Desci as escadas correndo e quando cheguei perto do porão avistei Newt paralisado, talvez imaginando o que havia atrás da porta. Empurrei ele para abrir.

- acho melhor não fazer isso - avisou Newt secamente - por que você trouxe ela de volta?

- porque ela é minha irmã! - gritei.

- não posso matá-la dentro de casa...- ele pausou - esse bicho vai ficar atormentando a todos que morarem aqui.

- só você mora aqui - o lembrei ao mesmo tempo questionando. Ele me olhou como se eu fosse uma criança - o quê?! - comecei a gritar novamente e o empurrei contra a parede - POR QUE NÃO ME DISSE?!

Newt mantinha a expressão de calmo e adulto.

- cala a boca - ele sussurrou. Mas eu não calei - cala a boca! - então ele apontou para a porta. Entendi o que aconteceu...Hayna estava em silêncio. Ela parou de ficar batendo na porta - ela gosta de ouvir sua voz.

Não consegui evitar de chorar, Hayna estava viva - um pouco mudada, mas viva. Newt saiu de lá e então abri a porta. Ela se assustou e correu para o escuro do porão.

Entrei devagar e chamei por ela como se fosse um bichinho de estimação. Fiquei por um minuto pensando, como eu pude ouvi-la do meu quarto?! O porão era feito para conter gritos. Então sua força e voz eram anormais, como 100 mil pessoas gritando ao mesmo tempo, fazendo a casa vibrar.

Ao ver meu rosto ela se aproximou engatinhando e me abraçou forte.
Ela não queria sair do porão, gostava do escuro e tinha medo das luzes de carros passando.

Deixei ela por lá acomodada e fui dormir. Finalmente percebi um sorriso bobo em meu rosto.

Eu consegui.

Fui para a escola alegre como se nada tivesse acontecido. Algumas vezes eu me perguntava onde James se meteu. No caminhada ouço uma bozina de carro; Angel me chamava.

Chegamos juntos na escola, todo mundo nos olhou, com certeza querendo saber onde estava Geórgia. Tentei afastar o pensamento.

Era a aula de história. William chegou gritando com todo mundo.

- é melhor trabalhar de prostituto do que chegar aqui e ver esse tumulto na sala! - ele falou rosnando como um cachorro.

- Bom dia, professor - alguns falaram tentando aliviar a situação.
- vê se morre, Demônio - respondeu William revirando os olhos. Comecei a rir, mas disfarcei. No intervalo me sentei na mesa com Alex.

Ela me disse que todo mundo estava comentando sobre a mulher e eu contei que era minha irmã. Deixei escapar algumas coisas - nada demais. Falei que não me deixaram ver o corpo.

- os policiais apareceram em sua casa? - perguntou Alex curiosa.

- não - menti - liguei pra polícia mas nenhum policial apareceu.

Afinal, onde Newt os colocou?

- Kathryn...- ela suspirou - preciso de ajuda.

- o que tá acontecendo? - perguntei franzindo a sobrancelha.

- eu tô grávida - ela cochichou. Antes de eu começar uma onde de perguntas ela continuou - eu estava numa festa um dia desses e transei com um cara mais velho. Não sei quem é o pai, eu estava bêbada.

- vai na minha casa hoje - o sinal tocou e me levantei depressa. Era óbvio que Alex queria abortar.

Chegando em casa eu vi James lanchando, os olhos concentrados na cadeira que Hayna ocupava antes.

-Oi - falei seca.
- Oi...- ele suspirou sem olhar pra mim. Não evitei de abraça-lo, ele fechou os olhos, sua respiração estava forte. Mas James não chorou.

- vá para o quarto - pediu docemente

Subi as escadas e fui procurar o livro no quarto grande.
Peguei e corri para o meu. Me joguei na cama e comecei a folhear até que Newt o arrancou da minha mão.

Ele começou a me dar vários motivos pra não ler o livro e eu ignorava todos. Até que ele reapareceu com um livro em branco e me deu. Disse que era pra eu escrever as coisas que sei nele.

Newt perguntou o que eu procurava, então contei sobre Alex. Ele tentou ser bondoso e me ensinou uma técnica de aborto.

- eu queria poder usar o bebê dela pra alguma coisa - contei esperando que uma idéia aparecesse.

- conheço uma celebração que você dá a alma do bebê em troca de algo que você queira - ele explica lendo seu Grimório.

Uma pergunta se formou; o que eu quero?

Pensei em pedir a liberdade de Newt, mas não contei a ele.

A campainha tocou. Era Alex. Subimos para meu quarto. Tive que explicar a ela o que eu pretendia fazer, assim, contando o que sou capaz.

- c-como assim? - gaguejou não acreditando - você é uma bruxa?

- sim, mas não sou o Harry Potter - deitei ela na cama e retirei sua calcinha - talvez isso doa um pouco. Fique calma.

-okay - respondeu meio insegura.

Newt não estava lá, pedi para que ficasse no sótão. Coloquei uma vela branca no lado esquerdo da cama e outra no lado direito. As luzes estavam apagadas.
Clamei pela entidade masculina e pela feminina.

Mas quem me atendeu foi o Deus. Em minha mente pedi a troca - a alma de um bebê por um acontecimento. Ele não mencionou nada. Alex estava gemendo.

O Deus me disse que era um troca injusta, e que não podia libertar Newt. Mas ele queria o bebê, assim como queria a alma de Alex também.

A garota começou a gritar alto. James deve ter ouvido pois notei passos pesados no andar de baixo.

Como eu não sabia finalizar aquele ritual, optei por pegar uma agulha de croché e enfiar na vagina de Alex, atingindo seu útero e estourando a bolsa. Nessa hora o seu grito foi silenciado, a vela esquerda se apagou.

Alex adormeceu. O sangramento não parada por causa da hemorragia interna.

Peguei alguns panos e coloquei em sua parte íntima, tentando aliviar a corrente de sangue. Cobri seu corpo com um lençol e a deixei lá, descansando.

Saí pela porta e James apareceu no corredor.

- Kathryn, está tudo bem? - ele perguntou preocupado.

- está - respondi - você sabe...

James também sabia as coisas que faço. Ele se sentia incomodado com isso tudo, mas não interferia. Ele assentiu com a cabeça e se retirou.

- Kathryn...- gemia Alex.

Voltei para meu quarto e ajudei ela a tomar banho. Ela não conseguia se manter de pé. Ligou para seus pais e avisou que dormiria na minha casa.

Emprestei algumas roupas pra ela. Dormimos na mesma cama. De vez em quando ela acordava por causa dos barulhos que Newt fazia no sótão.

Até eu me perguntava o que estava acontecendo.