Capítulo 3

Decidi morar em um condomínio porque queria exibir a bela casa que consegui com meu próprio dinheiro (exibir para quem? Eu nunca soube). Eu não tinha amigos e colegas há pouco mais de um ano; eu tinha perdido o interesse em manter relações, porém eu sentia mais segurança em morar com várias pessoas ao redor. Eu vivi naquela loja de flores por quase dois anos com medo de dormir. Não havia janelas e de vez em quando havia policiais na esquina, o que não impediu a loja ser arrombada nos primeiros meses que comprei. Eu me tranquei no banheiro e me senti aliviada por ele apenas ter roubado o caixa. O condomínio era minha segurança, apesar de haver tantas idosas. Enquanto fazia a mudança ouvi vários cochichos; eu sabia que ter vizinhos tinha esse preço. Soube por fofocas que aquele lugar costumava ter festinhas organizadas pelos moradores, e naquele dia ia ter uma festa! Sinceramente, eu só fui pelo interesse na comida.

O condomínio era lindo – casas padronizadas, muitas árvores, um parque minúsculo e um salão de festas enorme. O salão não era distante da minha casa bagunçada, então cheguei cedo.

A educação dos idosos me deixou desconfortável; me perguntaram tantas coisas que nem consegui responder tudo. Comi o lanche em cima da mesa: bolos, biscoitos, sucos, salgados – aquele seria meu jantar. Uma música instrumental tocava baixo, dava para ouvir vozes e risadas. Eu me isolei perto da mesa, apenas observando as pessoas conversando. Até que uma mão agarrou meu ombro e me assustou:

– Oiê! Tu deve ser Cíntia, né!? Eu sou Lianne! – sua voz era fina e alta.

Ela usava shorts curtos e uma blusa de alça fina, mesmo sendo noite. Seu cabelo cacheado era quase tão escuro quanto sua pele. Sorria com os olhos, exibindo sua alegria para quem conseguisse ver; o tipo de pessoa perfeita para evitar.

– Lianne, meu bem, você tem que ajeitar esse cabelo. – uma senhora se aproximou. – Você penteia?

– Dona Judite, meu cabelo é cacheado. Ele é cheio assim mesmo, já te disse várias vezes.

– Prazer, Lianne. Sim, eu sou Cíntia...

Me forcei a rir. Lianne parecia ser uma pessoa agitada demais pra mim. Eu prefiro ficar na minha calma zona de conforto e evito pessoas extrovertidas.

Me afastei e continuei observando as idosas que usavam roupas chiques, as crianças comportadas e as crianças sem educação, os adolescentes que se paqueravam notoriamente. Nesse caminho eu vi um rapaz isolado. Nem mesmo Lianne, que parecia falar com todos, se aproximou dele. Pensei que ele podia ser como eu: alguém que prefere manter as pessoas distantes. A diferença é que ele era belo de uma maneira que eu não conseguia explicar! E nem era por causa dos seus olhos azuis e cabelos claros. Algo nele me atraía. Quando ele me olhou, senti uma estranha vontade de me aproximar.

– Boa noite! Eu sou Cíntia, nova aqui.

Ele me olhou – seus olhos pareciam tão tristes. Fiquei tão vidrada que nem ouvi quando ele me disse seu nome. Apertamos as mãos e ele se despediu antes de eu conseguir falar algo, mas eu ainda não tinha conseguido tirar meus olhos dele.

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