Capítulo 4 - O que você quer?

Habituada a acordar cedo, Hinata levantou sem a ajuda do despertador e seguiu rumo ao banheiro. A alegria, que dificilmente a atingia antes das dez da manhã, irradiava por sua face enquanto escovava os dentes. Aquele dia seria especial, e não era só por ser seu dia de descanso. O motivo que a levava a sorrir bobamente para seu reflexo era o almoço na casa de Naruto, o anuncio do noivado.

Despiu a longa camisola branca de algodão e as peças íntimas e entrou no box, ligou o chuveiro e testou a temperatura com a mão antes de ficar embaixo do jato de água morna. Tomou um banho rápido, secou-se e voltou ao quarto para vestir a roupa que passara noite anterior e deixara separada em cima de uma cadeira. Camisa de manga cumprida lilás e terninho azul combinando com a calça jeans. Calçou sapatilhas pretas e sentou na poltrona ao lado da cama. Como Naruto só a buscaria às onze horas, pegou um livro para se distrair e tentar diminuir sua ansiedade.

Esperara a semana toda por aquele dia, quatro dias desde que ele fizera o pedido. A ânsia de ser oficialmente declarada como noiva a deixará aérea, em um estado de encantamento que tornara sua primeira semana como governanta de Sasuke suportável.

Seu rosto se contorceu em uma careta ao recordar o que passara naquela semana. Durante o dia fazia suas funções com a maior alegria, mas a noite tinha de suportar o desfile de "amigas" de Sasuke, que chegara ao absurdo de levar duas na noite anterior. Como se isso não bastasse, ainda tinha a zona que se transformava a suíte. Nunca estivera em um motel, mas apostava que era parecido. Quase vomitara na primeira vez que coletará camisinhas jogadas a esmo pelo quarto.

O que também tornara a semana suportável era que Sasuke parara as brincadeiras e comentários ferinos. Ele mal lhe dirigia a palavra, só falando o estritamente necessário para que executasse suas funções. Para Hinata isso era perfeito, estava acostumada a ser invisível aos olhos de seus empregadores.

Ouviu duas batidas na porta. Estranhando, abriu uma fresta e encarou Sasuke com surpresa.

— Não vou ataca-la — ele resmungou. — Naruto telefonou...

— Naruto?!

— Sim, Naruto — Sasuke repetiu com desdém. — O que me lembra: Não deve distribuir o número do meu telefone.

— Não fiz isso...

— Garanto que não fui eu que dei o número para ele.

Hinata abaixou o olhar. Era óbvio que ele não o fizera e que não adiantaria alegar inocência.

— Desculpe-me... — murmurou. — Não sei como ele conseguiu, mas pedirei para que não volte a ligar...

— Ótimo! Odeio ser garoto de recados na minha própria casa — Sasuke retrucou. — Seu noivo pediu para encontra-lo na casa da mãe dele. Teve um contratempo e não poderá leva-la.

— Contratempo...?

Sasuke deu de ombros, indiferente a preocupação que luziu nos olhos da governanta.

— Ele ainda está na linha? — questionou abrindo totalmente a porta. Adiantou-se em direção a sala, mas Sasuke a deteve segurando seu braço. Estremeceu levemente e o encarou com olhos arregalados pela surpresa.

Sasuke a soltou, afundando as mãos nos bolsos da calça jeans.

— Ele desligou.

Retornou ao quarto e procurou o celular em sua bolsa. Discou o número de Naruto, porém não obteve retornou, caia direto na caixa postal.

— Pela pressa que ele tinha no telefone, duvido que consiga contato.

Zangada por ele não compreender sua apreensão, Hinata lançou um olhar irritado para o Uchiha, desejando pedir que guardasse sua opinião para si. Porém foi rápido, um momento de rebeldia que fez questão de ocultar antes que ele percebesse.

Sasuke notou e sorriu de canto, divertido em ver um traço de humanidade na "anjinho" de Naruto.

— Eu te levo.

Ainda com o celular contra o ouvido, Hinata voltou-se para Sasuke.

— O que?!

— Tenho de visitar os meus pais e você sua sogra, que são praticamente vizinhos — ele disse devagar, como se ela fosse burra demais para entender se falasse normalmente. — Estou sendo generoso ao oferecer uma carona. A menos que prefira chamar um táxi ou esperar que Naruto resolva seu contratempo e a busque.

Queria recusar o convite, feito em um tom mal educado e grosseiro, mas seria tolice.

— Obrigada!

~*S2*~

Graças à carona de Sasuke chegara à residência dos Uzumaki no horário que combinara com Kushina por telefone dias antes. Meia hora depois seu pai e sua irmã chegaram e, juntamente com Kushina, seguiram para a sala de estar.

Kushina era uma anfitriã excelente, extrovertida e bem humorada. Hinata prestava atenção em cada gesto dela, memorizando para usar no futuro, embora duvidasse que conseguisse agir com tanta espontaneidade. Entreter pessoas, falar com elas sobre assuntos variados não fazia parte de sua personalidade. Tinha receio de desapontar Naruto quando recebessem convidados após o casamento.

Sua preocupação com eventos futuros só não era maior porque seu noivo estava atrasado, muito atrasado. Sentada entre a irmã e o pai, que olhava a todo o momento o relógio, ficava difícil ignorar esse fato.

Meio dia passou e, em vez de seguirem para a sala de jantar, continuaram conversando na sala a espera de Naruto.

Não sabia se morria de apreensão de que algo horrível houvesse acontecido ou de vergonha caso o noivo apenas tivesse deixado o anúncio de lado por causa de algo no trabalho.

Apertou as mãos com nervosismo e relanceou um olhar na direção da irmã. Hanabi lhe devolveu um sorriso amarelo. Olhou para Kushina, que lhe devolveu um olhar piedoso. Na expressão fechada de seu pai enxergou o desgosto com a situação. Ele nunca gostara de Naruto e muito menos de atrasos.

Kushina chamou sua atenção.

— Como Naruto está um pouco atrasado e sabemos o motivo dessa reunião, gostaria de saber quais são seus planos para o casamento Hinata.

Hinata sentiu a garganta seca.

— Ah... Ainda não falei com o Naruto sobre isso...

Kushina estreitou os olhos azulados.

— Você deve ter algum desejo para a cerimônia. — Diante da confusão na face lívida, sugeriu: — Um casamento simples ou uma grande festa?

— Bem... Gostaria de um casamento na igreja — disse por fim, ao ver a expressão curiosa de Kushina, explicou: — Minha mãe era católica e desejava ver suas filhas entrarem na igreja... Gostaria de homenageá-la...

Sentiu a mão ser envolvida pela da irmã, que sorriu carinhosa. Arriscou um olhar para o pai. Hiashi estava com o olhar baixo, recordando o desejo da esposa, ao levanta-lo Hinata visualizou a gratidão no fundo dos olhos cor de gelo.

— Naruto sabe? — Kushina questionou.

— Nunca falamos sobre isso.

— Creio que chegou a hora de falarem. — Notando a expressão preocupada de Hinata, acrescentou: — Vocês tem tempo para aprontarem tudo.

Hinata sorriu.

Naquele momento Naruto entrou apressado. Todos levantaram, divididos em expressões de alivio, curiosidade e repreensão.

Kushina e Hinata se aproximaram dele.

— Filho o que aconteceu?

— Estive em uma delegacia.

— Delegacia?!

— Impedi um roubo — contou com um sorriso vitorioso. — Mas, infelizmente, isso me custou o celular. — Retirou do bolso da calça social os destroços do aparelho. — Demorei porque tivemos de fazer a denúncia.

— Tivemos?

— Shikamaru e duas amigas dele estavam comigo — explicou para a namorada. — Uma delas é a secretária do Sasuke.

Essa informação não tranquilizou a Hyuuga que examinou o namorado com preocupação. Mesmo com o cabelo bagunçado, o paletó e a gravata pendurados no braço e a camisa social fora da calça e com os primeiros botões abertos, nada na aparência dele denunciava que estivera em perigo, mas mesmo assim perguntou:

— Você está bem? Machucou-se?

— Estou bem, não se preocupe anjinho. — Beijou o rosto da noiva e afastou-se sorridente. — Bem, agora vamos falar do motivo que marquei esse encontro.

— Falamos sobre isso enquanto esperávamos — informou Hiashi com desgosto.

Hinata olhou do pai para o noivo com apreensão. Seu pai estava claramente insatisfeito com a demora apesar da desculpa de Naruto. Seu noivo, como sempre, parecia não ligar para o perigo que os olhos do sogro irradiavam.

— Ótimo! Estamos oficialmente noivos. — Abraçou Hinata pelos ombros com força.

Kushina sentou e todos fizeram o mesmo.

— Estávamos falando da cerimônia.

— Já tinha dito para a Hinata que quero que seja daqui quatro meses — recordou Naruto entregando o paletó e a gravata para uma empregada antes de sentar ao lado da noiva. — Mas já podemos dar entrada nos papéis e planejar a festa para os familiares.

Sorrindo, Hinata balançou a cabeça em sinal positivo.

— Ainda teremos que fazer outros procedimentos já que será na igreja — anunciou Kushina para surpresa do filho.

— Igreja?

— Minha mãe sempre desejou que me cassasse na igreja.

— Isso é mesmo necessário? — Ignorando o choque no rosto da noiva e um resmungo contrariado do sogro argumentou: — Isso seria muito trabalhoso. Lembro que a Konan passou dias fazendo um curso antes de casar com o Itachi.

— Sim, como você não é batizado... Mas é rápido...

— Como lembrei para a Hinata, vocês tem tempo, Naruto.

— Não é bem assim — objetou. — Estarei ocupado com a preparação da apresentação da nova linha da empresa. Quero acompanhar tudo de perto — explicou segurando a mão da noiva, os olhos azuis fixos nos perolados. — Creio que é melhor uma cerimônia civil e uma pequena festa.

— Acha que o trabalho é mais importante que seu casamento? — questionou Kushina surpresa.

— Não é isso — retrucou constrangido. Voltou-se para Hinata em busca de apoio. — Você entende o que estou dizendo, não é anjinho?

O silêncio que se seguiu o deixou preocupado.

Hinata olhou para o pai, que, com a expressão carregada encarava Naruto. Ao notar seu olhar ele balançou a cabeça com decepção, enxergando em sua hesitação a resposta que somente Naruto queria ouvir.

— Eu entendo...

Kushina levantou, tanto por se incomodar com a resposta, quanto por achar que o único modo de suavizar a tensão no ambiente era fingir que estava tudo bem. Afinal, se sua nora queria passar o resto da vida à sombra das vontades de seu filho, quem era ela para discordar?

— O almoço de noivado nos espera — pronunciou forçando um sorriso.

~*S2*~

Existia um motivo para Sasuke visitar poucas vezes os pais, praticamente o mesmo que o fizera se mudar anos antes: Mikoto e sua mania de lhe arranjar uma namorada.

Fora pisar os pés na mansão para que sua mãe desafiasse sua paciência elaborando planos para o seu futuro. Depois do interrogatório sobre sua vida amorosa, sua mãe passara a discursar sobre as filhas de suas amigas.

— Ela é uma mulher muito linda...

— Não duvido — resmungou entediado, mas sem surtir efeito na empolgação da matriarca.

— É formada em pedagogia. Uma pessoa agradável, de boa família...

— Sim, acredito.

— Perfeita para um relacionamento sério...

— Sei.

— E ela te acha atraente...

— Hum!

— Está me ouvindo?

— Estou.

— Mas não liga para o que digo, não é?

Sasuke apoiou o cotovelo no braço do sofá e descansou a bochecha na mão.

— Nem um pouco.

Mikoto respirou fundo.

— Você cresceu no tamanho, mas continua o mesmo menino emburrado de quando tinha cinco anos.

Sasuke olhou para o teto exasperado.

— Quando queria um brinquedo e não o ganhava, passava a ignorar todos os outros e jogava alguns no lixo.

— Está comparando mulheres com brinquedos?

— Não mude de assunto.

— Isso é um assunto?

— Sasuke Uchiha, olhe como fala comigo.

Agora conseguira irrita-la. Abandonou a posição relaxada e inclinou o corpo em direção à mãe, que estava sentada a sua frente com uma expressão desolada. Parecia que ele anunciara que tinha uma doença grave em vez de ter se entediado em ouvir a lista de "garotas para casar".

— Mãe, sejamos realistas. Não quero um relacionamento sério — disse com tom baixo para acalmar os ânimos.

— E quando pretende ter?

— Não posso definir uma data para isso.

— Não pode ou não quer?

— Não quero — respondeu convicto. — Pode planejar quantos encontros quiser. O único que vai conseguir e ver a decepção no rosto dessas mulheres.

Mikoto cravou os olhos repletos de pena sobre o filho.

— Querido, sei que no fundo deseja algo mais profundo do que tem.

— Deve ser bem lá no fundo — resmungou.

— Seu irmão dizia o mesmo antes de namorar a Konan.

— Primeiro ele teve um casamento fracassado — recordou.

— Ele pelo menos tentou passar mais de uma noite com a mesma mulher antes de troca-la por outra.

— De onde tirou que passo só uma noite com alguém antes de troca-la? — perguntou alerta. — Foi a Hinata?

— Não comece a procurar motivos para hostilizar a Hinata — reclamou Mikoto. — Quem me disse foram as revistas de fofocas e algumas amigas. Hinata nunca disse uma palavra sobre sua vida, e não foi por falta de insistência minha.

— Assume que a contratou pra me vigiar?

— Não fiz isso — negou. — Realmente a acho competente para o cargo, e deve achar o mesmo já que aceitou contrata-la.

— Não tive alternativa.

— Se você diz. — Soltou um sorriso luminoso ao declarar: — Ela durou uma semana.

Sasuke assentiu e comentou:

— Ela é persistente.

— Dedicada é a palavra mais adequada — corrigiu Mikoto. — Será difícil encontrar uma governanta igual a ela.

— Talvez um robô fosse capaz. Ela parece ter gelo circulando nas veias.

Antes que sua mãe pudesse dizer algo, seu pai, que em algum momento entre o interrogatório e a lista de futuras noras escapara de mansinho da sala, retornou no exato momento em que Kurenai chegou para avisar que o almoço estava pronto.

Sasuke lamentou que, diferente do pai, que também não gostava de ouvir os longos discursos casamenteiros de Mikoto, não tinha a escolha de sumir e reaparecer quando fosse conveniente.

~*S2*~

A comida que Kushina pedira para prepararem estava deliciosa, porém Hinata tinha dificuldade em engoli-la. Ouvindo Naruto contar alguns de seus planos de trabalho, sentia o peso do desagrado que sua decisão causara, sabia que era o centro das atenções da maioria dos ocupantes da sala de jantar. Só conseguiu erguer os olhos de seu prato quando Naruto contou que pedira para Sasuke ser seu padrinho.

— Estive ocupado com o projeto da nova linha e não tive tempo de cobrar a resposta — Naruto comentou. — Ele falou com você?

— Comigo?

— É que ele tinha receio que você não aceitasse.

— Ah... — Ela nunca aceitaria.

— Hinata aceita qualquer coisa que você aceitar Naruto — intromete-se Hanabi com um sorriso fingido. — Né, Hina?

Hinata empalideceu, chateada com o comportamento da irmã e com sua própria fraqueza. Um momento que deveria ser de felicidade fora estragado por sua culpa. Devia resistir em expressar qualquer vontade antes de consultar seu noivo.

Minutos depois Naruto declarara que precisava rever os documentos de uma transação, se despediu e foi para seu escritório.

Perturbada com tudo que acontecera naquele dia, Hinata segurou a vontade de aceitar ser levada para o apartamento de Sasuke pelo motorista dos Uzumaki, e, a pedido de Hanabi, seguiu para a mansão Uchiha, que ficava a três casas de distância da residência de Naruto. Após passarem pelos portões de ferro, Hanabi agarrou sua mão e a arrastou para dentro da mansão pela porta da frente, em vez de seguir para a direção em que ficava a ala dos empregados.

— Hana...?!

— Prometi a Mikoto que contaríamos tudo o que aconteceu no almoço.

— Realmente preferia ir para casa — murmurou.

— Do jeito que o pai está com raiva acumulada, é melhor deixa-lo sozinho.

Hinata concordava, embora a casa que se referira era o seu local de trabalho.

Andaram por alguns cômodos antes de Kurenai indicar onde encontrariam a Uchiha. Seguiram para o jardim onde, sentados em cadeiras de vime, Mikoto, Fugaku e Sasuke conversavam enquanto aproveitavam o dia ensolarado.

— Oh, queridas! — Mikoto levantou para abraçar as duas. — Como foi o almoço?

— Bom... — murmurou Hinata não querendo se aprofundar no assunto.

Para sua frustação sua voz foi encoberta pela da irmã mais nova:

— Terrível!

Mikoto olhou da expressão aborrecida de Hinata para a zangada de Hanabi.

— O que aconteceu? — perguntou para Hanabi.

— Nada — tentou Hinata, mas sua irmã não estava disposta a encerrar o assunto.

— O babaca do Uzumaki se negou a casar na igreja.

— Hanabi!

— E a Hinata aceitou tudo calada.

— Não foi assim — queixou-se Hinata incomodada por Hanabi expor sua vida daquele jeito.

— Foi pior — retrucou ignorando a palidez da mais velha. — Ele chegou atrasado, com uma desculpinha esfarrapada que só a Hinata engoliu, e nem ao menos pensou antes de se negar a atender o desejo da nossa mãe.

— Não deveria ter planejado nada sem falar com ele...

— É lógico que devia. É o seu casamento também — disse Hanabi exaltada. — Em que local guardou sua confiança e determinação? Passou da hora de utiliza-las.

Desnorteada e magoada por Hanabi estragar o seu dia, Hinata saiu apressada do jardim.

Mikoto impediu Hanabi de seguir a irmã e voltou-se para Sasuke.

— Leve Hinata para o seu apartamento.

Sasuke levantou e seguiu na direção que Hinata praticamente correra.

— Até mais filho! — despediu-se Fugaku recebendo um balançar de mão do caçula.

~*S2*~

Sasuke alcançou Hinata perto da porta principal e teve de segurar seu braço para que parasse. Ela o afastou bruscamente e ele só não zombou da atitude tempestuosa por notar as lágrimas nos cantos dos olhos claros.

— Vamos para casa.

Melancólica, Hinata concordou e não ofereceu resistência quando Sasuke a segurou novamente pelo braço, deixando-se guiar até o carro dele.

Por meia hora o caminho foi feito em um silêncio constrangedor. Mais tranquila e ligeiramente envergonhada da forma que saíra da mansão Uchiha, Hinata apertou as mãos, incerta do que deveria falar para quebrar a tensão dentro do carro, decidiu começar pelo pedido que Naruto fizera para ele.

— Naruto me contou que pediu para você ser padrinho dele...

— E eu disse que aceitaria se você quisesse — comentou Sasuke sem tirar os olhos da estrada. — Você quer?

Não, ela não queria ter qualquer vínculo com ele, mas jamais diria isso.

— Naruto quer...

— Não perguntei o que Naruto quer — interrompeu rude. — Quero saber o que você quer?

Hinata engoliu em seco antes de responder tremula:

— A-adoraria...

Viu os lábios de Sasuke se inclinarem em um rápido sorriso debochado.

— Você é péssima mentirosa Hyuuga.

— Não estou...

— Está! Nós dois sabemos disso — contestou. — Decidi que gosto da ideia de ser o padrinho. Minha primeira atitude nesse cargo será lhe dar um conselho: Naruto é idiota, tapado e não lê mentes, se não dizer exatamente o que espera dele, dificilmente ele irá supor sozinho. Diga que quer casar de branco e toda a parafernália romântica.

— Naruto é muito ocupado...

— Desculpa de merda! — Hinata o encarou com olhos arregalados. Mas Sasuke não viu, pois mantinha a expressão impassível voltada para a estrada. — Se ele não consegue dedicar um pouco de seu precioso tempo fazendo algo para agrada-la, é melhor desistir dessa palhaçada de casamento.

Com os olhos fixos nele, sem saber o que dizer, notou quando os lábios se inclinaram em um sorriso de canto carregado de maldade.

— Isso me pouparia o dinheiro do presente e das strippers.

— Strippers?!

Aproveitando um sinal vermelho retirou os olhos da estrada para fixa-los na jovem noiva.

— Elas custam caro. — Hinata piscou confusa, prevendo que havia algo ruim por trás do brilho nos olhos negros. — Sou o padrinho lembra? Tenho que planejar uma grande despedida de solteiro. — Quando o entendimento apareceu no olhar chocado da Hyuuga, Sasuke acrescentou: — Quando se cala o que pensa, corre o risco de receber o que não deseja, Hina.

O sinal abriu, ele voltou à atenção para a estrada e Hinata afundou o corpo no assento.

O novo silêncio a agradou.

~*S2*~

No domingo Hinata acordou cedo e, embora fosse sua folga, seguiu para a cozinha para fazer o café da manhã.

Passará toda a tarde e noite anterior rememorando tudo que acontecera antes, durante e depois do anuncio do noivado e agora se sentia calma, controlada e de volta a sua pele. Aquela mulher que saia correndo para evitar a própria irmã não tinha sido ela. Fora justamente isso que dissera na noite anterior quando Hanabi ligará para se desculpar. No fim ambas admitiram o erro. Hanabi por extravasar seu desgosto na frente dos Uchiha, em vez de em particular. Hinata por não ter ficado e explicado para a caçula que em um relacionamento alguém sempre tinha de abrir mão de algo em favor do outro. Embora a mais nova não aceitasse seu argumento, pelo menos prometera nunca mais se intrometer em sua vida, principalmente no que dizia respeito ao seu casamento.

Já habituada com cada canto do cômodo, movimentava-se com destreza e rapidez. Colocou a cafeteira para funcionar, cortou e ajeitou várias frutas em uma travessa, preparou pequenos sanduíches de atum e suco de laranja. Fazia tudo cantarolando, costume que pegara de sua mãe. Distraída, deu um pulo ao ouvir a voz de Sasuke.

— Quanta felicidade!

Arregalou os olhos ao se deparar com ele só de calça de moletom e nada mais. Corada, desviou os olhos para os pés descalços do Uchiha.

— Bom dia, senhor Sasuke!

Ele ignorou a saudação.

— Tem café?

— Sim. Levarei para o senhor na sala de jantar...

— Não precisa, posso beber aqui mesmo — disse sentando em uma banqueta.

Hinata serviu uma xícara de café.

— Você não desisti! — resmungou ao observar a Hyuuga empurrar junto com o café, mini sanduíches e uma taça com frutas.

— Nunca — retrucou acostumada com o mau humor e reclamação matinal do Uchiha.

— Já comeu seu desjejum?

— Não.

— Então sente e tome o café comigo.

— Eu... — Olhou envergonhada para o torso nu, voltando a mover os olhos para um ponto seguro, no caso a travessa de frutas. — Não acho...

— Sou seu padrinho agora, quase da família.

— É padrinho do Naruto, não meu — murmurou baixinho, irritada com o tom de zombaria.

— Dá na mesma. Sente! — Depois que tensa ela se acomodou ao seu lado, questionou: — Já que desconsiderou a minha pessoa, quem são os seus padrinhos?

— Neji e Hanabi — respondeu pegando um sanduiche e suco. — Mas ainda não fiz o convite porque Neji está viajando e Hanabi...

— Está revoltada com seu noivo.

—... não me deu oportunidade de pedir — completou ignorando o comentário dele e adotando uma postura profissional ofereceu: — Mais café?

Ele aceitou e, para alegria de Hinata, não continuou o interrogatório desnecessário e incomodo. Absorta na atmosfera pacífica, aos poucos relaxou em sua banqueta e notou o absurdo da situação. Passara a semana toda imaginando ela e Naruto naquela posição, lado a lado tomando o café da manhã e agora o fazia com seu pior inimigo. O destino tinha uma forma estranha de brincar com as pessoas, concluiu divertida.

— Qual o motivo do sorriso?

— Nada — respondeu ficando séria e rígida. — Me desculpe!

Sasuke levantou com brusquidão, assustando Hinata ao se inclinar sobre ela e segurar seus ombros com força.

— Não cansa de pedir desculpas? — questionou, irritado com a natureza derrotista da governanta. — O mundo não gira ao seu redor e nem está em suas costas. Relaxe!

Sem dizer mais nada saiu da cozinha.

Muitos pensamentos cruzaram a mente confusa da Hyuuga, o mais forte era que Sasuke, mesmo quando queria tranquilizar alguém, não deixava de lado o gênio autoritário.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top