Il Paradiso
Aldo
Olhei a casa da árvore e pensei em quantas vezes a quis destruir e não pude, era como se algo me prendesse a ela. Agora eu estava diante dela, olhando e lembrando de tudo o que vivemos aqui. Tudo o que dividimos aqui, e quem sabe os filhos do Ricco e o meu filho não terá a chance e viver suas histórias aqui. Claro que darei minha vida para que a história dele não seja tão dramática quanto a nossa, mas que seja também tanto ou mais divertida.
Alguém jogou uma garrafa de cerveja em minha direção, e eu a peguei por puro reflexo, ainda era bom nisso.
— Fala sério, você não dá uma trégua? Cazzo!
— Ele te disse para não chegar perto dela a menos que ele te chame, bastardo.
— E o que te faz pensar que ela não me chamou? — respondi lançando a tampa da garrafa em sua direção.
— Se ela tivesse feito isso ela não estaria chorando nesse momento, stupido.
— Quê? Do que você está falando Jimmy, ela está feliz, nosso filho está em seus braços.
— Ela tem medo de que você quebre o coração dela novamente seu bastardo faccia di cullo, ela disse a Serena que quer pedir para você ir, mas não consegue.
— Ela ainda me ama, irmão. Se isto não é o suficiente para que eu lute até a morte por eles, por minha família, então não sei o que seria.
— Sua presença na vida do seu filho é aceitável, visto que não sabia da existência dele, mas não force para cima do Ricco, ele ainda não te perdoou.
— Cazzo! Quando foi que a minha vida se tornou assunto da Távola Redonda?
— Quer mesmo que eu te responda? Stupido!
— Fancullo Jimmy, eu já estou me culpando o suficiente.
Eu estava, mas não o suficiente. Eu traí meu melhor amigo, abandonei a mulher que eu amava não uma, mas três vezes.
Falhei com ela de tantas formas que seria justo terem mais do que lágrimas e medo da parte dela — eu merecia uma das suas facas no meu fígado.
Eu não a merecia, talvez nunca merecesse.
— Venha babaca, me conte o que aprontou nesses 6 anos. Eu pego a cerveja ruim de gringo. — Jimmy resmungou dando as costas para mim.
— Não fale mal da velha Bud até conhecer a Pab, acredite amigo, tem coisas piores do que esta água suja e morna.
— Maricas bastardo, você foi lobotomizado naquela porra de país? Virou fã de baseball e do Angells agora?
— Fottarsi, eu não queria lembrar de casa. Então mergulhei em toda a porcaria americana que encontrei.
Pulei a parte do me mantive bêbado até a inconsciência para não pensar em Irina e em minha família até porque isso não melhoraria em nada o que ele já pensava de mim.
— Ninguém te mandou ir idiota, você fez a merda sozinho, e não vem dizer que foi por causa do que aconteceu no Brasil, você já tinha estragado tudo muito antes.
- Acha que eu não sei disso? Acha que não me consumo em culpa a cada maldito segundo da minha maldita vida? — confessei soando rouco, pois a verdade nas palavras queimavam ao sair pela garganta.
— Você fodeu tudo Aldo, a gente sempre tentou te fazer ver. Porra, todos nós tentamos, mas você foi um filho da puta covarde e fez Irina sofrer por você desde que ela pisou em Vennidit.
Eu sabia, eu também me consumi por ela desde a primeira vez que a vi, mas como me defender de tudo o que o meu amigo dizia? Ele estava certo e eu merecia uma bala no peito por desejar reconquistar o amor dela.
— Eu amo você meu irmão, mas se você a machucar eu vou quebrar cada osso do seu corpo e te manter acordado para assistir capisce?
— Io capito Dr. Jekyll and Mr. Hyde — grunhi sabendo que ele falava a verdade.
Diferente de Ricco, Enzo e eu, Jimmy não era muito de falar, quando a ação era exigida ele puxava o gatilho e não parava para contar os corpos. Se ele te fizesse uma promessa era bom dormir de olho aberto, pois se você pisar em falso ele estará em cima de você pronto para reorganizar seus órgãos dentro de seu corpo. Eu já o vira em ação, e seu alter-ego adora um bisturi.
— Por falar em covardia, você já disse ao seu pai que não vai se casar com a Giulia? Já disse a ele que você ama a Valeire?
— Deixe-as fora dessa merda, irmão. Não é a mesma coisa.
— Não? Eu não enfrentei meus medos e deixei Irina ir com Ricco, e olha onde isso nos levou. Se você se casar com a mulher errada serão três pessoas destruídas, ou você acha que vai ser feliz com a Giulia? Acredita que ela será fiel aos laços do matrimônio? E já pensou no que vai causar ao coração da Val quando ela ouvir você dizer sim na frente do padre?
— Merda, vamos beber a isso também. Sou um stupido, mas se ferir a Irina de novo eu vou...
— Quebrar os meus ossos eu sei. — completei a frase erguendo a minha garrafa de cerveja gringa ruim.
— Como ela é? — perguntou sem olhar em minha direção.
— Quem?
— Meu pau, seu idiota. Como é a garota americana. — ele disse exasperado me fazendo rir, acho que não tinha consciência do quanto ele me fez falta até aquele momento.
— Já arrancou o baço do Aldo? Ou está tendo um momento de lavadeira com o bastardo?
Uma voz que há muito tempo eu não ouvia, mas que me fazia lembrar que estava em casa.
— Ainda não, estou tentando descobrir se vale a pena deixar o bastardo viver mais um dia — respondeu Jimmy.
— Veio me ameaçar também? — perguntei erguendo uma Bud para o recém-chegado.
— Eu não tomo essa água suja, trouxe as minhas. — respondeu erguendo uma dúzia de Peroni Nastro Azzurro, a cerveja italiana preferida de Fabrizio Sorrentino que exibia um dos seus mais irritantes sorrisos.
— Bastardo arrogante — Jimmy grunhiu área de mim.
— Então o que ele vai fazer com você? Arrancar o fígado o baço? Só para ter ideia do que sobra para mim.
— Entra na fila idiota, além disso, assim como o seu cunhado aqui, você é só mais um sujo falando do mal lavado. Fiz merda, mas pelo menos ousei ir atrás da mulher que eu amo. E vocês? Jimmy está comprometido com sua irmã e apaixonada pela...
— Minha irmã, outro bastardo covarde. — a voz rouca de Enzo entrou junto com a fumaça de seus cigarros indianos caros.
— Mais um bastardo arrogante, a bola da vez aqui é o Aldo, é a pele dele que viemos arrancar certo?
— Bom ponto, mas eu voto por arrancar a do Fabrizio. — respondi sentado no meu lugar preferido embaixo da janela.
— Eu já disse que vou atirar em você? Só para deixar claro a minha posição caso você seja estúpido o bastante para fazê-la chorar capisce?
— Família violenta do caralho. — respondeu Jimmy.
— Vindo do cara que ameaçou dar uma de doutor Dr. Jekyll para cima de mim.
— Ninguém vai ser estripado às vésperas do meu casamento. — a voz grossa e autoritária de Ricco invadiu o lugar.
Só faltavam as meninas, mas elas estavam em um hotel na despedida de solteira da garota do Ricco, e Irina estava tendo o seu merecido tempo com nosso filho.
— Com a palavra... Il capo. — zombou Enzo entregando uma Bud ao Ricco.
— Esse bastardo vai ser chutado daqui se continuar tomando essa cerveja esnobe. — Ricco chutou o pé de Fabrizio que estava apoiado no pequeno banco feito de tronco de árvore que o Jullius fez para ele quando era criança.
Fabrizio deu lhe um dedo, e todos rimos. O avô dele devia se revirar no túmulo, o patriarca Sorrentino era um dos mais conservadores das tradições das famílias dos Titolare di Segretti, mas Fabrizio era diferente de todos os outros, ele se vestia de modo sóbrio, trajava a mais alta costura de Milão. Não parecia um mafioso membro de uma das mais temidas famílias da máfia, Fabrizio parecia mais um CEO ou um astro de cinema.
Por mais que ele se sentisse em casa com a gente, era como se ele pertencesse a dois mundos diferentes.
— Não vamos falar do prazer do trabalho agora, vou me casar amanhã e quero a porra dos meus amigos bebendo comigo capisce?
— Vá benne maledetto capi bastardo capi — Enzo brindou — Il nostro amico, está triplamente preso até às bolas e amanhã terminará na forca.
— Bastardo sortudo. — Jimmy ergueu sua Bud suja do outro lado. — Ao capo vida longa, e ao nostri amicci... Possa tua moglie darti l'inferno!
— Que sua mulher lhe dê um inferno! — gritamos todos.
O bastardo estava muito feliz, era contagiante a alegria dele, e eu me senti feliz por ele, e meus amigos também. Mesmo após tanto tempo e tantas desgraças ainda não tínhamos perdido isso.
— Eu sinto muito, eu voltaria no tempo se pudesse, mas eu realmente sinto muito por ela, por meu filho, por meus pais e meu avô. E sinto muito por trair você e por deixar meus irmãos para trás. — uma bola de gosto acre estava presa em minha garganta, eu engoli várias vezes para que ela não saísse por outro lado, principalmente os olhos.
— Eu sei irmão, acho que a vida já te deu o castigo, não tanto quanto você merecia, mas já foi castigado. Estou feliz por você estar em casa novamente. — Ricco me abraçou e foi um dos momentos mais difíceis da minha vida, pois eu não merecia o perdão dele.
— Se tiver abraço em grupo eu vou vomitar — Enzo resmungou, mas logo estava junto com os outros em um abraço afetuoso que eu pensei jamais sentir novamente, estava de volta ao paraíso.
****
Enfim saindo mais um capítulo, estamos quase na reta final, mas antes o amor do Aldo e de Irina vai ser posto a prova mais uma vez.
Será que eles vai ser fortes o bastante? Quantas chances uma pessoa pode receber até que se esgote o amor?
Eu ainda posso matar ele resolver o problema, e só pedir.
Votem e deixe seu comentário, sinto falta deles.
Beijos e até mais tarde.
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