50 - Conclusões Parte 2

Após combinarem o plano, Raguel, Nick e Raphael partiram para a batalha, mas ao invés de irem voando até o local onde os demônios estavam, eles preferiram seguir por terra por uma rua paralela à praça central, chegando sorrateiramente por trás das carroças onde eles mantinham os reféns, escondendo-se e aguardando o momento certo.

— Eles estão dando atenção apenas para a direção de onde vínhamos. — Raguel observou.

— Um dos demônios capitães do Abigor pode ver algumas coisas no futuro. — Nick explicou. — Talvez ele acredita tanto em seu poder de previsão que não pensa que podem ocorrer mudanças.

— Isso é uma grande vantagem. — Raphael disse, voltando a atenção para a formação dos demônios. — Os três capitães estão vários metros à frente, pelo visto tinham a intenção de nos atacar enquanto os demônios inferiores protegiam as carroças.

— Os demônios inferiores estão à mais ou menos cinco metros dos reféns. — Nick completou os dados. — E as carroças não estão na parte aberta da praça, e sim em uma rua que tem no máximo cinco metros, isso diminui a extensão do campo de força.

— Perfeito, amigas! —Raguel disse confiante. — É hora do show!

— Adorei o "amigas", até arrepiei! — Raphael ainda disse, antes de Nick projetar parte do seu espírito junto com o dela, fazendo-os aparecer atrás de uma cadeia de lojas que ficavam na direção para onde os demônios estavam olhando.

Os dois arcanjos, com a fração dos seus espíritos projetada, mantiveram enrolados nos pulsos uma tira de suas roupas físicas para permanecerem visíveis e seguiram andando até pararem a cinco metros dos inimigos. Enquanto com seus corpos físicos concentravam-se no equilíbrio de seus poderes para fazer a proteção das carroças.

Raphael e Nick se posicionaram em lados opostos ainda escondidos e posicionaram-se de frente um para o outro, de modo que a linha que o campo de força entre eles ficaria entre os reféns e os demônios. Ambos concentraram seus espíritos em esferas na altura do peito e aguardaram pelo sinal.

— Você disse que seriam três deles, Purson. — Um dos demônios que tinha o corpo humanóide, mas com a cabeça de cavalo e um chifre no centro da testa disse para o demônio do centro. — Parece que não está tão calibrado assim.

— Eles têm um vidente também, Amduscias. — O demônio do centro respondeu. Ele tinha o corpo coberto de pelos e a cabeça era de um felino, uma mistura de leão e tigre. — E não é ninguém menos que o arcanjo Muriel, o anjo das profecias, é normal que tenham mudado a estratégia.

— Não faz diferença se são dois ou três. — O outro demônio disse, com uma voz aguda e esganiçada que causava mais incômodo que medo. Seus braços tinham poros por toda sua extensão, e sua cabeça era de um homem normal com exceção dos olhos que eram semelhantes aos olhos de uma mosca. — Vamos cercá-los, e me deixem acabar com isso!

— Quem te vê falando assim, até pensa que é um guerreiro, Bael! — O demônio chamado Amduscias falou e soltou uma gargalhada. — E a sua cara atacar adversários encurralados.

— Eu não sou idiota como você, Amduscias. — Bael retrucou. — Você pensa que tudo se resume a lutar, quando o mais importante é sobreviver. Nós finalmente fomos invocados pela aglutinação espiritual, podemos desfrutar dos prazeres de ter corpos físicos e eu não vou arriscar ser destruído.

— Ei seus feiosos. — Raphael gritou. — Desculpe por atrapalhar a d.r. demoníaca de vocês, mas precisamos destruí-los logo. Temos mais o que fazer.

— SEU MOLEQUE INSOLENTE! — Amduscias gritou e por pouco não se lançou ao ataque, não fosse pela intervenção de Purson que o conteve.

— Bael tem razão, Amduscias. — Purson disse, segurando o braço dele. — Vamos fazer isso da maneira mais fácil.

Chegando a um consenso, os demônios avançaram e cercaram os arcanjos. Após recitar algumas palavras em uma linguagem estranha, uma espécie de cúpula envolveu Raphael e Nick, que em nenhum momento mudaram a expressão de confiança. Do lado e fora os três reis demônios os observavam sem dizer nada, até que Bael quebrou silêncio.

— Costumavam me chamar de Senhor das Moscas, sabiam. — Ele disse, enquanto olhava os jovens com uma expressão de maldade em seus olhos de inseto. — Porque o meu poder é que traz a podridão e a decomposição. Agora vocês irão irão apodrecer e morrer também!

Os jovens se mantiveram tranquilos dentro da cúpula, deixando os demônios perplexos. Sem perder tempo, Bael lançou uma nuvem de gás que começou a se espalhar envolvendo os arcanjos, que mesmo assim não perderam a calma. Ao invés disso, ambos desenrolaram as tiras de pano que estavam enroladas em seus pulsos, e soltando-as desapareceram.

— Droga! — Purson gritou furioso, ao ver os jovens sumirem na sua frente. —Era só uma projeção!

Voltando-se para onde estavam os reféns, os demônios viram Raphael e Nick pairando acima das carroças. Ambos tinham esferas de poder nas mãos e suas projeções apareceram novamente, também pairando no ar e com esferas de poder nas mãos, porém estavam posicionados como se formassem um quadrado no espaço sobre os reféns. Eles então lançaram a partir das esferas em suas mãos feixes das chamas que as compunham, na direção das outras esferas, formando um quadrado de chamas coloridas no ar.

— Desgraçados! — Bael disse, irritado por ter sido enganado. — Eles queriam nos afastar das carroças!

— O que estão esperando seus inúteis! — Amduscias gritou para os demônios inferiores, que estavam mais próximos dos jovens, mas mantinham a formação e sequer olhavam para eles. — Eles estão tentando proteger os reféns, matem todos!

Antes que os demônios inferiores se virassem para atacar, um raio cor de esmeralda os atingiu. Atravessando o corpo de todos eles simultaneamente, com uma velocidade que nem mesmo Amduscias, o demônio dos ventos, pôde acompanhar. Em instantes, os seis demônios inferiores estavam em pedaços e os três reis demônios observaram perplexos o surgimento de um novo elemento na batalha. 

— O Raio Esmeralda de Deus! — disse Purson, enquanto observava a figura alada virando-se para eles após destruir todos os demônios inferiores. Ela tinha uma armadura de batalha completa cor de esmeralda, cobrindo todo o corpo sem fazê-la perder a elegância ao andar. De suas costas brotavam dois magníficos pares de asas compostos das mesmas chamas verdes que contornavam seu corpo e brotavam de seus olhos que transmitiam ferocidade e confiança. Os únicos contrastes com a magnífica luz verde, eram a pele branca levemente salpicada de sardas e os cabelos vermelhos que caíam em ondas por baixo do elmo. — O Arcanjo Raguel!

— Você é um vidente de merda, Purson! — ironizou Amduscias dando tapinhas de leve nas costas de Purson, que ainda estava admirado com a aparição repentina do arcanjo.

— Esse tipo de estratégia traiçoeira não é comum dos arcanjos — disse Purson visivelmente assustado —, eles sempre foram francos e diretos na batalha.

— Foi o que eu disse seus idiotas! — vociferou Bael, tremendo-se de medo. — Independente de todo poder que eles têm, ainda preferiram usar uma estratégia e agora nós perdemos a vantagem dos reféns.

Enquanto os demônios debatiam sobre terem sido enganados, Raphael e Nick terminaram a sincronização dos espíritos com suas projeções e após completarem o quadrado das chamas acima dos reféns, lançaram as paredes de poder até o solo, sendo que a parte da frente atingiu os animais demoníacos que estavam puxando as carroças na altura do pescoço, como uma guilhotina, decepando-lhes as cabeças.

— Vocês estão bem? — perguntou Raguel, aos dois jovens, assim que eles desfizeram as projeções e pousaram perto dela. — Pelo visto gastaram muito poder.

— Precisamos só de alguns minutos. — respondeu Rafael. — À propósito, você está incrível!

—Eu me sinto incrível! — disse a ruiva, olhando para seus braços e pernas protegidos pela armadura. — Eu me concentrei em matar todos os demônios antes que eles os atacassem, e de alguma forma liberei todo esse poder. Acho que essa é a nossa forma verdadeira de arcanjos.

— Eles estão com medo de você — disse Nick se aproximando. — Isso nos dá um tempo para recuperarmos o espírito que gastamos com a proteção.

— Acho bom terem medo mesmo — Raguel disse com um sorriso. —, Eu adoro matar demônios!

Purson parecia estar em uma espécie de transe e Amduscias, por mais que estivesse doido para lutar, decidiu esperar pelo vidente. Abigor tinha colocado Purson na liderança, e Amduscias como grande guerreiro que era, sabia seguir uma hierarquia. Bael estava paralisado de medo após ver Raguel em sua forma de Arcanjo. Ele se lembrava bem de como foi destruído, junto com suas legiões demoníacas durante o levante de Lúcifer e desde então aguardou pela aglutinação espiritual para pra poder enfim ter um corpo físico novamente.

— Va-vamos fugir, Amduscias! — gaguejou Bael, sem esconder o medo que que o tomou. — Nós não podemos vencer.

— Olhe para mim, seu inseto! — vociferou Amduscias, bastante irritado com o outro demônio. — Eu sou um Leão, um grande leão guerreiro, você jamais me verá fugir de uma batalha e se você falar em fugir mais uma vez, eu mesmo arranco a sua cabeça!

— Eu realmente vi a nossa morte, Bael — disse Purson após sair do transe. —, mas precisamos mantê-los aqui até que os demônios inferiores possam pegar a placa no hospital e levá-la até Abigor. 

— É assim que se fala, Purson! — Amduscias se empolgou. — Vamos dar uma canseira neles.

— E-Eu n-não quero morrer. — gaguejou Bael mais uma vez. — Vou fugir daqui e vocês deviam fazer o mesmo!

O rei demônio Bael se virou para fugir, mas antes mesmo que desse um passo, foi atingido por um raio negro que o atravessou e ele então viu seu corpo cair inerte no chão ladrilhado da praça. Da mão que segurava sua cabeça pelos cabelos, ele pode avistar na outra mão de seu algoz, o seu coração negro que ainda pulsava até que as garras felinas de Amduscias o rasgaram também, decretando o seu fim.

— Rapha — chamou Raguel assim que viu o demônio matar seu aliado que fugia —, cuide dos reféns, pode ter algum ferido e se precisarmos, você será o nosso 'healer'.

— Entendido! — concordou Raphael, abrindo suas asas e voando por cima das paredes para dentro da proteção que fizeram. Enquanto as duas jovens se posicionavam para atacar.


Os reféns estavam fracos, como se estivessem à vários dias sem comer e sem beber nada e alguns inclusive estavam desacordados. Raphael estranhou que mesmo com tudo o que aconteceu ao redor daquelas pessoas, elas não esboçavam surpresa alguma, como se não tivessem sentidos como visão e audição. Ele tocou um homem que estava próximo à grade, mas ele sequer se moveu. Pelo visto o sentido do tato também não existia mais.

Um barulho alto na parede da proteção o fez se assustar e ao virar-se, viu um carro totalmente destruído a poucos metros dele. Ao longe Raguel enfrentava Amduscias, que pegava tudo o que estivesse ao seu alcance e jogava nela. E olhando mais ao lado viu Nick e Purson, que lutavam de perto, mas não se acertavam. Com certeza estavam usando seus poderes de presciência para preverem os ataques uns dos outros. Eram batalhas difíceis, mas sabia que as amigas eram mais poderosas que os demônios.

Voltando-se para as carroças, projetou o seu espírito sobre eles e a sua luz azul índigo envolveu a todos. Fragmentos do espírito demoníaco de Bael estavam nos espíritos de todos eles, e as células estavam infectadas como se fossem cancerígenas. Bael era realmente o demônio das doenças e da podridão, e mesmo depois de morto estava ali dando trabalho.

— E eu que pensei que iria ficar sem lutar — pensou ele, enquanto começava a examiná-los para começar a tratar todas as doenças que o demônio causou. —, mas pelo visto não vai ser uma batalha curar todas as enfermidades que o Senhor das moscas lançou naquelas pessoas.

O enfermeiro se lembrou de como Raguel e Nick expandiram o alcance de seus poderes e suas habilidades, então simplesmente fechou os olhos e se concentrou. Elevando seu espírito ele o dividiu e a pequena chama tocou a testa de cada um dos reféns e acessando os cérebros deles, tansmitiram todos os dados para o Arcanjo. Então, de posse da localização exata do que causava todas as enfermidades, Raphael lançou o ataque direto na fonte e a destruiu completamente.

Mesmo após estarem curados, o jovem preferiu deixá-los dormindo pelo menos até que a batalha das meninas terminasse, mas antes que se voltasse para elas para ver se estavam precisando do seu apoio, ele viu um rosto conhecido entre os reféns da segunda gaiola.

— Enrico, acorde! — disse Raphael, após retirar o jovem do sono induzido.

— Rapha, eles te pegaram também? — desesperou-se Enrico ao acordar e ver o amigo ali, mas se conteve assim que olhou ao redor. O campo de força, os animais demoníacos mortos, os demônios estraçalhado e uma batalha que eles mal conseguia acompanhar os movimentos. — Você está com eles e vieram nos salvar?

— São "elas" na verdade. — disse Raphael, pegando a mão do amigo e sentindo um alívio por ele estar vivo — E sim, estou com elas. Eu curei vocês.

— Eu sei que você é um enfermeiro excelente — disse Enrico, apertando a mão dele com força. —, mas agora você tem poder de curar?

— Essa é uma história longa, Rico, e eu te contarei com prazer uma outra hora. — Raphael disse com um sorriso simpático. — Agora eu quero saber como você sobreviveu ao incêndio? Ramon pensou que estava morto!

— Você encontrou com o Ramon? — Enrico perguntou, assumindo uma expressão preocupada. — Onde você o encontrou?

— Nós criamos uma base de acolhimento às pessoas no hospital. — explicou Raphael, sem entender o motivo da preocupação do outro jovem. — Ele chegou lá com outras pessoas procurando ajuda e me falou do incêndio. Mas parece que a história não é bem do jeito que ele contou.

— E não é. — disse Enrico. — Nós estávamos abrigando pessoas e nos escondendo dos demônios até que sofremos um ataque. Um demônio chamado Abigor, que parecia comandar o ataque viu como Ramon enfrentou as chamas para me buscar e então quis usar o amor que ele sente por mim. Ele disse que só precisava de informação sobre uma placa e sobre os planos dos Arcanjos no hospital. Ele não teve escolha Rapha e com certeza está sendo difícil fazer isso sabendo que você é um dos Arcanjos que ele precisou enganar, mas o demônio prometeu que nos pouparia se Ramon fizesse isso.

— Droga! — Raphael exclamou, levando as duas mãos à cabeça, surpreso com a revelação. — Eu sei que ele não fez por mal e se estivesse no lugar dele faria o mesmo, mas se o Abigor o mandar pegar a placa, ele pode fazer uma besteira maior!

— Perdoe-o, por favor, Rapha. — implorou Enrico, ajoelhando-se no chão da carroça. — Se disser pra ele que me libertou ele não fará nenhuma loucura!

— Eu preciso voltar para o hospital agora! — Raphael disse em tom de urgência. — Nick e Raguel são poderosas e assim que vencerem as batalhas te levarão para lá. Você, por favor, explique e contenha os outros, instruindo-os a confiarem nelas.

— Rag, Nick! — ele as chamou telepaticamente, após Enrico assentir com a cabeça. — Os reféns estão bem, eu preciso voltar ao hospital com urgência e depois eu explico tudo. Eu sei que vocês dão conta de tudo sozinhas.

Após elas concordarem telepaticamente, ele abriu as asas e partiu decididamente rumo ao hospital. Algo em seu coração o dizia que as atitudes de Ramon eram o menor dos problemas que encontraria lá e sabia também que segundo a última visão de Nick, a maioria dos demônios inferiores havia ido para lá, e deveriam estar tentando passar pela barreira que montaram no hospital e já deveria estar perdendo a força. Mesmo sem ser um guerreiro, seria inevitável lutar contra eles.


Nick seguia lutando em pé de igualdade com Purson, que tinha os mesmos dons de presciência que ela, e ambos previam todos os ataques de modo que sequer chegaram a acertar qualquer golpe um no outro. Essa batalha era interessante apenas para o demônio, que só que queria atrasá-las o máximo possível para ser útil aos planos de Abigor.

Ela por sua vez, pensava em terminar a batalha e ir dar apoio a Uriel e aos outros, uma vez que os adversários deles pareciam ser mais fortes. Afastando-se do demônio para pensar em uma estratégia, ela olhou para Raguel, e viu que o adversário dela conseguiu equiparar-se em velocidade, mas ao custo de muita energia, o que dizia que era questão de tempo até que ele fraquejasse e fosse derrotado.

Purson apenas aguardava e não tinha aparentemente nenhuma preocupação em pensar em estratégias para vencer. Havia aceitado que não podia vencer e apenas aguardava os ataques para se esquivar.

Pensando novamente em Uriel, Nick se lembrou da luta deles no terraço do hospital e de como ele venceu sua presciência. Depois de se odiar um pouco por não ter pensado nisso desde o início, ela começou a pensar em como iria usar a tática dele nessa batalha, e sorriu ao perceber que a sua vitória também estava próxima.

Raguel atacava Amduscias ferozmente e a velocidade dos dois causava grandes explosões de ar ao se chocarem nos golpes. O leão demoníaco era mais forte, porém ao concentrar seu espírito na velocidade para conseguir acompanhá-la, perdia potência nos ataques e era bloqueado com facilidade por ela.

— Sabe jovem — disse o demônio meio ofegante, visivelmente esgotado depois do esforço que fez. — Sou grato a Abigor por ter me dado a oportunidade de lutar contra um arcanjo novamente. E principalmente por ter sido com você.

— Eu gostaria de estar com meu namorado agora, Amduscias — disse Raguel com um sorriso nos lábios —, mas confesso que curti a nossa batalha.

Em um último ataque o demônio concentrou seu espírito demoníaco nos punhos e com um rugido monstruoso avançou. A jovem apenas aguardou e no momento certo, com sua velocidade superior, desviou-se verticalmente do golpe, elevando seu corpo por vários metros em milésimos de segundos e imprimindo uma velocidade ainda maior, contra-atacou com um golpe que o arremessou contra o solo de pedra.

O leão ainda tentou se levantar, mas conseguiu apenas ficar de joelhos, pois, havia quebrado múltiplos ossos e a chama negra do seu espírito demoníaco não mais o sustentava e protegia. Descendo até ele, em um rápido golpe de misericórdia, a jovem usou as chamas de suas asas para atravessar-lhe o coração e decepar-lhe a cabeça, encerrando a batalha.

Olhando para onde Nick lutava contra Purson,  Raguel teve o ímpeto de ajudá-la, mas sentiu o peso da armadura lhe dizendo que também havia gastado muito poder no último golpe e após perceber o sorriso tranquilo e confiante da amiga, optou por acalmar seu espírito e descansar. Então sua armadura se desfez junto com suas chamas e ela se sentou no único banco da praça que não foi destruído na batalha.

Vendo que Raguel havia finalizado Amduscias, Nick elevou seu espírito abrindo suas asas. Suas chamas amarelas faziam o dia frio nublado de inverno, parecer um dia de verão em um país tropical. Purson também abriu suas negras criando um incrível contraste, como se essa batalha fosse literalmente o embate da luz e das trevas que Deus separou na criação.

Rasgando um pedaço de sua camisa, a jovem vendou os olhos, deixando o demônio sem entender o que ela fazia. Pela primeira vez na batalha ele perdeu a calma, irando-se com a afronta da jovem que partiu para um ataque direto sem o uso da visão. Enquanto ela se aproximava, ele percebeu que não conseguia mais prever os golpes dela, e começou a ser castigando com golpes potentes sem chance de se defender ou revidar.

Após receber diretamente centenas de golpes poderosos, Purson foi arremessado violentamente contra a parede de uma das lojas que contornavam a praça, destruindo parte da mesma com o impacto. Apoiando-se vencido no que restou da estrutura e sem contar mais com as chamas negras de seu espírito, ele viu a jovem alada retirar a venda dos olhos e se aproximar para o golpe final.

— É incrível essa técnica que venceu a presciência, Muriel! — disse o demônio com dificuldades, como se lhe faltasse ar. — Você poderia me contar como funciona, antes de me matar.

— Eu posso sim — a jovem respondeu, enquanto concentrava suas chamas nos dedos, fazendo sua mão parecer uma lâmina brilhante. —, mas eu não quero!

Sem perder tempo, com dois golpes certeiros, ela transpassou o peito dele, destruindo seu coração e decepou-lhe a cabeça, finalizando o combate na praça. Acalmando o seu espírito, ela seguiu até onde Raguel a aguardava e se sentou ao lado dela.

— E agora amiga? — perguntou-lhe a ruiva, apoiando-se com as mãos nos joelhos, visivelmente exausta.

— Vamos descansar um pouco — respondeu, inclinando-se para trás, a fim de pousar as costas no encosto. —, afinal teremos que escoltar aquelas pessoas até o hospital e a caminhada é longa.

— Podemos ir puxando as carroças. — sugeriu Raguel em tom de brincadeira. Ambas riram alto por um tempo e depois acrescentaram juntas um sonoro:  — NEM PENSAR! — Voltando às gargalhadas em seguida.

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