17. Curando Feridas (Parte I)
As notícias sobre a conferência na Cidade Livre haviam se espalhado como fogo. Um sentimento ufanista tomou conta dos leigos cidadãos da capital do império, que esbravejavam sobre a ousadia de seus vizinhos se unificarem para baterem de frente "com eles". Os mais esclarecidos, entretanto, diriam que este comportamento se justifica pela maneira que os jornais vinham divulgando a notícia. Na última edição: Do Capital, a manchete era: Avska, a Cidade Livre, se posiciona contra Leon e ratifica criação do "Império de Antares".
Diferente do resto da capital, o Hospital Hobes permanecia alheio ao furor das massas. Após duas semanas internada, Nathalia apresentou significativos progressos em seu tratamento. O braço, apesar de inchado, apresentava melhoras a cada dia. Aos poucos a dosagem dos medicamentos vinha diminuindo, deixando a paciente cada vez mais perto da liberação hospitalar.
Na tarde do dia 2 de março, uma terça-feira, Nathalia recebeu a visita de Karen. Ela entrou tímida pela porta do quarto e aproximou-se em passos receosos até a amiga. Nathalia estava acordada, mas ainda sobre efeito dos medicamentos.
— Oi Nat — ela cumprimentou balançando os ombros para frente e para trás.
— Oi Ka. — Sua voz soou rouca e manhosa.
— Trouxe um presente para quando estiver entediada. — Puxou um livro de dentro de sua bolsa. — É um romance, daqueles que a gente gosta. — Karen colocou-o numa pequena mesinha marrom ao lado da cama.
— Obrigado Ka. Você sempre está do meu lado.
A garota de cabelos escuros segurou a mão da amiga.
— Sempre estarei.
— Mas... você não merece sofrer com a minha estupidez. Promete que vai me segurar quando eu for fazer alguma idiotice?
Aqueles olhos negros se comoveram até brilharem.
— Eu prometo — disse com uma voz tremida.
— Obrigada.
Com um sorriso redentor, Nathalia rendeu-se ao cansaço fechando os olhos e se deixando tragar para um sono profundo.
▼
Uma semana depois da reconfortante visita de Karen, Nathalia demostrou mais uma recuperação otimista. Já conseguia passar a maior parte do dia acordada e bem disposta. Tanto que devorou com os olhos em menos de dois dias o livro trazido por Karen. E na quarta-feira, uma visita a surpreendeu quando a porta foi aberta e uma garota de cabelo castanho entrou. Assim como a amiga de cabelo escuro, a visita aproximou-se devagar até a cama onde repousava.
Ela estava diferente.
— Ficou melhor assim.
— Obrigada — disse Anna segurando uma mecha do cabelo que agora roçava em seus ombros. — Nat... eu acho que precisamos conversar. Espero que você não se importe. Antes de eu entrar a enfermeira me disse para não te perturbar.
— Você tinha que ver semana passada, eu caí no sono quando a Karen veio me visitar, coitadinha.
As duas esboçaram breves sorrisos.
— Ela sempre quis ser como você. — O olhar de Anna era solene.
Nathalia mirou sua mão enfaixada enquanto ponderava sobre aquelas palavras.
— E eu a arrastei para o isolamento.
Anna suspirou.
— Verdade. ..
Aquela sinceridade atingiu-a como um soco no estômago.
— Mas não é tarde para se redimir, Nat.
Fez-se um demorado silêncio naquele quarto ensolarado.
— Já sei... você quer que eu retire minha acusação de assédio contra o Ronan.
— Nathalia, eu quero a verdade, só peço que faça o que é certo.
— Vou pensar, eu juro — respondeu cabisbaixa. — E como ele está?
— O Ronan?
— O outro.
— A situação do Zeppeli é complicada. Ainda é cedo para sabermos ao certo. Até onde eu sei, parece que ele passa a maior parte do tempo dormindo. O tratamento continua intenso e frequentemente ele passa por sessões de desintoxicação.
— Entendo...
Nathalia já lera sobre o procedimento. O paciente era tratado com um medicamento fortíssimo, caríssimo, mas capaz de impedir o avanço da toxina produzida por uma conjuração de sangue incipiente.
Anna foi se afastando aos pouquinhos.
— Infelizmente eu já tenho que ir. Por favor, me promete que irá pensar com carinho, tá bom?
— Tá bom, eu te prometo.
Conheça o Padrim desta obra
https://www.padrim.com.br/ronan
Qualquer ajuda é bem-vinda.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top