10. Raguel

Estava sendo doloroso para ela rever em câmera lenta o momento em que a mãe estava sendo consumida por aquela luz, mas precisava saber o que tinha acontecido de fato.

As figuras humanóides que viram ao pausar a imagem no momento exato do ataque assemelhavam-se mais a anjos que a ETs. Será então que o que houve foi um arrebatamento e não uma abdução?

Havia muitas perguntas sem resposta ainda, e ela estava grata por ter Gabriel ao seu lado. Apesar de conhecê-lo há tão pouco tempo, ela sentia que tinham uma ligação. Sem contar que ele era uma graça. Ela desviou a atenção do vídeo e de todo o resto por um instante, e se viu viajando no jovem, que por sua vez estava concentrado em encontrar mais indícios sobre o que estava acontecendo.

Aquele ar de inteligência a fascinara assim que o viu pela primeira vez esta manhã, mas agora, passado todo o choque inicial, ela podia reparar melhor nele. Ele não tinha um corpo atlético, mas era relativamente alto, e tinha olhos azuis que tinham sua beleza acentuada pelo charme de seus óculos de grau. Os cabelos lisos tinham um corte comportado, mas estiloso com pontas que lhe caiam sobre o rosto. Mas o que mais lhe encantou, foi o instinto protetor que ele tinha, e a firmeza em sua voz que a deixava confortada e segura, sem falar no modo carinhoso que a abraçou quando a viu chorando. Queria tê-lo conhecido em um mundo que não estivesse entrando em colapso.

_ Ela deve saber mais sobre tudo isso _ Gabriel disse, sem tirar os olhos da tela, referindo-se à jovem que havia enviado a mensagem para ela, do celular de sua mãe _ Vc disse que não a conhece, mas ela de alguma forma queria que você viesse aqui, e sabia que o celular era da sua mãe.

_ A filha da mãe sabia até o padrão de desbloqueio do celular dela._ Raguel disse, focando na jovem que olhava paralizada para a câmera, como se soubesse que estavam ali. E olha como olha pra nós. Com certeza teria mais informações para nos dar.

_ Devíamos ir até a delegacia, e levar essa imagem_ Disse ele, _ Alguém lá pode nos ajudar a encontrar mais informações mais sobre ela.

_ Tudo bem_ Ela disse _ Enquanto você faz a cópia do arquivo, eu preciso fazer algo. Nos encontramos na entrada do laboratório em dez minutos.

Gabriel assentiu, e enquanto ele pegava um pendrive em uma das gavetas, ela deixou a sala de monitoramento e seguiu para o laboratório onde estavam as coisas de sua mãe.

_ Eu vou ter que ir agora mãe _ Ela disse, ajoelhando-se próximo a pilha de roupas no chão do laboratório, e vasculhando o colarinho da camisa, pegou uma correntinha com um pingente e o abriu. Tratava-se de um presente de dia das mães, e no interior do pingente, uma foto das duas a lembrou de momentos felizes, que possivelmente jamais se repetiriam. _ Eu não sei se você morreu, ou simplesmente foi abduzida ou arrebatada, na verdade eu imagino que nem pode me ouvir de onde quer que esteja, mas eu vou pegar de volta o presente que eu lhe dei, não que eu precise de algo para lembrar-me de você, mas o guardarei para o caso de algum dia te reencontrar.

Dito isso Raguel se levantou e deixou a sala, decidida a encontrar a jovem que lhe mandara a mensagem do celular da mãe essa manhã. Esperava que ela tivesse respostas, que ajudasse talvez a encontrar a mãe novamente, mas de qualquer forma, agora ela precisava ser forte. Pela mãe, por si própria e por Gabriel.

Gabriel a esperava na entrada do laboratório, e não perguntou o porquê da demora. Ele sabia onde ela tinha ido, e respeitou o momento dela. Ambos seguiram para o carro da mãe dele, colocaram os cintos e saíram com destino à delegacia.

Seguiram em silêncio, apenas observando o caos, que agora à luz do sol, parecia maior. Carros abandonados pelas ruas, lojas e mercados saqueados, ruas desertas, tudo isso em apenas seis horas sem o sol.

Pelo visto, muitos deixaram a cidade, talvez pelo fato de que por ser uma cidade pequena, que não tem como se manter sozinha, poderiam ficar isolados aqui de algum jeito. Miraculous Clearing ficava atrás de uma cadeia de montanhas, e só tinha entrada e saída pela rodovia estadual. A cidade sempre foi famosa pelo grande número de mentes notáveis que exporta para o mundo todo. Grandes descobertas já foram feitas por seus conterrâneos. O Laboratório da cidade era o responsável por trazer turistas e investimentos para a cidade, que quase não tinha produção rural como outras cidades pequenas.

_ Acho melhor pararmos para abastecer._ Ele disse, quebrando o silêncio, ao avistar o único posto de gasolina da cidade _ Vamos aproveitar para comer algo também.

_ Eu estava mesmo com fome _ Ela respondeu enquanto ele estacionava ao lado de uma das bombas _ Nessa loucura acabamos nos esquecendo do básico, já são quase dezessete horas e não almoçamos, você deve estar faminto também.

Enquanto Gabriel abastecia o carro, ela seguiu até a lanchonete, esperando que pudesse estar fechada, devido ao caos na cidade, mas para sua surpresa, estava aberta. Entrando viu que estava vazia, e logo de cara percebeu que a temperatura lá dentro era bem mais baixa em relação ao exterior. Devia ser o ar condicionado, ela pensou, e seguiu para o balcão. Sem ver ninguém, tocou a campainha e aguardou, mas nada de resposta. Tocou mais duas vezes, outra vez sem resposta, e curvou-se sobre o balcão, mas o que viu a fez recuar. Uma mancha vermelha na borda do balcão, que parecia sangue e parecia estar recente. Lentamente ela contornou o balcão, na defensiva imaginando o que veria ali. Ao chegar à ponta viu horrorizada que uma mulher jazia caída embaixo do balcão, em uma poça de sangue, seu rosto estava desfigurado e os olhos arrancados, e ela tinha um corte profundo no pescoço. Aterrorizada, ela se jogou para traz e gritou.

_ Raguel! _ Gritou Gabriel, irrompendo pela porta e correndo até ela, vendo o terror em seu rosto_ O que houve?

Sem fala, ela apenas apontou a direção.

_ Meu Deus! Ele disse, também aterrorizado, mas se aproximou o suficiente do corpo, para ver o nome Mary Marshall, em uma tarjeta em seu peito_O que aconteceu aqui?!?

Olhando para a esquerda ele pode ver mais um corpo. Estava caído na entrada da cozinha da lanchonete, e a princípio se via apenas suas botas, que pareciam serem militares.

Raguel ainda trêmula do choque levantou-se, e aproximou-se de Gabriel segurando em seu braço, e ambos se aproximaram com cuidado do segundo corpo. Ele apresentava as mesmas feridas do primeiro, rosto desfigurado, olhos arrancados e pescoço cortado, mas vestia um uniforme policial, e em sua tarjeta estava escrito Samuel Marshall, e suas divisórias mostravam que se tratava do delegado da cidade.

Um barulho vindo do estoque os assustou, e instintivamente Gabriel se abaixou e pegou a arma do policial, segurando-a em posição de tiro, voltado para onde veio o barulho e se moveu um pé depois do outro, lentamente, seguido de perto por Raquel que não largava o seu braço.

Ao afastar as cortinas na porta, viram que se tratava de uma garota pálida, vestida também com o uniforme da lanchonete. Com seus cabelos loiros e seus olhos expressivos e grandes, ela aparentava ter seus onze anos. Em seu peito estava escrito Alex Marshall, e era provavelmente filha do casal que encontraram mortos nos outros cômodos da lanchonete.

_ Não iremos te machucar querida! _ Disse Raguel aproximando-se da menina, que permameceu encolhida e em silêncio._É Alex não é? Venha conosco, vamos tirá-la daqui. Pode confiar em nós.

Retirando seu casaco, Raguel a envolveu, e quando a tocou sentiu uma sensação muito ruim, mas devido ao terror da situação, preferiu ignorar. A pele pálida da garota era estranhamente fria, e ela constatou que deveria ser devido ao choque, pelo que presenciou. E o choque explicava também porque não falava nada.

_ Vamos sair daqui! _ Gabriel disse, enquanto ela levantava a garota_ Quem fez isso ainda pode estar por perto.

Raguel seguiu na frente, amparando Alex e Gabriel as seguiu com a arma em punho, como uma espécie de escolta, mas antes pegou alguns salgadinhos em uma estante na entrada da lanchonete.

Do banco de trás, com a garota aninhada em seu colo, Raguel viu Gabriel entrar no carro apressadamente e jogar alguns pacotes de salgadinho no banco do carona. Viu também que ele ainda estava com a arma que pegou no corpo do delegado.

_ Como ela está? _ Perguntou a ela, olhando para elas através do espelho.

_ Ela adormeceu._ Ela o respondeu, ajeitando o casaco que cobria a garota_ Quem faria uma barbaridade daquelas?

_ Eu não faço idéia_ Ele disse ligando o carro _ Nós temos que levá-la até a delegacia, e deixar a polícia cuidar disso.

Ligando o carro, ele saiu acelerando, e olhando nos retrovisores de tempos em tempos, para ter certeza de que não estavam sendo seguidos.

Esticando o braço, Raguel pegou um pacote de salgadinhos e abrindo-o tentou comer, mas as imagens aterrorizantes da lanchonete voltaram a memória, embrulhando-lhe o estomago e causando um nó na garganta que a fez deixar o pacote de lado.

O Pesadelo estava longe de ter fim, e ao invés disso só piorava. Ela não imaginava que alguém fosse capaz de tamanha barbaridade. Não foi um assassinato qualquer. Aquelas pessoas tiveram seus olhos arrancados e o rosto desfigurado, além de terem sido degolados. Nunca vira tanta violência assim.

Gabriel estacionou em frenta à delegacia, e acordando a garota, eles desceram deixando a arma dentro do carro. No interior do prédio, Raguel deixou Alex sentada na recepção, e seguiu com Gabriel para a próxima sala.

Sentado na cadeira estava um homem jovem, de uniforme. Na mesa à sua frente, estavam sua arma e o seu distintivo, além de uma garrafa do que parecia ser uísque, e em suas mãos um copo com gelo, que com certeza aguardava mais uma dose da bebida.

_ Pensei que todos haviam deixado a cidade_ Disse o homem, levemente embreagado. _ Sou o detetive Ted Simpson, posso ajudar-lhes em algo?

_ Nós estamos vindo da Lanchonete dos Marshall _ Disse Gabriel em tom urgente_ Meu nome é Gabriel Rashford, e...

_ O Delegado Marshall foi pra lá ver como estava a sua família _ O homem o interrompeu, levantando-se, percebendo o tom de urgência na voz do Rapaz. _ Aconteceu algo com eles?

_ Infelizmente, quando entramos na lanchonete, encontramos ele e a esposa mortos._ Respondeu Gabriel.

_ Meu Deus do Céu! _ Esclamou Ted, levando as mãos à cabeça_ E o filho deles, Alex, ele está bem?

_ Filho? _ Gabriel perguntou sem entender._ Encontramos apenas uma garota de uns onze anos, com uniforme da lanchonete escrito Alex.

_ Os Marshalls tinham apenas um filho_ Disse o detetive _ E não tinham nenhum outro funcionário.

Raguel acompanhou a conversa, e ao ouvir isso, sentiu um terror crescer em seu interior. A garota não disse nada, em momento algum, e sua pele era estranhamente pálida e fria.

Num impulso, ela voltou correndo até a sala onde deixaram a garota, e se espantou ainda mais ao ver que no banco onde a deixou se encontrava apenas o casaco com que a agasalhou.

Nota do autor: Espero que estejam gostando do livro! É o meu primeiro romance e eu conto com vocês para votarem e comentarem.

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