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Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro.
Theophile Gautier
O amor é uma coisa muito doida! Porque, ao mesmo tempo que você está apaixonada, encantada, agindo feito uma garotinha sonhadora— em um bom sentido — internamente, juntando todos esses bons sentimentos, você também sente medo, raiva e uma tremenda aflição, com medo de perder esse amor. Então, você fica sozinha e apenas consegue pensar em como amar de novo ou se algum dia será capaz de amar alguém. No final, não importa o que você faça, você sempre estará com medo de algo, seja com medo de perder a pessoa amada ou medo de nunca encontrar uma pessoa para amar.
Quando eu namorei o Salvatore, eu não fui capaz de ser 100% feliz, porque apenas conseguia pensar quando ele iria me abandonar ou quando eu faria algo para arruinar nossa relação. Em toda minha vida, eu nunca consegui de fato ser eu mesma, nunca consegui chorar, gritar ou surtar na frente de quem amava. Mas, hoje, pela primeira vez, eu consegui fazer isso e não tive medo de perder meus amigos.
Eu sei que o Salvatore me amava, mas eu nunca consegui me sentir tão confortável com ele, mesmo o amando.
E por que estou pensando nisso? Simples, o Mike acabou de ir para seu apartamento, o Gustavo e a Kath acabara de desligar a vídeo chamada e a Kay foi dormir, e agora eu me encontro olhando para a melhor vista de Nova York, com toda sua luminosidade e perfeição, logo depois de um longo dia e desabafo na internet e pela primeira vez em anos, eu me sento em paz comigo mesma. Pela primeira vez, eu não estou me culpando por ser eu mesma.
— Está tudo bem?— me assusto com a voz grossa e rouca do Alexander, tinha me esquecido que ele ainda não foi embora.
Me viro devagar para ele, que se junta a mim no parapeito da sacada e me olha como se pudesse enxergar minha alma, com uma intensidade gritante.
— Estou te chamando a algum tempo!— me explica.
— Me desculpa, estava distraída. — sorrio.
— Entendo, hoje foi um longo dia.
— Sim, espero que isso não estrague ainda mais a minha imagem para você, sei que você não vai com a minha cara! — falo sorrindo, sem conseguir olhar em seus olhos.
— Eu gosto de você! — Alexander fala sério, me fazendo se virar para ele, surpresa.
— Como? Eu pens...
— Eu te acho muito forte, Sara. Sei que a sua vida não foi fácil e mesmo assim você consegue sorrir, ajudar inúmeras pessoas dando sua cara a tapa e falando a verdade sobre a depressão, ansiedade e inseguranças, você é incrível e eu fico feliz de estar na vida da minha irmã.
Estou chocada, desde a primeira vez que o vi, sempre supus que ele me odiava e desaprovava minha amizade com a Kay, e agora, ele está me dizendo que sou incrível, o quão errada eu estava?
— Eu não fazia ideia, obrigada por falar isso. — sou sincera.
Alexander dá um meio sorriso e eu percebo o quanto ele fica lindo sorrindo, desde que o vi pela primeira vez ficou evidente sua beleza, mas agora, com ele sorrindo, eu percebo que ele não é apenas bonito, ele é muito bonito.
— Tudo bem, confesso que não gostei de você de primeira, mas depois de você ter me falado umas verdades, mesmo sabendo que você queria falar muito mais, eu percebi que você se importava com minha irmã e comecei a te admirar, em segredo, mas hoje tive que falar a verdade, você é incrível. — cada palavra que sai da sua boca é como brasa.
Uma coisa é um amigo te falando essas coisas, mas ele, como Alexander, é um desconhecido e muito certinho, então eu devo ser muito incrível mesmo.
— Me sinto lisonjeada, você não parece o tipo de cara que diz isso para todo mundo.— sorriu, arrancando um sorriso dele.
Senhor, eu acabei de perceber que amei isso, amei o fato de vê-lo sorrindo pela segunda vez e sendo eu o motivo. Sei que isso é estranho, eu não estou afim dele, mas é muito bom saber que ainda sou capaz de fazer isso.
— Sim, não sou o tipo que faz elogios de graça e hoje, mesmo eu não entendo muito do que você disse no vídeo, eu senti a sua dor e sei que ele ajudará muitas pessoas, e apenas pessoas incríveis e fortes conseguem fazer isso. —Alexander se aproxima de mim, e faz algo que nunca imaginei que ele faria.
Alexander coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e fica olhando para elas, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Minha respiração fica irregular, minhas mãos começam a suar e meu coração a disparar, faz muito tempo desde que um homem chegou tão perto de mim, a última pessoa que fez isso, que me fez sentir esses tipos de coisas, foi o Salvatore e isso faz meses.
— Eu gostaria de te levar a um lugar.— Alexander finalmente solta meu cabelo, dá um pequeno passo para trás e envia as mãos no bolso da sua calça preta, me olhando logo em seguida, com uma intensidade gritante e quente.— Amanhã, tenho certeza que você amará, então, às oito da manhã está bom?
Como dizer não para um homem como ele? Para o olhar que ele está me dando? Como controlar o calafrio na minha barriga e o arrepio da minha espinha? Como deixar de ouvir o meu coração, que apenas ''sussurra'' que esse passeio será épico e que o Alexander mudará a minha vida para sempre? Como fazer tudo isso? No momento eu não sei e nem sei se quero descobrir.
Por que agora, eu estou sentindo o mesmo que senti quando conheci o Salvatore, estou escutando a mesma voz que me disse que ele mudaria a minha vida e ele mudou, então porquê não arriscar? Eu sei que não irei me apaixonar pelo Alexander, pelo simples fato de ainda amar o Salvatore, então não tenho com o que me preocupar.
— Por que?— pergunto curiosa, mesmo já tendo minha resposta para a sua pergunta.
— Porque o quê?— Alexander pergunta confuso e meio irritado, ele não parece o tipo de homem que escuta esses tipos de coisas, aposto que quando ele pede algo, todos fazem sem questionar nada, mas é uma pequena que eu não sou como todo mundo.
— Por que você quer me levar para esse passeio?— falo como se fosse óbvia minha pergunta e percebo que ele odiou o meu jeito meio sarcástico.
— Você é importante para minha irmã e eu quero te ajudar de alguma maneira, e acredito que este lugar irá te ajudar. — fala sério e muito calmo, como se estivesse explicando para uma criança.
— Tudo bem, eu aceito, mesmo não tendo gostado do seu tom de voz.
Alexander sorri e balança a cabeça.
— Você é um mistério Sara Lougft, espero conseguir desvendá-la. — dizendo isso ele me deixa sozinha, na sacada, tendo a única companhia a lua, a torre como vista e seu delicioso perfume.
Alexander é muito estranho, já percebi que ele é muito observador, crítico, muda muito rápido de humor e é o típico cara que tem tudo o que quer, e eu odeio esse tipo de homem, meu pai é igual a ele, mas algo dentro de mim e me diz para confiar nele, e eu me sinto bem ao seu lado, principalmente agora que ele me disse que me acha incrível, ajudou muito minha autoestima.
Em uma das mansões mais admiradas e caras de Nova York, um dos homens mais poderosos do da cidade das luzes, se encontrava inquieto e preocupado, sabia que já havia tomado uma decisão, uma das mais fáceis da sua vida, mas havia apenas um problema; era uma decisão mais difícil de se realizar.
Ele nunca imaginara que um dia desistiria da sua candidatura a presidente dos Estados Unidos, mas no momento em que ele viu o vídeo de sua filha, se lembrou de cada mentira que fizera ela contar, cada aniversário e apresentações que perderá das suas filhas, se lembrou de sua filha em seus braços, quase sem vida e pedindo para ele deixá-la ir, porque estava cansada das mentiras e perfeições que tinha de aparentar. Ele fez isso com ela, ele sabia ser o culpado pela desgraça das filhas e esposa. Enquanto sua mais velha era usuária de drogas, suicida e com uma autoestima muito baixa, a sua caçula era invejosa, mimada, arrogante e cruel, já sua mulher era depressiva— ela sempre fora depressiva— mas quando ela mais precisou, ele preferiu sua carreira, mais uma vez abandonado sua família, e hoje, sua mulher era depressiva e com o passar dos anos seu problema apenas piorou. E ele sabia, que tudo era sua culpa.
O homem encara a mulher a sua frente, que com seus belos cabelos brancos se encontrava se encarando no espelho, como se estivesse perdida em seus pensamentos, ele a amava, sempre amou, mas tinha que confessar que ela não era mais o amor de sua vida e sim, uma pessoa que ele tinha muito carinho, gratidão— afinal, ela deu a ele seus dois maiores tesouros, suas filhas— admiração e sabia que ela sempre será sua mulher, mãe dos seus filhos e primeiro amor, mais infelizmente, apenas não será seu último amor. Porque, no fundo, ele sabia que seu coração já tinha dona, ela tinha grandes olhos negros, os cabelos mais ondulados e negros que ele já viu, o sorriso mais gentil e amoroso, o mesmo sorriso de sua filha. O homem sorriu se lembrando da mulher de sua vida, soltando um suspiro ele pensou em como ele a amava.
Já do outro lado do quarto, sua mulher apenas conseguia pensar em como seu marido estava distante e preocupado, e isso a preocupou, ela tinha medo de perdê-lo, ele era sua vida, mas sabia que ele não era feliz, acreditava que nunca fora feliz com ela e, no fundo, sempre soube que ele nunca a amara com ela o amava. Mas, ao mesmo tempo que ela o entendia, ela era doida e as vozes da sua cabeça a controlava, e fazia ela fazer coisas horríveis com ele e suas filhas, como hoje, ela não sabia como contar ao marido que fora ela a contar a impressa sobre o problema de drogas de sua filha. Como contar para o seu marido, que foi ela quem destruiu sua filha? Que ela é culpada de sua filha ser usuária de drogas? Que foi ela culpada pela filha odiar tanto seu pai? Como contar para o amor da sua vida, que foi ela quem destruiu sua felicidade?
A mulher se odiava e dia após dia desejava morrer, desejava se encontrar com seu filho, mesmo sabendo que isso nunca seria possível, porque ela sabia que iria para o inferno e seu bebê, se encontrava no céu.
Ela amava suas filhas, amava mais do que qualquer pessoa no mundo, mas nunca se permitiu se aproximar delas, porque tinha medo de matá-las, ela sabia que era capaz de fazer isso. Infelizmente, ela não conseguia controlar as vozes da sua cabeça e quando esquecia de tomar seus medicamentos, apenas o marido era capaz de acalmá-la. Quando ficava sem tomar seus remédios, ela não tinha controle de seus atos e sempre machucava quem amava, por isso ela se afastou de todos e se transformou em um robô humano. Ela era boa, era uma boa atriz, como o resto de sua família.
— Aqui está amor, seu medicamento! — o homem disse colocando o copo de água e os três comprimidos na penteadeira.
A mulher não fora capaz de dizer nada, apenas acenou com a cabeça e fechou os olhos quando o marido depositou um beijo em sua cabeça.
Ela o amava e isso era muito triste, porque ele nunca a amara.
— Vou tomar um banho, no outro quarto. - disse já saindo do quarto, desejando que sua mulher não o acompanhasse, ele não queria que ela o visse chorar.
A mulher tomou seus remédios, levantou e devagar andou até sua cama, onde se deitou, fechando os olhos e desejando ser seu último dia na terra.
Já no outro lado da cidade, dentro de um aeroporto lotado de pessoas andando com telefones no ouvido, conversando por vídeo chamadas, andando apressado entre as pessoas, brigando com os balconistas por passagem e atrasos, e outras se despedindo. A mulher de longos cabelos negros andava devagar pelo ambiente movimentado, carregando sua mala pesada de rodinhas e pretas.
A mulher de encontrava destruída por dentro, a culpa a corroía por dentro. Ela se perguntava o que fez de tão errado na vida passada para sua vida estar uma bagunça, afinal, ela amava um homem impossível de ficar junto dela e tinha abandonado uma garotinha ainda recém-nascida nas mãos de uma doida.
Sua filha estava sofrendo e ela não sabia o que fazer para ajudá-la, como ajudar uma pessoa que acredita que você é apenas a irmã do seu motorista? Como ajudar alguém que quando você contar a verdade sobre seu passado, ela irá te odiar? Como ajudar alguém que você daria a vida, mas não consegue ficar mais de duas horas no mesmo ambiente que ela, porque ela lembra seu passado e amor impossível?
A mulher sorriu com a ironia de sua vida, ela ajudava milhões de pessoas pelo mundo, mas não era capaz de ajudar sua filha ou sua própria vida.
Quando sentiu seu telefone tocar, ela pensou em deixar cair na caixa postal, mas depois se lembrou de sua filha e parou na hora, pegando seu celular no bolso traseiro de seu velho jeans, o mesmo de dez anos atrás, ela não viajava sem ele, era seu amuleto da sorte. Sem olhar o identificador, ela atentou e no outro lado da linha ela escutou o choro de uma mulher desesperada.
— Alô? O que está acontecendo? — ela perguntou preocupada, ela pega o celular e se afasta para olhar o identificador, vendo que se trata da mulher doida que ela deixará sua filha. — Está tudo bem? Você está me assustando.
— Eu matei ele... Eu matei ele...— a voz do outro lado disse desesperada e sem conseguir parar de chorar.
Na hora, a mulher de longos cabelos negros, sentiu seu coração parar, sua respiração falhar e seus pernas tremerem. Ela acabara de perder o amor da sua vida!
Mas, aí está o capítulo, curtinho, mais dei o meu melhor, espero que tenham gostado, o que acharam ? Teorias?
Não gostei desse final kkkk
Votem e cometem bastante!
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