Porco Pinzzano

Aldo

Aldo

Me arrastei até o banheiro para consertar o estrago causado por Irina, talvez eu não devesse, mas meu coração parecia esperançoso.

Rasguei minhas calças no corpo, não poderia tirá-la sozinho sem cair no chão. Com a caixa de primeiros socorros sobre a pia, usei a velha banheira de cobre para lavar o meu mais novo ferimento.

— Ah que pena! Parece que a ruiva chegou antes. — perguntou alguém atrás de mim — mas suponho que posso acrescentar um buraco a mais, onde você prefere?

— Fancullo! Já bati meu recorde de tiros em um dia. — respondi sem virar a cabeça.

Eu sabia que o bastardo estava segurando riso e eu não estava em condições de defender minha honra naquele momento. Nu e sangrando por um tiro dado pela mulher que amo e que me odeia com a mesma intensidade. Ainda assim, bem menos do que eu mereço.

— Parece que você conheceu o novo capo dei "tutti" capi, ele te deu um beijinho de saudade? — o intruso me agarrou tentando beijar meu rosto, e eu acertei suas costelas com o meu cotovelo.

— Fottarsi Enzo! Toque em mim de novo e eu vou atirar em você! — gritei, mas o desgraçado estava se dobrando de rir.

— Eu já disse que sou fã dessa ruiva? Se ela me quiser, vou pegá-la para mim cara, um stronzo como você não dá conta daquele monumento todo.

Se fosse qualquer outro homem, eu o teria feito engolir suas palavras regadas ao próprio sangue, mas esse bastardo era como um irmão mais velho, chato e implicante, mas que entraria na frente de uma bala por mim, mesmo agora depois do meu retorno do exílio. Enzo era quem mais entendia de fuga.

— Não valeu a pena não é? Mesmo antes de o Jullius arrastar a sua bunda de volta, já não estava valendo a pena, certo? — perguntou enquanto acendia um dos seus fedorentos Gold Flake indianos*.

— Não preciso dessa merda agora Enzo, eu preciso encontrar o meu filho e enfiar uma bala no peito do bastardo que o levou.

— Parece que não preciso te castigar, você já foi bastante punido.

— Não, eu não fui o suficiente. — Enzo deu de ombros e soprou a fumaça lentamente.

— Nem todo mundo pode viver uma segunda chance, não pise na bola ou terá mais do que buracos de bala para consertar capisce?

— Porra de família violenta! Não é como se eu não fosse arrancar meu próprio fígado com uma faca se os magoasse novamente.

Terminei o curativo, e vesti uma calça cargo, preta e uma camiseta de malha também preta e um casaco de couro. Enzo estava lá por uma razão, estava na hora de ir atrás do farabutto que estava com meu filho.

Com algumas de minhas armas preferidas no coldre e a faca que fiz para Irina presa em meu braço, eu segui Enzo em direção a garagem.

A poucos metros do veículo, Irina aguardava mexendo as mãos em um gesto nervoso. Caminhei em direção a ela devagar, mas fui interceptado no meio do caminho quando ela saltou sobre mim.

— Vá buscá-lo Aldo, e volte para mim, por favor, voltem para mim os dois. — Irina segurou meu rosto e disse olhando tão fundo em meus olhos que me senti nu diante dela, e a sensação foi de liberdade.

— Io prometo, vou buscar nosso filho e entregá-lo aos seus braços, amore mio!

Antes que ela pudesse reagir, eu depositei um beijo no canto dos seus lábios, e meus dedos colheram uma lágrima solitária em seu rosto lindo.

— Não me faça promessas Aldo, apenas volte, capisce? Entendi o que ela quis dizer, e decidi que não daria mais palavras, estava na hora de agir e não de falar.

Enzo e eu fomos direto para o aeroporto, o jato de Ricco já nos aguardava, fomos os últimos a entrar e fui recebido com um aceno dos presentes.

Jullius e seus homens já estavam no avião e meu avô ocupava um assento mais distante. Ricco me fez um sinal indicando o que fazer e eu fui até ele.

— Nonno! Quer falar comigo?

— Sente-se, filho! — Meu avô parecia cansado, como se todo peso do mundo estivesse sobre os seus ombros.

— Você não é mais um menino Aldo, precisa agir como um homem, se você falhar desta vez será banido de nossa família e estará por sua própria conta diante do capo e da comissão, capisce?

Mi dispiace nonno, eu vou merecer o seu perdão, e vou trazer meu filho para a mãe dele.

— Sei que vai, agora ouça — ordenou taciturno — a armadilha que armamos para o porco do Lucca Pinzzano parece ter obtido o efeito esperado, ele está confiante e arrogante como sempre.

Eu ouvi o plano armado por Ricco e Enzo, mas a ideia de deixar meu avô entrar sozinho não era algo que eu estava disposto a aceitar, estava fora de cogitação.

— Vocês estão loucos se pensam que vou permitir isso. — gritei — mio nonno não vai enfrentar Pinzzano sem cobertura, pode esquecer.

A discussão ficava mais quente a cada minuto, a raiva que Ricco estava de mim não o deixava ver nada além de vermelho a sua frente. No entanto, eu não estava disposto a ceder espaço, não quando se tratava da segurança de Giácomo Rizzo.

— Fottarsi, você não direito a uma opinião, então apenas obedeça e cala a boca. — ordenou crescendo sobre mim.

— Então me cale, pois, terá que passar por cima de mim. Esse problema é meu. — Ricco Venni sempre foi mais alto do que eu, mas seria páreo duro para ele em uma luta.

— Não me force Aldo, não empurra mais do que você já me tem sobre sua garganta — Ricco cresceu e sua arma já estava na sua mão. — até quando você vai viver como se o mundo girasse em torno do seu umbigo? Estamos limpando a sua sujeira, então cala essa boca e faz o que tem que fazer.

Eu o encarei pronto para fazer meu ponto na discussão, mas fui barrado pela fúria do capo.

— Se me interromper de novo, eu mato você e fottarsi as consequências, capisce?

Zitto! Porca Miséria! — Giácomo Rizzo gritou e seu bastão foi jogado em nossa direção, sendo interceptado pelo antebraço de Ricco, que me olhou tão surpreso quanto eu.

— Se não calarem essas malditas bocas, vou arrancar as suas línguas pelos rabos, capisce? Sentem-se! — mesmo resmungando nós nos sentamos, e vovô continuou — Ricco está certo meu filho, não diz respeito só a você e ao meu neto. Precisamos parar Lucca Pinzzano e cortar o mal pela raiz, é para isso que estamos nos erguendo.

Lucca Pinzzano queria a minha família e eu não tinha autoridade para negociar com ele, e entrar atirando não era uma opção segura, pois ele ainda estava com meu filho.

Fui forçado a admitir que o plano era necessário, para evitar uma guerra com as famílias da Sicília.

Nosso encontro foi preparado em um hotel na Espanha. Para Lucca Pinzzano eu estava morto e enterrado, a ideia era fazê-lo pensar que vovô faria qualquer coisa para reaver seu único herdeiro e para isso estava agindo contra a comissão.

Se existia alguém que fosse capaz de subjugar uma família inteira, esse alguém era o vovô Giácomo. Nossa família era muito poderosa e ninguém duvidaria que ele fosse capaz de fazê-lo, quanto mais alguém de fora, alguém que não conhece as nossas leis.

Jullius foi antes e preparou o hotel para a nossa chegada, o Solare's era um dos hotéis pertencente a nossa organização, com várias filiais espalhados pelo mundo, e era um dos pontos de apoio para qualquer membro ou associado.

Se puxar uma arma aqui, é bom ter certeza de que está carregada e que é boa a sua pontaria, pois não há saídas.

Enzo estava com a sua calma habitual, parecia até um tanto enfadado, mas eu sabia que ele estava fervendo em fúria por dentro. Temo que no dia em que ele perder essa calma, ninguém, nem mesmo o capo poderá, conte-lo.

Enzo fez um sinal com a cabeça para mostrar que a luz de alerta da sala ao lado estava piscando, o elevador estava em movimento.

Pinzzano chegaria em breve, ele iria descer tendo certeza de que seu pessoal estaria em guarda em cima para garantir que ninguém saísse ou entrasse sem o conhecimento de seu chefe.

Jullius e sua equipe, silencioso como um felino, limpou a existência dos homens de Pinzzano assim que ele entrou nos elevadores.

Ricco observava os ocupantes da sala através do vidro espelhado. Enzo e eu esperávamos o sinal de Giácomo Rizzo, minhas mãos estavam nas minhas armas, se Lucca Pinzzano olhasse torto para meu avô eu estaria cravejando de balas toda a sua cara de porco.

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*Gold Flake é uma marca de cigarros de luxo fabricados pela ITC Limited, a marca de cigarro indiana. Feito de tabaco amarelo, enriquecido com sabor melado.

* Cigarros causam câncer, não fume! 

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