O Receptáculo

Aviso: esse capítulo é longo e contém cenas de humilhação e sangue




Me perguntava quantos dias haviam se passado desde que estava no lombo do cavalo. Dez? Quinze? Não sabia ao certo, só sabia que depois da segunda semana havia parado de contar. A viagem foi longa, cansativa e consumiu quase todas as minhas energias. Isso me deixava fraca e abatida. Madara quis ter certeza de que meu corpo não estava forte o suficiente para receber a deusa outra vez. E isso trazia uma preocupação constante.

Por sorte, Ino foi bastante gentil comigo durante a viagem. A loira, que sempre considerei minha maior inimiga, acabou se tornando minha maior aliada. Durante a noite, ela dividia suas porções de comida sempre que possível quando Madara não estava olhando. E era graças a ela que eu não havia emagrecido mais do que deveria.

A paisagem da nossa viagem aos poucos foi se tornando uma cor só: branco. Para qualquer lugar que olhasse, era apenas neve que via. Em cima das árvores, na estrada ou envolvendo as montanhas. Era apenas neve que cobria os bosques e caía sobre meus ombros. Madara, para evitar que eu morresse de frio antes de chegar ao nosso destino, me cobriu com seu manto, já que usava apenas uma camisola totalmente surrada.

Ao longe, uma enorme construção tomava forma entre as montanhas. Estreitei meus olhos, tentando enxergar com clareza apesar da neve que caía. Tão logo nos aproximamos, pude distinguir que era um castelo erguido sob pedras. Suas cores eram escuras, quase pretas. Havia um muro que o cercava com quatro pilares em cada canto e possuía torres altas com o topo pontiagudo. Não vi nenhuma cidade próxima, e isso era um tanto quanto estranho.

Ao chegarmos próximo aos muros, uma ponte levadiça abaixou-se à nossa frente, unindo o caminho que era separado por um lago congelado. O vento frio assobiava em meus ouvidos, e quase não se via uma alma viva por ali. Madara liderou o percurso em seu cavalo, nos levando para dentro do castelo. Paramos em uma área aberta que parecia um campo de treinamento; Madara e Ino desceram de seus cavalos, e eu fui a última a descer com a ajuda dele.

Olhei em volta. O castelo parecia morto, sem vida, nenhuma cor além do tom amadeirado e dos blocos de pedra das paredes. Alguns serviçais passavam de um lado para o outro, e guardas vigiavam o muro em sua parte mais alta. Seria impossível tentar escapar na situação em que me encontrava.

Fui levada por uma porta que dava para o subsolo, o calabouço, onde me jogaram dentro de uma cela. Não queria ficar sozinha em meio a escuridão, não mesmo. Muito menos em um local decrépito como aquele. O que eu poderia fazer agora? Como ia sair de um castelo fortemente vigiado? Andei de um lado para o outro, roendo as unhas e tentando pensar em alguma coisa. Alguns minutos se passaram e a porta do calabouço foi aberta outra vez. Passos vinham em minha direção enquanto escutava alguém reclamar. Achei que seria a única naquela cela, mas para a minha surpresa, não fui a única a ser trancada ali.

— Ei, o que estão fazendo?! Não podem me deixar aqui! — Ino gritava e segurava as barras da cela enquanto o carcereiro nos trancava. Madara deu um passo à frente.

— Você acha que eu não sei o que você fez? — ele chiou — Estou decepcionado, Ino.

— Não! Por favor! — ela berrou, vendo-o dar as costas e sair do calabouço. Agora éramos somente nós duas ali.

Estava ligeiramente confusa, o que foi que Ino fez para ser jogada aqui comigo? Foi por ter me dado comida?

— Ino... — comecei, ouvindo-a chorar. — O que aconteceu?

Ela soluçava, murmurando o nome do irmão. Suas mãos cobriram seu rosto, me impedindo de vê-la naquele estado. Sentei-me ao seu lado e estendi a mão, hesitante, não sabia se devia tentar consolá-la ou não. Mas, depois da ajuda que ela me proveu, decidi deixar meu receio de lado.

Toquei suas costas, acariciando-a levemente.

— Nós vamos dar um jeito — sussurrei.

Ino apenas continuava chorando, sem dizer uma palavra.

Fiquei um longo tempo com ela, esperando que a loira se acalmasse. Ela enxugou as lágrimas com a própria roupa, seus olhos inchados de chorar agora eram visíveis.

— Eu... mandei uma carta para o príncipe herdeiro — revelou.

— Sasuke?! — Fiquei espantada, não esperava que ela faria algo do tipo.

Ela acenou com a cabeça.

— Contei a ele onde Madara iria nos levar.

Naquele momento, uma esperança reacendeu em meu peito. Dei um abraço forte em Ino.

— Obrigada, Ino! — Sorri, animada. — Fique tranquila, tenho certeza que ele virá.

Ela fungou, limpando o nariz.

— Até ele chegar, eu estarei morta. Madara não me perdoará.

Fiquei pensando por um momento, tentando encontrar algo que nos desse uma vantagem.
— E se você tentar reconquistar a confiança dele? — sugeri, e ela me encarava como se eu fosse louca. — Diga a ele que você é a única pessoa que eu confio. Com isso, ele vai acreditar que pode me manipular através de você.

— Mas, Sakura...

— Me escute! — a interrompi — Ele vai te perdoar porque precisa de você. Quando sair daqui, faça com que ele me realoque em outro lugar. Diga para me colocar em uma das torres. Não posso ficar aqui embaixo, Ino.

Levei mais uns bons minutos para convencê-la dessa ideia. Era a única coisa que podíamos fazer no momento. Além de fugir daquele castelo, o que eu mais queria era sair daquele calabouço abandonado e repugnante. E esse era o primeiro passo que iria dar. Precisava de um lugar seguro para tentar me reconectar com a deusa, já que durante a viagem não sentia nada da presença dela. Ou talvez estava fraca demais para sentir alguma coisa. Só rezava para que ela não tivesse me abandonado de uma vez por todas e que me ajudasse a manter a gestação.

Começamos a conversar, nunca ultrapassando os limites do que ela poderia me contar. Ino havia confirmado que estávamos, de fato, no reino de Nofrad. Entretanto, o castelo era o da antiga capital, que foi adaptado para se tornar um forte. Por esse motivo não víamos muitas pessoas por ali. A cidade mais próxima ficava há cinco quilômetros de distância. Infelizmente, Ino não sabia – ou não podia – dizer por qual razão Madara havia nos levado até ali e não para a capital.

Quatro dias se passaram, e Ino finalmente conseguiu uma segunda chance com Madara. No fim das contas, ele a "recompensou" pelo seu ato de traição, dizendo que era uma ótima ideia trazer o herdeiro Uchiha até aqui. Porém, Madara lhe advertiu que mais um deslize da loira e ele iria matá-la sem piedade. Ino foi levada do calabouço, me deixando sozinha no meio daquela escuridão, na companhia de ratos e outros animais invasores que me faziam meu estômago revirar.

Uma serviçal me trazia comida uma vez ao dia. Sempre o mesmo prato: um mingau aquoso sem gosto e um pedaço de pão duro e seco. Era tão ruim que não me dava vontade nenhuma de comer, mas eu me forçava a enfiar aquilo goela abaixo, em nome da minha saúde e a do bebê. Algumas vezes, acabava me sentindo mal e colocava tudo para fora minutos depois, no entanto, não podia me dar o luxo de pular minha única refeição no dia. Tentava me manter sã, mesmo que estivesse com fome e frio.

Havia chorado todas as noites. Chorei pela incerteza do meu futuro e da criança, chorei com medo de que algo acontecesse à Sasuke, chorei tanto que um dia simplesmente parei, pois já não existia mais nenhuma lágrima para escorrer de meus olhos. Depois que Ino foi embora, perdi a contagem dos dias que se passaram, e comecei a acreditar que ela havia se esquecido de mim e iria me deixar apodrecendo nessa prisão.

Graças aos deuses, em um belo dia de manhã, ela retornou com mais alguns guardas.

— Vamos, Sakura, você vai para outro lugar — disse ela, com um belo vestido em seu corpo e os cabelos arrumados. Ah, como eu queria um banho agora!

Levantei-me com dificuldade, minhas pernas tremiam e eu me forçava a manter o equilíbrio. Ino sinalizou para que os guardas me segurassem pelos braços, e assim o fizeram. Fui guiada para o interior do castelo, e quase deixei um sorriso escapar quando percebi que estávamos subindo a escadaria da torre. Ino havia conseguido exatamente o que eu queria.

Me colocaram em um quarto pequeno, onde uma criada me aguardava para me ajudar com o banho. Tive o corpo limpo e os cabelos lavados, coisa que não experimentava fazia dias. A criada vestiu-me com uma roupa limpa e bonita demais para mim, que era uma simples prisioneira. Um vestido preto, forrado por dentro e com tule por fora. Tinha um decote que deixava boa parte do meu colo exposto, e possuía uma fenda em minha perna direita. A mulher, que falava um dialeto desconhecido, arrumou meus cabelos em um coque baixo, deixando alguns fios soltos na frente. Aquilo estava, de certa forma, me deixando desconfortável. Por que diabos estavam me enfeitando tanto?

Depois de pronta, outra serviçal apareceu com um prato de comida. Ao menos aparentava ser uma refeição mais apetitosa da que era servida lá embaixo. Meus olhos se encheram de brilho quando vi o prato à minha frente, e quase duvidei que aquilo era realmente para mim. Não pude deixar de me sentir receosa, com medo de que estivesse envenenado. Olhei para a criada, hesitante. Ela pegou uma colher extra e provou a comida, quase como se tivesse sido ordenada a fazer tal coisa. Esperei alguns minutos, e nada aconteceu à ela. Então, sentada na minúscula mesinha do quarto, empanturrei-me com aquela refeição. Não sabia o que Madara planejava com tudo aquilo, mas não podia perder uma oportunidade como aquela.

Enfim, após semanas, me sentia satisfeita. Estava morta de fome, mas agora, finalmente, poderia recuperar ao menos um pouco das minhas energias. A serviçal disse algo que não consegui entender, posicionou-me em frente a um pequeno espelho sob a pia do banheiro e então saiu. Fiquei ali parada, imaginando que ela quisesse que eu esperasse seu retorno. Ouvi o barulho da porta do quarto abrindo e fechando, e depois novamente.

A mulher se aproximou por trás enquanto eu encarava o espelho, deduzindo que ela iria me adornar com algum brinco ou um colar. Em partes, meu palpite estava certo, entretanto, nunca em minha vida considerei a possibilidade de um dia usar o que ela havia colocado em meu pescoço.

Uma coleira, feita de couro e uma longa corrente.

Cerrei os dentes, com raiva. Aquilo era o ápice da humilhação. Madara estava debochando de mim por ser sua prisioneira, e ele queria mostrar isso à todos.

Logo depois, ouvi o som de batidas na porta. Assim que a criada a abriu, meus olhos arregalaram ao reconhecer o homem que estava do lado de fora: Kabuto. Não era de se admirar que ele estivesse aqui, junto com Danzou e sei lá mais quem. Mesmo assim, não consegui evitar de demonstrar surpresa.

— Ora, Sakura, quanto tempo! Vejo que conseguiu se manter viva e inteira, meus parabéns — brincou, com um sorriso irônico no rosto.

— O que você quer comigo? Onde está Ino?

— Calma, princesa, fui encarregado de levá-la até o salão. Será bem divertido.

— O que está acontecendo? — Recuei um passo, não queria ir com aquele homem.

— Você logo vai descobrir.

Kabuto não fez nenhuma cerimônia ao me puxar para fora do quarto; contudo, ele me levava pela corrente da coleira, como se eu fosse um animal de estimação. Quando tentava resistir, puxava com mais força, fazendo com que a coleira apertasse meu pescoço e, se não tomasse cuidado, poderia acabar indo de encontro ao chão.

Ele me guiou pelos corredores mal iluminados até um local com uma porta enorme, onde era possível ouvir várias vozes do outro lado. Bateu duas vezes na porta, e esta foi aberta pelos guardas que ficavam no interior do salão. Meu corpo paralisou, ficando sem reação diante daquelas pessoas que me encaravam com curiosidade. A maioria eram homens altos e fortes, todos vestiam mantos de peles, botas grossas e luvas que seguravam suas canecas de bebida. Deduzi que seriam nofradianos de confiança do Uchiha, e foi só aí que meu corpo começou a sentir o frio que circulava no ambiente, mas isso era o de menos naquele momento.

A música parou de tocar.

Kabuto me puxou pela coleira, forçando meu corpo a andar até os fundos do salão. Vi um trono que parecia reluzir a ouro, mas estava coberto por peles para manter quem quer que fosse se sentar aquecido. Meus olhos percorriam pelo ambiente, pelos rostos desconhecidos daquele povo. Eles murmuravam entre si coisas que eu não compreendia e, logo depois, riam da minha cara. Sentado no trono, Madara me observava com atenção, se divertindo com a cena.

— Aqui está a princesa, meu senhor — disse Kabuto, depois de entregar a corrente nas mãos do Uchiha.

— Muito bem, Sakura, agora ajoelhe-se — ele ordenou, e eu, trêmula de nervosismo misturado com angústia, obedeci.

Ele decidiu me matar na frente de todos. Era a única coisa que eu pensava.

Encarei Ino, que estava em pé ao lado esquerdo de Madara. Seus olhos azuis pareciam transmitir alguma mensagem, mas, para mim, era como se ela estivesse com pena do que aconteceria comigo.

Permaneci ajoelhada e de cabeça baixa, rezando baixinho, na esperança de que Eshina pudesse me ouvir.

Senti algo sendo colocado em minha cabeça.

— Vamos celebrar, meu povo! Pois hoje, estamos diante daquela que seria a rainha de Ebralor e a escolhida de Eshina — pronunciou, em voz alta. — Hoje, decidi coroá-la pela sua boa colaboração. Esta noite, a garota recebe um novo título: Sakura Haruno, A Princesa Nunca Coroada.

Madara soltou uma risada alta enquanto as pessoas aplaudiam e gargalhavam com a brincadeira. Eu estava ali para ser o entretenimento, uma grande piada. Mordi a língua, controlando a frustração e o ódio crescente em meu peito. Ele levantou-se do trono e puxou minha coleira, me forçando a ficar de pé. Mandou que eu ficasse de frente para o povo, para que eles pudessem ver sua nova conquista.

As pessoas apontavam para mim e riam, outros parabenizaram Madara, em minha própria língua, por ter capturado o avatar da deusa. Queriam ter certeza de que eu estivesse ouvindo.

Apenas observava tudo em silêncio. Fiquei no chão ao lado do trono de Madara durante horas, que não largava minha coleira por um segundo sequer. Estava impotente diante daquela situação, assistindo o povo se divertindo às minhas custas.

Depois da festa dedicada à minha submissão, fui levada de volta para a torre por Kabuto, sempre puxada pela coleira.

— Não sabe como eu adoraria passar umas horas a sós com você, princesa — falou, com certa malícia no olhar. Puxou as correntes, colando meu corpo no seu. O bafo de álcool invadiu minhas narinas. — Mas o senhor pediu para que eu tivesse cuidado, então te deixarei em paz por hora.

— Se ousar pensar em me tocar, irá se arrepender — ameacei-o, cuspindo em seu rosto.

Kabuto se afastou, passando a mão no cuspe que estava em sua bochecha.

— Ora sua... — Por um segundo, achei que fosse revidar de alguma forma, mas Kabuto apenas mandou que eu entrasse no quarto, e foi o que fiz.

Assim que entrei, a primeira coisa que fiz foi me olhar no espelho. Observei a coroa despedaçada que havia em minha cabeça. Partes dela faltavam, como uma coroa que tinha acabado de cair no chão. Se não fosse por isso, poderia até dizer que era bela. Mas o que ela representava dava um nó em minha garganta.

A princesa nunca coroada. Ele sabia que eu nunca havia me tornado uma princesa em nenhuma de minhas outras vidas, já que sempre acabava morta antes do meu casamento e, por causa disso, nunca tive a chance de ser coroada.

— Merda! — gritei, furiosa, enquanto quebrava o espelho com o punho. — Eshina! Onde você está?!

Nenhuma resposta, apenas o som do vidro estilhaçado se espalhando pelo chão. Meus dedos sangravam.

— Eshina! — clamei outra vez, à espera de algum sinal, alguma coisa.

Estava com raiva, frustrada. A deusa havia me abandonado? Como iria bater de frente com Madara e o demônio sem seus poderes? Seria impossível! Minhas chances eram quase nulas, mas apesar disso, sabia que tinha que encontrar outra alternativa que não dependesse de Eshina, que não se manifestava já tinha um tempo.

Mais cinco dias passaram comigo presa na torre. Ino passou a me visitar durante à noite, trazendo comida extra. Continuei pensando em alguma alternativa, e estava conseguindo recuperar os quilos que havia perdido muito bem, isso me deixava aliviada. Porém, tinha que fingir fragilidade enquanto Madara me exibia por todos os lados, andando pelo castelo de coleira e com a coroa quebrada em minha cabeça.

Em uma das noites, Ino trouxe consigo uma pequena faca que havia roubado da cozinha e a entregou junto com a refeição extra, sem dizer nada. Era uma faca discreta, na qual eu conseguiria esconder na manga de um vestido ou amarrá-la no tornozelo, se quisesse. Passei horas encarando a paisagem da janela, imaginando o que faria com aquele objeto e como ele poderia me ajudar a sair desse tormento.

Até que a mais simples e arriscada das ideias foi a que decidi fazer: iria golpear o Uchiha assim que tivesse chance.

A insanidade me consumia aos poucos.

Um dia, quando o sol raramente se fazia presente naquele local, Madara tinha me convocado para um passeio no jardim, para que eu não adoecesse sem o contato da luz solar. Sinalizei para a criada a roupa que queria usar: um vestido bege, simples e de mangas longas feitas de um tecido que não era nem tão apertado e nem muito frouxo. Quando a serviçal não estava olhando, enfiei a faca dentro da manga do vestido, e ela ficou completamente imperceptível, do jeito que havia imaginado.

Dessa vez, foi Danzou quem teve a "honra" de me levar até o jardim pela coleira. Não sem antes comentar, durante todo o percurso, sobre como achava Fugaku um monarca fraco e inútil, e que provavelmente o filho seria igual.

Eu ficava calada, eram raras as ocasiões onde me permitiam falar. No mais, eu era tratada apenas como um objeto, imóvel. E mesmo se quisesse retrucar, não poderia. A última coisa que queria era responder a alguém e deixá-los irritados. Então, me mantive quieta, absorvendo o máximo de informações possíveis. Tinha que fingir que estava conformada com aquilo.

O lado bom era que estava fingindo tão bem que Madara sempre relaxava em minha presença. Nunca amarrava minhas mãos, deixava-as soltas pois sabia que eu não ousaria fazer nada. Isso era o que ele pensava. No entanto, ele nunca iria imaginar que uma pequena faca estivesse em minha posse.

Danzou me guiou até o jardim, que ficava na parte dos fundos do castelo. Entregou minha corrente nas mãos de Madara e saiu, deixando apenas eu e o Uchiha mais velho ali.

— E então, o que está achando da mudança de ares? — perguntou, sarcástico.

Permaneci em silêncio.

— Logo iremos para a capital, onde passará o resto de sua vida. — Ele sorriu, parecia animado. — Mas antes... preciso dar um jeito no meu sobrinho insistente.

— Sasuke? — sussurrei. Dizer o nome dele me deixava ansiosa.

— A cada hora que passa ele está mais perto. — Ele segurou meu rosto com uma mão, me forçando a encará-lo. Inclinou-se em minha direção, tão perto que eu só conseguia enxergar seus olhos. — E você vai ser a convidada de honra para assistir a morte dele.

Fiquei estarrecida. Ele queria que eu assistisse a morte de Sasuke? Não, não, não, nem pensar! Não posso deixar que isso aconteça!

Ele ria na minha cara, e seus olhos transmitiam a mais pura perversidade. Ele não se importava com a vida do próprio sobrinho, quem dirá a minha. Naquele segundo, uma grande fúria tomou conta de meu corpo. Pensei em Sasuke, nos dias que passamos juntos, na criança que estava gerando, em seus pais... O que Mikoto faria se ele morresse? Ficaria desolada! Lembrei-me de meus pais, minhas amigas, as pessoas que gostam de mim. Havia conquistado tantas coisas! Nunca imaginei que eu poderia ter mudado tanto de como era antigamente, e ver aquele demônio ameaçar tudo o que eu amava me deixava furiosa, desesperada, desconcertada. Queria me salvar, mas agora, queria ser capaz de salvar Sasuke também. Nem que eu mesma precise sujar minhas próprias mãos.

Aproveitei a brecha, um deslize. Era agora ou nunca. Tirei a lâmina da manga do vestido e cravei-a em seu abdômen, tão rápido que o Uchiha nem teve reação.

— Vai pro inferno — murmurei enquanto ele ainda estava próximo. Arregalou os olhos, surpreso, ao mesmo tempo em que se afastava de mim, soltando minha corrente.

— O que você fez?! — ele bravejou, observando a lâmina que ainda estava em sua barriga. Madara estava em choque, e seus gemidos de dor logo chamaram a atenção dos guardas locais.

Em um ato sem pensar, eu comecei a correr. Não sabia exatamente para onde, mas corri, tentando sair do jardim. Uma flecha foi mais rápida do que minhas pernas e atingiu a coxa direita, me derrubando no chão.

— Não a matem! — Madara berrou. — Levem-na!

Em pouco tempo, vi o Uchiha ser conduzido por soldados, que gritavam em palavras estrangeiras. Num piscar de olhos, outros me agarraram pelos braços e pernas, levando-me para dentro do castelo. Estava sentindo uma dor infernal, mas nada poderia abalar a imensa satisfação que sentia por tê-lo golpeado.

Ele não iria resistir, estava rezando por isso.

Fui levada para a torre e jogada sobre a cama, onde um dos homens que me segurava arrancou a flecha para fora com brutalidade. Gritei de dor, e logo em seguida uma serviçal jogou um líquido forte em minha perna, que agora sangrava. Reclamei outra vez, sentindo a ferida arder. Vi quando ela pegou uma cumbuca com algo pastoso e fedido, passando por cima da lesão. Ela amarrou um pedaço grosso de pano com tanta firmeza que quase me fez chorar.

— Sakura, o que houve?! — Subitamente, vi Ino entrar pela porta.

Soltei uma risada fraca, estava suando frio.

— Fiz o que devia ter feito há muito tempo.

Ela arregalou os olhos, e logo em seguida ordenou que a criada e os soldados saíssem dali. Ino sentou-se na beirada da cama.

— Você usou... — Ela não conseguiu terminar a frase de tão baixa que sua voz saiu.

— Usei, apesar de não saber se foi totalmente eficiente ou não.

— Onde você o atingiu?

— Não tenho certeza... foi na barriga, não sei.

Ino mordeu os lábios, suas pernas tremiam involuntariamente.

— O que foi, Ino? — Fiquei ligeiramente preocupada.

— Ele está com o curandeiro agora, mas só vamos ter certeza quando saírem de lá. O castelo está um caos.

— Se ele sair — frisei.

Ino suspirou.

— A questão é que o curandeiro não é como um médico no seu reino. Eles têm certas... habilidades.

Franzi o cenho, sem entender o que ela estava dizendo.

— Como assim?

— Alguns podem usar magia de cura, Sakura. Pouca, mas usam. Curandeiros que têm essa habilidade são raros, mas não duvido que ele tenha um desse nível aqui.

Senti um frio na barriga. Magia de cura? Desde quando isso ainda existia? Todos acreditam que a magia havia se extinguido há milênios! Pelo visto, Nofrad conseguiu manter uma das poucas habilidades remanescentes da era dos deuses.

Isso significa que aquele maldito ainda poderia sobreviver.

— Descanse, vou ver como as coisas estão. — A loira saiu do quarto, me deixando sozinha novamente.

Passei um dia inteiro com a ansiedade à flor da pele, sem saber se Madara ou alguém iria entrar por aquela porta e me arrastar dali para o calabouço, ou pior. Ino não havia aparecido. Apenas a criada vinha duas vezes por dia verificar minha perna e trocar o curativo, passando mais daquela pomada fedida e gosmenta. Ao menos, eu acreditava que era isso que melhorava um pouco a dor que sentia. Era um remédio bem eficiente, que nunca havia visto antes em nenhum livro de Ebralor.

No dia seguinte, quando o sol ainda começava a raiar, a porta do quarto foi aberta à força e fui arrastada da cama para fora por um nofradiano robusto e armado. Mal consegui ficar de pé à medida que ele ia puxando minha coleira escadaria abaixo. Meu coração quase saiu pela boca e minhas mãos suavam frio devido ao nervosismo. O que está acontecendo? Não tinha a mínima ideia, mas sabia que algo estava terrivelmente errado. O fato de Ino não ter aparecido comprovava isso.

O soldado nofradiano me levou para a entrada do castelo, e foi aí que meu corpo gelou. Madara estava de pé, vivo, como se nada tivesse acontecido. Ao seu lado, estava Ino, com machucados visíveis em seu corpo e as mãos atadas. O homem me jogou aos pés de seu senhor, que ordenou que eu permanecesse ali, de joelhos.

O Uchiha deu um sinal, e a ponte levadiça foi abaixando aos poucos. Ele olhava para frente, sem desviar por um segundo, o que fez com que eu fixasse meu olhar na mesma direção. Parecia uma eternidade até que a ponte baixasse por completo, mas quando ela finalmente alcançou o chão, pude ver à distância um homem de cabelos negros sobre um cavalo.

Poderia ser... Sasuke?

Sorri, e meu peito se encheu de esperança. Ele estava aqui! Sasuke finalmente me encontrou! Queria correr até ele e abraçá-lo, e minhas pernas levantaram sem que eu percebesse. Porém, tão logo estava de pé, Madara puxou minha corrente para trás, me lançando contra o chão coberto de neve mais uma vez.

Vi Sasuke descer de seu cavalo, e então percebi que ele estava sozinho. Onde estava o exército? Os cavaleiros? Naruto? Impossível que ele tenha vindo por conta própria!

Madara me puxou, e imaginei que ele queria que eu me levantasse. Fomos andando calmamente em direção à ponte e, quando Sasuke deu um passo à frente, o Uchiha mais velho levantou a mão, proibindo-o de prosseguir.

Nós caminhamos até a metade da ponte, e a cada passo que eu dava, não conseguia desgrudar meus olhos dele. Sasuke estava visivelmente cansado, mas o semblante de fúria em seu rosto não havia amolecido nem por um instante. Ele colocou a mão sobre a bainha da espada e me olhou de cima a baixo, o que o deixou mais furioso ainda.

— Posso saber por que minha noiva está sendo mantida com uma coleira no pescoço, tio? — Sasuke chiou, o ódio era presente em sua voz. Foi direto ao assunto, não precisava mais fingir que não sabia de nada.

— Ora, ela é minha prisioneira! — Madara riu. — Ela decidiu se entregar de bom grado, não é uma boa garota?

— Solte-a, ou lute comigo. — Sasuke o desafiou, tirando sua espada da bainha. — Sabe o que vai acontecer se comprar briga com os outros reinos.

— Ebralor e Stoacia não são páreos para nós, e Asmad não ajudará sem um casamento.

— Você acha que Asmad deixará Sakura em suas mãos?

— Não sou idiota, Sasuke. Sei que não. Mas até lá, meu mestre Zatros terá sido libertado. Vocês não têm chance.

— Solte-a, não irei repetir.

— Que tal fazermos um acordo, sobrinho? — Madara sugeriu, e eu fiquei desconfiada.

— Diga.

— Eu entrego sua noiva, se você abdicar do seu direito ao trono.

Meu queixo caiu. Não acreditava no que estava ouvindo. Sasuke abdicar do trono? Ele viveu a vida inteira para isso! Se cedesse, Madara se tornaria rei e tomaria Ebralor em suas mãos, já que Itachi também havia abdicado anos atrás em favor do irmão e da sua dedicação à Guarda Real.

— Sasuke, não! Não aceite! — gritei para ele. Estava ficando desesperada.

— Quieta! — Madara apertou meu pulso.

Sasuke ficou calado, e eu imaginei se ele realmente estava cogitando aceitar um absurdo desses. Ele não pode trocar um reino inteiro por mim, seria loucura!

— Eu aceito — ele respondeu, por fim. — Entregue a Yamanaka também. — Um silêncio momentâneo surgiu, e eu caí de joelhos, sem acreditar. Idiota, não era para ter feito isso! Meus olhos lacrimejaram, sentia que iria chorar a qualquer momento.

Madara soltou uma gargalhada, estava completamente satisfeito.

— Muito bem! Parece que você realmente a ama, hein?! Quem diria! — Ele batia palmas enquanto ria. — Então, Sakura. Pode ir.

Olhei para ele, como se não entendesse suas palavras.

— Vá! — gritou.

Levantei-me às pressas e, embora não conseguisse correr, andei o mais rápido que pude, cambaleante, pela ponte até a outra extremidade. Sasuke veio em minha direção, como se não aguentasse mais esperar até que eu completasse o caminho. Ele me tomou em seus braços, e eu desabei ali mesmo, agarrada em suas vestes sujas e suadas. O contato de seu corpo no meu era reconfortante.

— Sakura, olhe para mim — ele pediu enquanto segurava meu rosto para encará-lo. Como havia sentido falta desse toque, de seu carinho! — Você está bem?

Balancei a cabeça.

— Estou bem, não se preocupe — Uma lágrima de felicidade escorreu de meus olhos, e ele a limpou com um de seus dedos.

Sasuke me abraçou, acariciando minhas costas.

— Não sabe como eu fiquei preocupado desde o dia em que sumiu — sussurrou em meu ouvido. — Eu temia que... temia que tivessem feito algo com vocês.

Vocês, ele disse. Suas palavras aqueceram meu peito e me trouxeram esperança mais uma vez. Ele não havia se esquecido de nós nem por um segundo. Sabia que iria me procurar, que não iria desistir. Naquele momento, eu o amava tanto que esse sentimento quase não cabia em meu coração.

— Obrigada, Sasuke — sussurrei de volta, e ele me apertou com mais força. — Eu te amo.

Sasuke não era muito bom com palavras, mas era ótimo com gestos. E eram seus pequenos gestos de carinho que eu mais gostava. Ele me beijou, com delicadeza, como se fosse nosso primeiro beijo. O retribuí, com toda a saudade que sentia. Sasuke me beijava como se eu fosse quebrar a qualquer momento, e isso fez um pequeno sorriso surgir em meus lábios.

Abri os olhos por um breve segundo, e o que vi pelo seu ombro fez meu rosto empalidecer. Sasuke percebeu minha reação e seguiu o meu olhar, virando-se para trás.

Voando pelos céus, dezenas de flechas vinham em nossa direção. Fitei Madara, que sustentava uma expressão risonha em seu rosto junto com seus olhos vermelhos. Ele sabia que Sasuke iria se sacrificar por mim.

Era uma armadilha.

Num gesto rápido, Sasuke me jogou contra o chão branco e gélido, cobrindo meu corpo com o seu. Estava confusa, atônita. Em primeiro momento não havia me dado conta do que ele estava fazendo, mas foi quando a primeira flecha atingiu seu corpo que a minha ficha caiu. Depois veio outra, e outra, e outra. Sasuke cerrou os dentes, tentando, de alguma forma, omitir a dor que sentia. As flechas atravessaram seu corpo em várias partes, e eu só conseguia encará-lo, em choque, enquanto o via me proteger.

A chuva de flechas havia parado.

— Sasuke! — gritei, desesperada.

— Sakura... fuja... Naruto está... — ele tentava dizer, mas o líquido vermelho que escorria de sua boca o atrapalhava. Minha camisola agora estava manchada com o sangue dele, que pingava de seu corpo e das pontas das flechas.

— N-não! Não vou te deixar! — As palavras se perderam em minha mente. Não sabia o que fazer, muito menos como salvá-lo. Mas eu queria salvá-lo de alguma forma, ou morreria junto com ele.

Ele caiu de lado no chão, e eu fiquei de joelhos, segurando suas mãos. Minhas próprias mãos tremiam tanto que mal conseguia segurá-lo. Minha respiração se tornou difícil a cada segundo e comecei a chorar, estava entrando em crise. O desespero tomou conta de mim enquanto o via tossir sangue. A visão ficou turva, e meu peito doía só de pensar na possibilidade de perdê-lo

Não morra, por favor! Não morra, não morra, não morra.

— Sakura, por favor... — Sua voz era fraca e baixa, quase um sussurro.

— Não, Sasuke, não me deixe! — Debrucei-me sobre ele, aos prantos.

Eu tinha que fazer alguma coisa! Sasuke não pode morrer, não pode! Não aceito!

Um zumbido alto e forte atingiu minha mente, e eu levei minhas mãos até a cabeça, sentindo uma dor imensa. Gritei, e gritei mais alto. A dor era intolerável. Meu corpo esquentava, e parecia que iria explodir a qualquer momento. Um peso recaiu sobre meus ombros e meus olhos se fecharam.

E então a minha consciência sumiu, dando lugar a outra coisa que eu não era capaz de suportar. 

EITA CARAII agora o pau vai quebrar 👀

Por favor, não me matem kkkkk pra deixar vcs mais calmas, o próximo capítulo vai ser do Sasuke 🤣

Não esqueçam de votar/comentar pra ajudar essa pobre autora ❤️ Beijos e amo vcs! Até o próximoo

ps: o bebê da Sakura tá bem, viu? kakakaka a deusa tá mantendo ele bonitinho lá 🤣

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