Epílogo
Um alarme começou a tocar chamando a atenção de todos e conforme o protocolo, as pessoas correram até os abrigos construídos para protegê-los durante possíveis ataques. Nesse quase um ano que se passou após a batalha contra Abigor, uma grande colônia foi construída tendo o hospital como centro e muros altos e outros métodos de segurança foram instalados.
Com a ajuda da mente brilhante do professor Jeremias Vecchio em sintonia com a igualmente capaz mente de Gabriel, alguns dispositivos foram criados, permitindo que a presença de demônios próximos aos muros fosse detectada e acionasse os alarmes que serviam tanto para que os Arcanjos preparassem as defesas, quanto para que as pessoas procurassem abrigo.
Os sensores detectaram quatro demônios poderosos nas proximidades do portão leste que era voltado para o centro da cidade. Imediatamente Gabriel convocou Raguel, Nick, Mikael e Uriel para interceptar a possível ameaça e elevando os espíritos, eles abriram suas asas e partiram na direção dos sensores.
Do lado de fora dos portões, eles desceram e aguardaram. Dependendo da extensão do poder demoníaco, os sensores detectavam os inimigos até em uma distância de mais de trezentos metros, mas quatro motocicletas estavam paradas na estrada há uns cem metros dos portões, então quem as pilotava se escondeu e poderia atacar a qualquer momento.
— Will, as câmeras pegaram quem chegou nas motos? — perguntou Gabriel através de um pequeno rádio-comunicador instalado próximo à gola da jaqueta que provavelmente era um uniforme já que todos usavam uma igual.
— Negativo, cara! — respondeu Will do outro lado da linha. — Olhei em todas elas e parece que uma névoa densa as cobria e quando a visibilidade volta, só dá para ver as motos paradas onde estão agora.
— Continue olhando, essa névoa parece ser o poder de um deles! — disse Gabriel antes de encerrar a comunicação e voltando para os amigos disse telepaticamente. — Fiquem atentos Arcanjos, podemos ser atacados a qualquer momento!
A névoa começou a envolver todo local e se aproximava de onde eles estavam. Gabriel se manteve impassível e apenas ativou seu poder de visão e sua percepção de poder demoníaco que era mais apurada que a dos demais. Telepaticamente ele disse aos outros para ativarem a conexão telepática que vinham treinando a algum tempo e que tinha agora a oportunidade perfeita de ser testada.
Nessa conexão telepática, eles conseguiam compartilhar algumas habilidades sensoriais uns dos outros, tais como a percepção e visão aprimorada de Gabriel e a presciência de Nick, ou até um pouco da auto-regeneração de Raphael ou a manipulação das chamas espirituais de Uriel.
O ataque começou, e todos foram alvejados simultaneamente pelo que pareciam ser mais de quatro inimigos. Usando a presciência de Nick com a Conexão Telepática, eles desviaram facilmente dos ataques e com a visão apurada de Gabriel puderam perceber que as criaturas que atacavam eram idênticas e sem rosto, como se fossem apenas bonecos que ao serem atingidos se desfaziam como se fossem apenas uma fumaça sombria.
— Eles são uma espécie de marionetes feitas de chamas demoníacas e estão sendo controlados por um mestre. — Gabriel disse telepaticamente à todos. — Raguel, combine sua velocidade à visão e presciência compartilhadas e encontre o manipulador das marionetes. Uriel use os poderes compartilhados, foque no manipulador da névoa e atire nele forçando-o a extingui-la. O restante de nós se prepare para atacar assim que os alvos ficarem visíveis, eu sinto quatro presenças demoníacas poderosas.
Raguel com sua super velocidade identificou a localização do demônio mestre das marionetes e quase como se tivesse se teleportado, se posicionou atrás dele e o golpeou sem chances de defesa, fazendo todas as sombras que manipulava sumirem. Ao mesmo tempo Uriel seguiu os instintos de Nick e localizou o manipulador da névoa e lançou uma flecha certeira no ombro do demônio forçando o mesmo à recolher a névoa para focar na recuperação do ferimento.
Imediatamente após a névoa se dissipar todos partiram simultaneamente para atacar um outro demônio que estava por perto e não esperava que as névoas se dissipassem, mas antes que os arcanjos o destruíssem, uma voz conhecida pedindo para pararem os fez interromper o ataque a centímetros do alvo que de perto parecia apenas um jovem com seus óculos grandes de lentes grossas.
— Neil! — disse Mikael ao vê-lo se aproximar. — Que porra de brincadeira é essa?
— Calma Mick — disse Neil parando à alguns metros deles. —, eu queria apresentá-los à minha equipe e eles não acreditaram que vocês eram tão incríveis como eu disse, aí deixei que eles os vissem em ação. Depois dessa surra que levaram vão entender porque temos que treinar o trabalho em equipe.
— Então você veio aqui nos dizer que está recrutando um exército de demônios, Neil? — perguntou Uriel irritado. — Eu sabia que devíamos tê-lo matado quando tivemos a chance!
— Eu não diria "recrutando" e não chamaria de exército, cara — respondeu Neil, com um sarcasmo ácido na voz —, apesar de que eles são tão eficazes quanto um exército, a palavra certa é "invocando".
— Imagino que seja a mesma invocação que Abigor fez para mesclar Belial à você — disse Gabriel, sempre calmo. —, a Aglutinação Espiritual.
— Sim. — respondeu Neil, sem sarcasmo dessa vez. Algo no líder dos Arcanjos inspirava respeito tanto nos amigos quanto inimigos. — Eles são demônios do grande escalão. A loira da névoa é a Claire e carrega o espírito de Abadon mesclado ao seu, a morena dos clones é a Jessie e carrega o espírito de Apolion e esse nerd de óculos é o Jonah, ele foi aglutinado à Asmodeus.
— Imagino que invocá-los foi ideia de Belial — perguntou Mikael estendendo a mão para cumprimentá-lo —, vocês tem se comunicado?
— Sim, nós fizemos um acordo. — respondeu Neil, apertando a mão para aceitar o cumprimento. — Assim como Belial, os demônios do alto escalão não podem ser invocados à não ser pela aglutinação espiritual e o espírito deles foi aprisionado pelo Rei Salomão juntos com outros setenta e dois demônios em uma urna.
"Quando o espírito de Deus deixou a terra, os demônios inferiores ficaram livres para sair e só os reis demônios permaneceram presos na urna de Salomão. Abigor e Lilith invocaram alguns, sendo que Abadon, Apolion e Asmodeus se recusaram a serem usados, pois queriam sentir como era estar vivos outra vez, mas sem ser usados contra os humanos. Belial me contou essa história, me deixou conversar com eles e aqui estão, lutando pela paz que eu quero ajudar a construir."
— É só questão de tempo até te traírem, seu idiota — gritou Uriel. —, demônios são mentirosos por natureza!
— Talvez você tenha se relacionado com os demônios errados, gostosão! — disse Claire recuperada do golpe de Raguel. — À propósito é um prazer conhecê-los, vocês são tão incríveis quanto o Neil nos falou!
— Espero não ter batido forte demais. — disse Raguel com um sorriso.
— Ah ruivinha — disse a loira com um sorriso safado —, você pode bater o quanto quiser!
— Mas acho que não veio aqui só para apresentá-los — disse Nick, que com certeza já sabia o que eles tinham para falar —, não é mesmo Neil?
— Não dá para esconder nada de você não é mesmo, Muriel? — respondeu Neil enigmaticamente.
— Diga-nos o que é então. — disse Gabriel.
— Nós visitamos as cidades próximas à Miraculous Clearing nos últimos meses "fazendo a limpeza". — começou Neil. — Os demônios pareciam estar esperando algum grande evento e torturando alguns deles conseguimos o nome de Balthazard e Lilith.
— Você sabe onde esses filhos da puta estão? — gritou Uriel, se aproximando e segurando os ombros dele. — Me diga e eu vou acabar com eles.
— Sinto muito Uriel — respondeu Neil seriamente —, Os demônios não sabiam para onde foram, mas nos disseram que eles pretendem usar a placa para encontrar a prisão de Lúcifer e libertá-lo.
— Faz muito sentido! — disse Mikael. — Quando o filho de Deus foi crucificado e ressuscitou, satanás foi selado em uma prisão e segundo as escrituras só sairia para a batalha final na volta de Jesus.
— E como o plano mudou — completou Gabriel —, ele permaneceu preso e os resquícios do espírito do filho de Deus na placa podem libertá-lo.
— Exatamente! — disse Jonah, falando pela primeira vez. — Mas de acordo com pesquisas que fiz e cruzei com algumas informações de Asmodeus, não será fácil encontrar a prisão de Lúcifer, por que nem os próprios anjos sabiam onde ficava. Balthazard precisará primeiro descobrir como manipular a placa, para só depois começar a procurar a prisão.
— Isso nos dá tempo para encontrá-los e impedir que o façam. — Gabriel disse. — Agradeço por terem vindo, Neil. Tem algo que possamos fazer por vocês?
— Na verdade tem sim. — Neil respondeu. — Nós precisamos de gasolina, e sabemos que vocês tem um grande estoque. Tivemos notícias do sucesso nas expedições de vocês.
— E porque precisam de gasolina? — perguntou Raguel.
— Nós decidimos que vamos ampliar a caçada aos demônios — disse Neil —, mas voar gasta muita energia, então decidimos ir de moto.
— Era só o que faltava — disse Uriel ironicamente —, uma gangue de demônios motoqueiros.
— Ah amor, eu gostei! — disse Nick, rindo da cara que Uriel fez e arrancando risinhos abafados de todos. — Sei lá, eu gosto de motos.
— Muito bem Neil — Gabriel disse, estendendo-lhe a mão em cumprimento e apertando a mão dele ao ser correspondido. —, vamos entrar. Mikael te levará para abastecer as motos e pegarem o estoque que conseguirem carregar. Depois disso venham almoçar conosco e tomar uma cerveja.
Os portões foram abertos e após os Arcanjos entrarem, Neil e sua equipe entraram com as motocicletas também e seguiram Mikael até os tanques de combustível que ficavam em uma área segura e isolada das demais construções.
Os demais Arcanjos seguiram para o hospital, e Nick e Raguel foram verificar algumas questões administrativas, enquanto Uriel e Gabriel foram para a sala de conferências, que se tornou o lugar onde faziam as reuniões para debater os assuntos importantes.
— Você sabe que eu preciso ir atrás de Balthazard e Lilith — Uriel disse a Gabriel assim que ficaram à sós. —, mas eu não queria expor a Nick à esse perigo.
— Você irá — disse Gabriel, colocando a mão em seus ombros em sinal de apoio. —, mas é impossível impedir que a ela vá junto. Além do mais, os poderes dela são a nossa melhor chance de encontrá-los.
— Você tem razão. — concordou o loiro, baixando a cabeça em rendição. — Nós partiremos de manhã, então vamos festejar hoje.
— Sim, meu irmão — disse Gabriel sorrindo —, vamos festejar, porque sinto que nosso tempo de paz está chegando ao fim.
— Quanto ao Neil, cara — disse Uriel antes de saírem da sala —, mesmo mantendo o pé atrás quanto à confiar nele, começo a sentir que ele será um grande aliado!
— Eu também sinto isso! — respondeu Gabriel. — Agora vamos almoçar, eu estou faminto!
Após o almoço eles beberam e conversaram despreocupadamente até que Neil e a sua equipe partiram. Os Arcanjos sabiam que essa visita, junto com as informações que eles trouxeram seriam um divisor de águas em suas vidas e que deveriam se preparar para desafios maiores em um futuro próximo.
Uriel e Nick prepararam as suas coisas para partirem atrás de Balthazard e Lilith, para recuperar a placa que roubaram e impedir que eles encontrassem a prisão de Lúcifer e o libertasse. Mesmo sem saber quais seriam os planos do soberano dos demônios, não poderiam arriscar ter um inimigo tão poderoso à solta.
A noite passou rápido e eles se reuniram para o café. Precisavam aproveitar a companhia uns dos outros, por que não sabiam quando se encontrariam novamente e essa refeição era ideal para isso.
— Cara — Uriel disse, olhando para Gabriel —, após recuperarmos a placa, precisaremos ir até Washington e desfazer os Cavaleiros da Nova Terra. Eles podem não ter nada a ver com Balthazard e Lilith, mas os demais demônios estão sob comando deles.
— Nós faremos isso — respondeu o líder dos Arcanjos —, mas por hora apenas encontre Balthazard, o faça pagar por nos trair e volte para nós com a placa. A luta contra Siegfried e a seita dele deve ser mais planejada, por que eles têm muitas ramificações.
— Eu acho que está na hora de irmos, Uri. — disse Nick, levantando-se. — O carro está abastecido e com os suprimentos!
— Vamos pegar esse filho da puta então! — disse Uriel levantando-se também.
— Gabriel! — Will chamou pelo rádio em tom urgente! — Estão perto da televisão? Acabei de receber um alerta de que o sinal digital foi reativado. Temos uma transmissão ao vivo acontecendo em rede mundial.
Sem responder, Gabriel ligou a televisão do refeitório imediatamente e todos viram surgir na tela, imagens de demônios matando pessoas e destruindo cidades em todo mundo. A imagem cortou para um senhor de cabelos brancos, olhos azuis e aparência altiva, que estava sentado atrás de uma mesa no que parecia ser o Salão Oval da Casa Branca.
— FILHO DA PUTA! — gritou Uriel, surpreso ao ver aquele homem nas imagens. — É o desgraçado do Siegfried!
— Eu venho aqui em rede mundial, direto do Salão Oval da Casa Branca, para trazer um pouco de esperança para vocês. — começou Siegfried, com um ar sério. — Como todos sabem, demônios estão soltos na terra e nós fomos abandonados por Deus, mas eu lhes digo que isso já havia sido previsto e que nós estávamos trabalhando em um modo de lutar e defender a humanidade.
"'Quem somos nós', deve ser a pergunta que estão se fazendo nesse momento e eu irei respondê-la, mas antes irei me apresentar.
"Eu me chamo Siegfried, e sou fundador e grão-mestre dos Cavaleiros da Nova Terra, uma organização que nasceu tendo como única missão ser a espada e o escudo da humanidade contra os demônios. Nós ansiávamos pela chegada do nosso salvador, o anjo que empunharia a espada do Éden e expurgaria todo mal que assombra a terra.
" Nesta madrugada tivemos a confirmação de que o Messias da Nova Terra chegou e irá lutar por nós destruindo todo mal que aflige a terra. Gostaria de pedir para se organizarem porque membros da nossa organização, que estão em todos os países do mundo, irão até vocês para resgatá-los e para que juntos possamos construir a nova terra!"
O anúncio de Siegfried os deixou surpresos. Era de se esperar que os Cavaleiros da Nova Terra tivessem uma iniciativa assim, mas o anjo salvador deles era Uriel e eles perderam esse trunfo. Qual terá sido a jogada que eles fizeram?
— A seguir — continuou Siegfried —, vocês verão imagens gravadas nessa madrugada, onde nosso anjo salvador limpou a cidade de Washington eliminando todos os demônios com a sua espada flamejante.
"Lembrem-se de que juntos nós somos mais fortes e que venha a nova terra!"
A cena mudou e eles viram demônios aterrorizando sobreviventes na cidade, quando de repente um clarão tomou as imagens e quando visibilidade voltou chamas alaranjadas queimavam os corpos dos demônios. Outra imagem mostrou um ser abrindo suas grandes asas de chamas alaranjadas e sacando uma espada que se acendeu em chamas vermelhas assim que saiu da bainha. Ele lutava contra um demônio que parecia ter mais de três metros de altura, o cortou ao meio com apenas um golpe e a transmissão se encerrou.
— Eu vi essas chamas alaranjadas em meus sonhos. — disse Nick assustada. — Será ele o sétimo arcanjo que Jesus mencionou naquela visão?
— Tem a possibilidade de ele ser um demônio se passando por anjo? — perguntou o Pastor.
— Não. — respondeu Gabriel. — Os demônios não têm e nem conseguem reproduzir chamas tão belas assim. Ele é um de nós.
— O que nós faremos agora? — perguntou Raphael.
— Pelo visto, amigos — respondeu Gabriel sem pensar muito. —, Não é só Uriel e Nick que vão viajar!
Aquelas imagens os alarmou de vez e decidindo que Gabriel e Raguel iriam para Washington, eles começaram a se preparar e o veículo foi abastecido de combustível e suprimentos. Seria uma longa viagem, mas precisavam confrontar o jovem das chamas alaranjadas, saber por que estava aliado ao inimigos e tentar abrir os olhos dele como aconteceu com Uriel.
— Gabriel! — gritou Thalia, vindo correndo na direção dele e sendo seguida por Will. — Precisa me deixar ir com vocês!
— Se ela for senhor, eu também irei! — disse Will, segurando duas mochilas que provavelmente eram uma sua e uma da namorada.
— E porque eu os deixaria ir? — perguntou gabriel confuso.
— Porque eu vi as imagens ampliadas e conheço aquele jovem com as chamas alaranjadas. — Thalia respondeu.
— Como assim — perguntou Raguel —, quem é ele então?
— Ele… — respondeu Thalia hesitante. — é o meu irmão Samuel!
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