Viltá

Aldo

Meu pai me disse uma vez que a única coisa que ele não queria deixar de herança para mim era a covardia. Eu não sei em que esse termo se aplicava a ele, porque meu pai era o meu herói, o homem mais corajoso do mundo para mim, mas de alguma forma eu me sentia um covarde.

Várias vezes me vi a porta do escritório do meu avô e do meu pai para falar sobre meus sentimentos por Irina, mas não encontrava uma forma de fazê-lo e a nada manter as minhas bolas. Mas se Irina me quisesse ela valeria o risco, eu iria me declarar em sua festa de quinze anos, na minha cabeça seria perfeito, eu iria estudar direito em Londres como era vontade de meu avô, Irina estava decidida a estudar gastronomia como era seu sonho e depois iríamos nos casar.

Eu compraria uma casa no lago para ela, e ela teria seu amor de ristorante. Eram estes os meus pensamentos enquanto observava a discussão entre Valeire e Jimmy.

— Então preparada a sua festa na piscina? Todo o pessoal vai estar lá.

— Eu já disse que não tenho motivos para comemorar Aldo, porque você não ouviu da primeira vez. Ela podia não ter motivo algum, mas eu tinha muitos motivos para comemorar por ela, e listei cada um deles.

— Deixa que eu comemore por você, mas você precisa estar lá, pode fazer isso?

— Ok! Posso fazer isso, eu vou estar lá. Essa foi a parte fácil, Irina parecia estar se divertindo. Sorrindo dançando, até tomou uma cerveja escondido, e eu fingi que não vi é claro era o dia dela. Eu esperava o momento certo de me declarar, eu ia dizer que a amava e que estava disposto a esperar por ela, pelo tempo que fosse necessário.

— Vou me vestir para irmos à piscina. — disse ao meu ouvido me abraçando por trás quase me fazendo cair da cadeira. Eu teria perguntado se ela queria ajuda, mas Irina não era esse tipo de garota, e eu queria a merecer esse tipo de convite.

Como Irina estava demorando muito para descer, eu decidi subir só para tê-la certeza de que estava tudo bem. Dei a volta para passar pela porta da frente assim evitava esbarrar nos convidados. Ao entrar dei de frente com a última pessoa que imaginei ver na propriedade Rizzo.

— O que faz aqui, como entrou? Meu avô sabe dessa invasão, diga o que quer ou não terá outra oportunidade de fazê-lo. — ordenei desejando ter minha faca em minha mão.

— Garoto valente. Apreciarei isso, mas hoje meu bom homenzinho, eu vim apenas buscar algo que me pertence, e posso te garantir estar uma delícia. — zombou fazendo sinal com as mãos levando-a aos lábios.

— Saia agora, antes que o tire a força. — ordenei indicando a saída. Vitto pode até der parte da família, jamais gostei dele.

O bastardo riu mostrando todos os dentes, eu pensei no que o trouxe a mansão Rizzo, o que meu pai ou meu avô teria a tratar com esse lixo? Chamei à porta de Irina várias vezes, mas ela não me respondeu, com medo de que algo ruim pudesse estar acontecendo rezei para que a maçaneta girasse e ela cedeu girando em minhas mãos.

— Irina? Coccinella, está tudo bem? — perguntei vendo-a enrolada em seus cobertores como se estivesse em pleno inverno e no meio da neve. — Amore mio, diga-me o que aconteceu para que eu possa fazer algo? Por que você está chorando, não vê que estou morrendo aqui por não poder te ajudar? Bella o que houve? São dores de meninas?

Dores de meninas Aldo? Scemo Faccia di culo! De onde tirei isto, que porra eu estava dizendo?

— Vai embora Aldo, vai para a sua maldita festa, comemorar a porra que você quiser, mas me deixa em paz, você não é meu herói Aldo, então não tente sê-lo novamente, agora sai e me deixa em paz.

Eu abri a minha boca para dizer que não sairia dali até que ela me dissesse quem a feriu, ou o que doía eu devia ter dito não, devia ter arrancado ela de suas cobertas e ter beijado a sua boca até que ela parasse de resistir a mim. No entanto, eu tomei o caminho mais fácil, o da covardia. Deixei Irina com seu coração quebrado, com as suas dores e seus monstros e fechei a porta atrás de mim.

Chamei minha mãe e disse a ela que Irina não parecia bem e que ela deveria dar uma olhada. E depois fui ver meu avô. Bati duas vezes na porta de seu quarto e depois mais três batidas rápidas e então mais uma, eu fazia isso desde que me lembrava. Mio nonno gargalhou lá dentro me mandando entrar.

— Logo meus bisnetos vão bater na sua porta assim e você ainda não terá esquecido. — ele esticou a mão e eu beijei seu anel.

— Não pretendo ensinar nossa batida secreta para os meus filhos, vovô, eles que criem as suas. — respondi rindo.

— Claro que não ensinará, mas diga-me meu filho, do que precisa?

— Vovô o que Vitto fazia aqui? Eu o encontrei na entrada ele disse que veio buscar algo que lhe pertencia, você sabe que ele falava?

— Porca miséria, a que horas foi isso?

— Há cerca de uma hora, está tudo bem vovô?

— Onde está sua mãe?

— Com Irina, ela não parecia bem, e o papai está nos estábulos com Martino. Vovô há algo que eu precise saber? Sou um homem feito agora, é meu dever fazer parte das decisões e problemas da família, não foi para isso que fui criado?

Zitto figlio! Você fará parte do que tiver que fazer, agora vá ver sua mãe e Irina, mantenha às duas sob seus olhos até que eu o chame capisce? Mas antes despeça seus amigos, vattene!

Meu avô nunca havia falado comigo nesse tom, seja lá o que fosse, envolvia Vitto e se vovô temia por nossa segurança eu não estava pronto para discordar. Irina não me queria em seu quarto, mamãe disse que ela estava com cólicas e que logo iria passar, eu forcei meu cérebro a aceitar a resposta para o que acontecia a Irina, qualquer outro pensamento era doloroso e surreal demais.

Depois daquele dia, Irina mudou muito, ela começou a me tratar como se eu fosse seu irmão mais velho, não sorria mais, e mesmo na escola não tentava mais chamar minha atenção. Tentei me aproximar outras vezes, mas ela me interrompia antes mesmo de que eu pudesse dizer uma palavra. No fim do semestre eu estava pronto para ir para a faculdade, em vez de ir para Londres estudar direito como meu pai queria, optei por uma universidade na Toscana. Educação física era o que eu gostava, e assim eu poderia estar sempre por perto, tanto por Irina quanto por minha família. Nos três anos seguintes eu iria para casa nos todos os finais de semana e passaria as férias com ela.

Estávamos tomando cerveja no telhado como sempre fazíamos, e ela se deitou com a cabeça em meu colo.

— Aldo você fugiria comigo? Para bem longe da Itália e das famílias, onde ninguém nunca mais ouvisse nosso nome?

— Eu iria até à lua bella, mas não se pode fugir do sangue, você sabe disso não é?

— Eu aposto que você é o único que poderia fazê-lo, seu pai disse que quando você quer sumir ninguém pode te encontrar.

— Não é totalmente verdade, mas mesmo se fosse, hoje eu não fugiria. As famílias estão em perigo e eu não os deixaria, não enquanto há uma ameaça lá fora.

— E se esta guerra já está perdida, ainda assim vale a pena lutar?

— Até a última gota do meu sangue, mia bella Irina.

— Queria que alguém lutasse assim por mim.

— Mas eu o faço por você, será que não entende que você faz parte de mim, de nós de todas as famílias?

— Sei a quem pertenço amore mio. Eu sei. — disse em voz baixa e se levantou me deixando sozinho no telhado emaranhado em meus pensamentos.

Ricco estaria de volta, foi chamada uma comissão, eu ouvi meu avô dizendo a alguém que estava na hora. Enzo e Fabrizio estavam na cidade, nós iríamos fazer as únicas coisas que fazíamos quando estávamos juntos, muita bebida e muitas garotas. Isso se três gatas infernais deixassem as garras de fora, e que de preferência Fabrizio não cutucasse uma delas.

Meu telefone estava tocando ao que pareciam horas, levantei sonolento e atendi não muito amistoso.

— Fala porra!

— Bastardo, espero que tenha preparado uma recepção decente para mim, se não vou arrancar esse bigode feio da sua cara capisce?

Vaffanculo, stupido! O único maricas de bigode aqui é você, e já tem uma recepção à sua espera no Nero's.

— Aldo eu não vejo a hora de poder voltar para casa.

— Também sinto sua falta, amico bastardo.

Farabutto, faccia di culo! Vejo você à noite. Levantei-me pronto para matar alguém por um café, mas ao passar pelo quarto de Irina ouvi sem querer uma conversa com o que parecia ser a Valeire do outro lado.

— Sei Val, mas ele não é só bonito, ele é o que eu preciso agora também, ele pode me tirar daqui. Gosto do Aldo, mas ele não pode ser o que eu preciso que ele seja, eu já tentei juro, mas agora meu coração já tem um destino, e se ele me ama, me deixará ir.

Voltei para o meu quarto, meu peito doía, forcei o ar a fazer o seu caminho, para dentro, para fora, para dentro, para fora. De quem ela falava? Quem pode fazer por ela o que eu não posso? E quem no inferno ela quer que eu seja? No entanto, ela disse que se a amo vou deixá-la ir, que diabos de mistérios são esses que rondam a vida de Irina? Nem meus pais ou meu avô estavam dispostos a esclarecer o fato. E, porque meus pais ou meu avô podem explicar esse mistério?

Meu pai disse que ela não era para mim, estaria Irina comprometida com alguém? A morte de seus pais já quebraria qualquer acordo, mas, porque alguém o manteria? Se existe tal acordo porque meu avô o manteria?

Fui o primeiro a chegar ao bar, Irina estava na casa das meninas. Pedi uma cerveja americana, era nossa maneira de dizer que estava puto com alguma coisa.

— Apenas mire sua faca para o outro lado capisce? — disse Fabrizio sentando-se ao meu lado.

E a julgar pelo pedido, ele também não estava no seu melhor dia. E a noite parecia completa com a chegada de Jimmy e Ricco que pediram a mesma coisa. Só faltava Enzo, mas o pedido dele não seria a novidade, todos aprendemos com o mestre da chateação.

— Um brinde, a porra do destino. — Ricco ergueu a garrafa.

— Brindo a porra dos acordos de família — disse Jimmy.

— Brindo aos bundões que não enfrentam os seus problemas de frente e preferem chorar como um maricas. — provocou Fabrizio e Jimmy se lançou contra ele sendo impedido no caminho por Enzo.

Cazzo! Zitto stupido! Bebe a porra da sua cerveja e cala a merda da boca Fabrizio. — Enzo o repreendeu chegando na hora exata.

— Então mudo o meu brinde, — disse Fabrizio erguendo a sua garrafa. — brindo ao que queremos, mas não podemos.

— Brindo aos segredos que nos fodem. — sentenciei. Todos ergueram as garrafas em concordância.

Em meio à quarta ou quinta rodada eu senti o ar parar ao meu redor, olhei para porta, mas não fui o único a engasgar. Eu estava pronto a sacar a minha arma na cabeça de cada filho da puta que se ergueram para olhá-las. Mas o instinto protetor não era propriedade exclusiva minha, Enzo, Jimmy e Fabrizio já estavam de pé ao meu lado, e os idiotas se afastaram rezando para que acabasse ali.

— Bando de mamães choronas — disse Ricco. — E quem é essa beldade? Os deuses abriram as portas do Olimpo e Afrodite, a deusa do amor veio nos honrar com a sua beleza?

— Se sou eu a deusa, não sou, portanto, a única digna de honras e adoração? Ó! Insolente mortal. — disse Irina passando a unha do indicador no rosto de Ricco.

Todos à mesa riram, mas eu quase vomitei, era de Ricco que ela falava ao telefone? Se fosse verdade como eu disputaria com isso?

— Oi, irmãozinho! — disse ao beijar meu rosto e pôr os braços em volta do meu pescoço.

Ciao, irmãzinha! — ironizei mais por falta do que dizer. Ricco ouvindo nossa interação sorriu de orelha a orelha, o bastardo acabara de encontrar caminho livre.

***

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*Viltá - covardia 

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