46 - Preparações Pt 1
Uriel observava atentamente enquanto Gabriel explicava a técnica de mesclar os espíritos para torná-los mais fortes. Desde o treinamento onde Gabriel e Mikael usaram essa técnica para capturá-lo, ele não parou de pensar em como ela era feita.
Os seis jovens se encontravam alí no estacionamento, e a atenção dele estava dividida entre a explicação de Gabriel, e os movimentos de Nick, que se alongava ao lado de Raguel, preparando-se para o treinamento. As curvas dela estavam lhe tirando a atenção desde que ela acordara depois que ele a ajudou a derrotar Ukobach.
_ O princípio para combinar os espíritos, é que todos nós os elevemos à uma mesma frequência. _ Gabriel começou a explicar. Eles tinham pouco mais de dois dias até o ataque e precisavam treinar a combinação de seus poderes para que a se idéia de criar um campo de força ao redor do hospital pudesse ser levada à diante. _ A nossa conexão telepática pode facilitar isso. Sintam o poder um do outro, concentrando-se na nossa ligação natural, já que nossa fonte de origem é a mesma.
_ Observem como Mick e eu fazemos e tentem entender como nós encontramos o equilíbrio. _ Ele continuou, e acenando para Mick, ambos foram para o centro do estacionamento e começaram a demonstração.
Uriel foi o primeiro a entender a mecânica da conexão dos dois. À medida que os dois espíritos se mesclavam, ele entendeu que as chamas reagiam como a luz, e as cores variavam de intensidade conforme as emoções do seu controlador. Em seu treinamento ele aprendeu que os poderes demoníacos aumentavam com os sentimentos ruins, ampliando a densidade de suas trevas. E como as chamas dos Arcanjos eram exatamente o oposto das demoníacas, ele deduziu que os sentimentos bons fortaleciam a luz dos seus espíritos.
A prova disso foi o fato de seu espírito ter se fortalecido à medida em que ele se afastava dos demônios e se aproximava dos Arcanjos, que eram sua verdadeira família. Os sentimentos que começavam a florescer em seu coração quando pensava em Nick, também estavam refletindo em seu espírito, mas o deixava apreensivo quanto à batalha que os aguardava.
Por um instante, ele se viu pensando nela e viajando em seu corpo mais uma vez. Cada movimento que ela fazia dentro daquele moletom folgado que usava para treinar, despertava nele sensações que há muito tempo havia esquecido. Ele não pensava mais na traição de Ivana, e estava disposto a se permitir amar novamente.
_ Quer tentar Uriel? _ Gabriel perguntou, lhe tirando dos pensamentos.
_ E-Eu preciso de uma pausa, se não se importarem. _ Ele disse, meio envergonhado de ter desviado o foco. _ Eu me senti um pouco cansado.
_ Eu posso te ajudar se quiser. _ Raphael disse, preocupado.
_ Obrigado, Rapha, mas é melhor você focar no treinamento. _ Uriel respondeu, e colocando a mão no ombro dele, seguiu para o hospital após o aceno afirmativo de Gabriel.
No caminho para o hospital, ele se sentiu envergonhado por ter perdido o foco assim. Precisava de uma bebida forte para desestressar, mas só encontraria algo assim no hospital se tivessem pegado durante as buscas, então fez uma nota mental para lembrar-se de que se vivessem para fazer uma nova busca, ele se lembraria de pegar pelo menos uma garrafa.
Indo até a cozinha, ele pegou uma garrafa de isotônico e seguiu para o quarto onde dormia, sem se encontrar com ninguém pelo caminho. As pessoas já estavam acomodadas no laboratório, onde ficariam até depois da batalha. Entrando no quarto, ele colocou a garrafa com o líquido em cima da mesa de cabeceira, tirou a camisa e seguiu para o pequeno banheiro onde jogou um pouco de água no rosto e se olhou no espelho. Podia perceber que até a sua aparência melhorou depois de encontrar os arcanjos, e agora ele já não parecia mais velho e cansado.
_ Ah Muriel, se você soubesse todos os sentimentos que desperta em mim... _ Ele disse em para si mesmo em voz alta, enquanto ainda olhava no espelho, mas a sua vontade era ter dito isso para ela.
_ Vai atrás dele, Nick. _ Raguel disse telepaticamente vendo que a amiga olhava Uriel enquanto ele se afastava. _ Você não está prestando atenção no treinamento mesmo!
_ O quê? _ Nick perguntou, também em pensamento, envergonhada por ter sido pega olhando para ele. _ Estou só preocupada.
_ Eu percebi o quanto tem se preocupado ultimamente. _ A ruiva insistiu olhando para a demonstração dos jovens, para não perceberem a conversa telepática entre elas.
_ Você está viajando, Raguel! _ Ela respondeu olhando também. _ Está vendo coisas onde não têm.
_ O que eu estou vendo amiga, e que vocês dois só ficam se olhando, mas desviam o olhar quando o outro percebe _ Raguel disse. _ Agora mesmo ele não parava de olhar para você. Aposto inclusive que ele pediu para descansar porque estava prestando mais atenção em você que no treinamento.
_ Você acha amiga? _ A morena disse, abaixando a guarda. _ O que eu faço então?
_ Amor! _ Raguel gritou para Gabriel, fazendo-o parar, e lhe voltar a atenção. _ A Nick quer ir ao banheiro, mas está com vergonha de ter que interromper o treinamento
_ Nick, todo mundo sabe que não é bom segurar! _ Raphael disse, a repreendendo
_ E nem precisa! _ Gabriel disse. _ Pode ir Nick, aproveite e veja se o Uriel está bem, depois vocês treinam juntos.
_ Ok então. _ Nick disse e enviando um "obrigado" telepático para a amiga, seguiu até o hospital.
Ela estava nervosa, e não fazia ideia do que diria para Uriel. Era verdade que ela estava sentindo algo diferente por ele. O modo protetor como ele a abraçou ainda dentro de sua mente, e depois quando se reencontraram do lado de fora, a deixou segura como ela nunca se sentiu antes. Ela realmente sentiu algo por Mikael quando se beijaram, mas com Uriel era diferente. Era uma atração física poderosa que a fazia perder o fôlego quando a pele deles se tocava.
Entrando no hospital, Nick viu a recepção completamente vazia e nas salas e corredores no primeiro andar também não havia ninguém. Isso se dava pelo fato de que as pessoas estavam no laboratório do subsolo, que foi usado como uma espécie de bunker para protegê-los em caso de um ataque ao hospital.
Chegando ao corredor que dava para os dormitórios, ela viu Uriel entrando em um deles e seguiu até onde ele estava. Usando suas habilidades furtivas ela chegou até a porta do quarto sem ser notada a tempo de ver o momento em que rapaz entrava no banheiro, e decidiu entrar e esperá-lo sair.
_ Ah Muriel, se você soubesse todos os sentimentos que desperta em mim _ Ela o ouviu dizer em voz alta para si mesmo. _ A vontade que eu tenho é de te abraçar e não te soltar nunca mais.
Nick sentiu seu coração se aquecer e acelerar de tal maneira que era quase audível e parecia que iria pular se seu peito a qualquer momento. E não foi apenas o seu coração que se aqueceu com aquelas palavras. Seu corpo inteiro gritava por sentir os músculos dele a envolvendo em um abraço.
Ele saiu do banheiro enxugando o rosto e não a viu devido à toalha que usava e cobria seus olhos. Por alguns instantes ela apenas contemplou os seus músculos bem definidos pelos anos de treinamento e sentiu o ar lhe faltar, forçando-lhe a respirar fundo. O barulho da sua respiração forçada o fez abaixar a toalha e se assustar ao vê-la ali na sua frente.
_ A quanto tempo você está aí? _ Ele perguntou visivelmente envergonhado. _ Você por acaso...
_ Escutei sim. _ Ela disse, também envergonhada por ter escutado e por estar ali olhando para ele daquela forma. _ Me desculpa, eu não devia ter entrado assim.
_ Olha Muri... Nick, eu... _ Ele começou a dizer, corrigindo o nome, mas as palavras lhe faltaram assim que ela segurou sua mão.
_ Você pode! _ Ela começou a dizer, se aproximando de modo a ficar de frente para ele, que de perto parecia ainda maior e mais forte. _ Me chamar de Muriel, e me abraçar e não soltar nunca mais!
Ela a beijou nos lábios suavemente, trazendo o corpo dela para junto do seu. Nick sentiu seu corpo sendo erguido pelos braços musculosos dele e se deixou levar, prendendo-se a ele com as pernas. Uriel podia sentir o calor do corpo dela através do moletom que ela usava, e vendo que seu próprio corpo estava prestes a entrar em combustão, decidiu fechar a porta do quarto, mas o fez sem soltá-la para aproveitar cada segundo possível colado à ela.
Voltando para perto da cama, ele a deitou suavemente sem descolar os corpos. Ela o olhou com um brilho de paixão nos olhos que só o deixou ainda mais excitado e então, sem conseguir mais segurar, se amaram sem reservas.
Após algumas tentativas, Raguel e Raphael já haviam obtido êxito em mesclar os seus espíritos. Agora eles treinavam uma formação com os quatro, e posteriormente teriam que treinar com Uriel e Nick também. Esses últimos tinham se retirado do treinamento há três horas e não retornaram, então teriam que se esforçar mais depois para alcançá-los.
Apenas usaram a telepatia, e de uma forma mais simples do que imaginavam, conseguiram alcançar o equilíbrio entre os quatro espíritos. O próximo passo seria praticar o campo de força em algo, para comprovar a sua eficácia. O monumento à bandeira que ficava no centro do estacionamento era perfeito para isso e Gabriel passou para eles os passos que deveriam seguir.
Com o nível de concentração certo, os quatro se conectaram telepaticamente e iniciaram a manobra. Cada um deles estava posicionado em um ponto estratégico formando um quadrado imaginário no entorno do monumento. Após um sinal telepático de gabriel eles abriram os braços com as mãos espalmadas, cada uma apontando na direção do companheiro que o ladeava à esquerda e à direita.
Focando na frequência do poder dos demais, ele ativaram as chamas de seus espíritos e as projetaram simultaneamente, para que elas seguissem na direção das outras e se encontrassem na mediana da reta que a trajetória delas escreveu. No ponto de encontro das chamas, esferas bicolores se formaram, enquanto no ponto onde os jovens estavam, após os mesmos juntarem as mãos próximas ao próprio diafragma, outras esferas surgiram, desta vez da cor do espírito do seu dono.
Dando um passo para trás, eles se posicionaram fora da linha de poder que se formou com a ligação entre a esferas. Eles tinham agora oito esferas de poder, sendo quatro de cores individuais, posicionadas nas esquinas do quadrado que cercava o monumento, e outras quatro bicolores no meio exato das linhas que faziam os lados desse quadrado.
Usando a conexão telepática, eles focaram em um ponto que ficava no espaço logo acima das hastes do monumento e que era igualmente distante das quatro esferas das esquinas. Controlando-as, os jovens dispararam diagonalmente um feixe das chamas na direção desse ponto, onde os quatro feixes se encontraram, formando uma esfera com as quatro cores.
Por fim, os espaços entre as quatro linhas diagonais foram preenchidos pelas chamas mescladas nas esferas bicolores, formando paredes coloridas de poder. As quatro paredes diagonais formaram uma pirâmide de poder que cobria e protegia o monumento de modo que nem eles mesmos podiam atravessar.
_ Isso é incrível, amor! _ Raguel disse, empolgada enquanto abraçava Gabriel, em comemoração.
_ Ela nos repele com a mesma força que empregamos para entrar. _ Mikael disse, após tentar atravessar a barreira com a mão e ser repelido.
_ Agora precisamos saber quanto tempo ela dura. _ Gabriel falou, ainda abraçado com Raguel. _ Vamos deixá-la aí, e ir descansar.
_ Mais alguém aí está com fome? _ Raphael disse, levando a mão à barriga. _ Parece que tem um demônio roncando no meu estômago.
Todos riram e seguiram para o hospital, a fim de comerem algo e descansarem. A confirmação da eficácia do plano de Gabriel seria um importante adendo à confiança deles, que se preocupavam com a segurança daquelas pessoas em primeiro lugar. E após essa pequena vitória os ânimos estavam até melhores e o clima mais leve.
_ Você está melhor, cara? _ Gabriel perguntou para Uriel, assim que entrou no refeitório. O mesmo estava sentado no balcão, enquanto Nick preparava algo no fogão, que pelo cheiro que tomava toda a sala, estava magnífico.
_ Estou sim, obrigado! _ Uriel respondeu, enquanto Gabriel pegava uma garrafa d'água na geladeira. _ Como foi o treinamento?
_ Nós testamos o campo de força no monumento à bandeira. _ Gabriel começou a responder, fazendo breves pausas para tomar água. _ Deixamos a proteção ativa, para ver quanto tempo ela dura.
_ Me desculpe não participar. _ O loiro disse. _ Eu realmente precisava descansar um pouco.
_ Tá tudo bem. _ Gabriel respondeu, sentando-se de ao lado dele no balcão. _ Eu sei que você entendeu como funciona, você e Nick treinam mais tarde, e amanhã treinamos todos juntos.
_ Combinado! _ Nick disse, enquanto colocava pratos na frente deles, e em seguida lhes servia um macarrão com bacon, calabresa e queijo. _ Mas agora irão provar o Macarrão especial da Nick!
_ Espero que tenha feito bastante, maninha! _ Raphael disse, entrando no refeitório seguido de Mikael e Raguel. _ Porquê o Mick está faminto.
_ Eu que estou reclamando de fome desde o estacionamento, né? _ Mikael perguntou, rindo.
_ Tá bom, eu admito! _ Raphael disse rindo também, e se aproximando de Nick olhou para a grande frigideira cheia._ Estou quase morrendo de fome, mas mesmo se não estivesse seria impossível não querer comer essa maravilha!
_ Você vai ver a maravilha depois que experimentar! _ Uriel disse, após engolir uma porção. _ Isso está maravilhoso, Muriel!
_ Está realmente divino, Nick. _ Gabriel reforçou o elogio.
_ Eu sei que está! _ A jovem disse orgulhosa. _ Raguel e Mick sentem-se, e Rapha me ajude com os pratos!
Eles comeram e conversaram animadamente. Juntos estavam bem e felizes, e quem sabe poderiam vencer essa batalha e aproveitar mais dessa felicidade. Após a refeição, Nick e Uriel iriam treinar, e os demais iriam descansar.
_ O descanso parece ter sido bom para vocês. _ Raguel disse para Nick, enquanto elas aguardavam os rapazes lavarem as louças e arrumarem o refeitório. _ Bom até demais.
_ Eu sei o que você está pensando. _ Nick disse ao ver o sorriso malicioso da outra jovem. _ Mas não aconteceu nada demais!
_ Se não quiser contar não precisa, amiga. _ Raguel disse sorrindo. _ Mas eu acho que não reparou que está vestindo uma camiseta dele, né?
_ Ah é que... _ Nick tentou explicar, meio desconcertada, mas a voz falhou.
_ Tá tudo bem, não precisa ter vergonha. _ Raguel a tranquilizou. _ Eu estou feliz por vocês.
_ E você e o Gabriel, já fizeram? _ Nick perguntou, e agora foi a vez de Raguel ficar sem jeito e sua bochechas levemente salpicadas de sardas ficarem quase da cor do seu cabelo.
_ Pronto meninas! _ Gabriel disse se aproximando delas. _ Terminamos de arrumar a cozinha.
_ Ah, parabéns! _ Nick disse, rindo do alívio estampado no rosto da amiga por não ter que responder. _ Vão descansar, Uri e eu vamos treinar um pouco.
_ Talvez seja melhor vocês treinarem no terraço. _ Gabriel disse aos dois. _ Já está quase escurecendo e pode ser perigoso lá fora.
_ Sim, nós faremos isso. _ Uriel disse se aproximando também, e enquanto ele e Nick seguiram para o terraço, os outros foram para os dormitórios.
Os dois treinaram por algumas horas até alcançarem o equilíbrio necessário para mesclar os espíritos com perfeição. A noite havia chegado e a lua cheia irradiava uma luz que era ofuscada pelas chamas de seus espíritos. O vermelho vivo do poder dele casava perfeitamente com o amarelo dela, em uma esfera bicolor que parecia o sol, ou um vulcão em plena atividade.
Extinguindo as chamas, Uriel assumiu uma posição de luta e ela, logo entendendo o que ele queria, fez o mesmo. Ele avançou com golpe diretos, que ela desviava com destreza e contra-atacava com potência e velocidade. Além do poder dela de prever as ações, ela também tinha treinamento em muitas artes marciais, e dessa forma era quase impossível acertá-la.
Ela ficou sem entender quando ele fechou os olhos, e começou a atacar. Estranhamente os golpes estavam mais certeiros, e sem conseguir prever os ataques, ela se defendia e esquivava dos golpes apenas com suas habilidades físicas. Sem que ela pudesse evitar, ele conseguiu em uma manobra rápida prendê-la por trás passando o braço em torno de seu pescoço em um mata-leão bem encaixado, que a fez se render.
_ Tá bom, você venceu! _Ela disse, após dar dois tapas no braço dele sinalizando a rendição. _ Mas que técnica foi essa de fechar os olhos.
_ Eu deduzi que o seu poder de previsão instantânea de movimentos se baseia na janela de tempo que eu levo entre pensar no que vou fazer e fazer de fato. _ Ele explicou, enquanto ela se virava para encará-lo. _ E quando luto sem usar a visão, eu ajo por instinto e não por raciocínio, dessa forma eu não deixo tempo para as suas janelas de previsão.
_ Incrível. _ Ela disse colando o corpo no dele, ambos estavam ofegantes e suados depois do esforço da luta. _ E o que os seus instintos lhe mandam fazer agora?
_ Eu aposto que você consegue prever. _ Ele respondeu suspendendo-a pelo quadril, encaixando as pernas dela na sua cintura enquanto dobrava o joelho e a deitava suavemente no solo, deitando-se sobre ela.
Eles se beijaram com paixão, e a exemplo do que aconteceu mais cedo, apenas deixaram rolar. Se amando intensamente, agora banhados pela luz do luar.
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