo pulso e quando ela se virou segurei seu rosto e a beijei. Antes que eu percebesse, Olivia me correspondia.
Seus lábios eram doces e eu senti todos os sentimentos que estavam florescendo mais uma vez em meu coração virem como um turbilhão em meu corpo. Naquele momento, as vozes barulhentas que falavam no jantar pareciam distantes e a única coisa que eu prestava atenção era na mulher na minha frente.
Nos afastamos para tomar fôlego e eu pedia para os céus que aquele momento nunca terminasse e então eu falei.
— Eu te amo.
Fora algo sincero de gratidão, algo que nunca disse a ela. Nunca valorizei a garota que me amava sem reservas e estava ao meu lado para o que der vier. Não era um "eu te amo" apaixonado e sim um ato de agradecimento. Eu amava Olivia como minha melhor amiga e, agora, eu estava disposto a me apaixonar por ela como mulher.
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