San Lucca, La Culla del Male
Aldo
Aldo
"O mais desesperador para uma sociedade é que viver honestamente não sirva para nada".
(placa na fachada da prefeitura de San Luca - Calabria)
Guido, um dos homens de confiança de Ricco já me esperava no pequeno aeroporto, ao lado de uma Land Rover Freelander preta, se a ideia era não chamar atenção, estávamos falhando miseravelmente. Dentro do carro, outros três homens bem treinados conferiam as suas armas.
Com um cumprimento rápido eu me sentei atrás e Tito acenou de leve através do espelho retrovisor e voltou a sua concentração saindo em direção a estrada.
Como se não pudesse ficar pior, meu filho estava no pior lugar do mundo para se enfrentar a máfia. Mio bambino estava sendo mantido no covil da 'Ndrangheta.
Uma pequena cidade rural no coração da Calábria. San Lucca era o berço da organização mafiosa mais sanguinária da Itália, ficando atrás apenas da Società Foggiana, embora nos desse tanto trabalho quanto a outra.
Não, não estamos sendo presunçosos, e não temos a ambição de estar no controle de nada, mas quando esses buggiardos saem da linha, colocam outras famílias em riscos, principalmente de cair nas garras dos federais e da imprensa, e quando isso acontece alguns favores são cobrados, ou comprados. Sim, eles vêm até nós, e nos limpamos a bagunça, ou melhor, paramos a bagunça para que os outros a limpem.
Isto faz de nós inimigos mortais de todos os que gostam de quebrar as regras. E eu estava no covil da matilha enfurecida. Um descuido e todos estaremos mortos.
San Lucca era uma pequena cidade de aspecto rural, com um amontoado de casas que parecia já ter visto dias melhores, com pouco mais de 4000 habitantes que resistiam bravamente, ou melhor, eles moraram em uma cidade que não era convidativa a nenhum turista, a menos que seu negócio seja a cocaína vinda da Colômbia, e claro.
Ruas tortuosas e ingrimes, se desenrolam em becos que mais parecem labirintos. Dois clãs das famílias originais dirigem a cidade, e segundo os levantamentos de Enzo apenas uma delas estava ciente que um figlio de sangue dos Titolare di Segretti era mantido cativo em seus domínios.
Percorrer essas ruas é mergulhar nas mais profundas entranhas da 'Ndrangheta, a poderosa e ascendente máfia da Calábria, a rainha do tráfico de cocaína na Europa. A capital da máfia 'Ndrangheta, tão perigosa quanto a Cosa Nostra siciliana, e a Camorra napolitana, mas nem de longe tão temida quanto Il titolare di tutti segretti.
Estrategicamente bem situada, só se é possível entrar na cidade por uma estrada que vem do litoral e termina na praça da igreja, ou pelo mar. Cercada de montanhas verdes e selvagens, que durante décadas serviu de sala de reuniões nos encontros anuais da cúpula da 'Ndrangheta. Nos arredores do santuário da Madonna de Polsi, da qual são fiéis devotos.
O endereço era de uma propriedade mais afastada da cidade. Um jovem soldado vestido de preto e portando um fuzil, abriu caminho para nós em sua moto. A noite estava alta, e pegá-los nas primeiras horas da manhã era o planejado. Ninguém na cidade queria ficar no nosso caminho, por isso tão logo nos reconheceu, todos se retiraram.
A população acostumada a guerras do tráfico não se incomodou a se quer levantar os olhos.
Por isso acreditávamos ter o elemento surpresa. E supressas não faltavam, elas pareciam pipocar de todos os cantos.
A casa de pedra e de telhado pontudo não combinava em nada com a arquitetura da região, mas não era disso que eu estava atrás. Guido seguiu com dois homens pela parte de trás e eu segui com Lucca pela frente, o jovem fingindo uma conversa amistosa, mostrava os dentes para nós, e de vez enquanto ria jogando a cabeça para trás como se fossemos velhos amigos. Lucca e eu fizemos o mesmo.
Ao chegar a porta uma senhora falando rápido, ora em árabe, ora italiano, veio ao nosso encontro.
— Buongiorno signora — Lucca deu um passo ao lado do rapaz que cumprimentava a dona da casa.
— Você é o pai do bambino? Grazie Dio! Venha, venha, vou acordar a criança.
Lucca e Guido que agora estava de volta da vistoria pareciam tão perplexos quanto eu.
Nós a seguimos atentos, enquanto os outros vigiavam o perímetro, Guido e eu entramos atrás dela, e Lucca ficou na porta com olhos atentos.
Meu coração parou de bater no momento que o garotinho de cabelos avermelhados e olhinhos inchados pelo sono entrou na sala.
— Papai Vitto? Seu trabalho já acabou? Você veio me buscar?
— Você sabe quem eu sou? Quem disse que o nome do seu papai era Vitto? — perguntei embasbacado para o garotinho a minha frente.
— Minha nonna disse que você viria um dia, mas eu não sabia como você era então imaginei um pai assim, grandão como você.
— Si ragazzo, eu sou seu pai, mas meu nome é Aldo, Aldo Rizzo.
Eu me joguei no chão de joelhos para poder abraça-lo, ele estava trêmulo, inseguro, mas correspondeu ao meu abraço.
— Aldo? — o pequeno me olhou desconfiado, mas não questionou o fato de eu ter revelado a verdade ele. — me chamo Enrico, onde está a minha mamãe, eu tenho uma foto dela você quer ver?
Mais surpresas, que tipo de mente doentia sequestra um bebê e mantém a memória da mãe viva nele. O que Vitto planejava com isso?
Eu precisava de respostas, mas agora não era o momento. E no minuto seguinte a velha senhora dizendo um monte de imprecações absurdas, amaldiçoando assustada puxava o menino pelo braço.
— Vai! avanti! Il farà del male al ragazzo, saiam, eles farão mal ao menino. — pedia desesperada.
Eu poderia lidar com quem viesse, mas não podia colocar meu filho em risco, era necessário que ele estivesse dentro do carro blindado. Enquanto a senhora dava a volta para entrar do outro lado, um dos homens gritou.
— Emboscada! — mas não teve tempo para mais nada, ele foi alvejado no peito e na cabeça, o jovem guia não teve tempo de tirar sua arma do ombro e caiu em cima do outro.
Rolei para a parte traz com Guido, Lucca já havia derrubado um deles.
— Que merda é essa Guido? Quantos são, alguém está vendo?
— Lucca derrubou dois, eu vejo cinco, senhor, mas pode ter mais.
Eu não havia chegado tão longe para perder agora, ninguém no inferno me impediria de sair dali com meu filho, eu o estava levando para a sua mãe.
Encurralados e sem ter como entrar no carro e Lucca ferido na barriga olhei para ele preocupado, mas ele disse que estava limpo. Pressionando o ferimento ele se ergueu atirando a esmo.
— Bastardo filho da puta, o que você está fazendo? — Gritei saído em apoio ao imbecil suicida.
De algum lugar atrás de mim Guido surgiu com uma semi automática disparando balas como confetes de carnaval facilitando e muito o nosso trabalho.
Corri até Lucca, Tito mesmo ferido me ajudou a arrastar o idiota até a segurança atrás do carro, Guido já estava atrás do último que saia correndo em direção a moto.
Nem perdi meu tempo, enquanto Tito colocava o morto na mala, eu socorri Lucca, e tentava ao mesmo tempo, tranquilizar a pobre senhora que repetia suas orações em árabe enquanto protegia meu filho em seus braços. Quando Guido voltou ele assumiu o volante e partiu em direção ao aeroporto, agora era torcer para não ter nenhum imprevisto no caminho até o avião.
— Está tudo bem, já acabou agora. — tentei acalmar a senhora que tentou abrir a porta do carro em movimento para fugir.
Tito, a segurou forte, até que ela se acalmou, suponho que foi mais o jeito "carinhoso" que ele falou com ela que resolveu a situação.
— Signore Aldo, você está machucado? — eu ia dizer que não, quando me dei conta do líquido pegajoso empapando a minha roupa. Eu não quis tirar a jaqueta para olhar mais de perto, apesar dos protestos de Guido, mas eu não queria assustar meu filho.
— Eu estou bem filho, não se preocupe, você sabe quem era Vitto? — perguntei sentindo o gosto amargo que o nome do farabutto deixava na boca.
— Meu papai ligava para mim no telefone da minha nonna.
— Querido ele não era o seu pai, seu papai chama Aldo, e sua mamãe chama...
— Irina — ele interrompeu com olhos brilhantes. — Você é meu papai também?
— Garotão, você só tem um papai e este sou eu.
— Tudo bem, eu gosto de você, você matou o Malatesta, ele é muito mau.
— É filho, papai matou o bicho-papão, e agora vamos para casa, para sua mamãe e seu vovô.
— Vovô? Ele é marido da minha nona? — perguntou curioso fazendo a velha senhora corar ao seu lado, acho que ela esqueceu seus medos.
— Não, seu bisavô chama Giácomo Rizzo, ele está com muita vontade de conhecer você.
Ele sorriu para mim, e eu deixei a lágrima cair, para o inferno com quem se importasse. O pequeno voltou a dormir no colo da sua nonna, e Guido o carregou até o avião, meu braço já estava dando sinais que era hora de fazer algo com ele.
Sem tempo para primeiros socorros, decolamos em direção a Vennidit, somente Guido estava inteiro, o resto de nós estava bem machucado.
Chegamos ainda pela manhã na mansão Venni, eu precisava de atendimento médico e não queria que Irina nos visse assim.
Jullius me alcançou e me levou até o escritório do Ricco, Jimmy já estava esperando por nós, carrancudo como sempre por força-lo a atender fora do ambiente hospitalar.
— Você vai pegar uma infecção e morrer seu bastardo de merda. Porra Aldo, vocês deveriam estar em um hospital, que merda aconteceu lá?
— Bom te ver também scemo, mas espera o chefe chegar e a gente explica uma vez só OK?
Jimmy contabilizou nossos ferimentos, nenhum foi grave, mas foi por pura sorte. Lucca foi ferido na barriga, a bala passou direto sem perfurar nenhum órgão, Tito levou dois tiros, na perna e o outro no braço. Eu levei uma bala no ombro, e por um centímetro não atingiu uma artéria, Jimmy praguejou enquanto cuidava de Lucca.
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